google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Escatologia Reformada : novembro 2018

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Dois Povos Diferentes?



Começaremos pelo coração do dogma dispensacionalista, que afirma que Deus tem dois povos diferentes, sendo que um deles será arrebatado antes de Deus continuar seu plano em relação ao outro. As Escrituras revelam que Deus tem dois povos distintos? Ou revela que há um só povo escolhido, que forma uma comunidade pactual?

Em vez de afirmar que Deus tem dois povos diferentes, a Escritura revela, do princípio ao fim, que somente há um povo escolhido, comprado “de toda raça, língua, povo e nação” (Ap 5.9). Como Paulo afirma: “os gentios são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e co-participantes da promessa em Cristo Jesus” (Ef 3.6).

Além disso, a mesma terminologia utilizada para descrever o povo de Israel no Antigo Testamento é utilizada para descrever a Igreja no Novo Testamento. Pedro chama esse único povo escolhido de “geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus” (1Pe 2.9). Esse é o povo escolhido de Deus, a geração eleita, não em virtude de uma descendência física de Abraão, mas em virtude de uma relação genuína com “a pedra viva – rejeitada pelos homens, mas escolhida por Deus e preciosa para ele” (1Pe 2.4). A verdadeira Igreja é o verdadeiro Israel, e o verdadeiro Israel é a verdadeira Igreja.

E mais: assim como o Antigo e o Novo Testamento revelam um só povo escolhido, também revelam que esse povo escolhido forma uma só comunidade da aliança. Ainda que essa única comunidade da aliança encontra-se fisicamente ligada à semente de Abraão, cujo número seria como o das “estrelas” no céu (Gn 15.5) ou como o “pó da terra” (Gn 13.16), ela fundamenta-se espiritualmente numa descendência singular, única – ou seja, num descendente individual. Paulo explica em sua epístola aos Gálatas: “as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. A Escritura não diz: ‘E aos seus descendentes’, como se falando de muitos, mas: ‘Ao seu descendente’, dando a entender que se trata de um só, isto é, Cristo” (Gl 3.16). Paulo continua explicando: “E se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3.29).

Afirmar que Israel deve “cumprir seu destino nacional como uma entidade separada depois do arrebatamento e da Tribulação durante o milênio” é uma afronta ao único descendente no qual todas as promessas feitas a Abraão foram cumpridas. Como disse Keith Mathison: “As promessas feitas aos israelitas, literalmente falando, foram cumpridas por um israelita literal, Jesus, o Messias. Ele é o descendente (‘a semente’) de Abraão”. O remanescente fiel de Israel do Antigo Testamento e do Cristianismo do Novo Testamento unem-se numa descendência genuína de Abraão, tornando-se seus herdeiros segundo a promessa. Esse remanescente não foi escolhido pela religião ou pela raça, mas pela sua relação com o Redentor ressurreto. Revestidos de Cristo, homens, mulheres, “de toda tribo, língua e nação”, formam uma única comunidade da aliança.

Finalmente, esse único povo escolhido por Deus, que forma a comunidade da aliança, é belamente representado em Romanos como uma oliveira cultivada (Rm 11.11-24). A árvore simboliza o Israel nacional, os ramos simbolizam os que creem, e suas raízes simbolizam Jesus, “a Raiz e o Descendente de Davi” (Ap 22.16). Os ramos naturais que foram cortados representam os judeus que rejeitaram Jesus. Os ramos de oliveira brava que foram enxertados representam os gentios que receberam Jesus. Por isso, Paulo diz: “Pois nem todos os descendentes de Israel são Israel. Nem por serem descendentes de Abraão passaram todos a ser filhos de Abraão. Ao contrário: ‘Por meio de Isaque a sua descendência será considerada’. Noutras palavras, não são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são considerados descendência de Abraão” (Rm 9.6-8).

Jesus é o único Descendente genuíno de Abraão. E todos os que estão revestidos de Cristo formam uma comunidade da aliança escolhida e unida em Cristo. Portanto, “não há judeu nem grego [nem árabe nem chinês, nem norteamericano nem africano, nem australiano nem brasileiro, etc], nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vocês são um em Cristo Jesus. E se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3.28,29). Estas palavras de Paulo são o epitáfio no túmulo do dispensacionalismo!

Portanto, a Bíblia simplesmente contradiz o ensino dispensacionalista de que Deus possui dois povos distintos. E se Deus sempre teve um único povo, o dogma dispensacionalista é esmagado pelo peso das Escrituras.


Hank Hanegraaff. Desmascarando o Dogma Dispensacionalista. Traduzido e Adaptado por F.V.S. Revista Última Chamada. pg: 16-18









sábado, 24 de novembro de 2018

A Origem do ensino de um Arrebatamento Pré-Tribulacional



Sempre que o cristão encontra uma doutrina que não foi ensinada por alguém de qualquer ramo da igreja de Cristo durante os dezoito séculos passados, ele deveria ter muita suspeita de tal ensino. Esse fato em e por si mesmo não prova que o novo ensino é falso. Mas, deveria definitivamente levantar suspeitas, pois se algo é ensinado na Escritura, não é absurdo esperar que ao menos uns poucos teólogos e exegetas tenham descoberto isso antes. O ensino de um arrebatamento secreto pré-tribulacional é uma doutrina que nunca existiu antes de 1830. O arrebatamento pré-tribulacional veio à existência mediante uma exegese cuidadosa da Escritura? Não! A primeira pessoa a ensinar a doutrina foi uma jovem chamada Margaret Macdonald. Margaret não era teóloga nem expositora bíblica, mas uma profetiza da seita Irvingita2 (a Igreja Católica Apostólica). O jornalista cristão Dave MacPherson escreveu um livro sobre o assunto da origem do arrebatamento secreto. Ele escreve: “Temos visto que uma jovem escocesa chamada Margaret Macdonald teve uma revelação particular em Port Glasgow, Escócia, no começo de 1830, de que um grupo seleto de cristãos seria capturado para encontrar Cristo nos ares, antes dos dias do Anticristo. Uma testemunha ocular, Robert Norton M.D., preservou o relato escrito a mão por ela da sua revelação de um arrebatamento pré-tribulacional em dois de seus livros, e disse que foi a primeira vez que alguém dividiu a segunda vinda em duas partes ou estágios distintos. Seus escritos, juntamente com muitas outras literaturas da Igreja Católica Apostólica, ficaram escondidos por muitas décadas do pensamento evangélico dominante, e apenas recentemente reapareceram. As visões de Margaret eram bem conhecidas por aqueles que visitavam sua casa, entre eles John Darby dos Irmãos. Dentro de poucos meses sua concepção profética distintiva foi refletida na edição de setembro de 1830 do The Morning Watch3 e na primeira assembléia dos Irmãos em Plymouth, Inglaterra. Os primeiros discípulos da interpretação pré-tribulacionista freqüentemente a chamavam de uma nova doutrina”.

John Nelson Darby (1800-1882), que foi o líder do movimento Irmãos e “pai do Dispensacionalismo moderno”, tomou o novo ensino de Margaret Macdonald sobre o arrebatamento, fez algumas mudanças (ela ensinava um arrebatamento parcial de crentes, enquanto ele ensinava que todos os crentes seriam arrebatados) e incorporou-o em seu entendimento dispensacionalista da Escritura e profecia. Darby gastaria o resto de sua vida falando, escrevendo e viajando para espalhar a nova teoria do arrebatamento. Os Irmãos de Plymouth admitiam abertamente e até mesmo se orgulhavam do fato que entre os seus ensinos estavam alguns totalmente novos, que nunca tinham sido ensinados pelos pais da igreja, escolásticos medievais, reformadores protestantes e muitos outros comentaristas.

O maior responsável pela ampla aceitação do pré-tribulacionismo e dispensacionalismo entre os evangélicos foi Cyrus Ingerson Scofield (18431921). C. I. Scofield publicou sua Bíblia de Referência Scofield em 1909. Essa Bíblia, que expunha as doutrinas de Darby em suas notas, se tornou muito popular em círculos fundamentalistas. Na mente de muitos – professores da Bíblia, pastores fundamentalistas e multidões de cristãos professos – as notas de Scofield eram praticamente igualadas à própria palavra de Deus. Se uma pessoa não aderia ao esquema dispensacionalista e pré-tribulacional, ele ou ela seria quase que automaticamente rotulado de modernista.

Hoje existe uma abundância de livros advogando a teoria do arrebatamento pré-tribulacional e o entendimento dispensacionalista dos fins dos tempos. Dado o fato que entre os cristãos professos o arrebatamento prétribulacional ainda é freneticamente popular, uma comparação dessa teoria com o ensino bíblico está justificado. Veremos que os argumentos típicos oferecidos em favor dessa teoria estão em conflito com a Bíblia.

Fonte: Extraído e traduzido do livreto “Is the Pretribulation Rapture Biblical?”, de Brian Schwertley.

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto











quinta-feira, 22 de novembro de 2018

As Duas Testemunhas



A verdadeira Igreja é agora representada pelo símbolo das duas testemunhas. Essas testemunhas simbolizam a Igreja militante dando testemunho por meio dos seus ministros e missionários ao longo de toda a presente dispensação. O fato de que são duas testemunhas enfatiza a tarefa missionária da Igreja (cf. Lc 10:1). O Senhor envia seus missionários dois a dois; o que falta a um o outro supre. Agora, a Igreja como organização, funcionando por meio de seus ministros e missionários, desenvolverá seu trabalho por 1.260 dias.

Esse é o período que se estende do momento da ascensão de Cristo até quase o dia do juízo final (cf. Ap 12:5,6,14). Trata-se, sem dúvida, do equivalente exato de 42 meses, pois 42 vezes 30 é 1.260 – e de “um tempo, tempos e metade de um tempo”, que são três anos e meio (Ap 12:14). É o período de aflições, a presente era do evangelho. Pode surgir a questão: Por que esse período é agora expresso em termos de meses (verso 2), depois em termos de dias (verso 3)? Aqui a nossa resposta é uma suposição: no verso 2 temos a figura de uma cidade sendo sitiada e, finalmente, tomada e pisoteada. A duração do sítio de uma cidade é geralmente expressa em termos de meses. No verso 3, entretanto, as duas testemunhas são descritas profetizando; essa é uma atividade diária. Elas testemunham a cada dia, pela dispensação inteira. Elas pregam o arrependimento, razão pela qual se vestem de saco.

Para que tenhamos uma visão nítida da figura da Igreja como uma poderosa organização missionária por toda a presente era do evangelho, ela é aqui descrita num quádruplo simbolismo.

Primeiro, assim como “as duas oliveiras e os dois candeeiros”, Josué e Zorobabel (?) (cf. Zc 4), representavam os ofícios pelos quais Deus abençoou Israel, assim durante a era do evangelho ele abençoa sua Igreja por meio de ofícios, a saber, a pregação da Palavra e o ministério de sacramentos.

Segundo, tal como os missionários saíram dois a dois (Lc 10:1), assim através da era do evangelho a Igreja, como uma organização, cumpre sua missão no mundo.

Terceiro, assim como o fogo do julgamento e da condenação saiu da boca de Jeremias para devorar os inimigos de Deus (Jr 5:14), assim também quando a Igreja de hoje, por meio dos seus ofícios, condena o ímpio, com base na Palavra de Deus, essa condenação realmente resulta em sua destruição (Mt 18:18).

Quarto, tal como Elias recebeu poder para fechar os céus de modo que não chovesse (1ºRs 17:1), e tal como Moisés recebeu autoridade para tornar as águas em sangue (Ex 7:20), também assim o poderoso ministério da Igreja desta presente época, no caso de sua mensagem ser rejeitada, tem de julgar e condenar o mundo.

Esse poder não é imaginário, mas muito real. O Senhor não apenas derrama desgraças sobre o mundo iníquo em resposta às orações dos santos perseguidos (8:3-5), mas também assegura à Igreja que, sempre que ela estiver engajada no ofício oficial da Palavra e verdadeira diante do mundo, seus julgamentos serão os seus julgamentos (Mt 16:19; 18:18,19; Jo 20:21-23).

Na verdade, num sentido moral, a Igreja ainda golpeia a terra com cada praga! O mundo iníquo deveria ser cauteloso, pois se alguém está firmemente determinado a prejudicar a Igreja, contra ele sai o fogo da boca das testemunhas de Deus.

Se alguém pretender [1] causar dano aos verdadeiros ministros e missionários, será igualmente destruído (verso 5).

Esta era do evangelho, contudo, chegará ao final (cf. Mt 24:14). A Igreja, como poderosa organização missionária, findará seu testemunho. A besta que sobe do abismo, isto é, o mundo anticristão, movido pelo inferno, pelejará contra a Igreja e a destruirá. Esta é a batalha do Armagedom. A besta não marará todos os crentes. Haverá crentes na terra quando Cristo voltar, embora sejam um pequeno número (Lc 18:8). Mas a Igreja, como poderosa organização missionária e para a disseminação do evangelho e o ministério da Palavra, será destruída. Como ilustração, pense na condição do comunismo na China no presente tempo; certamente, há crentes sinceros ali, mas e quanto à proclamação poderosa, oficial, aberta e pública e à disseminação do evangelho? E não é essa a condição que se espalha em outros países? Assim, logo antes da segunda vinda, o cadáver da Igreja, cujo testemunho oficial e público foi silenciado e sufocado pelo mundo, está tombado na praça da grande cidade. Esta é a praça da Jerusalém imoral e anticristã. Jerusalém crucificou o Senhor. Por causa de sua imoralidade e perseguição dos santos ela se tornou, espiritualmente, como Sodoma e Egito (cf. Is 1:10; 3:9; Jr 23:14; Ez 16:46). Tornou-se símbolo da Babilônia e da totalidade do mundo imoral e anticristão. Assim, quando lemos que o cadáver da Igreja está jogado na praça da grande cidade, [2] isso quer dizer, simplesmente, que a Igreja está morta no meio do mundo: ela não mais existe como instituição de influência e de poder missionário! Seus líderes foram mortos; sua voz foi silenciada. Essa condição dura três dias e meio, o que é um breve período (Mt 24:22; cf. Ap 20:7-9). O mundo nem mesmo permite que os corpos das testemunhas sejam enterrados. Esses corpos estão jogados nas praças, expostos aos insetos, aves e cães. O mundo faz um grande piquenique: ele celebra! As pessoas enviam presentes umas às outras e tripudiam sobre as testemunhas (cf. Et 9:22).
Sua palavra não os atormenta mais. Mundo estulto! Sua alegria é prematura.

Os cadáveres, de repente, começam a se mexer; o fôlego de vida de Deus entrou neles; as testemunhas se põem em pé. Em conexão com a segunda vinda de Cristo a Igreja é restaurada à vida, à honra, ao poder, à influência. Para o mundo, a hora da oportunidade se foi. No dia do juízo, quando o mundo verá a Igreja restaurada à honra e à glória, o mundo ficará paralisado de medo. A Igreja – ainda sob o simbolismo das duas testemunhas – agora ouve a voz: “Subi para aqui”. Imediatamente a Igreja ascende ao céu numa nuvem de glória. “E seus inimigos a contemplaram.” Não se trata de um arrebatamento secreto.

Agora, outra vez dirigimos nossa atenção para o mundo iníquo. Conquanto o resumo da História da Igreja tenha nos levado para o dia do juízo e alem dele, retornemos para os eventos que ocorrem pouco antes desse dia final. Como todos esses eventos se agrupam em torno da segunda vinda, é evidente que a expressão “naquela hora” não nos impede de fazê-lo. Na visão, o apóstolo vê que a terra está tremendo. Temos aqui a mesma figura de 6:12. Um terremoto imediatamente precede o juízo final. Já cai uma décima parte da cidade; em outras palavras, a obra da destruição começa. Tão terrível é o terremoto que mata sete mil pessoas. Este é, provavelmente, uma representação simbólica dos acontecimentos alarmantes nas vésperas do juízo final. O número sete mil não deve ser tomado literalmente; ele fala do número completo dos que são destinados à destruição pelo terremoto. Nem todos os iníquos serão destruídos. Aqueles que permanecem vivos ficam aterrorizados e “dão glória ao Deus do céu”. Isso, é claro, não significa que se converteram. Longe disso! Estão, simplesmente, chocados de terror. O Rei Nabucodonosor, em seus dias, muitas vezes glorificou o Deus do céu (Dn 2:47; 3:28; 4:1ss.; 4:34; 4:37). Mas isso não implica que ele era um homem convertido.

Agora tudo está pronto para o juízo final; pois, a despeito de todas as trombetas de advertência, o mundo permaneceu impenitente e, além disso, rejeitou o testemunho das duas testemunhas – a Igreja como uma organização – e as matou (verso 7). Portanto, agora o ajuste final deve ocorrer. Assim, lemos: “Passou o segundo ai, vem aí o terceiro ai”.

[1] Note a diferença nas duas formas verbais no original.
[2] O termo “grande cidade” sempre se refere à Babilônia e jamais à Nova e Santa Jerusalém.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Argumentos a favor do Amilenismo



1. Quando olhamos para a totalidade da Bíblia, somente uma passagem (Apocalipse 20:1-6) parece ensinar o reino milenar terreno e futuro de Cristo, e essa passagem em si mesma é obscura. Não é sábio basear tão importante doutrina em uma passagem de interpretação incerta e amplamente controvertida.

Mas, como os amilenistas entendem Apocalipse 20:1-6? A interpretação amilenista vê essa passagem como referindo-se à presente era da igreja. A passagem é esta:

E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos. Lançou-o no abismo, o qual fechou e selou sobre ele, para que não enganasse mais as nações até que os mil anos se completassem. Depois disto é necessário que ele seja solto por um pouco de tempo. Então vi uns tronos; e aos que se assentaram sobre eles foi dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus, e que não adoraram a besta nem a sua imagem, e não receberam o sinal na fronte nem nas mãos; e reviveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se completassem. Esta é a primeira ressurreição.Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele durante os mil anos.

De acordo com a interpretação amilenista [1], a prisão de Satanás nos versículos 1 e 2 é a prisão que ocorreu durante o ministério terreno de Jesus. Ele falou sobre amarrar o valente a fim de poder saquear a casa (Mateus 12:29 - “Ou, como pode alguém entrar na casa do valente, e roubar-lhe os bens, se primeiro não amarrar o valente? e então lhe saquear a casa”) e disse que o Espírito de Deus estava presente naquele tempo em poder para triunfar sobre as forças demoníacas: “Mas se é pelo Espírito de Deus que eu expulso demônios, então chegou a vocês o Reino de Deus” (Mateus 12:28). Semelhantemente, com respeito à destruição do poder de Satanás, Jesus disse durante o Seu ministério: "Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago” (Lucas 10:18).

O amilenista argumenta que essa prisão de Satanás em Apocalipse 20:1-3 tem um propósito específico: “para assim impedi-lo de enganar as nações” (v. 3). Isso, então, é o que aconteceu quando Jesus veio e o evangelho começou a ser proclamado não simplesmente aos judeus, mas, após o Pentecoste, a todas as nações do mundo. De fato, a atividade missionária mundial da igreja e a presença da igreja na maioria das nações do mundo ou em todas elas mostra que o poder que Satanás tinha no Antigo Testamento de “enganar as nações” e mantê-las nas trevas acabou.

Na visão amilenista, argumenta-se que, como João viu as “almas” e não os corpos físicos no versículo 4, essa cena deve estar ocorrendo no céu. Quando o texto diz que “eles ressuscitaram”, não quer dizer que ressuscitaram fisicamente. Isso possivelmente significa que eles simplesmente “viveram”, já que o verbo no aoristo ezesan pode facilmente ser interpretado como a afirmação de um evento que ocorreu por um longo período de tempo. Alguns intérpretes amilenistas, no entanto, tomam o verbo ezesan como significando que “eles vieram à vida” no sentido de vir a uma existência celestial na presença de Cristo e começar a reinar com Ele do céu.

Conforme essa visão, a expressão “primeira ressurreição” (v. 5) refere-se a ir para o céu para estar com o Senhor. Essa não é uma ressurreição corporal, mas uma ida à presença do Senhor no céu. De modo semelhante, quando o versículo 5 diz que “o restante dos mortos não voltou a viver até se completarem os mil anos”, isso é entendido como se eles não tivessem vindo à presença de Deus para juízo até o final dos mil anos. Assim, tanto no versículo 4 quanto no 5, a expressão “voltou a viver” significa ir para a presença de Deus. (Outra posição amilenista da “primeira ressurreição” é a que se refere à ressurreição de Cristo e à participação dos crentes na ressurreição de Cristo por meio da união com Ele).

2. O segundo argumento muitas vezes propostos em favor do amilenismo é o fato de que a Escritura ensina somente uma ressurreição, tanto os crentes como os descrentes serão levantados da morte, não duas ressurreições (a ressurreição de crentes antes de o milênio começar e a ressurreição de descrentes para o juízo após o fim do milênio). Esse é uma argumento importante, porque a posição pré-milenista requer duas ressurreições separada por um período de mil anos.

Evidência a favor de uma única ressurreição é encontrada em versículos como João 5:28-29, nos quais Jesus diz: “Não fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados”. Aqui Jesus fala de uma única “hora” em que tantos crentes como descrentes mortos sairão de suas tumbas (ver também Daniel 12:2; Atos 24:15).

“E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno” (Daniel 12:2)

“Tendo esperança em Deus, como estes mesmos também esperam, de que há de haver ressurreição tanto dos justos como dos injustos” (Atos 24:15)

3. A idéia de crentes glorificados e de pecadores vivendo na terra juntos é muito difícil de aceitar. Berkhof diz: “É impossível entender como uma parte da velha terra e da humanidade pecadora poderá coexistir com uma parte da nova terra e de uma humanidade já glorificada. Como poderão os santos em corpos glorificados ter comunhão com pecadores na carne? Como poderão os santos glorificados viver nesta atmosfera sobrecarregada de pecado e em cenário de morte e decadência?” [2].

4. Se Cristo vem em glória para reinar sobre a terra, então como as pessoas ainda poderiam persistir no pecado? Uma vez que Jesus esteja realmente presente em Seu corpo ressurreto e reinando como rei sobre a terra, não parece altamente improvável que pessoas ainda O rejeitem e que o mal e a rebelião ainda cresçam na terra até o ponto de finalmente Satanás reunir as nações para a batalha contra Cristo?

5. Em conclusão, os amilenistas dizem que a Escritura parece indicar que todos os eventos mais importantes que ainda estão por acontecer antes do estado eterno ocorrerão de uma só vez. Cristo vai retornar, haverá uma só ressurreição de crentes e descrentes, o juízo final acontecerá, e o novo céu e a nova terra serão estabelecidos. Então, entraremos imediatamente para o estado eterno, sem qualquer milênio futuro.

NOTAS:

[1] - Aqui estou seguindo amplamente a excelente discussão de Anthony A. Hoekema, na obra Milênio: significado e interpretações, Robert G. Clouse, org. (Editora Cultura Cristã), p. 141-170.

[2] - Teologia Sistemática, p. 658.

Fonte: Wayne Grudem, Teologia Sistemática, Editora Vida.