Muitos crêem que as características doutrinárias definidoras do
dispensacionalismo é sua escatologia singular. Certamente é a escatologia que
ganha a maior atenção. Contudo, na realidade, a doutrina que define o
dispensacionalismo, o seu sine qua non, é sua doutrina da igreja. O dogma
fundamental é que a Igreja não é Israel. Essa declaração quer dizer várias
coisas, mas a mais importante é o ensino dispensacionalista que a igreja, ou
corpo de Cristo, consiste somente daqueles crentes salvos entre o Pentecoste
e o Arrebatamento. Os santos do Antigo Testamento não são parte da Igreja,
o corpo de Cristo.
Parte da dificuldade em avaliar a distinção dispensacionalisata entre
Israel e a Igreja é a falta de definições precisas na literatura dispensacionalista.
Tanto “Israel” como “Igreja” são usados numa variedade de sentidos por
todo o Novo Testamento, e dizer simplesmente que a Igreja não é Israel é
uma simplificação grosseira. Obviamente, se queremos dizer por “Israel” o
Estado político de Israel ou os judeus incrédulos, então a Igreja não é Israel.
Mas visto que dentro da nação incrédula de Israel sempre houve um
remanescente, um “Israel verdadeiro”, não é correto fazer uma declaração
geral abrangente divorciando Israel da Igreja em todo sentido das palavras.
No Antigo Testamento, a nação incrédula tinha um remanescente de
crentes nela. Esse Israel verdadeiro, que incluía homens tais como Davi e
Daniel, eram aqueles que não eram circuncidados apenas na carne, mas
também no espírito. Quando Cristo veio, vemos a distinção entre o Israel
nacional e incrédulo e o Israel verdadeiro. Os escribas e fariseus eram
geralmente parte do Israel nacional incrédulo. Os apóstolos eram parte do
Israel verdadeiro. Em Pentecoste, quando quase todos concordam que um
novo estágio na história redentora começou, o Israel verdadeiro, o
remanescente do Israel nacional, era a igreja. Nas décadas e séculos vindouros,
os gentios começaram a ser adicionados a esse Israel verdadeiro – a igreja, mas
isso não mudou o fato que existia e existe uma continuidade entre o Israel do
Antigo Testamento e a igreja do Novo Testamento. A Igreja não é o Israel
nacional ou incrédulo. Mas a Igreja é o Israel verdadeiro, o remanescente do
Israel nacional. Existem vários lugares na Escritura onde essa verdade é
claramente ensinada. Aqui nos focaremos brevemente em três.
Romanos 11:11-24 ensina claramente a unidade dos crentes de todas as
eras. A ilustração da oliveira nesta passagem é uma das seções melhores conhecidas do livro de Romanos, mas seu significado nem sempre tem sido
claro, especialmente para aqueles que separariam os crentes do Novo e do
Antigo Testamento em corpos distintos. Existem quatro pontos principais
neste texto da Escritura que são relevantes para o nosso tópico:
1. A oliveira cultivada é o Israel natural.
2. Os ramos naturais que foram cortados são os judeus
incrédulos.
3. Os ramos bons que permanecem são os judeus crentes.
4. Os ramos bravos que são enxertados na oliveira boa são os
gentios crentes.
A coisa mais importante a ser observada aqui é que existe apenas uma
oliveira boa. No Antigo Testamento ela tinha contido tanto judeus incrédulos
quanto crentes. Mas quando Cristo veio, os judeus incrédulos foram cortados,
deixando apenas os judeus crentes. Crentes gentios estavam então, e ainda
estão agora sendo enxertados nessa oliveira boa – o remanescente crente – o
Israel verdadeiro. Fosse verdade o dispensacionalismo, a ilustração não faria
sentido. Paulo não diz que Deus plantou uma oliveira completamente nova,
na qual ele agora enxerta judeus e gentios crentes. Não, os judeus crentes
continuaram ali onde estavam em sua relação pactual com Deus. Deus trouxe
os crentes gentios para essa relação pactual já existente. O remanescente
crente de Israel, o Israel verdadeiro, e a Igreja do Novo Testamento são um e
o mesmo corpo de crentes. Esses crentes judeus e gentios são a oliveira boa.
Efésios 2:11-19 é uma passagem da Escritura que também tem
importância especial para o nosso estudo. Neste texto, Paulo compara o
estado anterior dos gentios em Cristo ao seu estado anterior à parte de Cristo.
No versículo 12, Paulo lista cinco coisas que eram verdadeiras deles antes de
se tornarem cristãos. Os crentes gentios estavam anteriormente:
1. Separados de Cristo.
2. Excluídos da comunidade de Israel.
3. Estranhos aos pactos da promessa.
4. Sem esperança.
5. Sem Deus no mundo.
Todas essas cinco coisas são mencionadas no tempo passado. Em
outras palavras, todas as cinco eram verdadeiras dos gentios antes de sua fé
em Cristo, e todas as cinco não mais eram verdade agora que os gentios
tinham fé em Cristo. O que isso significa é que os crentes gentios estão agora:
1. Em Cristo.
2. Incluídos na comunidade de Israel.
3. Herdeiros dos pactos da promessa.
4. Com Esperança.
5. Com Deus no mundo.
De acordo com Paulo, todas essas coisas são agora verdade para os
gentios crentes em Cristo.
Gálatas 3:16, 29 enfatiza a herança dos gentios nas promessas
abraâmicas. Aprendemos nesses versículos que:
1. As promessas abraâmicas foram feitas a Abraão e sua semente
(v. 16).
2. Sua Semente é Cristo (v. 16).
3. Sua semente é também todos que pertencem a Cristo (v. 29).
4. Portanto, as promessas abraâmicas pertencem a Cristo e a
todos os que são seus (v. 29).
De acordo com Paulo, as promessas abraâmicas pertencem a todos que
estão em Cristo e somente àqueles em Cristo. Visto que ele é o verdadeiro
herdeiro, a verdadeira Semente, ninguém pode herdar as promessas à parte de
Cristo. À parte da união com Cristo, nenhum judeu ou gentio tem qualquer
reivindicação às promessas abraâmicas.
A distinção dispensacionalista entre dois povos de Deus é biblicamente
indefensável. Todos os que são salvos estão em Cristo, e somente aqueles que
estão em Cristo são salvos. Não existe outra forma de salvação à parte da
união com Cristo no único corpo de Cristo, a igreja – o verdadeiro Israel de
Deus.
Fonte: Every Thought Captive, Volume 5, Issue 2.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Nenhum comentário:
Postar um comentário