google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Escatologia Reformada : outubro 2018

sábado, 27 de outubro de 2018

Paulo, Jesus e o Arrebatamento



A Igreja apostólica viveu na expectativa do retorno de Cristo em glória e majestade. Paulo definiu os cristãos como aqueles que experimentam a graça de Deus, vivem uma vida santificada e “aguardam a bendita esperança e a manifestação [epiphaneia = aparecimento] da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tito 2:13). Essa “bendita esperança” do glorioso aparecimento de Cristo para “julgar vivos e mortos” (II Tim. 4:1; I Tim. 6:14) tornou-se a esperança da Igreja cristã, até que John Nelson Darby, erudito inglês (1800-1882), começou a ensinar a nova teoria de um arrebatamento secreto, pré-tribulação, sete anos antes da vinda de Jesus Cristo. 

De acordo com esse ponto de vista, Cristo vem de modo invisível para os Seus santos. Na gloriosa parousia (advento) ou epifania (aparecimento), Cristo retornará com os santos. Tal compreensão de uma segunda vinda em duas fases é resultado de um sistema hermenêutico chamado literalismo, originado por Darby e popularizado por C. I. Scofield, na Nova Bíblia de Referência Scofield. 

A diferença fundamental entre a teoria do arrebatamento secreto e o cristianismo histórico é a doutrina de que Cristo voltará em glória exatamente sete anos depois do arrebatamento da Igreja. Encoberto na construção dessa teoria está o estabelecimento de uma data para o segundo advento; algo explicitamente proibido por Jesus Cristo (Mat. 24:36; Atos 1:6 e 7). Conceituados eruditos da Bíblia têm escrito muitas avaliações críticas desse futurismo ou dispensacionalismo, especialmente da radical dicotomia que ele cria entre Israel e a Igreja. 

Neste artigo, oferecemos uma revisão da posição bíblica sobre a bendita esperança, tal como ensinada por Jesus e Paulo. As passagens principais são Mateus 24:29-31; João 14:3; I Cor. 15:51 e 52; I Tes. 4:13-18; II Tes. 1:5-10; 2:1-8. Todos os textos necessitam ser interpretados dentro do seu contexto histórico e literário. Nosso uso das palavras “Igreja”, “Israel”, “parusia” e “iminente” deve ser determinado pela revelação progressiva do Novo Testamento, ao invés de considerações dogmáticas.

Jesus e a Parousia

Dentre os quatro evangelhos, somente Mateus 24 usa o termo parousia (presença, vinda, chegada) para o glorioso aparecimento de Jesus. Desde o início, a vinda de Cristo está conectada com o julgamento retribuitivo de Deus no fim dos tempos. “Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da Tua vinda [parousia] e da consumação do século.” (Mat. 24:3). Jesus afirmou essa coincidência quando disse que todos os povos sobre a Terra verão o sinal de Sua parusia quando vier nas nuvens do céu com os anjos, “com poder e muita glória”, como o “Filho do homem” da visão de Daniel (Dan. 7:13 e 14).

“Logo em seguida à tribulação [thlipsis] daqueles dias . . . . Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; todos os povos da Terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória” (Mat. 24:29 e 30). Cristo enfatizou a visibilidade universal de Sua parousia, ao dizer: “Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do homem” (v. 27).

É essencial reconhecer que Jesus adotou as expressões “tribulação”, “Filho do homem”, “as nuvens do céu”, “poder e muita glória”, das visões de Daniel. Os capítulos 7 e 12 do livro de Daniel descrevem a libertação final do povo do concerto, fiel a Deus, como acontecendo depois da tribulação no tempo do fim (Dan. 7:25-27; 12:1 e 2). Daniel retrata o livramento pós-tribulação dos santos através da intervenção do real “Filho do homem” ou Miguel celestial. Jesus apresentou-Se como o divino Messias da visão de Daniel e anunciou que o julgamento de Deus será dramaticamente realizado em Sua parusia com reverente poder e glória. Todos os povos da Terra não apenas testemunharão essa parusia, mas, conseqüentemente, também se lamentarão ou se encherão de remorso e desespero. 

Cristo usou expressões do livro de Daniel para descrever a libertação final de Seu povo após a tribulação do tempo do fim.

Esse lamento de Mateus 24 é ampliado por João no Apocalipse: “Eis que vem com as nuvens, e todo olho O verá, até quantos O traspassaram. E todas as tribos da Terra se lamentarão sobre Ele” (Apo. 1:7; ver também Apo. 6:12-17). Não se trata de um lamento como arrependimento, mas por causa do desespero e temor em virtude da aproximação do julgamento final.

Escritos gregos contemporâneos usavam a palavra parousia como o termo oficial para descrever a chegada triunfante de reis e governantes em visita a uma determinada cidade. Jesus endossou a perspectiva profética de Daniel ao declarar que Sua parusia poderia ocorrer “logo em seguida” à tribulação do Seu povo (Mat. 24:21, 22, 29 e 30; Dan. 12:2). Claramente Ele também ensinou uma parusia pós-tribulação.

O que os dispensacionalistas sustentam, entretanto, é que Jesus direcionou Seu discurso profético exclusivamente a Seus discípulos, representantes de Israel como nação escolhida; de modo que Mateus 24 não é aplicável à Igreja, ao arrebatamento ou à ressurreição. 

Ironicamente, de todos os quatro escritores evangélicos da Bíblia, somente Mateus usa o termo ekklèsia = igreja (Mat. 16:18; 18:17). Ele define a Igreja de Cristo como o corpo de todos os que, à semelhança do apóstolo Pedro, confessam a Jesus como o Messias de Israel (Mat. 16:16-19), o corpo no qual a presença de Cristo habita até Sua parusia ou a consumação dos séculos (Mat. 18:20; 28:20). Jesus designou os crentes como “Minha igreja”, “Seus escolhidos” (Mat. 16:18; 24:31).

É difícil entender como alguém pode negar o fato de que os apóstolos, para quem Jesus direcionou Seu discurso profético, também foram os fundadores e os primeiros membros da Igreja cristã. Eles eram representantes de todos os crentes em todas as nações (Atos 1:8). O discurso profético de Cristo em Mateus 24 é, portanto, direcionado à igreja apostólica até a consumação dos séculos. Qualquer tentativa de separar os apóstolos ou Mateus 24 da Igreja é uma compartimentalização antibíblica.

Pedro se referiu aos membros da Igreja como “povo de propriedade exclusiva” (I Ped. 2:9), ou “eleitos” (I Ped. 1:1 e 2). Semelhantemente, Paulo falou da Igreja como “eleitos de Deus” (Rom. 8:33). Jesus certamente não restringiu Seus eleitos ao remanescente judeu de crentes depois de testemunhar a maior fé de um centurião romano do que de qualquer israelita: “Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos Céus. Ao passo que os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes” (Mat. 8:11 e 12).

O argumento de que Jesus não menciona o arrebatamento ou a ressurreição em Mateus 24, porque “o arrebatamento não ocorre na segunda vinda,” suscita uma questão. Uma hipótese tão precária não está baseada na Escritura mas sobre considerações doutrinárias. Em Mateus 24, Jesus respondeu a uma pergunta particular dos discípulos a respeito dos sinais de Sua parusia (v. 3). Então, Jesus apontou o livro de Daniel como fonte primária de Sua resposta (v. 15). Ali nós lemos como o livramento dos santos na tribulação do tempo do fim ocorrerá: Miguel descerá para seu resgate e para realizar a ressurreição dos mortos (Dan. 12:1 e 2).

Portanto, devemos ler Mateus 24, tendo Daniel como fundo, para ter um quadro completo. Posteriormente, quando Jesus assegurou a Seus discípulos que Ele viria outra vez para levá-los à casa do Pai no Céu (João 14:2 e 3), não estava sugerindo um arrebatamento secreto, mas explicando o confortador propósito de Sua mais antiga promessa de ressuscitá-los da morte, “no último dia”: “De fato, a vontade de Meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nEle crer tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia” (João 6:40).

O Apocalipse de Paulo

Por volta de 50 ou 51 A.D., Paulo escreveu duas cartas pastorais à igreja de Tessalônica que ele mesmo fundara. Por causa da forte proteção oferecida aos cidadãos tessalonicenses, pelo imperador romano, eles se tornaram hostis àqueles que glorificavam a Cristo como seu Rei e Redentor (Atos 17:1-9). O tema central de Paulo para os cristãos tessalonicenses era a esperança na parusia, um termo que ele usou sete vezes nessas cartas.

Paulo descreveu a abençoada esperança da Igreja com uma preponderância de paralelos com Mateus 24. Um erudito concluiu, depois de detalhada comparação: “Em Mateus e Paulo nós encontramos as mesmas palavras gregas, usadas no mesmo sentido e em contextos similares”. Outro estudioso anotou 24 paralelos substanciais entre Mateus 24 e 25 e as duas cartas aos tessalonicenses: “Há maior quantidade de material paralelo no relato de Mateus do que em Marcos e Lucas, levando à conclusão de que as palavras de Jesus, tal como relatadas por Mateus, foram a fonte do ensinamento de Paulo”. 

Paulo reconheceu a autoridade do ensinamento de Cristo e apelou à “palavra do Senhor” para fazer sua descrição da esperança cristã (I Tes. 4:15). Ele adotou muitos dos conceitos e expressões fundamentais de Jesus, tais como a parusia do Céu, a reunião final dos santos pelos anjos, nuvens dos céus, o som da última trombeta, a vinda do Dia do Senhor como um ladrão de noite. Jesus e Paulo também enfatizaram que uma apostasia sacrílega se desenvolveria na Igreja institucional, acompanhada por sinais enganosos e falsas maravilhas, antes da reunião dos santos na gloriosa parousia de Cristo (Mat. 24:10-12, 24, 29 e 30; II Tes. 2:1, 3-10).

Não admira que estudiosos do Novo Testamento que têm comparado os dois relatos meticulosamente, concordem que “o paralelismo substancial é notavelmente extensivo, e inclui tanto paralelismo de estrutura como de idéias”. Essa evidência requer nossa consideração sobre a escatologia de Paulo como uma elucidação e aplicação do discurso profético de Jesus.

Paulo poderia ter usado uma coleção de ensinamentos de Jesus, anteriores aos escritos do evangelho de Mateus. Nós focalizamos o uso que Paulo fez do termo parousia, em comparação com seu uso por Jesus em Mateus 24. Paulo respondeu à questão de alguns crentes tessalonicenses sobre se os que morreram no Senhor tinham qualquer desvantagem em relação aos que sobrevivessem. Poderiam os santos mortos perder a glória da parusia? Eles necessitavam da segurança da esperança cristã, em contraste com os que não têm esperança (I Tes. 4:13).

Paulo fundamentou a esperança do evangelho na certeza da ressurreição de Jesus: “Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em Sua companhia, os que dormem” (I Tes. 4:14). Essa passagem afirma que todos os que morreram no Senhor seguramente serão ressuscitados, tal como Jesus morreu e ressuscitou dos mortos. A frase “trará, em Sua companhia” não sugere qualquer retorno de almas dos Céus à Terra, mas o ato de Deus trazer os mortos à vida, assim como trouxe Jesus da tumba, como “as primícias dos que dormem” (I Cor. 15:20 e 23).

O apóstolo continua sua explicação da seguinte maneira: “Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a Sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos Céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor” (I Tes. 4:15-17).

O propósito de Paulo não foi descrever os sinais que introduzem o segundo advento, mas “pela palavra [ou autoridade] do Senhor” responder a indagação específica sobre os santos mortos em relação à parusia. Nos versos 13-16, ele tranqüiliza os entristecidos crentes, garantindo-lhes que os mortos em Cristo não terão desvantagem alguma em relação aos santos vivos, porque eles “ressuscitarão primeiro”. Os dois grupos são então simultaneamente arrebatados “para o encontro do Senhor nos ares”.

Em sua primeira carta aos tessalonicenses, Paulo ensina justamente o oposto do arrebatamento secreto.

Dessa forma, o advento de Cristo sincroniza com a ressurreição e a trasladação dos santos. Em I Tes. 4:16 e 17, Paulo claramente ampliou em detalhes o que Jesus revelara em Mateus 24:30 e 31. Não há necessidade nem justificativa para compartimentalizações. Jamais deveríamos entender que Paulo esteja revelando uma parusia, uma ressurreição e reunião dos santos diferentes do que foi mencionado por Jesus em Mateus 24. A mesma trombeta que anuncia o encontro dos eleitos em Mat. 24:31 também chama à vida os santos que dormem em Cristo (I Cor. 15:52; I Tes. 4:16).

Como comandante-em-chefe das hostes angelicais, Cristo aparecerá no céu, com sons tais como os de ruidosas trombetas, em Sua gloriosa parusia. Em I Tes. 4:16 e 17, o apóstolo Paulo ensina justamente o oposto do arrebatamento secreto.

Em seu famoso “capítulo da ressurreição” escrito à igreja de Corinto, Paulo novamente introduz a trombeta apocalíptica para anunciar a ressurreição e a trasladação de todos os santos: “Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (I Cor. 15:51 e 52). O apóstolo não diz que o arrebatamento terá lugar “num momento”, mas que o corpo perecível do crente será transformado instantaneamente, “num abrir e fechar de olhos”, em um corpo imortal (ver Fil. 3:20 e 21). Essa mudança, entretanto, somente acontecerá “ao ressoar da última trombeta”, que será ouvida, conforme Jesus Cristo, em Sua gloriosa parusia (Mat. 24:31).

Outra indagação dos tessalonicenses levada a Paulo diz respeito ao tempo do Dia do Senhor: “Irmãos, relativamente aos tempos e às épocas. . . [kairos = data]” (I Tes. 5:1). O apóstolo respondeu que tal preocupação devia ser deixada de lado, considerando que a data desse dia não pode ser prevista, pois “o dia do Senhor vem como ladrão de noite” (I Tes. 5:2) súbita e inesperadamente para os descrentes (v. 3), mas aguardado pelos santos que vivem em constante prontidão (I Tes. 5:4-8; Mat. 25:13).

Paulo salientou que o Dia do Senhor, ou a parusia de Cristo (I Tes. 5:23), terá um duplo aspecto: “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo” (5:9). O apóstolo usou a palavra “ira” para indicar o julgamento retribuitivo de Deus (I Tes. 1:10; Rom. 5:9), o qual ele mesmo descreve em II Tessalonicenses 1:7-10.

Em sua segunda carta à igreja de Tessalônica, Paulo enfrentou uma situação diferente. Agora ele devia tratar com um erro relacionado ao tempo da parusia e da reunião dos santos (II Tes. 2:1). Alguns irmãos criam que “o dia do Senhor” havia chegado (v. 2). Como resultado dessa crença, tornaram-se confusos e se recusavam a trabalhar (II Tes. 3:10 e 11). Esse prematuro senso de cumprimento apocalíptico exigiu uma refutação por parte do apóstolo. Ele recorda sua instrução anterior concernente ao futuro surgimento do “homem da iniqüidade”, como um evento que deve ocorrer antes do Dia do Senhor (2:3). Em virtude de que esse anticristo ainda não tinha feito sua aparente parusia, “com todo poder, e sinais e prodígios da mentira” (2:9), Paulo explicou que o dia da parusia de Cristo também ainda não havia chegado (vs. 3, 4 e 9).

Como um segundo argumento contra a injustificada insistência na expectação de imediata e iminente vinda de Cristo, Paulo recorda aos tessalonicenses o bem conhecido poder restritivo que deteve o aparecimento público do “homem da iniqüidade” naquele tempo (II Tes. 2:4-7). Para compreender apropriadamente a predição paulina de uma apostasia maciça ou afastamento da fé cristã antes do Dia do Senhor, devemos reconhecer a aplicação que ele faz das profecias de Daniel sobre o inimigo de Deus (caps. 7, 8, 11 e 12).

De Daniel 7, os Pais da Igreja aprenderam que o detentor do surgimento do anticristo era o poder civil do Império Romano e seu imperador. Os dispensacionalistas insistem em que o detentor que seria removido antes de ser revelado “o homem da iniqüidade” é o Espírito Santo trabalhando através da Igreja, insinuando assim o seu arrebatamento “a qualquer tempo”.

Em II Tessalonicenses 2, a intenção de Paulo é precisamente refutar essa expectativa fazendo uso da seqüência dos impérios mundiais, conforme Daniel, em seu prognóstico (II Tes. 2:3 e 4 aplica Dan. 7:25; 8:25; 11:36, como a New American Standard Bible indica). Daniel é a chave indispensável para a compreensão do esboço que Paulo faz da Igreja em II Tessalonicenses 2.15 O apóstolo adverte a igreja para atentar aos sinais da apostasia, de modo que a parusia ou o Dia do Senhor não a surpreenda como um ladrão (I Tes. 5:1-6). 

Paulo salientou ainda o efeito da parusia sobre o anticristo: o Senhor virá para destruir “o iníquo . . . com o sopro da Sua boca, e o destruirá pela manifestação de Sua vinda” (2:8). O efeito sobre os santos será o oposto: “Irmãos, no que diz respeito à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião com Ele. . .” (2:1). Assim Paulo repete a união inseparável da parusia e do arrebatamento, conforme descrito em I Tessalonicenses 4. 

O evangelho apocalíptico de Paulo assemelha-se muito ao de Cristo em Mat. 24:21-31. Jesus e Paulo apresentam a segunda vinda e o arrebatamento da Igreja como um só evento que ocorrerá imediatamente à tribulação patrocinada pelo anticristo. Enquanto o Mestre advertiu particularmente contra o engano de uma parusia secreta e invisível (Mat. 24:26 e 27), Paulo fez o mesmo especificamente contra o engano de uma parousia a qualquer momento (II Tes. 2:3-8).



quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Os 144.000



Não é razoável interpretar os 144.000 de modo literal, pois os números em Apocalipse não são literais, mas simbólicos. A Igreja é representada pelos 7 candelabros (1.20), pelos 24 anciãos (4.4, pois a Igreja foi erigida sobre o fundamento dos profetas do Antigo Testamento e dos Apóstolos conforme lemos em Ef 2.20, ou seja, sobre os 12 Patriarcas de Israel e sobre os 12 Apóstolos, que somados são igual a 24; Deus não possui dois povos, mas apenas um, pois a parede de inimizade entre gentios e judeus foi derrubada em Cristo, que, de ambos os povos, fez um só - Ef 2.16); E, agora, vemos esta mesma Igreja sendo descrita em termos de uma multidão de 144.000 (7.4), composta por homens castos ou virgens (14.4), 12.000 de cada tribo de Israel (7.5). E, por fim, a Igreja é também descrita como uma multidão incontável de remidos de todos os povos, tribos, línguas e nações (7.9).

Charles Taze Russell, fundador da seita Testemunhas de Jeová, chegou a conclusão de que apenas 144.000 seriam salvos. Como sua igreja cresceu a ponto de superar em muito este número, ele reformulou sua tese, ensinando, agora, que 144.000 irão para o céu e uma grande multidão de salvos de segunda categoria habitarão um paraíso terrestre. Eis aí um mero exemplo das complicações advindas de interpretações literais dos números no Livro de Apocalipse.

Também não dá para interpretar o número 144.000 literalmente devido as dimensões da Nova Jerusalém, que seriam imensamente desproporcionais para um número tão reduzido de habitantes (Ap 21.16-17). E, se fossemos interpretar literalmente, haveríamos de concluir que apenas homens e, ainda por cima, virgens, (14:4) dentre os hebreus é que seriam selados. Ficando de fora os homens casados como o Pai Abraão e Moisés, e todas as mulheres. Algo totalmente fora de cogitação!

No livro de Apocalipse, a Igreja é que está em foco e não os judeus. O Apocalipse foi escrito para consolar e encorajar a Igreja, e que conforto e ânimo seus membros teriam numa interpretação literal dos 144.000 que contempla apenas os judeus? Por que Jesus concederia proteção especial para 144.000 judeus e não para a Sua Igreja (7.3)? Por que apenas os 144.000 seriam selados e não também aquela multidão inumerável de cristãos de todos os povos, tribos, línguas e nações?

À luz do Novo Testamento, a parede de separação entre judeus e gentios foi derrubada (Ef 2.14) e não poderia estar aqui em Apocalipse de novo reconstruída através uma visão celestial que separasse Israel da Igreja. Deus não possui dois povos, mas um só, e dele fazem parte judeus e gentios unidos e lavados pelo sangue de Jesus (Ef 2.16). O que está em vista em Apocalipse é a Igreja da qual Jesus é o Cabeça. Em Apocalipse 7, temos a igreja sendo descrita de duas formas distintas, uma como um grupo bem definido, sem tirar e nem por, e também como uma multidão inumerável.

A Igreja é denominada de o Israel de Deus, o que determina isto não é a circuncisão, mas o novo nascimento! "De nada vale ser circuncidado ou não. O que importa é ser uma nova criação. Paz e misericórdia estejam sobre todos os que andam conforme essa regra, e também sobre o Israel de Deus" (Gl 6.16). 

E Tiago, como Apóstolo de Cristo, inicia sua Epístola escrita para a Igreja, referindo-se à ela como as 12 tribos de Israel: "Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos dispersas entre as nações: Saudações". E Paulo afirma que "... mediante o evangelho, os gentios são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e co- participantes da promessa em Cristo Jesus" (Ef 3.6). Por isto, o verdadeiro Israel é a Igreja que é herdeira da promessa feita a Abraão: "Não pensemos que a palavra de Deus falhou. Pois nem todos os descendentes de Israel são Israel. Nem por serem descendentes de Abraão passaram todos a ser filhos de Abraão. Ao contrário: “Por meio de Isaque a sua descendência será considerada”. Noutras palavras, não são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são considerados descendência de Abraão." (Rm 9.6-8). Portanto, "os que são da fé, estes é que são filhos de Abraão" (Gl 4.7).

Há que se reconhecer que os 144.000 castos sejam, de fato, uma representação da Igreja do Senhor Jesus Cristo pela qual ele morreu para santificá-la e apresentá-la imaculada a Deus: "... assim como Cristo amou a igreja e entregou- se por ela para santificá- la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável (Ef 5.25-27).

Como o Livro de Apocalipse foi escrito para a Igreja e não para Israel, e também porque se trata de uma literatura apocalíptica repleta de figuras de linguagem, é natural que se conclua que os 144.000 (Ap 7 e 14) sejam uma ilustração da Igreja, pois além de todos os argumentos já apresentados, temos também que as descrições dos 144.000 acabam por reforçar ainda mais esta interpretação, pois a expressão "até que selemos as testas dos servos do nosso Deus” (7.4) indica que os 144.000 sejam uma clara referência a Igreja como um todo, pois sabemos que os salvos da Igreja é que são descritos como os selados (Ef 1.13; 4.30); e também é óbvio que os "servos do nosso Deus" no Novo Testamento só podem ser uma referência a Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo, tanto que os Apóstolos de Cristo, Paulo e Tiago, se apresentam exatamente como "servos de Deus" (Tt 1.1 e Tg 1.1); Mesmo no Livro do Apocalipse os membros da Igreja ou os salvos em Cristo que desfrutaram a eternidade na Nova Jerusalém são chamados de servos (Ap 22.3-9; Ap 19.10). Repare que é claramente dito que o Senhor enviou o seu anjo para mostrar aos seus servos as coisas que em breve hão de acontecer, e sabemos que a revelação do Apocalipse foi dada as Sete Igrejas (Ap 22.3).

Os mártires cristãos, vencedores da Besta, cantarão o cântico de Moisés e o do Cordeiro. Pois a igreja congrega em si mesma ambos os povos, judeus e gentios (Ef 2), de modo que os cânticos de vitória das duas Páscoas estão em sintonia sendo entoados pelo povo de Deus que é a Igreja em louvor ao único e verdadeiro Messias que é o Rei das Nações (Ap 15.3).

Portanto, não há motivo para concluirmos que o uso da expressão "servos do Senhor" seja um indicativo do povo de Israel, pois os da Igreja é que são assim também nomeados no Novo Testamento. A Igreja é a manifestação do remanescente de Israel. Notar que o primeiro gentio a se converter foi Cornélio. O que vale dizer que a Igreja era composta originariamente de crentes judeus, pelos remanescentes de Israel (Rm 2.28,29; 3.3,4; 9.6-8,27,29; 11.15), os gentios foram acrescentados nesta mesma Oliveira. Neste sentido, há muito mais continuidade do que descontinuidade (Ef 2.18-20; 3.6; Gl 3.6-29). Não houve mudança no plano de Deus (Ef 1.3-4), mas revelação progressiva (Gl 6.16; 3.13,14). O Verdadeiro Israel é aquele que possui o Messias. Cristo é a Videira verdadeira (Jo 15.1), a videira é símbolo notório de Israel. O verdadeiro herdeiro de Abraão é o que tem fé no Messias prometido (Gl 3.1s). E não é sem propósito que o número de apóstolos da Igreja é idêntico ao número de tribos de Israel. A Igreja é agora “o Israel de Deus” (Gl 6.16), composta por judeus (o remanescente de Israel, os judeus que aceitam o Cristo) e por gentios crentes (Ef 2).

Além disto, Apocalipse 14.1 descreve os 144.000 como estando ao lado do Cordeiro, trazendo escritos na testa o nome dele, o que confirma tratar-se de um grupo cristão de seguidores de Jesus Cristo, pois também é dito que eles "seguem o Cordeiro por onde quer que ele vá" (14.4). Os 144.000 também são descritos como aqueles que "haviam sido comprados da terra", e sabemos bem que os remidos da Igreja é que "foram comprados por alto preço" (1 Co 6.20; 7.23).

Portanto, doze é o número usado para representar o povo de Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento. São Doze Tribos no Antigo e Doze Apóstolos no Novo. Sabemos também que o número mil representa plenitude como vemos em Apocalipse 20 e no Salmo 84:10: "Melhor é um dia nos teus átrios do que mil noutro lugar"; E, até mesmo em expressões corriqueiras se percebe este uso do mil, tais como: "mil vezes mais" e "eu já ti falei mil vezes". Sendo assim, é bastante lógico concluir que o que o número 144.000 (12 X 12 X 1.000) está sendo utilizado para representar a totalidade do povo de Deus, a soma dos remidos do Antigo e do Novo Testamento, que também são representados pelos 24 anciãos e pelos sete candelabros.



terça-feira, 16 de outubro de 2018

A Segunda Vinda de Cristo, um Evento Único


Enquanto os profetas não distinguem claramente uma dupla vinda de Cristo, o próprio Senhor e os apóstolos deixam mais que claro que à primeira vinda seguir-se-á uma segunda. Jesus se referiu ao Seu retorno mais de uma vez, para o fim do Seu retorno mais de uma vez, para o fim do Seu ministério público, Mt 24.30; 25.19, 31; 26.64; Jo 14.3. Ao tempo da Sua ascensão, anjos apontaram para o Seu regresso, At 3.20, 21; Fp 3.20; 1 Ts 4.15, 16; 2 Ts 1.7, 10; Tt 2.13; Hb 9.28.

Vários termos são empregados para denotar este grande evento, dos quais os seguintes são os mais importantes: (1) apocalypsus (desvendamento, revelação), que indica a remoção daquilo que agora obstrui a nossa visão de Cristo, 1 Co 1.7; 2 Ts 1.7; 1 Pe 1.7, 13; 4.13; (2) epiphaneia (aparecimento, manifestação), termo referente à vinda de Cristo, saindo Ele de um substrato oculto com as ticas bênçãos da salvação, 2 Ts 2.8; 1 Tm 6.14; 2 Tm 4.1, 8; Tt 2.13; e (3) parousia (literalmente, presença), que assinala a vinda que precede a presença ou que resulta na presença, Mt 24.3, 27, 37; 1 Co 15.23; 1 Ts 2.19; 3.13; 4.15; 5.23; 2 Ts 2.1-9; Tg 5.7, 8; 2 Pe 1.16; 3,4, 12; 1 Jo 2.28.

A Segunda Vinda de Cristo, um Evento Único

Os dispensacionalistas dos dias atuais distinguem duas vindas futuras de Cristo, embora às vezes procurem preservar a unidade da idéia da segunda vinda falando dela como dois aspectos daquele grande evento. Mas, desde que as duas são, na realidade, apresentadas como dois eventos diferentes, separados por um período de vários anos, cada qual com seu propósito, dificilmente poderão ser consideradas como um evento único. A primeira é a paurosia, ou simplesmente “a vinda”, e resulta no arrebatamento dos santos, às vezes descrito como um arrebatamento secreto. Esta vinda é iminente, isto é, pode ocorrer a qualquer momento, visto que não há eventos preditos que devam preceder sua ocorrência. A opinião dominante é que, nesse tempo, Cristo não descerá à terra, mas permanecerá nas alturas. Os que morrem no Senhor ressuscitarão dos mortos, os santos vivos serão transfigurados, e juntos recolhidos para encontrar-se com o Senhor nos ares. Daí, esta vinda é também denominada “vinda para os Seus santos”, 1 Ts 4.15, 16. Seguir-se-á um intervalo de sete anos, durante o qual o mundo será evangelizado, Mt 24.14, Israel se converterá, Rm 11.26, ocorrerá a grande tribulação, Mt 24.21,22, e o anticristo ou homem do pecado será revelado, 2 Ts 2.8-10.

Depois destes eventos, haverá outra vinda do Senhor com os seus santos, 1 Ts 3.13, chamada “revelação” ou “dia do Senhor”, no qual Ele descerá à terra. Esta vinda não pode ser iminente, porque terá que ser precedida por diversos eventos preditos. Quando desta vinda, Cristo julgará as nações existentes, Mt 25.31-46, e introduzirá o reino milenar. Assim, temos duas vindas distintas do Senhor, separadas por um período de sete anos, das quais, uma é iminente e a outra não, uma é seguida pela glorificação dos santos, e a outra pelo julgamento das nações e pelo estabelecimento do reino. Esta elaboração da doutrina da segunda vinda é muito conveniente para os dispensacionalistas, visto que os habilita a defender a idéia de que a vinda do Senhor é iminente, mas não tem base na Escritura e traz implicações antibíblicas. Em 2 Ts 2.1. 2., 8 as expressões parousia e “dia do Senhor” são empregadas uma pela outra, e de acordo com 2 Ts 1.7-10, a revelação mencionada no versículo 7 não se ajusta sincronicamente à parousia de que fala o versículo 10. Mt 24.19-31 apresenta a vinda do Senhor por ocasião da qual os eleitos serão reunidos como sucedendo imediatamente após a grande tribulação mencionada no contexto, ao passo que, de acordo com a teoria em foco, deverá ocorrer antes da tribulação. E, finalmente, segundo esta teoria, a igreja não passará pela grande tribulação, que é apresentada em Mt 24.426 em sincronia com a grande apostasia, mas a descrição bíblica em Mt 24.22; Lc 21.36; 2 Ts 2.3; 1 Tm 4.1-3; 2 Tm 3.1-5; Ap 7.14  é completamente diferente. Com base na Escritura, deve-se afirmar que a segunda vinda do Senhor será um único evento. Felizmente, alguns premilenistas não concordam com esta doutrina de uma dupla segunda vinda de Cristo, e se referem a ela dizendo que é uma novidade sem fundamento. Diz Frost: “Não é um fato sabido em geral, e, não obstante, é incontestável que a doutrina da ressurreição e do arrebatamento anteriores à tribulação é uma interpretação moderna – sou tentado a dizer, uma invenção moderna”.1 De acordo com o citado autor, ela tem sua origem nos dias de Irving e Darby. Outro premilenista, a saber, Alexander Reese, apresenta um argumento muito forte contra toda esta idéia em sua obra sobre O Impendente Advento de Cristo (The Approaching Advent of Christ).


Teologia Sistemática/ Louis Berkhof; traduzido por Odayr Olivetti, - 4 Ed. Revisada _ São Paulo: Cultura Cristã, 2012. P: 641,42 



sábado, 13 de outubro de 2018

4 Posições sobre a controvérsia Igreja e Israel




Ao longo da história da Igreja cristã, a questão do lugar de Israel nos propósitos redentivos de Deus tem sido de especial importância. Na história moderna, com a emergência do dispensacionalismo como uma perspectiva escatológica popular e o estabelecimento do estado de Israel em 1948, a questão teológica acerca da intenção de Deus para Israel se tornou ainda mais premente. Depois do holocausto, com o esforço nazista para exterminar os judeus por toda a Europa durante a Segunda Guerra Mundial, o problema da relação entre a e Israel foi novamente afetado pela triste realidade do antissemitismo, que muitos alegam pertencer a qualquer teologia cristã que insista em um único caminho de salvação pela fé em Jesus Cristo, seja para judeus ou gentios.

A fim de orientar a discussão dessa crucial controvérsia, precisamos começar com um entendimento claro das principais visões deste assunto que estão atualmente representadas na igreja. Essas visões ilustram não apenas a importância da questão, mas também a ampla diversidade de posições.

Dispensacionalismo pré-milenarista: o propósito especial de Deus para Israel

Embora o dispensacionalismo pré-milenarista seja uma perspectiva relativamente nova na história da teologia cristã, a sua posição acerca do propósito especial de Deus para Israel tem moldado, até mesmo dominado, os debates recentes entre os cristãos evangélicos acerca do relacionamento entre a Igreja e Israel.

No dispensacionalismo clássico, Deus tem dois povos distintos: um povo terreno, Israel, e um povo celestial, a Igreja. Segundo o dispensacionalismo, Deus administra o curso da história da redenção por meio de sete dispensações (ou economias da redenção) sucessivas. Durante cada dispensação, Deus prova os seres humanos por uma revelação distinta da sua vontade. Entre essas sete dispensações, as três mais importantes são a dispensação da lei, a dispensação do evangelho e a dispensação do reino. Embora não seja possível, num pequeno ensaio como este, descrever todas as diferenças dessas três dispensações, o que importa é a insistência do dispensacionalismo de que Deus tem um propósito separado e um modo distinto de lidar com o seu povo terreno, Israel. Durante a presente era, a dispensação da Igreja, Deus “suspendeu” seus propósitos especiais para Israel e voltou sua atenção, por assim dizer, para o ajuntamento dos povos gentios mediante a proclamação do evangelho de Jesus Cristo para todas as nações. Contudo, quando Cristo retornar a qualquer momento para “arrebatar” a Igreja antes de um período de sete anos de grande tribulação, ele retomará o programa especial de Deus para Israel. Esse período de tribulação será um prelúdio à inauguração da futura dispensação do reino de mil anos sobre a terra. Para o dispensacionalismo, o milênio marca o período durante o qual as promessas de Deus a Israel, seu povo terreno, terão um cumprimento distinto e literal. Apenas ao final da dispensação do reino milenar é que Cristo finalmente vencerá todos os seus inimigos e introduzirá o estado final.

Embora o dispensacionalismo reconheça que todos, judeus ou gentios, são salvos pela fé no único Mediador, Jesus Cristo, ele mantém uma clara e permanente distinção entre Israel e a Igreja nos propósitos de Deus. As promessas do Antigo Testamento não se cumprem mediante o ajuntamento da Igreja de Jesus Cristo de entre todos os povos da terra. Essas promessas são dadas a um povo terreno e etnicamente distinto, Israel, e serão cumpridas de modo literal apenas durante a dispensação do reino que segue a presente dispensação do evangelho.

A visão reformada tradicional: um único povo de Deus

Ao contrário da rígida distinção do dispensacionalismo entre os dois povos de Deus, Israel e a Igreja, a teologia reformada histórica insiste na unidade do programa redentivo de Deus ao longo da história. Quando Adão, o cabeça pactual e representante da raça humana, caiu no pecado, todos os seres humanos enquanto sua posteridade se sujeitaram à condenação e à morte (Romanos 5.12-21). Em virtude do pecado de Adão e de suas implicações para toda a raça humana, todos se sujeitaram à maldição da lei e se tornaram herdeiros de uma natureza pecaminosa e corrupta.

Segundo a interpretação reformada tradicional da Escritura, Deus introduziu o pacto da graça, após a queda, a fim de restaurar o seu povo eleito à comunhão e intimidade consigo mesmo. Embora o pacto da graça seja administrado de maneiras diversas ao longo da história da redenção, ela permanece uma em substância, desde o tempo de sua ratificação formal com Abraão até a vinda de Cristo na plenitude do tempo. Em todas as várias administrações do pacto da graça, Deus redime o seu povo mediante a fé em Jesus Cristo, o único Mediador do pacto da graça, por meio de quem os crentes recebem o dom da vida eterna e a comunhão restaurada com o Deus vivo [vide Louis Berkhof, Teologia sistemática (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2013].

No entendimento reformado da história da redenção, portanto, não há nenhuma separação radical entre Israel e a Igreja. A promessa que Deus fez a Abraão na ratificação formal do pacto da graça (Gênesis 12, 15, 17), a saber, que ele seria o pai de muitas nações e quem em seu “descendente” todas as famílias da terra seriam abençoadas, encontra seu cumprimento em Jesus Cristo. O descendente prometido a Abraão no pacto da graça é Jesus Cristo, o verdadeiro Israel, e todos aqueles que mediante a fé são unidos a ele e, assim, são feitos herdeiros das promessas do pacto (Gálatas 3.16, 29). Na visão reformada, o evangelho de Jesus Cristo cumpre diretamente as promessas do pacto da graça para todos os crentes, sejam judeus ou gentios. Israel e a Igreja não são dois povos distintos; em vez disso, a Igreja é o verdadeiro Israel de Deus, “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus” (1 Pedro 2.9).

A teologia dos “dois pactos”

Na história recente da reflexão sobre Israel e a Igreja, surgiu uma posição nova e mais radical. Frequentemente ligada ao nome de Franz Rosenzweig, o autor judeu de uma obra escrita logo após a Primeira Guerra Mundial e intitulada The Star of Redemption,[1] a teologia dos dois pactos ensina que há dois pactos separados, um entre Deus e Israel e outro entre Deus e a Igreja de Jesus Cristo. Em vez de haver um único caminho de redenção mediante a fé em Jesus Cristo para crentes judeus e gentios indistintamente, o relacionamento pactual original de Deus com o seu povo ancestral, Israel, permanece separado do seu novo relacionamento pactual com as nações gentias por meio do Senhor Jesus Cristo.

No cenário do segundo pós-guerra, com sua preocupação quanto ao legado de antissemitismo na Igreja cristã, a posição da teologia dos dois pactos se tornou cada vez mais popular entre muitas importantes igrejas protestantes. Mesmo dentro da Igreja Católica Romana, alguns teólogos apelaram aos pronunciamentos do Concílio Vaticano II e à encíclica Redemptoris Missio do Papa João Paulo II (1991), os quais defendem o diálogo entre cristãos e judeus, a fim de se oporem aos contínuos esforços de evangelização dos judeus. Na perspectiva dos dois pactos, a confissão cristã acerca da pessoa e obra de Cristo como o único Mediador ou Redentor permanece verdadeira dentro da moldura do pacto de Deus com a Igreja. Contudo, uma vez que o pacto de Deus com Israel é um pacto separado, que não se cumpre na vinda de Jesus Cristo na plenitude do tempo, os cristãos não podem impor a Israel os termos do pacto de Deus com a Igreja.

Teologia da substituição radical

A última posição na controvérsia sobre Israel e a Igreja que precisa ser mencionada é a que podemos denominar “teologia da substituição radical”. Embora os dispensacionalistas frequentemente insistam que a afirmação reformada tradicional de um único povo de Deus, constituído de judeus e gentios que creem em Cristo, seja uma forma de “teologia da substituição”, a visão reformada não considera que o evangelho “substitui” a antiga economia pactual com Israel, antes, que a “cumpre”. A teologia da substituição radical é o ensino de que, porquanto muitos dos judeus não reconheceram Jesus Cristo como o Messias prometido, Deus substituiu Israel pela Igreja gentílica. O evangelho de Jesus Cristo chama todas as nações e povos à fé e ao arrependimento, mas não deixa nenhum espaço para qualquer ênfase particular sobre o propósito redentivo de Deus para o seu povo ancestral, Israel. Uma vez que a Igreja é o verdadeiro Israel, o espiritual, qualquer ênfase peculiar sobre a questão do intento salvador de Deus para Israel não é mais permitida.

A teologia da substituição radical representa no espectro o extremo oposto da posição dos dois pactos. Em vez de falar de um distinto relacionamento pactual entre Deus e Israel que continua mesmo depois da vinda de Cristo e da proclamação do evangelho às nações, a teologia da substituição sustenta que o programa e o interesse de Deus em Israel cessaram.

Conclusão

A diversidade entre essas várias posições na questão de Israel e da Igreja testifica a importância da controvérsia. Tem Deus um propósito e um programa redentivo separado para Israel e a Igreja? Ou será que o evangelho de Jesus Cristo cumpre o propósito de Deus de ajuntar um povo de toda tribo, língua e nação, judeus e gentios indistintamente, em uma única família universal? Quando o apóstolo Paulo declara em Romanos 1 que o evangelho é “o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Romanos 1.16), ele declara que há um único caminho de salvação para todos os que creem em Jesus Cristo, Ainda assim, ele ao mesmo tempo afirma que essa salvação não remove nem suplanta o propósito redentivo de Deus para os judeus, mas, em vez disso, o cumpre. O contínuo debate acerca de Israel e da Igreja precisa manter o equilíbrio apostólico, não separando Israel da Igreja nem substituindo Israel pela Igreja.


sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Quatro razões para rejeitar o Arrebatamento Secreto




Um cuidadoso estudo de textos bíblicos relevantes quanto ao Retorno de Cristo sugere pelo menos quatro razões principais para rejeitar o ponto de vista de uma Segunda Vinda de Cristo em dois estágios.

O Vocabulário do Segundo Advento 

A primeira razão para rejeitar um arrebatamento secreto que antecede à tribulação é o fato de que o vocabulário do Segundo Advento não oferece respaldo para tal ponto de vista. Nenhuma das três palavras gregas usadas no Novo Testamento para descrever o Retorno de Cristo, ou seja, parousia-vinda, apokalypsis-revelação, e epiphaneia-aparecimento, sugere um arrebatamento secreto pré-tribulacional como objeto da esperança cristã no Advento.

Os pré-tribulacionistas alegam que a palavra parousia-vinda é usada por Paulo em 1 Tessalonicenses 4:15 para descrever o arrebatamento secreto. Mas em 1 Tessalonicenses 3:13 Paulo emprega a mesma palavra para descrever “a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os Seus santos”-uma descrição, segundo os pré-tribulacionistas, da segunda fase do Retorno de Cristo. Novamente, em 2 Tessalonicenses 2:8, Paulo emprega o termo parousia-vinda em referência à Vinda de Cristo que causará a destruição do anticristo-um evento que, de acordo com os pré-tribulacionistas, supostamente ocorrerá na segunda fase da Vinda de Cristo.

Semelhantemente, as palavras apokalypsis-revelação e epiphaneia-aparecimento, são utilizadas para descrever tanto o que os pré-tribulacionistas chamam de arrebatamento (1 Cor 1:7; 1 Tim 6:14) e o que chamam de Retorno, ou segunda fase da Vinda de Cristo (2 Tess 1:7-8, 2:8). Destarte, o vocabulário da Bendita Esperança não propicia base alguma para uma distinção do Retorno de Cristo em duas fases, uma vez que seus termos originais são empregados intercambiavelmente para descrever o mesmo evento. Mais importante ainda é o fato de que cada um desses três termos é claramente empregado para descrever o Retorno de Cristo pós-tribulacional, o que é visto como objeto da esperança do crente.

A parousia, por exemplo, é indisputavelmente pós-tribulacional em Mateus 24:27, 38, 39 e em 2 Tessalonicenses 2:8. O mesmo é verdade de apokalypsis-revelação, em 2 Tessalonicenses 1:7 e de epiphaneia-aparecimento em 2 Tessalonicenses 2:8. Portanto, o vocabulário da Bendita Esperança exclui a possibilidade de uma Vinda Secreta de Cristo para arrebatar a Igreja, seguida de uma tribulação de sete anos e da Vinda gloriosa, visível para estabelecer o Reino Judaico milenial. Os termos usados claramente apontam a um Advento de Cristo único, indivisível, pós-tribulacional para trazer salvação aos crentes e retribuição aos descrentes.

Nenhum Arrebatamento da Igreja

Uma segunda razão para rejeitar um arrebatamento pré-tribulacional secreto da Igreja é o fato de que não há qualquer indício no Novo Testamento de um arrebatamento instantâneo da Igreja. A descrição mais notória do Segundo Advento encontrada em 1 Tessalonicenses 4:15-17, sugere exatamente o oposto quando fala que o Senhor desce do céu “dada a Sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus” . . . “os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares”.

O clamor, a trombeta e o grande ajuntamento dos vivos e santos ressurretos dificilmente sugeriria um evento secreto, instantâneo e invisível. Pelo contrário, como freqüentemente se tem assinalado, esta talvez seja a passagem mais barulhenta da Bíblia. A referência a um ressoar “da trombeta” e paralelamente ao texto de Mateus 24:31 e 1 Coríntios 15:52, que falam de fortes sons de trombeta, corroboram a visibilidade e natureza pública do Segundo Advento. Nenhum traço de um arrebatamento secreto pode ser encontrado em qualquer destas passagens.

Nenhuma Remoção da Igreja da Grande Tribulação

Uma terceira razão para rejeitar a noção de um arrebatamento secreto pré-tribulacional da Igreja é o fato de que tal noção não tem apoio das passagens que tratam da tribulação. Por exemplo, em seu discurso no Monte das Oliveiras, Jesus fala da “grande tribulação” que imediatamente precederá a Sua vinda e promete que “por causa dos escolhidos tais dias serão abreviados” (Mat. 24:21-22, 29). Alegar que “os eleitos” são apenas os crentes judeus, e não membros da Igreja, representa ignorar que Cristo está se dirigindo a Seus apóstolos que representam não só o Israel nacional, mas a Igreja em escala ampla. Isto é confirmado pelo fato de que tanto Marcos quanto Lucas fazem referência ao mesmo discurso para a Igreja gentílica (Marcos 13; Lucas 21).

É também digna de nota a grande semelhança entre a descrição que Cristo faz do arrebatamento da Igreja em Mateus 24:30, 31 e a de Paulo em 1 Tessalonicenses 4:16, 17. Ambos os textos mencionam a descida do Senhor, a trombeta que soa, os anjos acompanhantes e a reunião do povo de Deus. Tais semelhanças sugerem que ambas as passagens descrevem o mesmo evento. Contudo, em Mateus o arrebatamento de Cristo é explicitamente situado “após a tribulação” (Mat. 24:29), ao tempo da Vinda de Cristo “com poder e grande glória” (vs. 29, 30). O paralelismo entre as duas passagens indica claramente que o arrebatamento da Igreja não precede, mas, pelo contrário, segue-se à grande tribulação.

Cristo nunca prometeu a Sua Igreja um arrebatamento pré-tribulação deste mundo. Antes, prometeu proteção em meio à tribulação. Em Sua petição ao Pai, Ele disse: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (João 17:15). Semelhantemente à Igreja de Filadélfia, Cristo promete: “Eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a Terra” (Apoc. 3:10). Se a Igreja estivesse ausente desta Terra durante a hora de prova, não haveria necessidade de proteção divina.

Nenhum Arrebatamento Pré-Tibulação nas Escrituras 

Por último, a noção de um arrebatamento secreto pré-tribulacional é negada por Paulo e pelo livro de Apocalipse. Em suas admoestações aos tessalonicenses, Paulo explica que os crentes terão “alívio” da tribulação desta era presente “quando do céu se manifestar o Senhor Jesus Cristo com os anjos do Seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus. . .” (2 Tess 1:7-8). Em outras palavras, os crentes experimentarão libertação dos sofrimentos desta era, não mediante um arrebatamento secreto, mas por ocasião da revelação pós-tribulacional de Cristo.

No segundo capítulo Paulo refuta as concepções errôneas que prevaleciam entre os tessalonicenses de que o dia do Senhor havia vindo. Para refutar esse equívoco ele cita dois eventos principais que deveriam dar-se antes da Vinda do Senhor, ou seja, a rebelião e o aparecimento do “homem da iniqüidade” (2 Tess 2:3) que perseguiria o povo de Deus.

O que é crucial nesta passagem é que Paulo não faz menção de um arrebatamento pré-tribulacional como um precedente necessário para a Vinda do Senhor. Contudo, este seria o argumento mais forte que Paulo poderia apresentar para provar aos tessalonicenses que o dia do Senhor não poderia possivelmente ter vindo, uma vez que o seu arrebatamento para fora deste mundo ainda não tivera lugar. A omissão de Paulo desse argumento vital sugere fortemente que Paulo não cria num arrebatamento pré-tribulacional da Igreja.

Esta conclusão também é apoiada pela menção por Paulo do aparecimento do anticristo-um evento indicutivelmente tribulacional que os crentes verão antes da vinda do Senhor. Se Paulo esperasse que a Igreja fosse arrebatada deste mundo antes da tribulação causada pelo aparecimento do anticristo, ele dificilmente teria ensinado que os crentes veriam tal evento antes da vinda do Senhor. Que interesse os tessalonicenses teriam no aparecimento do anticristo, juntamente com a tribulação que o acompanharia, se devessem ser arrebatados para longe desta Terra antes de esses eventos terem lugar? Assim, tanto por sua omissão quanto por sua afirmação, Paulo nega o ponto de vista de um arrebatamento pré-tribulacional da Igreja.

Nenhum Arrebatamento Pré-Tribulacional no Apocalipse

O livro de Apocalipse trata em maiores detalhes do que qualquer outro livro do Novo Testamento dos eventos associados com a grande tribulação, tais como o soar das sete trombetas, o aparecimento da besta que inflige uma terrível perseguição sobre os santos de Deus, e o derramamento das sete últimas pragas (Apoc. 8 a 16). Conquanto João descreva em grande detalhe os eventos tribulacionais, ele nunca menciona ou sugere um Advento de Cristo secreto e pré-tribulacional para levar embora a Igreja. Isto surpreende muito, em vista de que o expresso propósito de João é instruir as Igrejas com respeito aos eventos finais.

João explicitamente menciona uma incontável multidão de crentes que passarão pela grande tribulação. “São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras, e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Apoc. 7:14). Os pré-tribulacionistas argumentam que esses crentes são somente da raça judaica, supostamente em vista de que a Igreja em Apocalipse 4 a 19 não mais está sobre a Terra, mas no céu. Tal raciocínio perde o seu crédito, primeiramente pelo fato de que em parte alguma João diferencia entre os santos na tribulação que sejam judeus ou gentios.

João explicitamente declara que os crentes vitoriosos da tribulação vêm de “toda nação, tribo, língua e povo” (Apoc. 7:9). Esta frase ocorre repetidamente no Apocalipse para designar não exclusivamente os judeus, mas inclusivamente todo membro da família humana (Apoc. 5:9; 10:11; 13:7; 14:6). O Cordeiro, por exemplo, é louvado pelos 24 anciãos por ter resgatado homens “de toda tribo e língua e povo e nação” (Apoc. 5:9). Obviamente, Cristo não resgatou somente judeus, mas pessoas de todas as raças.

Êxtase de João, Não Arrebatamento da Igreja

O argumento de que a Igreja em Apocalipse 4 a 19 está no céu baseia-se num falso pressuposto de que a ordem a João, “Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer depois destas cousas” (Apoc. 4:1) refere-se supostamente ao arrebatamento da Igreja no céu. Esta é uma interpretação sem fundamento, porque o texto não fala do arrebatamento da Igreja, mas da experiência visionária extática de João. Até mesmo John F. Walvoord, destacado pré-tribulacionista, reconhece abertamente que “não há autoridade para ligar o arrebatamento com esta expressão”. [1]

As semelhanças entre as admoestações dadas nas cartas às sete Igrejas e as que são dadas aos santos que enfrentam a tribulação sugerem que os dois são essencialmente o mesmo povo. Por exemplo, quatro vezes nas sete cartas a necessidade para “suportar” é realçada (Apoc. 2:2, 3, 19; 3:10), e se espera a mesma qualidade dos santos que passam pela tribulação (Apoc. 13:10; 14:12). Semelhantemente, a necessidade de “vencer”, expressa sete vezes nas cartas às Igrejas (Apoc. 2:7, 11, 17, 26; 3:5, 12, 21), é o próprio atributo dos santos na tribulação “que venceram a besta e sua imagem” (Apoc. 15:2). Dificilmente se conceberia que João tencionava atribuir as mesmas características a dois grupos diferentes de pessoas.

A Igreja Sofre a Tribulação, Mas Não a Ira Divina

Em Apocalipse 22:16 Jesus reivindica ter enviado o Seu anjo a João “para testificar estas cousas à Igreja”. É difícil ver como as mensagens dadas pelo anjo a João poderiam ser um testemunho para as Igrejas, se a Igreja não está diretamente envolvida na maior parte dos eventos descritos no livro (Apoc. 4 a 19).

O ponto básico da questão é que a Igreja em Apocalipse sofrerá perseguição por poderes satânicos durante a tribulação final, mas não sofrerá a ira divina. A ira divina, que é retratada pelas sete pragas apocalípticas, não é derramada indiscriminadamente sobre todos, mas seletivamente sobre aqueles que são “portadores da marca da besta e adoradores da sua imagem” (Apoc. 16:2; cf. 14:9-10).

Tal como os antigos israelitas desfrutaram da proteção de Deus durante as dez pragas (Êxo. 11:7), assim o povo de Deus será protegido quando Sua ira divina cair sobre os ímpios. Essa divina proteção é representada em Apocalipse por um anjo que sela os servos de Deus em suas testas (Apoc. 7:3) de modo a que sejam poupados quando a ira de Deus sobrevir sobre os impenitentes (Apoc. 9:4). Por fim, o povo de Deus será resgatado pelo glorioso Retorno de Cristo (Apoc. 16:15; 19:11-21). Destarte, a Revelação não retrata um arrebatamento pré-tribulacional da Igreja, mas um Retorno pós-tribulacional de Cristo.

Conclusão

À luz das razões acima discutidas, concluímos que o ensino popular de uma Vinda Secreta de Cristo para arrebatar a Igreja antes da tribulação final é um sinal errado do Tempo do fim destituído de qualquer respaldo bíblico. Tal crença torna a Deus culpado de chocante discriminação, por dar tratamento preferencial à Igreja que é removida da Terra antes da tribulação final reservada aos judeus. As Escrituras ensinam que a Segunda Vinda de Cristo é um evento único que ocorre após a grande tribulação e será experimentada pelos crentes de todas as eras e de todas as raças. Esta é a Bendita Esperança que une “toda nação, e tribo, e língua e povo” (Apoc. 14:6).

Referências:  1. John F. Walvoord, The Revelation of Jesus Christ (Chicago, 1966), p. 103.