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domingo, 22 de novembro de 2020

Pré-Milenismo e Dispensacionalismo comparados




Estritamente falando, pré-milenismo e dispensacionalismo pertencem à mesma escola na qual se ensina que a vinda pessoal e visível de Cristo acontecerá antes de um reino futuro de mil anos de Cristo. Há várias similaridades em suas visões. Ambas ensinam um reino de mil anos (milenar) literal. Ambas ensinam que este milênio e reino são futuros. Ambas ensinam que o reino milenar de Cristo é terreno, centrado na cidade de Jerusalém, e que ali Cristo reinará sobre a terra pessoal e visivelmente. Ambas ensinam que as promessas de Deus a Abraão e à nação judaica, com respeito à terra, têm um cumprimento futuro, literal e terreno para esta nação. Ambas creem que “Israel” na Escritura refere-se sempre e somente aos descendentes físicos de Abraão: os judeus. E ambas as visões ensinam mais de uma ressurreição e mais de um julgamento.

Há, todavia, diferenças importantes entre o pré-milenismo e o dispensacionalismo. O dispensacionalismo ensina duas vindas de Cristo antes do milênio (mil anos antes do fim da história), a saber, o arrebatamento e a revelação (a vinda de Cristo para os seus santos e a vinda de Cristo com eles). O dispensacionalismo também ensina um arrebatamento secreto e iminente que ocorrerá antes da grande tribulação, o que significa que a igreja não passará pela tribulação, mas estará com Cristo.

O dispensacionalismo ensina que a igreja do Novo Testamento é um “parênteses” na história; e que somente a nação judaica constitui o povo e reino de Deus. Similarmente, a visão dos dispensacionalistas é que o reino milenar de Cristo será um reino exclusivamente judaico; isto é, os judeus e somente eles são o povo do reino. Juntamente com tudo isto, o dispensacionalismo ensina que o Espírito Santo estará ausente da terra durante o tempo entre o arrebatamento e a revelação, às duas vindas pré-milenares de Cristo.

Para aumentar ainda mais a confusão, o dispensacionalismo antigo das notas da Bíblia de Estudo Scofield ensina diferentes formas de salvação para judeus e gentios, negando que a salvação no Antigo Testamento era unicamente pelo sangue e sacrifício de Jesus Cristo e através da fé nele. Em contraste, o pré-milenismo histórico ensina corretamente que o arrebatamento e a revelação são um evento, e não dois. O pré-milenismo histórico nega também um arrebatamento secreto e iminente, e insiste que a igreja passará pela grande tribulação dos últimos dias. Contra o dispensacionalismo, o pré-milenismo histórico também ensina que a igreja tem uma parte e lugar no reino de Cristo e não é um “parênteses” na história entre os tratamentos passados e futuros de Deus com os judeus. Finalmente, o pré-milenismo histórico não conhece nada do ensino herético das notas dispensacionalistas da Bíblia de Estudo Scofield, que dizem que há diferentes formes de salvação nas diferentes dispensações, e que ensinam a noção estranha e anti-bíblica que o onipresente Espírito Santo será retirado da terra durante um período de tempo.

Cremos que embora o pré-milenismo histórico seja livre de muitos dos falsos ensinos do dispensacionalismo, ele não vai muito longe. Como esperamos explicar, tanto a variedade antiga como a nova do pré-milenismo também são anti-bíblicas.



 

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O erro Pré-Milenista ou o Rapto e a Revelação



Como uma pessoa vê os eventos que cercam o retorno de Jesus Cristo em glória é determinado largamente pela interpretação dada ao termo milênio (mil anos – veja Apocalipse 20:1-7). Como foi apontado no artigo prévio, há três interpretações: pós-, pré- e a-milenismo. Temos visto que pós-milenismo é aquela visão otimista que sustenta que Cristo retornará depois do milênio (um longo período de tempo, não necessariamente de mil anos exatos), e encontrará o mundo completamente Cristianizado com somente uns poucos vestígios de pecado remanescente. Será uma era dourada de justiça e paz, a maioria da humanidade será salva, e as guerras desaparecerão da face da terra. Foi mostrado que tal conceito não pode ser harmonizado com muitas porções das Sagradas Escrituras e, portanto, deve ser rejeitado.

Considerando o pré-milenismo, a primeira dica que alguém recebe de que esta visão não pode ser o ensino da Palavra de Deus é a assombrosa falta de acordo entre os próprios pré-milenistas. Se as Escrituras apresentam as últimas coisas como esta visão insiste, não deveria haver unanimidade em tudo, exceto, talvez, em alguns pontos menores? Mas este não é o caso. A definição que ofereceremos não é, portanto, representativa de todos pré-milenistas, mas é suficientemente geral para incluir a maioria: o pré-milenismo histórico é a visão das últimas coisas que sustenta que a segunda vinda de Cristo será seguida por um período de paz (exatamente mil anos) durante o qual tempo Cristo reinará sobre esta terra num reino terreno; então, virá o fim. Uma forma mais radical desta visão é o dispensacionalismo. Os dispensacionalistas dividem a história da humanidade em sete períodos ou dispensações distintas, e ensinam que Deus trata com a raça humana durante cada período de acordo com um princípio distinto: inocência, consciência, governo humano, promessa, lei, graça e reino. Além do mais, esta visão insiste que a Igreja será removida da terra antes da grande tribulação (veja Mateus 24:29). Esta última visão, desenvolvida por John N. Darby na Inglaterra por volta de 1830, e disseminada neste país pela Bíblia de Referência Scofield, é realmente o fenômeno único chamado Pré-Milenismo Americano. Ele não é ensinado na Bíblia, mas na Bíblia de Referência Scofield. Não confundam as duas. A Bíblia é a infalível Palavra de Deus; a Bíblia de Referência Scofield é um comentário enganoso que contém “notas explicativas” na mesma página do texto da Escritura. O Pré-Milenismo nunca foi incorporado em nenhum dos credos, mas é uma interpretação privada de indivíduos de muitas denominações. Nunca foi mantido por teólogos destacados, nem ensinado em seminários onde a erudição e a exegese são proeminentes, mas por vários grupos Pentecostais e de Santidade, e Institutos Bíblicos. Hoje, isto parece ter mudado um pouco. O Pré-Milenismo parece estar invadindo aos poucos a comunidade Reformada. E é para contra-atacar esta tendência, e para oferecer ao povo de Deus algumas diretrizes escriturísticas para julgamento, que examinaremos brevemente esta visão errônea.

Tenhamos claramente em mente o seguinte. Seus principais distintivos são: 

1. Os judeus são originalmente o povo de Deus, pelo qual Deus se interessou; eles são Seu povo do Reino. A eles Deus falou o Antigo Testamento inteiro e a eles Ele prometeu o Messias. 
2. Quando Cristo veio, Ele não foi reconhecido nem crido pela maioria dos judeus. Esta contingência não tinha sido prevista pelos profetas, nem era o plano original de Deus. Contudo, visto que Israel, as dozes tribos, rejeitou o Cristo, como um expediente Ele lançou mão dos gentios, cujo povo constitui a Igreja em distinção do Reino. Dessa forma, a Igreja é um parêntese na história. Ela começou na cruz e terminará no começo do milênio. Além do mais, isto implica que a Escritura foi escrita para dois receptores distintos. Parte é para os judeus – o Antigo Testamento inteiro, a maior parte dos Evangelhos e especialmente o Sermão do Monte, e partes do Apocalipse. As epístolas mais outras partes do livro de Apocalipse são para a Igreja. 
3. Em qualquer momento, sem sinais ou anúncio, haverá um Rapto. Veja 1 Tessalonicenses 4:13-17, Mateus 24:40-41 e Mateus 25:13. Por Rapto se quer dizer a vinda súbita e secreta de Cristo para tomar para Si, nos ares, os corpos dos santos vivos e ressuscitados. Os ímpios permanecerão no túmulo. Esta é a segunda vinda de Cristo para os Seus santos e é conhecida como a primeira ressurreição. 
4. Depois se segue um período de sete anos chamado a Tribulação (a septuagésima semana de Daniel 9:24-27). Durante este tempo todos os eventos de Apocalipse 4:9 e Mateus 24 acontecerão. A Igreja, contudo, não estará sob a tribulação, mas estará com seu Senhor nos ares. 
5. Então Cristo virá com os Seus santos para esta terra novamente na Revelação [Manifestação]. Neste tempo há uma segunda ressurreição daqueles santos que morreram durante a tribulação. A segunda vinda de Cristo introduz o Milênio. 
6. Com o advento do Milênio, os tempos proféticos retornam, pois Deus se volta para o Seu povo favorecido, os judeus. Cristo vem para esta terra e reina num reino terreno de paz e prosperidade, um reino que tem o seu centro em Jerusalém. Os judeus são restaurados a Palestina, e à vista do Messias se voltam para Ele numa grande conversão nacional. No princípio deste período Satanás é amarrado, e Cristo destrói o Anticristo na batalha do Armagedon. A maldição é removida da natureza: os desertos florescem e os animais selvagens são amansados. Grandes números de gentios são também convertidos e incorporados a este Reino. 
7. No final do Milênio, Satanás é solto por um pouco de tempo. 
8. Então acontece a terceira ressurreição, a dos ímpios no final do mundo. Eles são julgados com o Diabo e seus anjos, achados em falta e designados a sentir para sempre o aguilhão do inferno. 
9. Finalmente, o estado eterno com toda a plenitude do céu e a ausência do inferno é introduzido. Alguns dizem que todos os redimidos são reunidos num Novo Céu e Nova Terra. Outros mantêm que o Reino e a Igreja estarão separados para sempre; um na Palestina terrena, e a outra no céu.

O exposto acima é uma apresentação altamente condensada e grandemente simplificada do assunto. Alguns autores listam até 22 eventos separados. Muitos pregadores pré-milenistas devem utilizar quadros complicados espalhados na fachada do edifício da igreja para estarem seguros de que eles estão sendo seguidos. Um catálogo curto dos pontos importantes do pré-milenismo é o seguinte: sete dispensações, oito pactos, duas segundas vindas, três ou quatro ressurreições, e pelo menos quatro julgamentos. É difícil conceber isto como sendo o ensino da Bíblia, que foi escrita numa linguagem simples para pessoas simples; sim, para crianças. Agora, nos dirigiremos à refrescante, não complicada e clara Palavra de Deus, para obter luz nestes assuntos.

Como fundamento para todo pensamento Pré-Milenista, está a separação feita entre a velha dispensação de Israel e a nova dispensação da Igreja. A questão é: Israel é o povo do Reino de Deus e os gentios Sua igreja? Ou Israel é um conceito espiritual, de forma que Israel é a Igreja e a Igreja é Israel? Se a unidade básica do pacto da graça pode ser estabelecida; se Abraão, por exemplo, e os gentios do Novo Testamento são um aos olhos de Deus; se Deus trata com Seu povo em todas as épocas de acordo com um mesmo princípio – fé, então o Pré-Milenismo cai, e pode somente ser chamado de um engenhoso mal-uso das Escrituras. Com aquele homem de Fé, Abraão, a quem os judeus orgulhosamente traçam sua ancestralidade, Deus estabeleceu Seu pacto eterno de graça. Gênesis 17:7. Esse pacto foi estabelecido mais adiante com a descendência de Abraão. Gênesis 22:17. O Senhor deixa claro que em Sua semente (Cristo) todas as nações da terra serão benditas. Gênesis 22:18. No livro de Gálatas, Paulo (o apóstolo dos gentios), toma o exemplo de Abraão quando repreende os insensatos gálatas por sua tentativa de justiça pelas obras. Ao deixar claro que Deus toma a fé em Cristo por justiça, o apóstolo fala estas maravilhosas palavras: “Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão” (Gálatas 3:7). Mais tarde escreve: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro; para que a benção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo”. Ele concluiu este capítulo com as palavras: “Não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa” (Gálatas 3:28-29). Pode alguém deixar de nota a unidade da obra de redenção de Deus? A semente de Abraão, o verdadeiro Israel espiritual, é composta de todos aqueles a quem foi dado fé em Seu Filho amado. Em íntima conexão com o acima exposto está o fato que Paulo também enfatizou a unidade da Igreja de todas as eras em passagens tais como Romanos 9:6-9, Efésios 2:19-22, Efésios 4:4-6 e Colossenses 1:16-20. O próprio Jesus como o Bom Pastor estava intensamente consciente da unidade daqueles que Deus lhe havia dado para redimir; Ele disse aos judeus no pórtico de Salomão: “Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor” (João 10:16).

Em segundo lugar, o texto mais referido pelos Pré-Milenistas, 1 Tessalonicenses 4:13-17, simplesmente não prova um “rapto” súbito e silencioso e uma ressurreição separada dos justos e ímpios. Em vez disso ensina: um retorno visível e notável (grito, voz, trombeta) de Cristo; a ressurreição dos corpos dos santos mortos seguida imediatamente pela translação daqueles que estiverem vivos na vinda de Cristo, sem dizer nada sobre os ímpios; que os santos estarão para sempre com o Senhor deles, sugerindo não que eles retornem a esta terra mundana novamente em seus corpos glorificados, espirituais e incorruptíveis, mas que eles permanecerão com Cristo em glória celestial! Além do mais, o próprio Cristo deixa claro que haverá apenas uma ressurreição: “Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação” (João 5:28,29). As Escrituras revelam UMA segunda vinda de Cristo, UMA ressurreição em Sua vinda e UM julgamento.

O método de interpretação seguido pelos aderentes deste sistema é um defeituoso. Uma regra saída é que as passagens difíceis da Palavra, e certamente Apocalipse 20 o é, devem ser explicada à luz de textos mais simples. Contudo, alguém não pode escapar do sentimento de que com esta visão, uma teoria preconcebida é trazida à Escritura, passagens difíceis são apeladas como prova e então, se tenta fazer com que as passagens mais simples se encaixem com a teoria. O resultado é uma divisão violenta da Palavra e, portanto, da obra redentora de Deus! Sua Palavra é uma (apresentada em dois testamentos, profecia e cumprimento), e a redenção de Jesus Cristo é uma!

Positivamente, vivemos perto do fim do que Apocalipse chama de “mil anos”. Este milênio começou em Pentecostes e terminará quando o tempo e a história terminarem. Cristo retornará pessoalmente e visivelmente, chamará os mortos dos sepulcros e dos mares, julgará todos os homens de acordo com suas obras, e colocará Suas ovelhas num só rebanho, a casa celestial com muitas moradas! Que a verdade Reformada continue sendo proclamada que “o Filho de Deus reúne, protege e conserva, dentre todo o gênero humano, sua comunidade eleita para a vida eterna. Isto Ele fez por seu Espírito e sua Palavra, na unidade da verdadeira fé, desde o princípio do mundo até o fim” (Catecismo de Heidelberg, Domingo XXI). Benditos aqueles são membros vivos dela!


Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto

sábado, 6 de julho de 2019

Pré-Milenismo em Julgamento



A interpretação de um milênio literal encontra várias dificuldades: 

Primeiro, não encontramos essa ideia de um milênio terrenal após a segunda vinda de Cristo nos evangelhos e nas epístolas paulinas e gerais. 

Segundo, o Novo Testamento ensina uma única volta de Cristo, e não duas.

Terceiro, uma interpretação literal desse número, em um livro de simbolismos, especialmente neste capítulo saturado de símbolos, é um obstáculo considerável. 

Quarto, o milênio fala de Cristo reinando fisicamente aqui neste mundo, enquanto o Seu ensino mostra que o Seu reino é espiritual. 

Quinto, a ideia de um milênio na terra e a posição de preeminência dos judeus, reintroduz aquela distinção entre judeus e gentios já abolida (Cl 3:11; Ef 2:14,19). Só existe uma igreja e uma noiva, formada de judeus e gentios. 

Sexto, a ideia do milênio terrenal ensina que haverá pelo menos duas ressurreições, uma de crentes antes do milênio e outra de ímpios depois do milênio e isto está em oposição ao que o restante da Bíblia ensina (Jo 5:28-29; Jo 6:39,40,44,54; 11:24). 

Sétimo, a ideia do milênio cria a grande dificuldade da convivência do Cristo glorificado com os santos glorificados vivendo com homens ainda na carne (Fp 3:21). 

Oitavo, como conceber a ideia de que as nações estarão sob o reinado de Cristo mil anos e depois elas se rebelam totalmente contra Ele (20:7-9)? 

Nono, a cena descrita por João em Apocalipse 20 de forma alguma ocorre na terra; é uma cena celestial. 

Décimo, todo o ensino do Novo Testamento é que o juízo é universal e segue imediatamente à segunda vinda, mas a crença no milênio terrenal, o juízo acontece mil anos depois da segunda vinda e só para os incrédulos. 

Arthur Lewis diz que constitui-se um obstáculo intransponível a ideia pré-milenista que ensina a permanência de pecadores convivendo com os santos glorificados durante o reino milenar de Cristo na terra. [01] Nesta mesma linha W. J. Grier fala dos paradoxos de um reinado de mil anos: 1) Os santos glorificados estarão em uma terra ainda não “glorificada” ou renovada, isto é, ainda não purificada pelo fogo; 2) Santos, com corpos glorificados, se misturarão com santos e com pecadores que não terão corpos glorificados; 3) Satanás será acorrentado para que não mais engane as nações; apesar disso, elas continuarão, realmente, inimigas de Cristo, prontas para obedecer a Satanás e a guerrear contra os santos, tão logo termine o milênio. Os rebeldes parecem até mais numerosos que os justos, ao se findar esse período, pois são “como a areia do mar”, enquanto que os santos se reúnem em um “arraial” e em uma “cidade” e só fogo vindo do céu salva o frágil agrupamento. [02] O próprio Dr. Russell Shedd, um dos mais respeitados estudiosos do Novo Testamento dos nossos dias, diz:

“Nós não temos suficiente informação na Bíblia para responder a todas as perguntas levantadas. O que fica bem assegurado é a esperança que João coloca no fim de seu livro. Haverá um período (se ‘mil anos’ é literal ou não, não nos preocupa) de paz e segurança total”. [03]

O que, pois, são os mil anos? Martyn Lloyd-Jones responde:

“Sugiro-lhes que é uma figura simbólica com o intuito de indicar a perfeita extensão de tempo, conhecida de Deus, e unicamente de Deus, entre a primeira e a segunda vindas. Não são mil anos literais, mas a totalidade do período enquanto Cristo está reinando até que seus inimigos sejam feitos estrado de seus pés e Ele regresse para o juízo final”. [04]


[01] H. Barclay Swete. The Apocalipse of St John. Mcmillan. Londres. 1917: p. CXL. 
[02] Em todas a profecias do livro de Apocalipse, Cristo é apresentado como o vencedor (1:18; 2:8; 5:9-14; 6:2; 11:15; 12:9-11; 14:1,14; 15:2-4; 19:16; 20:4; 22:3). 
[03] Ricardo L. V. Mascareñas. Os Últimos Dias. Editora Candeia. São Paulo, SP. 2001: p. 23. 
[04] Charles R. Erdman. Apocalipse. Casa Editora Presbiteriana. São Paulo, SP. 1960: p. 8.


sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

A Falácia Cronológica



A posição pré-milenista relativa a Apocalipse 19 e 20 diz que o capítulo 19 descreve a segunda vinda de Cristo, ao passo que o capítulo 20 descreve o reino de Cristo na terra. Realmente, a leitura casual desses dois capítulos parece tornar plausível a posição pré-milenista. Mas fazendo-se uma análise cuidadosa dos dois capítulos ficará claro que a posição pré-milenista simplesmente não procede. A abordagem pré-milenista, “literalista”, desses capítulos é auto-contraditória e envolve dificuldades interpretativas intransponíveis. 

A posição pré-milenista diz que os eventos do capítulo 20 seguem cronologicamente os eventos do capítulo 19. Na segunda metade do capítulo 19 Cristo retorna e julga as nações, então no capítulo 20 Ele reina sobre as nações. Mas se o capítulo 19 é tomado literalmente, não há nações para serem governadas por Cristo no capítulo 20. “De sua boca sai uma espada afiada, com a qual ferirá as nações. ‘Ele as governará com cetro de ferro.’ Ele pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus todo-poderoso… Vi um anjo que estava em pé no sol e que clamava em alta voz a todas as aves que voavam pelo meio do céu: ‘Venham, reúnam-se para o grande banquete de Deus, para comerem carne de reis, generais e poderosos, carne de cavalos e seus cavaleiros, carne de todos – livres e escravos, pequenos e grandes.’… Os demais foram mortos com a espada que saía da boca daquele que está montado no cavalo. E todas as aves se fartaram com a carne deles.” (Ap 19.15-21). Os pré-milenistas dizem que isso obviamente se refere a uma batalha literal. Há corpos de mortos no campo de batalha, e as aves está se fartando com a sua carne. Mas se o capítulo 19 é interpretado literalmente, o capítulo 20 não faz qualquer sentido. O versículo 3 diz que Satanás é lançado no abismo, “para assim impedi-lo de enganar as nações”. Como Satanás pode enganar as nações no capítulo 20 se elas foram justamente eliminadas por Cristo no final do capítulo 19? O relato da destruição por Cristo daqueles que se opuseram a Ele no capítulo 19 é total: o versículo 19 diz que as aves se fartarão da carne de todas as pessoas, o versículo 21 diz que os demais foram mortos. A passagem enfatiza que Cristo destruirá todos os Seus opositores. Quando a guerra termina ninguém é preservado; não há focos de resistência. Se Cristo eliminou todas as nações e todos os ímpios estão mortos, como Ele pode então governar as nações no capítulo 20? Esse capítulo admite que todas as nações ainda existem e que Cristo as governa. Se as nações são completamente destruídas no capítulo 19 e no capítulo 20 ainda estão intactas, então claramente o entendimento pré-milenista desses capítulos é equivocado. 

O entendimento pré-milenista, literalista, da batalha final no fim do milênio tem também sérios problemas. Apocalipse 20.8 fala dos vastos exércitos de Gogue e Magogue. Todas as nações do mundo reunir-se-ão no Oriente Médio para uma batalha literal contra Cristo e os santos constituídos em Jerusalém. Os pré-milenistas pregam que se trata de uma batalha real com armas, tanques, aviões, helicópteros e assim por diante. Mas essa interpretação é absurda. O Cristo ressuscitado com o Seu corpo espiritual glorificado e os santos imortais glorificados não podem ser ameaçados por armas físicas. Cristo e os santos não podem ser mortos; eles já são imortais! Eles não podem nem mesmo ser machucados por tais armas. Após a Sua ressurreição, Cristo pôde passar por paredes sólidas (Jo 20.19). Projéteis, bombas, lança-chamas etc, não podem ameaçar Cristo e os santos. Todas as armas do mundo não podem ferir ou ser uma ameaça mesmo a um só crente glorificado ressurreto, sem falar do Cristo ressurreto, todo-poderoso. A ideia de que Jesus Cristo (que é Deus, possuindo todo o poder e autoridade no céu e na terra) poderia ser intimidado por tanques e armas terrenos é patética.   


Brian Schwertley. A Ilusão PréMilenista/ O Quiliasmo analisado à luz da Escritura. pg:11,12
Tradução: Marcelo Herberts

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Objeções ao Pré-Milenismo



As objeções levantadas neste ponto serão de natureza mais geral, e, mesmo assim, só poderemos dar atenção a algumas das mais importantes. 

a. A teoria se baseia numa interpretação literal dos delineamentos proféticos do futuro de Israel e do reino de Deus, o que é inteiramente insustentável. Isso tem sido repetidamente assinalado em obras sobre profecia, como as de Fairbairn, Riehm e Davidson, na esplêndida obra de David Brown sobre O Segundo Advento (The Second Advent), no importante livro de Waldegrave sobre o Milenismo Neotestamentário (New Testament Millennarianism), e nas obras do doutor Aalders, mais recentes, sobre Os Profetas da Velha Aliança, e A Restauração de Israel Segundo o Velho Testamento (De Profeten dês Ouden Verbonds, e Het Herstel van Israel Volgens het Oude Testament). O último citado é dedicado inteiramente a um minucioso estudo exegético de todas as passagens do Velho Testamento que, de algum modo, falam da futura restauração de Israel. É uma obra exaustiva, que merece estudo cuidadoso. Os premilenistas afirmam que nada menos que uma interpretação e um cumprimento literais satisfarão as exigências dessas previsões proféticas; mas os próprios livros dos profetas já contêm indicações que apontam para um cumprimento espiritual, Is 54.13; 61.6; Jr 3.16; 31.31-34; Os 14.2; Mq 6.6-8. A alegação de que os nomes “Sião” e “Jerusalém” nunca são empregados noutro sentido que no sentido literal de que o primeiro sempre denota uma montanha, e o segundo uma cidade, é claramente contrária aos fatos. Há passagens nas quais ambos os nomes são empregados para designar Israel, a igreja de Deus veterotestamentária, Is 49.14; 51.3; 52.1,2. E este emprego dos termos passa direto para o Novo testamento, Gl 4.26; Hb 12.22; Ap 3.12; 21.9. É notável que o Novo Testamento, que é cumprimento do Velho Testamento, não contém nenhum tipo de indicação do restabelecimento da teocracia do Velho Testamento por Jesus, nem tampouco uma única predição positiva e incontestável da sua restauração, ao passo que contém abundantes indicações do cumprimento espiritual das promessas feitas a Israel, Mt 21.43; At 2.29-36; 15.14-18; Rm 9.25, 26; Hb 8.8-13; 1 Pe 2.9; Ap 1.6; 5.10. 

Para mais pormenores sobre a espiritualização que se vê na Escritura, pode-se consultar a obra de Wijngaarden sobre O Futuro do Reino (The Future of the Kingdom). O Novo Testamento certamente não favorece o literalismo dos premilenistas. Além disso, esse literalismo os larga em toda sorte de absurdidades, pois envolve a restauração futura de todas as antigas condições históricas da vida de Israel: os grandes poderes mundiais do Velho Testamento (egípcios, assírios e babilônicos) e as nações vizinhas de Israel (moabitas, amonistas, edomitas e filisteus) deverão reaparecer em cena, Is 11.14; Am 9.12; Jl 3.19; Mq 5.5, 6; Ap 18. O templo terá que ser reconstruído, Is 2.2; Mq 4.1,2; Zc 14.16-22; Ez 40-48, os filhos de Zadoque terão que servir de novo como sacerdotes, Ez 44.15-41; 48.11-14, e até as ofertas pelos pecados e delitos terão que ser levadas outra vez ao altar, não para comemoração, (como o querem alguns premilenistas), mas para expiação, Ez 42.13; 43.18-27. E em acréscimo a isso tudo, a situação modificada tornaria necessário a todas as nações visitarem Jerusalém anos após ano, para celebrar a festa dos tabernáculos, Zc 14.16, e mesmo após a semana, para prestar culto a Jeová, Is 66.23. 

b. A teoria da posposição, assim chamada, que constitui um elo de ligação no esquema premilenista, é desprovida de toda base escriturística. Segundo ela, João e Jesus proclamaram que o Reino, isto é, a teocracia judaica, estava às portas. Mas, porque os judeus não se arrependeram e não creram, Jesus pospôs o seu estabelecimento até à Sua segunda vinda. O pivô da mudança é colocado por Scofield em Mt 11.20, por outros em Mt 12, e por outros, mais tarde ainda. Antes desse ponto decisivo Jesus não se preocupava com os gentios, mas pregava o Evangelho do Reino a Israel; e depois disso Ele não pregou mais o Reino, mas somente predizia a sua vinda futura e oferecia descanso aos cansados de Israel e dos gentios. Mas não se pode afirmar que Jesus não se preocupava com os gentios antes do suposto ponto decisivo, cf. Mt 8.5- 13; Jo 4.1-42, nem que depois Ele deixou de pregar o Reino, Mt 13; Lc 10.1-11. Não há absolutamente prova nenhuma de que Jesus pregou dois evangelhos diferentes, primeiro o do Reino e depois o da graça de Deus; à luz da Escritura, esta distinção é insustentável. Jesus nunca teve em mente o restabelecimento da teocracia veterotestamentária, mas, sim, a introdução da realidade espiritual da qual o reino do Velho Testamento era apenas um tipo, Mt 8.11, 12; 13.31- 33; 21.43; Lc 17.21; Jo 3.3; 18.36, 37 (comp. Rm 14.17). Ele não pospôs a tarefa para a qual tinha vindo ao mundo, mas de fato estabeleceu o Reino e se referiu a ele mais de uma vez como uma realidade presente, Mt 11.12; 12.28; Lc 17.21; Jo 18.36, 37 (comp. Cl 1.13). 

Toda essa teoria de posposição é uma ficção relativamente recente, e deveras passível de objeção, porque destrói a unidade da Escritura e do povo de Deus de modo injustificável. A Bíblia apresenta a relação entre o Velho e o Novo Testamento como a de tipo e antítipo, de profecia e cumprimento; mas essa teoria sustenta que, embora fosse propósito do Novo Testamento ser o cumprimento do Velho Testamento, veio realmente a ser uma coisa inteiramente diferente. O Reino, isto é, a teocracia do Velho Testamento, foi predito e não foi restaurado, e a igreja não foi predita mas foi estabelecida. Assim, os dois ficam separados, e um deles vem a ser o livro do Reino, e o outro, com exceção dos evangelhos, o livro da igreja. Além disso, temos dois povos de Deus, um natural, e o outro espiritual, um terreno, e o outro celestial, como se Jesus não tivesse falado de “um rebanho e um pastor”, Jo 10.16, e como se Paulo não tivesse dito que os gentios foram enxertados na oliveira, Rm 11.17. 

c. Essa teoria também está em flagrante oposição à descrição escriturística dos grandes eventos do futuro, a saber, a ressurreição, o juízo final e o fim do mundo. Como se mostrou anteriormente, a Bíblia apresenta esses grandes eventos como sincronizados. Não há mais a leve indicação de que estão separados por mil anos, à exceção do que se vê em Ap 20.4-6. Está patente que eles coincidem, Mt 13.37-43, 47-50 (separação do bem e do mal no fim, “na consumação do século”, e não mil anos antes); 24.29-31; 25.31-46; Jo 5.25-29; 1 Co 15.22-26; Fp 3.20, 21; 1 Ts 4.15, 16; Ap 20.11-15. Todos eles ocorrem quando da vinda do Senhor, que é também o dia do Senhor. Em resposta a esta objeção, muitas vezes os premilenistas insinuam que o dia do Senhor pode ter mil anos de duração, de maneira que a ressurreição dos santos e o juízo das nações têm lugar na manhã desse longo dia, e a ressurreição dos ímpios e o juízo do grande trono branco ocorrem no entardecer desse mesmo dia. Eles apelam para 2ª Pe 3.8 “para com o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia”. Mas, dificilmente isso poderá provar o ponto, pois facilmente o feitiço poderia virar contra o feiticeiro aqui. Poder-se-ia usar a mesma passagem para provar que os mil anos de Ap 20 são apenas um só dia. 

d. Não há qualquer fundamento bíblico para o conceito premilenista de uma dupla ou até tripla ou quádrupla ressurreição, como a sua teoria requer, nem para espalhar o juízo final por um período de mil anos, dividindo-o em três juízos. É, para dizer o mínimo, muito duvidoso que as palavras “Esta é a primeira ressurreição”, em Ap 20.5, se refiram a uma ressurreição física. O contexto não requer, e nem mesmo favorece esta idéia. O que poderia favorecer a teoria de uma dupla ressurreição é o fato de que os apóstolos muitas vezes falam unicamente da ressurreição dos crentes, e de modo nenhum se referem à dos ímpios. Mas isto se deve ao fato de que eles estão escrevendo para as igrejas de Jesus Cristo, aos contextos em que levantam o assunto da ressurreição, e ao fato de que desejam dar ênfase ao seu aspecto soteriológico, 1 Co 15; 1 Ts 4.13-18. Outras passagens falam claramente da ressurreição dos justos e dos ímpios num só fôlego, Dn 12.2; Jo 5.28, 29; At 24.15.

e. A teoria premilenista se enreda em todas as espécies de dificuldades insuperáveis, com a sua doutrina do milênio. É impossível entender como uma parte da velha terra e da humanidade pecadora poderá coexistir com uma parte da nova terra e de uma humanidade já glorificada. Como poderão os santos em corpos glorificados ter comunhão com pecadores na carne? Como poderão os santos glorificados viver nesta atmosfera sobrecarregada de pecado e em cenário de morte e decadência? Como poderá o Senhor da glória, o Cristo glorificado, estabelecer o Seu trono na terra enquanto esta não for renovada? O capítulo vinte e um de Apocalipse nos informa que Deus e a igreja dos remidos tomarão como seu lugar de habitação a terra depois que forem feitos novos céus e nova terra; então, como se pode afirmar que Cristo e os santos habitarão ali mil anos antes dessa renovação? Como poderão os santos e os pecadores na carne manter-se na presença do Cristo glorificado, sabendo-se que mesmo Paulo e João foram completamente esmagados pela visão dele. At 26.12-14; Ap. 1.17? Diz com verdade Beet:

“Não podemos conceber misturados no mesmo planeta uns que ainda terão que morrer e outros que já passaram pela morte e não morrerão mais. Tal confusão da era atual com a era por vir é extremamente improvável”. [01]

E Brown exclama:

“Que confuso estado de coisas é este! Que detestável mistura de coisas totalmente incoerentes umas com as outras!” [02]

f. A única base escriturística para essa teoria é Ap 20.1-6, depois de se ter despejado aí um conteúdo veterotestamentário. É uma base muito precária, por várias razões. (1) esta passagem ocorre num livro eminentemente simbólico e é reconhecidamente muito obscura, como se pode inferir das diferentes interpretações dela feitas. (2) A interpretação literal desta passagem, como dada pelos premilenistas, leva a uma conceituação que não encontra suporte em nenhum outro lugar da Escritura, mas é até contraditada pelo restante do Novo Testamento. Esta é uma objeção fatal. Uma boa exegese requer que as passagens obscuras da Escritura sejam lidas à luz doutras mais claras, e não vice-versa. (3) Mesmo a interpretação literal dos prémilenistas não é coerentemente literal, pois entende a corrente do versículo 1 e também, conseqüentemente, a prisão do versículo 2 figuradamente, muitas vezes concebe os mil anos como um longo mas indefinido período, e transforma as almas do versículo 4 em santos ressurretos. (4) Estritamente falando, a passagem não diz que as classes referidas (os santos mártires e os que não adoraram a besta) ressuscitaram dos mortos, mas simplesmente que viveram e reinaram com Cristo. E se declara que este viver e reinar com Cristo constitui a primeira ressurreição. (5) Não há absolutamente nenhuma indicação nestes versículos de que Cristo e os Seus santos estão exercendo governo na terra. À luz de passagens como Ap 4.4 e 6.9, é muito mais provável que a cena se passa no céu. (6) Também merece nota que a passagem não faz menção nenhuma da Palestina, de Jerusalém, do templo e dos judeus, os cidadãos naturais do reino milenar. Não há nenhuma insinuação de que esses elementos estejam de algum modo relacionados com este reinado de mil anos. Para uma interpretação minuciosa desta passagem, do ponto de vista amilenista, remetemos o leitor a Kuyper, Bavinck, De Moor, Dijk, Greydanus, Vos e Hendriksen.


[01] As Últimas Coisas (The Last Things), pg. 88.
[02] O Segundo Advento (The Second Advent), pg. 384.