“O restante dos mortos não voltou a viver até se completarem os mil
anos. Esta é a primeira ressurreição. Felizes e santos os que
participam da primeira ressurreição! A segunda morte não tem
poder sobre eles; serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão
com ele durante mil anos.” (Ap 20.5-6).
O apóstolo João ensina que aqueles que reinam com Cristo ao longo
do milênio experimentaram uma “primeira ressurreição”. O resto
dos mortos não viveria até o término do milênio. Os pré-milenistas
interpretam essa passagem como que ensinando duas ressurreições
corporais distintas separadas por mil anos. Já percebemos, no
entanto, que as passagens claras nos evangelhos e nas epístolas que
tratam da ressurreição do corpo e do julgamento final contradizem
a visão pré-milenista. Apocalipse 20 em si contradiz a interpretação
pré-milenista. O aprisionamento de Satanás (vv. 2-3) se deu
durante o primeiro advento de Cristo, e a descida de fogo do céu (v.
9) ocorre durante a segunda vinda. Assim, devemos deixar as
Escrituras definirem o significado da primeira ressurreição. Se uma
ressurreição física contradiz o ensino claro de todo o Novo
Testamento, então João está plausivelmente se referindo a uma
ressurreição espiritual. Quando examinamos as Escrituras para ver
se de fato falam de uma ressurreição espiritual encontramos
evidência abundante de que João definitivamente tem em mente
algo que é de ordem espiritual. “Se podemos determinar pela
Escritura no que consiste a primeira ressurreição, teremos dado um
grande passo no entendimento de todo o capítulo. É a chave que
destrancará a porta.”
As duas ressurreições às quais se referiu João em Apocalipse 20 são
idênticas àquelas ressurreições referidas por Cristo e registradas no
próprio evangelho de João. Jesus nos diz que há duas ressurreições.
A primeira refere-se à alma e é condicionada pelo ouvir e crer. A
segunda diz respeito ao corpo e se refere à ressurreição no último
dia. “Eu lhes asseguro: Quem ouve a minha palavra e crê naquele
que me enviou, tem a vida eterna e não será condenado, mas já
passou da morte para a vida. Eu lhes afirmo que está chegando a
hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus,
e aqueles que a ouvirem, viverão” (Jo 5.24-25). “A primeira
ressurreição não diz respeito ao corpo, se refere à alma. À medida
que a palavra de Cristo é aceita por fé… a pessoa “tem a vida eterna”
(sobre isso veja 1.4, 3.16) e passou da morte para a vida’; e o que
seria isso senão a primeira ressurreição…” Jesus explica a
segunda ressurreição nos versículos 28 e 29: “Não fiquem
admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os que
estiverem nos túmulos ouvirão a Sua voz e sairão; os que fizeram o
bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão
para serem condenados.” “A segunda ressurreição é física por
definição. Terá lugar no grande dia da consumação de todas as
coisas.”
Deus advertiu Adão de que se ele comesse do fruto proibido
certamente morreria. (Gn 2.17) Quando comeu do fruto, Adão
morreu espiritualmente. Por Adão toda a raça humana padeceu e se
tornou morta em “transgressões e pecados” (Ef 2.1). Paulo disse
“Mas a que vive para os prazeres, ainda que esteja viva, está morta”
(1Tm 5.6). Jesus se referiu aos descrentes como “os mortos”. “Deixe
que os mortos sepultem os seus próprios mortos” (Mt 8.22; cf. Lc
9.60). “Uma vez que a primeira morte é primariamente a morte da
alma humana, é a alma que precisa ser ressuscitada primeiro.
Consequentemente devemos esperar encontrar no Novo
Testamento referências à ressurreição da alma. Isso encontramos
em abundância.” “Sabemos que passamos da morte para a vida
se amarmos os nossos irmãos” (Jo 3.14).
O apóstolo Paulo diz que os crentes são “ressuscitados” com Cristo:
“quando estávamos mortos em transgressões, [Deus] nos tornou
vivos com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou com
Cristo e com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Ef 2.5-6). A união dos crentes com Cristo em Sua morte e
ressurreição é a base para a sua regeneração. Assim, quando Paulo
discute o batismo (que é um sinal e selo da regeneração) estabelece
relação entre a ressurreição da alma (regeneração) e a ressurreição
de Jesus Cristo: “foram sepultados com Ele no batismo, e com ele
foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o
ressuscitou dentre os mortos. Quando vocês estavam mortos em
pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou com
Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões…” (Cl 2.12-13).
“Antes dessa ressurreição final há outra, uma Primeira
Ressurreição: a ressurreição de ‘Cristo, as primícias’. Ele levantou
dos mortos e ressuscitou todos os crentes com Ele. Note: São João
não está dizendo que o crente por si é ressuscitado, mas que tem
parte na Primeira Ressurreição. Ele está partilhando a ressurreição
de Outro – a Ressurreição do Senhor Jesus Cristo.” Assim a
primeira ressurreição ocorre definitivamente na ressurreição de
Cristo e então progressivamente ao longo do milênio, à medida que
as pessoas são regeneradas e creem em Cristo. “Dessa maneira, a
Primeira Ressurreição é espiritual e moral, é a nossa regeneração
em Cristo e união com Deus, a nossa restauração em Sua imagem, a
nossa participação na Sua ressurreição. Essa interpretação é
confirmada pela descrição de São João daqueles participantes da
Primeira Ressurreição – que corresponde plenamente a tudo o que
em outro lugar ele nos fala acerca dos eleitos: Eles são abençoados
(1.3; 14.13; 16.15; 19.9; 22.7, 14) e consagrados, i.e., santos (5.8; 8.3-
4; 11.18; 13.7, 10; 14.12; 16.6; 17.6; 18.20, 24; 19.8; 20.9; 21.2, 10);
como Cristo prometeu plena fidelidade, a Segunda Morte (v. 14) não
tem poder sobre eles (2.11); e são sacerdotes (1.6; 5.10) que reinam
com Cristo (2.26-27; 3.21; 4.4; 11.15-16; 12.10). Realmente, São João
iniciou a sua profecia dizendo aos seus leitores que todos os cristãos
são sacerdotes reais (1.6); e a mensagem consistente do Novo
Testamento, como temos visto repetidamente, é que o povo de Deus
está agora sentado com Cristo, reinando em Seu reino (Ef 1.20-22;
2.6; Cl 1.13; 1Pe 2.9). O maior erro na análise do milênio de Ap 20 é
o fracasso em reconhecer que ele fala de realidades presentes da
vida cristã… A Primeira Ressurreição está tomando lugar agora.
Jesus Cristo está reinando agora (At 2.29-36; Ap 1.5). E isso
inevitavelmente significa que o milênio também está tomando
lugar agora.”
Como percebido acima, quando João usa a expressão “a primeira
ressurreição”, está fazendo uso de uma linguagem que cristãos
familiarizados com as Escrituras vão automaticamente associar ao
renascimento da alma na regeneração (e.g., “sendo vivificados”,
“sendo levantados” e “passando da morte para a vida”). Essa
interpretação está em completa harmonia com o Novo Testamento e
com o contexto de Ap 20. Quem são aqueles que segundo João não
precisam temer a segunda morte? São aqueles que nasceram de
novo (isto é, os cristãos). “Note a semelhança de linguagem com o
que João diz em Ap 20.6 que aqueles que têm parte na primeira
ressurreição vão escapar da segunda morte. Que a segunda morte é
espiritual ao invés de física é evidente a partir do fato que aqueles
lançados no lago de fogo – que é a segunda morte (Ap 20.24) –
sofrem tormento eterno. É incoerente João ter dito que uma
ressurreição física previne de uma punição espiritual. Ambos são
espirituais, a primeira ressurreição e a segunda morte.” “Felizes e
santos os que participam da primeira ressurreição! A segunda morte
não tem poder sobre eles” (Ap 20.6).
Brian Schwertley. A Ilusão PréMilenista/ O Quiliasmo analisado à luz da Escritura. pg:24-27
Tradução: Marcelo Herberts
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