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terça-feira, 30 de julho de 2019

As Duas Testemunhas


                                                                     
Se as duas testemunhas foram mortas pela besta (Ap 11.7), não há dúvidas que já estavam ativas no primeiro século. Compreender a relação entre os mártires e a destruição de Jerusalém e do templo é a chave para compreender a visão das duas testemunhas. Israel é descrita no Apocalipse na figura de uma mulher adultera-prostituta que havia traído seu Deus-marido com a besta-Roma. Sendo assim, a nação se tornou passiva de pena capital por adultério (cf. Lv 20.10, Dt 22.22-24). No caso da execução da adultera Israel, as testemunhas eram a Igreja perseguida e mártir[1]. Eles eram testemunhas da iniquidade de Israel e por isso foram instrumentos para sua execução (Ap 6.9, 8.3-5).

O número dois aponta para o fato de que eram necessárias pelo menos duas testemunhas para que qualquer pena capital fosse aplicada: “Pela boca de duas ou de três testemunhas, será morto o que houver de morrer; pela boca duma só testemunha não morrerá”. (Dt 17.6) O significado primário do número dois é simplesmente dizer que a Igreja do primeiro século seria como testemunhas no tribunal celestial para a execução da Israel que era como uma mulher adultera. Todavia, devemos considerar também que o número dois aponta para o padrão estabelecido por Jesus para que o Evangelho fosse pregado a Israel:

“Depois disso designou o Senhor outros setenta, e os enviou adiante de si, de dois em dois, a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir. E dizia-lhes: Na verdade, a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara. Ide; eis que vos envio como cordeiros ao meio de lobos. Não leveis bolsa, nem alforje, nem alparcas; e a ninguém saudeis pelo caminho. Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: Paz seja com esta casa. E se ali houver um filho da paz, repousará sobre ele a vossa paz; e se não, voltará para vós.

Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que eles tiverem; pois digno é o trabalhador do seu salário. Não andeis de casa em casa. Também, em qualquer cidade em que entrardes, e vos receberem, comei do que puserem diante de vós. Curai os enfermos que nela houver, e dizer-lhes: É chegado a vós o reino de Deus.

Mas em qualquer cidade em que entrardes, e vos não receberem, saindo pelas ruas, dizei: Até o pó da vossa cidade, que se nos pegou aos pés, sacudimos contra vós. Contudo, sabei isto: que o Reino de Deus é chegado. Digo-vos que naquele dia haverá menos rigor para Sodoma, do que para aquela cidade”. 
                                                                                (Lucas 10.1-12)

Aqui Jesus fala dos discípulos sendo enviados de dois em dois e recebendo poder até mesmo para fazer descer do céu o juízo de Deus sobre aqueles que não recebessem a pregação, o mesmo que vemos com as duas testemunhas (Ap 11.6). É importante notar também que Jesus relaciona tais cidades rebeldes com Sodoma da mesma maneira que acontece na visão das duas testemunhas (Ap 11.8). Nos Atos dos Apóstolos vemos este mesmo padrão sendo seguido pelos apóstolos. Pedro e João curaram o homem coxo de nascença na porta do templo (At 3.1-8), testemunharam para os israelitas (At 3.12-26) e depois para os principais sacerdotes e anciãos (At 4.1-23). Depois os dois foram chamados de Jerusalém para orarem pela descida do Espírito Santo sobre os samaritanos (At 8.14-17). Posteriormente, lemos sobre como Paulo e Barnabé foram companheiros ministeriais, sendo reconhecidos como as colunas do apostolado dos gentios (Gl 2.9).

O Apocalipse diz também que as duas testemunhas “são as duas oliveiras e os dois candeeiros que estão diante do Senhor da terra”. (Ap 11.4) É importante perceber que ele diz são (no tempo presente) porque as “duas testemunhas” já estavam em plena atividade quando o Apocalipse foi escrito. A comparação lembra as palavras de Zacarias:

“Falei mais, e lhe perguntei: Que são estas duas oliveiras à direita e à esquerda do castiçal? Segunda vez falei-lhe, perguntando: Que são aqueles dois ramos de oliveira, que estão junto aos dois tubos de ouro, e que vertem de si azeite dourado? Ele me respondeu, dizendo: Não sabes o que é isso? E eu disse: Não, meu senhor. Então ele disse: Estes são os dois ungidos, que assistem junto ao Senhor de toda a terra”.
                                                                                (Zacarias 4.11-14)

Os dois ungidos do livro de Zacarias eram Josué – o sacerdote – e Zorobabel – o rei (Zc 3-4; cf. Ed 3,5-6; Ag 1-2). Mas o Apocalipse começa mencionando que estes dois ofícios se cumpriram em Jesus Cristo (Ap 1.5) e por extensão na Igreja como um todo (Ap 1.6). Por isso as testemunhas são identificadas desta forma. A Igreja possui o sacerdócio real.

Sobre o poder da Igreja, o texto diz:

“E, se alguém lhes quiser fazer mal, das suas bocas sairá fogo e devorará os seus inimigos; pois se alguém lhes quiser fazer mal, importa que assim seja morto. Elas têm poder para fechar o céu, para que não chova durante os dias da sua profecia; e têm poder sobre as águas para convertê-las em sangue, e para ferir a terra com toda sorte de pragas, quantas vezes quiserem”. 
                                                                                (Apocalipse 11.5-6)

O fogo saindo da boca equivale ao que foi dito ao profeta Jeremias:

“Dai voltas às ruas de Jerusalém, e vede agora, e informai- vos, e buscai pelas suas praças a ver se podeis achar um homem, se há alguém que pratique a justiça, que busque a verdade; e eu lhe perdoarei a ela… Portanto assim diz o Senhor, o Deus dos exércitos: 

Porquanto proferis tal palavra, eis que converterei em fogo as minhas palavras na tua boca, e este povo em lenha, de modo que o fogo o consumirá. Eis que trago sobre vós uma nação de longe, ó casa de Israel, diz o Senhor; é uma nação durável, uma nação antiga, uma nação cuja língua ignoras, e não entenderás o que ela falar”. 
                                                                                (Jeremias 5.1,14-15)

“Não é a minha palavra como fogo, diz o Senhor, e como um martelo que esmiúça a pedra?” 
                                                                                (Jeremias 23.29)

Não devemos entender com isso que Deus literalmente transformou as palavras de Jeremias em fogo ou que o povo de Israel foi literalmente transformado em lenha. Deus estava simplesmente dizendo que os oráculos de Jeremias trariam juízo sobre o povo. No contexto de Jeremias, isso se cumpriu por meio do Império Babilônico. Com base nisso, devemos entender que o fogo saindo da boca das duas testemunhas no Apocalipse se refere aos seus oráculos que trariam juízo sobre Israel da mesma forma que havia acontecido no tempo de Jeremias. A Igreja tem um ministério profético de proclamar a Palavra de Deus como teve Jeremias. Da mesma maneira, “o poder para fechar o céu, para que não chova durante os dias da sua profecia” e o “poder sobre as águas para convertê-las em sangue, e para ferir a terra com toda sorte de pragas, quantas vezes quiserem” (Ap 11.6) tem como objetivo comparar o ministério profético da Igreja com Elias e Moisés. Isto se cumpriu à medida que o juízo de Deus caiu contra seus perseguidores em resposta as orações dos santos. O que Jeremias, Elias e Moisés fizeram em sua própria época, a Igreja fez no primeiro século e precisa fazer mais uma vez agora:

“Então estendeu o Senhor a mão, e tocou-me na boca; e disse- me o Senhor: Eis que ponho as minhas palavras na tua boca. Olha, ponho-te neste dia sobre as nações, e sobre os reinos, para arrancares e derribares, para destruíres e arruinares; e também para edificares e plantares”. 
                                                                                (Jeremias 1.9-10)

O texto fala também de como a Igreja seria perseguida e morta pela besta:

“E, quando acabarem o seu testemunho, a besta que sobe do abismo lhes fará guerra e as vencerá e matará. E jazerão os seus corpos na praça da grande cidade, que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi crucificado”.
                                                                                (Apocalipse 11.7-8)

O que é dito aqui é equivalente ao que é dito no capítulo 13:

“Também lhe foi permitido fazer guerra aos santos, e vencê-los; e deu-se-lhe autoridade sobre toda tribo, e povo, e língua e nação”. 
                                                                                (Apocalipse 13.7)

A vitória é real, mas é temporária e não é final. Os mártires foram perseguidos, maltratados e mortos. Mas por meio da morte, eram transportados ao céu – o templo de Deus – para estarem com o Cordeiro:

“… segundo a minha ardente expectativa e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a ousadia, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro… tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor”.
                                                                                (Filipenses 1.20-23)

“Disse-me ele: Estes são os que vêm de grande tribulação, e levaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que está assentado sobre o trono estenderá o seu tabernáculo sobre eles. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem cairá sobre eles o sol, nem calor algum; porque o Cordeiro que está no meio, diante do trono, os apascentará e os conduzirá às fontes das águas da vida; e Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima”. 
                                                                                (Apocalipse 7.14-17)

“E vi como que um mar de vidro misturado com fogo; e os que tinham vencido a besta e a sua imagem e o número do seu nome estavam em pé junto ao mar de vidro, e tinham harpas de Deus. E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, ó Senhor Deus Todo-Poderoso; justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos séculos. Quem não te temerá, Senhor, e não glorificará o teu nome? Pois só tu és santo; por isso todas as nações virão e se prostrarão diante de ti, porque os teus juízos são manifestos”.
                                                                                (Apocalipse 15:2-4)

A visão das duas testemunhas descreve o martírio e a vitória celestial da Igreja:

“E, quando acabarem o seu testemunho, a besta que sobe do abismo lhes fará guerra e as vencerá e matará. E jazerão os seus corpos na praça da grande cidade, que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi crucificado.
Homens de vários povos, e tribos e línguas, e nações verão os seus corpos por três dias e meio, e não permitirão que sejam sepultados. E os que habitam sobre a terra se regozijarão sobre eles, e se alegrarão; e mandarão presentes uns aos outros, porquanto estes dois profetas atormentaram os que habitam sobre a terra. E depois daqueles três dias e meio o espírito de vida, vindo de Deus, entrou neles, e puseram-se sobre seus pés, e caiu grande temor sobre os que os viram. E ouviram uma grande voz do céu, que lhes dizia: Subi para cá. E subiram ao céu em uma nuvem; e os seus inimigos os viram.
   E naquela hora houve um grande terremoto, e caiu a décima parte da cidade, e no terremoto foram mortos sete mil homens; e os demais ficaram atemorizados, e deram glória ao Deus do céu”.
                                                                                 (Apocalipse 11.7-13)

 Flávio Josefo narrou este terrível terremoto em Guerra dos Judeus 4.4.5. As duas testemunhas são mortas pela besta-Roma e seus corpos jazem na grande cidade (cf. Ap 17.8), a prostituta-Jerusalém. Isto simplesmente reflete o fato de que a perseguição da Igreja no primeiro século aconteceu por uma aliança entre o Império Romano e os líderes judaicos[2] da mesma maneira que havia acontecido com Jesus. O texto fala também de uma visão das duas testemunhas na nuvem. É possível que isso tenha se cumprido no que foi relatado por Flávio Josefo:

 “Alguns dias depois da festa, no dia vigésimo primeiro do mês de Iyar, um fenômeno prodigioso e incrível aconteceu: suponho que o relato pareceria uma fábula, caso não tivesse sido relatado por pessoas que a viram e caso tais eventos que se lhe seguiram não fosse de uma natureza tão considerável a ponto de merecer tais sinais. Antes do nascer do sol viram-se carruagens e soldados entre as nuvens…”[3]

 Tacitus relatou o mesmo acontecimento:

 “No céu apareceu uma visão de exércitos em conflito… Um relâmpago repentino vindo das nuvens iluminou o templo… A maioria estava convencida de que as antigas escrituras de seus sacerdotes indicavam que o tempo presente seria a época exata em que o oriente iria triunfar e da Judeia viria homens destinados a governar o mundo”.[4]

 O Apocalipse fala dos santos como “os exércitos que estão no céu” (Ap 19.4). Portanto, é provável que a visão que teve o povo de Jerusalém de carruagens e soldados no céu tenha sido uma visão da Igreja mártir gloriosa testemunhando no tribunal celeste contra a prostituta-Israel para que fosse executada.

__________________
Notas
[1] É interessante notar que a palavra traduzida como testemunha é μαρτυρία –
marturia – no grego, de onde vem a palavra mártir no português.

[2] Um fato recorrente nos Atos dos Apóstolos.

[3] Flávio Josefo. Guerra dos Judeus.

[4] Tacitus, Histories, 5:13



quinta-feira, 22 de novembro de 2018

As Duas Testemunhas



A verdadeira Igreja é agora representada pelo símbolo das duas testemunhas. Essas testemunhas simbolizam a Igreja militante dando testemunho por meio dos seus ministros e missionários ao longo de toda a presente dispensação. O fato de que são duas testemunhas enfatiza a tarefa missionária da Igreja (cf. Lc 10:1). O Senhor envia seus missionários dois a dois; o que falta a um o outro supre. Agora, a Igreja como organização, funcionando por meio de seus ministros e missionários, desenvolverá seu trabalho por 1.260 dias.

Esse é o período que se estende do momento da ascensão de Cristo até quase o dia do juízo final (cf. Ap 12:5,6,14). Trata-se, sem dúvida, do equivalente exato de 42 meses, pois 42 vezes 30 é 1.260 – e de “um tempo, tempos e metade de um tempo”, que são três anos e meio (Ap 12:14). É o período de aflições, a presente era do evangelho. Pode surgir a questão: Por que esse período é agora expresso em termos de meses (verso 2), depois em termos de dias (verso 3)? Aqui a nossa resposta é uma suposição: no verso 2 temos a figura de uma cidade sendo sitiada e, finalmente, tomada e pisoteada. A duração do sítio de uma cidade é geralmente expressa em termos de meses. No verso 3, entretanto, as duas testemunhas são descritas profetizando; essa é uma atividade diária. Elas testemunham a cada dia, pela dispensação inteira. Elas pregam o arrependimento, razão pela qual se vestem de saco.

Para que tenhamos uma visão nítida da figura da Igreja como uma poderosa organização missionária por toda a presente era do evangelho, ela é aqui descrita num quádruplo simbolismo.

Primeiro, assim como “as duas oliveiras e os dois candeeiros”, Josué e Zorobabel (?) (cf. Zc 4), representavam os ofícios pelos quais Deus abençoou Israel, assim durante a era do evangelho ele abençoa sua Igreja por meio de ofícios, a saber, a pregação da Palavra e o ministério de sacramentos.

Segundo, tal como os missionários saíram dois a dois (Lc 10:1), assim através da era do evangelho a Igreja, como uma organização, cumpre sua missão no mundo.

Terceiro, assim como o fogo do julgamento e da condenação saiu da boca de Jeremias para devorar os inimigos de Deus (Jr 5:14), assim também quando a Igreja de hoje, por meio dos seus ofícios, condena o ímpio, com base na Palavra de Deus, essa condenação realmente resulta em sua destruição (Mt 18:18).

Quarto, tal como Elias recebeu poder para fechar os céus de modo que não chovesse (1ºRs 17:1), e tal como Moisés recebeu autoridade para tornar as águas em sangue (Ex 7:20), também assim o poderoso ministério da Igreja desta presente época, no caso de sua mensagem ser rejeitada, tem de julgar e condenar o mundo.

Esse poder não é imaginário, mas muito real. O Senhor não apenas derrama desgraças sobre o mundo iníquo em resposta às orações dos santos perseguidos (8:3-5), mas também assegura à Igreja que, sempre que ela estiver engajada no ofício oficial da Palavra e verdadeira diante do mundo, seus julgamentos serão os seus julgamentos (Mt 16:19; 18:18,19; Jo 20:21-23).

Na verdade, num sentido moral, a Igreja ainda golpeia a terra com cada praga! O mundo iníquo deveria ser cauteloso, pois se alguém está firmemente determinado a prejudicar a Igreja, contra ele sai o fogo da boca das testemunhas de Deus.

Se alguém pretender [1] causar dano aos verdadeiros ministros e missionários, será igualmente destruído (verso 5).

Esta era do evangelho, contudo, chegará ao final (cf. Mt 24:14). A Igreja, como poderosa organização missionária, findará seu testemunho. A besta que sobe do abismo, isto é, o mundo anticristão, movido pelo inferno, pelejará contra a Igreja e a destruirá. Esta é a batalha do Armagedom. A besta não marará todos os crentes. Haverá crentes na terra quando Cristo voltar, embora sejam um pequeno número (Lc 18:8). Mas a Igreja, como poderosa organização missionária e para a disseminação do evangelho e o ministério da Palavra, será destruída. Como ilustração, pense na condição do comunismo na China no presente tempo; certamente, há crentes sinceros ali, mas e quanto à proclamação poderosa, oficial, aberta e pública e à disseminação do evangelho? E não é essa a condição que se espalha em outros países? Assim, logo antes da segunda vinda, o cadáver da Igreja, cujo testemunho oficial e público foi silenciado e sufocado pelo mundo, está tombado na praça da grande cidade. Esta é a praça da Jerusalém imoral e anticristã. Jerusalém crucificou o Senhor. Por causa de sua imoralidade e perseguição dos santos ela se tornou, espiritualmente, como Sodoma e Egito (cf. Is 1:10; 3:9; Jr 23:14; Ez 16:46). Tornou-se símbolo da Babilônia e da totalidade do mundo imoral e anticristão. Assim, quando lemos que o cadáver da Igreja está jogado na praça da grande cidade, [2] isso quer dizer, simplesmente, que a Igreja está morta no meio do mundo: ela não mais existe como instituição de influência e de poder missionário! Seus líderes foram mortos; sua voz foi silenciada. Essa condição dura três dias e meio, o que é um breve período (Mt 24:22; cf. Ap 20:7-9). O mundo nem mesmo permite que os corpos das testemunhas sejam enterrados. Esses corpos estão jogados nas praças, expostos aos insetos, aves e cães. O mundo faz um grande piquenique: ele celebra! As pessoas enviam presentes umas às outras e tripudiam sobre as testemunhas (cf. Et 9:22).
Sua palavra não os atormenta mais. Mundo estulto! Sua alegria é prematura.

Os cadáveres, de repente, começam a se mexer; o fôlego de vida de Deus entrou neles; as testemunhas se põem em pé. Em conexão com a segunda vinda de Cristo a Igreja é restaurada à vida, à honra, ao poder, à influência. Para o mundo, a hora da oportunidade se foi. No dia do juízo, quando o mundo verá a Igreja restaurada à honra e à glória, o mundo ficará paralisado de medo. A Igreja – ainda sob o simbolismo das duas testemunhas – agora ouve a voz: “Subi para aqui”. Imediatamente a Igreja ascende ao céu numa nuvem de glória. “E seus inimigos a contemplaram.” Não se trata de um arrebatamento secreto.

Agora, outra vez dirigimos nossa atenção para o mundo iníquo. Conquanto o resumo da História da Igreja tenha nos levado para o dia do juízo e alem dele, retornemos para os eventos que ocorrem pouco antes desse dia final. Como todos esses eventos se agrupam em torno da segunda vinda, é evidente que a expressão “naquela hora” não nos impede de fazê-lo. Na visão, o apóstolo vê que a terra está tremendo. Temos aqui a mesma figura de 6:12. Um terremoto imediatamente precede o juízo final. Já cai uma décima parte da cidade; em outras palavras, a obra da destruição começa. Tão terrível é o terremoto que mata sete mil pessoas. Este é, provavelmente, uma representação simbólica dos acontecimentos alarmantes nas vésperas do juízo final. O número sete mil não deve ser tomado literalmente; ele fala do número completo dos que são destinados à destruição pelo terremoto. Nem todos os iníquos serão destruídos. Aqueles que permanecem vivos ficam aterrorizados e “dão glória ao Deus do céu”. Isso, é claro, não significa que se converteram. Longe disso! Estão, simplesmente, chocados de terror. O Rei Nabucodonosor, em seus dias, muitas vezes glorificou o Deus do céu (Dn 2:47; 3:28; 4:1ss.; 4:34; 4:37). Mas isso não implica que ele era um homem convertido.

Agora tudo está pronto para o juízo final; pois, a despeito de todas as trombetas de advertência, o mundo permaneceu impenitente e, além disso, rejeitou o testemunho das duas testemunhas – a Igreja como uma organização – e as matou (verso 7). Portanto, agora o ajuste final deve ocorrer. Assim, lemos: “Passou o segundo ai, vem aí o terceiro ai”.

[1] Note a diferença nas duas formas verbais no original.
[2] O termo “grande cidade” sempre se refere à Babilônia e jamais à Nova e Santa Jerusalém.