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domingo, 12 de julho de 2020

2 Tessalonicenses 2.3-10




Em 40 d.C., o Imperador Calígula ordenou que sua estátua fosse instalada no templo de Jerusalém. Todo o mundo judeu reagiu a isto com horror. Todavia, antes de sua ordem ter sido colocada em prática, Calígula foi assassinado. Em 52-53 d.C., Paulo escreveu suas cartas aos Tessalonicenses. Ora, em 2 Tessalonicenses 2.3-10, o apóstolo afirma:

Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus. Não vos recordais de que, ainda convosco, eu costumava dizer-vos estas coisas? E, agora, sabeis o que o detém, para que ele seja revelado somente em ocasião própria. Com efeito, o mistério da iniquidade já opera e aguarda somente que seja afastado aquele que agora o detém; então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de sua vinda. Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos.

De acordo com Caird, Paulo tinham em mente o episódio de Calígula ao escrever tais palavras. O apóstolo viu na loucura de Calígula a insanidade e malignidade de um Estado ímpio. O pecado essencial e original do homem é ser um deus, conhecendo ou determinando para si mesmo o bem e o mal (Gênesis 3.5). Esse pecado primordial, que é o pecado em sua essência, se manifesta não apenas no homem, mas nas instituições humanas. Durante a maior parte da história, o Estado tem sido a principal instituição e, portanto, também a principal manifestação em forma coletiva do pecado original do homem. Por conseguinte, o Estado se apresentou diversas vezes como o salvador e deus do homem.

Warfield, comentando o texto paulino, chama atenção para a falácia das visões escatológicas populares. O grande fato acerca de toda profecia — e 2 Tessalonicenses 2.3-10 é uma profecia — é que seu propósito é ético ou moral. A profecia não busca satisfazer nossa curiosidade, mas nos fortalecer moralmente. A “vinda” do Senhor a fim de destruir o homem da iniquidade não é necessariamente, e muito menos neste caso específico, sua vinda em pessoa (a vinda no fim dos tempos), mas sua vinda em julgamento (vinda do fim de um período). De semelhante modo, nem a revelação nem a destruição do homem do pecado devem ser vistas como um evento do fim dos tempos. O homem da iniquidade se refere a alguém num futuro próximo ao de Paulo e dos tessalonicenses. Warfield considerava o homem da iniquidade como “a linha de imperadores, tomada como a encarnação do poder persecutório”. Por sua vez, o poder restringente (“aquilo que o detém”) era o estado judeu, cuja existência forneceu certa proteção aos cristãos, na medida em que Roma lhes concedeu, como uma “seita judaica”, a mesma imunidade com relação à jurisdição romana que a fé judaica possuía. Finalmente, nessa linha de interpretação, a apostasia é evidentemente a grande apostasia dos judeus, acumulando progressivamente ao longo dos anos e apressando, assim, sua destruição.

O apóstolo Paulo viu, portanto, uma íntima ligação entre o tentador e seu plano primitivo — o pecado original — e o estadismo fora de Cristo. Em Cristo, o Estado é o instrumento de Deus para o cumprimento da justiça. O Estado fora de Cristo é o instrumento de Satanás para a consecução de seu plano de substituir a vontade do Criador pela vontade da criatura. Por essa razão, é impossível para nós, cristãos, sermos indiferentes à teologia do Estado.



Rousas John Rushdoony Publicado originalmente em inglês sob o título Christianity and the State pela Chalcedon/Ross House Books, Vallecito, CA, 95251, EUA. Todos os direitos em língua portuguesa reservados por EDITORA MONERGISMO
Caixa Postal 2416
Brasília, DF, Brasil - CEP 70.842-970
Telefone: (61) 8116-7481 — Site: www.editoramonergismo.com.br
edição, 2016
Tradução: Fabrício Tavares de Moraes
Revisão: Felipe Sabino de Araújo Neto 
pg. 123-127

domingo, 14 de junho de 2020

Nero não é a Besta do Apocalipse?




"Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis".
Apocalipse 13.18

 

Se tem um personagem muito esperado e grandemente temido, esse é a besta do Apocalipse. Este personagem tem sido alvo de diversas especulações. Muitos incansavelmente procuram evidências sobre a identidade da besta analisando pessoas famosas (principalmente no cenário político internacional).

Atualmente, a teoria mais aceita é de que a besta será um líder político que virá da Europa, e sua marca, poderá ser um chip eletrônico implantado nas pessoas.

O fato bíblico e verdadeiro é que a besta é um personagem que já foi derrotado no primeiro século. Os crentes atualmente procuram por alguém que não se levantará mais. Apocalipse capítulo 13 e versículo 8 identifica a besta com o número equivalente ao nome do imperador Nero: 666. No hebraico o nome é “nrwn qsr”:

.........................................n (50)

.........................................r (200)

.........................................w (6)

.........................................n (50)

.........................................q (100)

.........................................s (60)

.........................................r (200),

...............................................que dá exatamente 666.

Mas, como não poderia faltar, atualmente existem pessoas que tentam forçar a barra para negar que o imperador romano Nero foi a besta do Apocalipse. Um deles que gostaria de destacar é o famoso e polêmico articulista Lucas Banzoli que na minha opinião sempre conta as coisas pela metade.

Observe o que ele escreveu e em seguida a minha resposta:

"NERO NÃO SOMA 666 EM GREGO

O primeiro de tudo que devemos informar ao leitor é que Cezar Nero não soma 666 em grego, soma 1005, como os próprios preteristas admitem. Kenneth L. Gentry Jr, um ferrenho defensor da tese de que Nero é o anticristo (666) tendo por base a transliteração ao hebraico, também confirma que, em grego, o nome soma 1005 e não 666:

“A grafia grega do nome Nero tinha o valor de 1005” (O Número da Besta, Kenneth L. Gentry Jr, Cap.3)"[1]

Resposta

É óbvio que Cesar Nero não soma 666 em grego, pois o Apocalipse João escreveu em grego, mas estava pensando em hebraico quando indicou o cálculo do número da besta.

O artigo de Kenneth L. Gentry Jr que foi citado por Banzoli, deve ser lido na íntegra para ser bem entendido o que ele quis dizer. Inclusive, tenho esse artigo em meu site (veja referência nas notas no final deste artigo).[2]

O que Kenneth L. Gentry Jr - na verdade disse - sobre o nome de Nero somar o valor 1005 é que isto era uma sátira grega que circulou logo após o incêndio de Roma. Observe exatamente o contexto que Banzoli deixou para trás, veja:

"No meio da sua história latina, Suetônio registra um exemplo de uma sátira grega que circulou logo após o incêndio de Roma, que ocorreu em 64 d.C.: “Neopsephon Neron idian metera apektine”. A tradução da sátira é: “Um novo cálculo. Nero sua mãe assassinou”. J. C. Rolfe observa na edição Loeb Classical Library das obras de Suetônio que “o valor numérico das letras gregas no nome de Nero (1005) é o mesmo do restante da sentença; assim, temos uma equação: Nero = o assassino da sua própria mãe”. É muito interessante observar que já havia criptogramas anti-Nero circulando quando João escreveu o Apocalipse".[3]

Agora, observe a outra parte do mesmo artigo de Gentry que Banzoli citou pela metade:

"Certamente a condição necessária para um candidato [a besta] é que seu nome satisfaça o valor do criptograma. Se algum nome não contém o valor de 666, então deve ser necessariamente excluído de consideração.

Interessantemente, vários eruditos do último século – Fritzsche, Holtzmann, Benary, Hitzig and Reuss – tropeçam, independentemente, no nome Nero César quase simultaneamente. Vimos que a grafia grega do nome de Nero tinha o valor de 1005. A grafia hebraica do seu nome era Nrwn Qsr (pronunciado: Neron Kaiser). Tem sido documentado por descobertas arqueológicas que uma grafia hebraica do nome de Nero, do primeiro século, nos fornece precisamente o valor 666. O léxico de Jastrow do Talmude contém essa mesma grafia.

...[...]

Um grande número de eruditos bíblicos reconhece esse nome como a solução para o problema. Não é considerável que esse extremamente relevante imperador tenha um nome que se encaixe precisamente na soma requerida? Isso é completamente um acidente histórico?"[4]

Apesar das evidências, Lucas Banzoli ainda usa alguns argumentos interessantes para negar que Nero foi a besta. Ele diz:

"Portanto, a lenda de que Nero é o “666” não provém do grego, mas da transliteração do grego para o hebraico, onde, segundo os defensores da tese, somaria “666” (veremos mais sobre isso mais adiante). Mas, apenas aqui, já vemos o primeiro problema para os preteristas: por que João iria codificar Nero transliterado ao hebraico, se ele escrevia o Apocalipse em grego e para pessoas de fala grega?

Todos os manuscritos bíblicos do Apocalipse que temos estão na língua grega, e não no hebraico. E o livro de João foi destinado, em primeiro lugar, não para judeus nem para habitantes na Judeia, mas para cristãos na Ásia Menor:

Que dizia: Eu sou o Alfa e o Omega, o primeiro e o derradeiro; e o que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodiceia” (Apocalipse 1:11)

Perguntinhas básicas aos preteristas:

Os moradores de Éfeso falavam hebraico? Eram judeus?

Os moradores de Esmirna falavam hebraico? Eram judeus?

Os moradores de Pérgamo falavam hebraico? Eram judeus?

Os moradores de Tiatira falavam hebraico? Eram judeus?

Os moradores de Sardes falavam hebraico? Eram judeus?

Os moradores de Filadelfia falavam hebraico? Eram judeus?

Os moradores de Laodiceia falavam hebraico? Eram judeus?

A resposta a essas perguntas é: não, não, não, não, não, não e não! Os moradores da Ásia Menor não eram judeus em sua maioria, e a fala predominante nessas regiões era a língua grega, não hebraica. É óbvio que existiam judeus morando nessas regiões, assim como existiam em qualquer outra parte do mundo, mas o que predominava nessa região não era o judaísmo nem a língua hebraica, mas o grego. A grande maioria dos destinatários do livro sequer conhecia o hebraico, e, portanto, não iriam conseguir transliterar o nome “Nero” do grego para o hebraico para depois somarem".[5]

Resposta

Precisamos considerar algumas coisas. Primeiro, a língua grega era de uso internacional no primeiro século (como o inglês hoje em dia). Portanto, era de se esperar que judeus também conhecessem alguma noção de grego e que o Apocalipse fosse escrito nessa língua. Segundo, os eruditos entendem que no Apocalipse há um pano de fundo hebraico. Sobre isto, escrevi no meu livro "Comentário Preterista Sobre o Apocalipse", Vol. 1, que "uma vez que [o Apocalipse] foi escrito para aqueles leitores do primeiro século, é de se supor que eles tenham entendido o livro do Apocalipse, pois às sete igrejas da Ásia eram compostas de crentes judeus. Aqui está um dos grandes segredos para se entender o Apocalipse, pois segundo Hank Hanegraaff “o real decodificador para o apocalipse [...] é o Antigo Testamento. Na verdade, mais de dois terços (2/3) dos quatrocentos e quatro (404) versículos de Apocalipse aludem a passagens do Antigo Testamento".[6]

Desta forma, seria de se esperar que naquelas igrejas da Ásia os cristãos pudessem saber quem era a besta e calcular o número de seu nome.

Se já não bastassem os pontos ignorados, Banzoli dá mais um tiro no pé. Observe sua declaração:

"Algum preterista poderia chegar até aqui na leitura, e, incrédulo como sempre, ainda apostar que tudo isso aconteceu para Nero dar o 666 escrito no Apocalipse. O que eles não contavam, porém, é que as próprias contas deles esbarram na gematria hebraica. A conta deles, levando em consideração o nrwn QSR, ficaria assim:

.........................................Nun = 50
.........................................Resh = 200
.........................................Waw = 6
.........................................Nun = 50

.........................................Qoph = 100
.........................................Samech = 60
.........................................Resh = 200

Qualquer um pode fazer as contas e ver que realmente o resultado é 666. O que os preteristas não contavam, porém, é que existem diversas regras na gematria hebraica que eles desconhecem completamente e que invertem totalmente a situação. De acordo com as regras de numerologia judaica, conhecida como gematria, quando a letra Nun aparece no final de uma palavra, é conhecido como “Final”, e assume o valor de 700. Desta forma, o nrwn QSR somaria 1316, e não 666:

.........................................Nun = 50
.........................................Resh = 200
.........................................Waw = 6
.........................................Nun = 700 ?
.........................................aparece no final de uma palavra e assume valor de 700

.........................................Qoph = 100
.........................................Samech = 60
.........................................Resh = 200

Outros sites católicos trazem “NVRN RSQ”. Esse “n” que aparece na primeira e na quarta letra é o correspondente ao Nun do hebraico. Quando ele aparece no final de uma palavra, toma o valor de 700, e é exatamente o mesmo que ocorre em Neron Cezar".[7]

Resposta

O que "os preteristas não contavam"? Ou o que Lucas Banzoli não contava? Ele simplesmente - mais uma vez - subestimou a erudição preterista! Como sou um árduo pesquisador do tema, não poderia simplesmente acreditar que dezenas de grandes eruditos pudessem não ter visto essa questão da gematria hebraica citada por Lucas Banzoli.

Por isto, entrei em contato direto com Kenneth L. Gentry Jr que por sinal é uma das autoridades mais respeitadas sobre o preterismo, para perguntar a respeito dessa gematria exposta por Lucas Banzoli. Observe a resposta que tive e que eu já suspeitava:

"Havia diversas variedades de gematria, e a que eu endosso é uma das principais. Quem quer que esteja em desacordo com essa avaliação está em desacordo com a valorização dos hebraístas de classe mundial, tais como:
 
Marcus Jastrow (Dicionário da Targumim, o Talmud Babli, e Yerusahalmi, e o Midrashic Literatura, p. 865)
 
Francis Brown, SR Driver e Charles A. Briggs, A Hebraica e Inglês Lexicon do Antigo Testamento (p. 609)
 
Eles também estão disputando a pesquisa publicada de RH Charles (Apocalipse, 367), Bruce M. Metzger, A Textual Commentary no Novo Testamento grego, 752, e dezenas de outros estudiosos. Na verdade, John AT Robinson declara que a solução Nero é "de longe a solução mais amplamente aceita" (Robinson, 1976: 235) J. Wilson.. (1993: 598) afirma que "há pouca discordância entre os estudiosos hoje que este número é uma gematria no nome NERON KAISAR".
 
Você também pode verificar: Consulte: Metzger, 77; Bauckham 1993a: cap 11; Beasley-Murray 220; Carrington, ch 11; Charles 1:367; Harrington 144; Kiddle 261; Koester 133; Osborne 527; Witherington 176-79; Doce 217-18; Beckwith 642; Aune e 770-71".[8]

Note que Gentry foi bem claro ao dizer que "havia diversas variedades de gematria", e a que ele endossa "é uma das principais", e não esquecendo da pouca "discordância entre os estudiosos hoje".

Conclusão:

Em que mudará se Nero foi ou não a besta do Apocalipse? Qual a diferença que isto fará em nossas vidas? Qual a importância de se saber sobre isto? A importância está somente no fato de que o que uma pessoa crê em matéria de fé, automaticamente refletirá em seu estilo de vida. Os que estão esperando a besta (ou o anticristo) atualmente, prevêem um futuro pessimista para a humanidade.

Com isto, eles se esqueceram do foco Principal que é Cristo para dar lugar a procura pelo temível anticristo. O Senhor Jesus Cristo é a nossa CHAVE de interpretação da Bíblia. É somente através dele que podemos interpretar todas as outras passagens das Escrituras Sagradas. Os crentes - em geral - perderam essa verdade. Procuram por interpretações filosóficas, individuais etc, ao invés de, olhar através de Jesus. E como fazer isto?

É muito simples! Jesus é a Palavra de Deus, o Verbo que se encarnou entre nós. TUDO quanto fez ou falou, ou viveu, é exatamente a interpretação de tudo nas Escrituras, na vida, na ciência e em tudo no geral. Especificamente como podemos interpretar o Apocalipse através dessa Chave que é Jesus? Ele, o Senhor Jesus, discursou em Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21 o chamado sermão profético sobre o tempo do fim, que é considerado um mini Apocalipse. O Apocalipse está nesse sermão.

O Senhor foi bem claro quando aquelas coisas terríveis deveriam acontecer. Ele disse: “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça”. (Mateus 24.34)

A palavrinha "esta" na gramática é chamada de pronome demonstrativo próximo. Se fosse intenção de dizer a respeito de uma geração distante, simplesmente Jesus teria dito "não passará AQUELA geração". É simples assim!

Portanto, apesar de termos bem mais de noventa por cento do Apocalipse desvendado graças ao conhecimento histórico, arqueológico e teológico, mesmo que não tivéssemos acesso a nada disto, e não soubéssemos quem é a besta, ficaria o fato consumado de que Jesus declarou que tudo aconteceria - como de fato aconteceu - naquela geração do primeiro século.

E os ensinos do Senhor deixam claro que seu Reino começou no primeiro século como um grão de mostarda que, no final, se transformará em uma grande árvore. Portanto, a pior parte da história humana já passou e, Cristo, assim como triunfou sobre todos os seus inimigos no passado, nenhum outro deixará de vencer atualmente até sua vinda. Nenhuma besta com domínio global se levantará jamais outra vez!"

E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder.

Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés.
O último inimigo a ser destruído é a morte".
(1Coríntios15.24-26 - o grifo é meu)

 

 


_____________________________
Notas:

1. Artigo: Cezar Nero é a besta do Apocalipse?
...Autor: Lucas Banzoli
...Site: www.heresiascatolicas.blogspot.com.br
...Data: 21 de abril de 2013

2. Artigo: O Número da Besta
...Autor: Kenneth L. Gentry Jr
...Site: www.revistacrista.org/Artigos/O%20N%FAmero%20da%20Besta.pdf

3. Idem nº 2.

4. Idem nº 2.

5. Idem nº 1.

6. E-book: Comentário Preterista sobre o Apocalipse, Vol. 1.
...Autor: César Francisco Raymundo
...Site: www.revistacrista.org/literatura.htm

7. Idem nº 1.

8. E-mail recebido de Kenneth L. Gentry Jr com o título: "666 in Rev 13".
...Data: Sent: Wed, Jul 9, 2014 11:14 am
...Site para consulta: www.postmillennialismtoday.com

terça-feira, 25 de junho de 2019

A Vinda do Anticristo



Segundo  as  palavras  de  Jesus  em  Mateus  24,  uma  das  características  crescentes  da época  precedente  à  queda  de  Israel  haveria  de  ser  a  apostasia  dentro  da  Igreja  Cristã.  Isso  foi mencionado  anteriormente,  mas  um  estudo  mais  concentrado  nesse  ponto  lançará  mais luz  sobre  várias  questões  relacionadas  ao  Novo  Testamento  –  questões  com  freqüência concebidas  de  forma  errônea. 

Geralmente  pensamos  no  período  apostólico  como  um  tempo  de  evangelismo explosivo  e  crescimento  da  Igreja,  uma  “idade  de  ouro”  quando  ocorriam  milagres assombrosos  todos  os  dias.  Essa  imagem  comum  é  substancialmente  correta,  mas  é defeituosa  em  vista  de  uma  omissão  proeminente.  Tendemos  a  negligenciar  o  fato  que  a Igreja  primitiva  foi  o  cenário  da  aparição  da  heresia  mais  dramática  na  história  do  mundo

A Grande  Apostasia 

A  heresia  começou  a  introduzir-se  muito  cedo  no  desenvolvimento  da  Igreja.  Atos 15  registra  a  reunião  do  primeiro  Concílio  da  Igreja,  que  foi  realizada  a  fim  de  tomar  uma decisão  autoritativa  com  respeito  à  questão  da  justificação  pela  fé  (alguns  mestres  tinham promovido  a  falsa  doutrina  que  uma  pessoa  deveria  guardar  as  leis  cerimoniais  do  Antigo Testamento  para  ser  justificado).  Contudo,  o  problema  não  desapareceu;  alguns  anos depois,  Paulo  teve  que  tratar  com  ele  novamente,  em  sua  carta  às  igrejas  da  Galácia.  Como disse  S.  Paulo,  essa  aberração  doutrinária  não  era  insignificante,  pois  afetava  a  própria salvação:  era  um  “evangelho  diferente”,  uma  deformação  total  da  verdade,  e  equivalia  a uma  repudiação  do  próprio  Jesus  Cristo.  Usando  algumas  das  terminologias  mais  severas de  sua  carreira,  Paulo  pronunciou  condenação  sobre  os  “falsos  irmãos”  que  ensinavam  a heresia  (veja  Gálatas  1:6-9;  2:5,  11-21;  3:1-3;  5:1-12).  

S.  Paulo  também  previu  que  a  heresia  contagiaria  as  igrejas  da  Ásia  Menor.  Reuniu os  presbíteros  de  Éfeso,  e  exortou-os  a  “atendei  por  vós  e  por  todo  o  rebanho”,  pois  “eu sei  que,  depois  da  minha  partida,  entre  vós  penetrarão  lobos  vorazes,  que  não  pouparão  o rebanho.  E  que,  dentre  vós  mesmos,  se  levantarão  homens  falando  coisas  pervertidas  para arrastar  os  discípulos  atrás  deles”  (Atos  20:28-30).  Tal  como  S.  Paulo  tinha  predito,  a  falsa doutrina  se  tornou  um  problema  de  proporções  enormes  nessas  igrejas.  No  tempo  em  que o  livro  do  Apocalipse  foi  escrito,  algumas  delas  tinham  chegado  a  estar  quase completamente  arruinadas  por  meio  do  progresso  dos  ensinos  heréticos  e  a  apostasia resultante  (Apocalipse  2:2,  6,  14-16,  20-24;  3:1-4,  15-18). 

Mas  o  problema  da  heresia  não  ficou  limitado  a  uma  área  geográfica  ou  cultural.  Ele se  espalhou  e  se  tornou  um  tema  cada  vez  mais  tratado  pelo  conselho  apostólico  e  de vigilância  pastoral  com  o  avançar  do  tempo.  Alguns  hereges  ensinavam  que  a  ressurreição final  já  tinha  acontecido  (2  Timóteo 2:18),  enquanto  outros  alegavam  que  a  ressurreição  era impossível  (1  Coríntios 15:12);  alguns  ensinavam  doutrinas  estranhas  de  ascetismo  e adoração  a  anjos  (Colossenses  2:8, 18-23;  1 Timóteo 4:1-3),  enquanto  outros  advogavam todo  tipo  de  imoralidade  e  rebelião  em  nome  da  “liberdade”  (2  Pedro 1-3,  10-22;  Judas 4, 8, 10-13, 16).  Repetidamente  os  apóstolos  se  viam  forçados  a  repreender  fortemente  a tolerância  para  com  os  falsos  mestres  e  “falsos  apóstolos”  (Romanos 16:17-18;  2  Coríntios 11:3-4, 12-15;  Filipenses 3:18-19;  1 Timóteo 1:3-7;  2 Timóteo 4:2-5),  pois  estes  tinham  sido a  causa  do  afastamento  de  muitos  da  fé,  e  a  extensão  da  apostasia  estava  crescendo  à medida  que  o  tempo  avançava  (1Timóteo 1:19-20;  6:20-21;  2 Timóteo  2:16-18;  3:1-9,  13; 4:10, 14-16).  Uma  das  últimas  cartas  do  Novo  Testamento,  o  livro  de  Hebreus,  foi  escrita  a uma  comunidade  cristã  que  estava  a  ponto  de  abandonar  completamente  o  Cristianismo.  A Igreja  Cristã  da  primeira  geração  não  foi  caracterizada  somente  pela  fé  e  milagres;  ela  foi caracterizada  também  por  uma  crescente  desobediência  à  lei,  rebelião  e  heresia  dentro  da própria  comunidade  cristã  –  tal  como  Jesus  tinha  predito  em  Mateus  24. 

A Grande Apostasia 

Os  cristãos  tinham  um  termo  específico  para  essa  apostasia.  Eles  a  chamavam  de Anticristo.  Muitos  escritores  populares  têm  feito  especulações  acerca  desse  termo, usualmente  falhando  em  considerar  seu uso  na  Escritura.  Em  primeiro  lugar,  considere  um fato  que  sem  dúvida  assombrará  algumas  pessoas:  a  palavra  “Anticristo”  nunca  ocorre  no  livro  do Apocalipse.  Nem  uma  só  vez.  Todavia,  o  termo  é  rotineiramente  usado  por  mestres  cristãos como  um  sinônimo  de  “a  Besta”  de  Apocalipse  13.  Obviamente,  não  há  dúvida  que  a  Besta é  um  inimigo  de  Cristo,  e  por  isso  é  “anti”  Cristo  nesse  sentido;  meu  ponto,  contudo,  é  que o  termo  Anticristo  é  usado  num  sentido  muito  específico,  e  em  sua  essência  não  se  relaciona com  a  figura  conhecida  como  “a  Besta”  e  “666”.

Um erro  adicional  ensina  que  “o  Anticristo”  é  um  indivíduo  específico;  relacionado com  isso  está  a  noção  de  que  “ele”  é  alguém  que  aparecerá  no  final  do  mundo.  Todas  essas idéias,  como  a  primeira,  são  contraditas  pelo  Novo  Testamento. 

De  fato,  as  únicas  ocorrências  do  termo  Anticristo  estão  nos  versículos  abaixo,  das cartas  do  apóstolo  João: 

Filhinhos,  já  é  a  última  hora;  e,  como  ouvistes  que  vem  o  anticristo, também,  agora,  muitos  anticristos  têm  surgido;  pelo  que  conhecemos  que  é a  última  hora.  

Eles  saíram  de  nosso  meio;  entretanto,  não  eram  dos  nossos;  porque,  se tivessem  sido  dos  nossos,  teriam  permanecido  conosco;  todavia,  eles  se foram  para  que  ficasse  manifesto  que  nenhum  deles  é  dos  nossos. 

Quem  é  o  mentiroso,  senão  aquele  que  nega  que  Jesus  é  o  Cristo?  Este  é  o anticristo,  o  que  nega  o  Pai  e  o  Filho.  Todo  aquele  que  nega  o  Filho,  esse não  tem  o  Pai;  aquele  que  confessa  o  Filho  tem  igualmente  o  Pai.  

Isto  que  vos  acabo  de  escrever  é  acerca  dos  que  vos  procuram  enganar  (1 João  2:18-19,  22-23,  26).

Amados,  não  deis  crédito  a  qualquer  espírito;  antes,  provai  os  espíritos  se procedem  de  Deus,  porque  muitos  falsos  profetas  têm  saído  pelo  mundo fora.

Nisto  reconheceis  o  Espírito  de  Deus:  todo  espírito  que confessa que Jesus Cristo  veio  em  carne  é  de  Deus; e  todo  espírito  que  não  confessa  a  Jesus  não  procede  de  Deus;  pelo contrário,  este  é  o  espírito  do  anticristo,  a  respeito  do  qual  tendes  ouvido que  vem e,  presentemente,  já  está  no  mundo.

Filhinhos,  vós  sois  de  Deus  e  tendes  vencido  os  falsos  profetas,  porque maior  é  aquele  que  está  em  vós  do  que  aquele  que  está  no  mundo.  Eles procedem  do  mundo;  por  essa  razão,  falam  da  parte  do  mundo,  e  o  mundo os  ouve.  

Nós  somos  de  Deus;  aquele  que  conhece  a  Deus  nos  ouve;  aquele  que  não  é da  parte  de  Deus  não  nos  ouve.  Nisto  reconhecemos  o  espírito  da  verdade  e o  espírito  do  erro  (1  João  4:1-6).  

Porque  muitos  enganadores  têm  saído  pelo  mundo  fora,  os  quais  não confessam  Jesus  Cristo  vindo  em  carne;  assim  é  o  enganador  e  o  anticristo.

Acautelai-vos,  para  não  perderdes  aquilo  que  temos  realizado  com  esforço, mas  para  receberdes  completo  galardão.  

Todo  aquele  que  ultrapassa  a  doutrina  de  Cristo  e  nela  não  permanece  não tem  Deus;  o  que  permanece  na  doutrina,  esse  tem  tanto  o  Pai  como  o  Filho. 

Se  alguém  vem  ter  convosco  e  não  traz  esta  doutrina,  não  o  recebais  em casa,  nem  lhe  deis  as  boas-vindas.  

Porquanto  aquele  que  lhe  dá  boas-vindas  faz-se  cúmplice  das  suas  obras más  (2  João  7-11). 

Os  textos  citados  acima  incluem  todas  as  passagens  da  Bíblia  que  mencionam  a palavra  Anticristo,  e  delas  podemos  extrair  várias  conclusões  importantes: 

Primeiro,  os  cristãos  já  tinham  sido  advertidos  sobre  a  vinda  do  Anticristo  (1  João  2:18; 4:3). 

Segundo,  não  há  um  único,  mas  “muitos  Anticristos”  (1  João  2:18).  O  termo Anticristo,  portanto,  não  pode  ser  simplesmente  uma  designação  de  um  indivíduo. 

Terceiro,  o  Anticristo  já  estava  atuando  quando  S.  João  escreveu:  “também,  agora, muitos  anticristos  têm  surgido”  (1João 2:18);  “Isto  que  vos  acabo  de  escrever  é  acerca  dos que  vos  procuram  enganar”  (1João  2:26);  “este  é  o  espírito  do  anticristo,  a  respeito  do  qual tendes  ouvido  que  vem  e,  presentemente,  já  está  no  mundo”  (1João 4:3);  “Porque  já  muitos enganadores  entraram  no  mundo,  os  quais  não  confessam  que  Jesus  Cristo  veio  em  carne. Este  tal  é  o  enganador  e  o  anticristo”  (2João  7,  RC).  Obviamente,  se  o  Anticristo  já  estava presente  no  primeiro  século,  ele  não  era  alguma  figura  que  surgiria  no  final  do  mundo.

Quarto,  o  Anticristo  era  um  sistema  de  incredulidade,  particularmente  a  heresia  de  negar  a pessoa  e  obra  de  Jesus  Cristo.  Embora  os  Anticristos  aparentemente  alegassem  pertencer  ao  Pai, eles  ensinavam  que  Jesus  não  era  o  Cristo  (1João 2:22);  em  união  com  os  falsos  profetas  (1 João  4:1),  negavam  a  encarnação  (1João 4:3; 2João 7,9);  e  rejeitavam  a  doutrina  apostólica (1João  4:6). 

Quinto,  os  Anticristos  tinham  sido  membros  da  Igreja  Cristã,  mas  tinham abandonado  a  fé  (1João 2:19).  Agora  esses  apóstatas  estavam  tentando  enganar  outros cristãos,  a  fim  de  apartar  de  Jesus  Cristo  toda  a  Igreja  (1João  2:26;  4:1;  2João 7, 10). 

Colocando  tudo  isso  junto,  podemos  ver  que  o  Anticristo  é  uma  descrição  tanto  do sistema  de  apostasia como  de  indivíduos  apóstatas.  Em  outras  palavras,  o  Anticristo  era  o cumprimento  da  profecia  de  Jesus  que  um  tempo  de  grande  apostasia  chegaria,  quando “muitos  hão  de  se  escandalizar,  trair  e  odiar  uns  aos  outros;  levantar-se-ão  muitos  falsos profetas  e  enganarão  a  muitos”  (Mateus  24:10-11).  Como  João  disse,  os  cristãos  tinham sido  advertidos  da  vinda  do  Anticristo;  e,  certamente,  “muitos  Anticristos”  surgiram.  Por um  tempo,  eles  creram  no  evangelho;  mais  tarde  abandonaram  a  fé,  e  então  começaram  a tentar  enganar  a  outros,  quer  iniciando  novas  seitas  ou,  o  que  é  mais  provável,  procurando atrair  cristãos  para  o  judaísmo  –  a  falsa  religião  que  alegava  adorar  o  Pai  enquanto  negava  o Filho.  Quando  a  doutrina  do  Anticristo  é  entendida,  ela  se  encaixa  perfeitamente  com  o que  o  restante  do  Novo  Testamento  fala  sobre  a  época  da  “última  geração”. 

Um  dos  Anticristos  que  afligiu  a  Igreja  primitiva  foi  Cerinto,  o  líder  de  uma  seita judaica  do  primeiro  século.  Considerado  pelos  Pais  da  Igreja  como  “o  Arqui-herege”,  e identificado  como  um  dos  “falsos  apóstolos”  aos  quais  S.  Paulo  se  opôs,  Cerinto  era  um judeu  que  se  uniu  à  Igreja  e  começou  a  afastar  os  cristãos  da  fé  ortodoxa.  Ele  ensinava  uma deidade  menor,  e  não  o  Deus  verdadeiro,  que  tinha  criado  o  mundo  (sustentando,  com  os gnósticos,  que  Deus  era  muito  “espiritual”  para  se  preocupar  com  a  realidade  material). Logicamente,  isso  significava  também  uma  negação  da  encarnação,  visto  que  Deus  não tomaria  para  si  mesmo  um  corpo  físico  e  uma  personalidade  verdadeiramente  humana.  E Cerinto  era  consistente:  ele  declarou  que  Jesus  tinha  sido  meramente  um  homem  comum, não  nascido  de  uma  virgem;  que  “o  Cristo”  (um  espírito  celestial)  tinha  descido  sobre  o homem  Jesus  em  seu  batismo  (capacitando-o  a  realizar  milagres),  mas  então  o  deixou novamente  na  crucificação.  Cerinto  também  advogava  uma  doutrina  da  justificação  pelas obras  –  em  particular,  a  necessidade  absoluta  de  observar  as  ordenanças  cerimoniais  do Antigo  Pacto  para  ser  salvo. 

Ademais,  Cerinto  foi  aparentemente  o  primeiro  a  ensinar  que  a  segunda  vinda iniciaria  um  reino  literal  de  Cristo  em  Jerusalém  por  mil  anos.  Embora  isso  fosse  contrário ao  ensino  apostólico  do  reino,  Cerinto  alegou  que  um  anjo  tinha  lhe  revelado  essa  doutrina (assim  como  Joseph  Smith,  um  Anticristo  do  século  19,  afirmaria  mais  tarde  ter  recebido uma  revelação  angelical). 

Os  verdadeiros  apóstolos  se  opuseram  fortemente  à  heresia  de  Cerinto.  S.  Paulo admoestou  as  igrejas:  “Mas,  ainda  que  nós  ou  mesmo  um  anjo  vindo  do  céu  vos  pregue evangelho  que  vá  além  do  que  vos  temos  pregado,  seja  anátema!”  (Gálatas 1:8),  e  na  mesma carta  continuou  refutando  as  heresias  legalistas  sustentadas  por  Cerinto.  De  acordo  com  a tradição,  o  apóstolo  João  escreveu  seu  evangelho  e  suas  cartas  com  Cerinto  especialmente em  mente.  (Somos  informados  que  S.  João  entrou  certa  vez  numa  casa  de  banho  público  e reconheceu  esse  Anticristo  diante  dele.  O  apóstolo  imediatamente  deu  meia-volta  e  correu, gritando:  “Fujamos,  não  seja  que  desabe  o  edifício;  pois  Cerinto,  o  inimigo  da  verdade,  está dentro!”). 

Retornando  às  declarações  de  S.  João  sobre  o  espírito  do  Anticristo,  devemos observar  que  ele  enfatiza  outro  ponto,  muito  significante:  segundo  Jesus  predisse  em  Mateus  24,  a  vinda  do  Anticristo  é  um  sinal  “do  Fim”:  “Filhinhos,  já  é  a  última  hora;  e,  como ouvistes  que  vem  o  anticristo,  também,  agora,  muitos  anticristos  têm  surgido;  pelo  que conhecemos  que  é  a  última  hora”  (1  João  2:18).  A  relação  que  as  pessoas  geralmente  fazem  entre o  Anticristo  e  “os  últimos  dias”  é  correta;  mas  o  que  é  frequentemente  ignorado  é  o  fato que  a  expressão  os  últimos  dias,  e  termos  similares,  é  usada  na  Bíblia  para  referir-se,  não  ao fim  do  mundo  físico,  mas  aos  últimos  dias  da  nação  de  Israel,  os  “últimos  dias”  que  terminariam com  a  destruição  do  templo  em  70  d.C.  Isso,  também,  surpreenderá  a  muitos,  mas  devemos aceitar  os  ensinos  claros  da  Escritura.  Os  autores  do  Novo  Testamento  sem  dúvida  usavam a  linguagem  os  “últimos  tempos”  quando  falando  do  período  em  que  viviam,  antes  da queda  de  Jerusalém.  Como  temos  visto,  o  apóstolo  João  disse  duas  coisas  sobre  esse  ponto: primeiro,  que  o  Anticristo  já  tinha  vindo;  e,  segundo,  que  a  presença  do  Anticristo  era  prova  de  que ele  e  seus  leitores  estavam  vivendo  na  “última  hora”.  Em  uma  de  suas  primeiras  cartas,  S.  Paulo teve  que  corrigir  uma  impressão  errônea  com  respeito  ao  juízo  vindouro  sobre  Israel.  Os falsos  mestres  assustavam  os  crentes  dizendo  que  o  dia  do  juízo  estava  por  vir  sobre  eles.  S. Paulo  lembrou  aos  cristãos  o  que  ele  tinha  explicando  antes: 

Ninguém,  de  nenhum  modo,  vos  engane,  porque  isto  não  acontecerá  sem que  primeiro  venha  a  apostasia..  (2  Tessalonicenses  2:3). 

No  fim  daquela  época,  contudo,  enquanto  João  estava  escrevendo  suas  cartas,  a Grande  Apostasia  –  o  espírito  do  Anticristo,  sobre  o  qual  o  Senhor  tinha  profetizado  –  era uma  realidade. 

S.  Judas,  que  escreveu  um  dos  últimos  livros  do  Novo  Testamento,  deixa-nos  sem dúvida  sobre  esse  assunto.  Fazendo  fortes  condenações  contra  os  hereges  que  tinham invadido  a  Igreja  e  estavam  tentando  afastar  os  cristãos  da  fé  ortodoxa  (Judas 1-16),  ele recorda  aos  seus  leitores  que  eles  já  haviam  sido  advertidos  sobre  essa  mesma  coisa: 

Vós,  porém,  amados,  lembrai-vos  das  palavras  anteriormente  proferidas pelos  apóstolos  de  nosso  Senhor  Jesus  Cristo,  os  quais  vos  diziam:  No  último tempo,  haverá  escarnecedores,  andando  segundo  as  suas  ímpias  paixões.  São  estes os  que  promovem  divisões,  sensuais,  que  não  têm  o  Espírito  (Judas  17-19). 

S.  Judas  claramente  considera  as  advertências  sobre  os  “encarnecedores”  como  se referindo  aos  hereges  dos  seus  dias  –  significando  que  seus  dias  era  o  período  do  “último tempo”.  Como  S.  João,  ele  sabia  que  a  multiplicação  rápida  dos  falsos  irmãos  era  um  sinal do  Fim.  O  Anticristo  tinha  chegado,  e  já  era  a  última  hora. 


Fonte:  Capítulo  3  do  excelente  livro  The  Great  Tribulation, de David Chilton. 

Tradução: Felipe  Sabino de Araújo Neto

quinta-feira, 30 de maio de 2019

A Ação da Besta e a sua Ressurreição



A AÇÃO DA BESTA 

Enquanto continuamos desenvolvendo a imagem de João acerca da besta, descobrimos evidências adicionais a respeito de Nero vindo ao foco. Lê-se em Apocalipse 13.5,7: 

Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e autoridade para agir quarenta e dois meses. […] Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação.

Como ficamos sabendo pela leitura de Atos, o cristianismo não foi molestado pelo Império Romano durante seus primeiros anos. De fato, no final de Atos, Paulo chega a apelar a César para se proteger da perseguição judaica (At 25.11,12). Isso aconteceu mesmo nos primeiros dias do reinado de Nero. As coisas mudaram muito, no entanto, quando Nero lançou ataques aos cristãos na tentativa de desviar as suspeitas de ser ele o responsável pelo incêndio destrutivo e mortal que destruiu grande parte de Roma em 64 d.C.

O historiador romano Tácito (que nasceu no reinado de Nero) registrou a horrível perseguição que envolveu os cristãos em Roma:

Nero infligiu punições inauditas nos que, odiados por seus crimes abomináveis, eram geralmente chamados de cristãos (Ann. 15.44). 

Ele até fala do “imenso número” de cristãos assassinados por Nero. O cristão Clemente de Roma, que viveu nesse tempo, menciona “uma vasta multidão dos eleitos” que morreu sob Nero (1Clem 6). Sabemos que Pedro e Paulo foram executados nesse período.

Logo, a perseguição de Nero contra os cristãos — incluindo alguns dos maiores líderes — representou a “peleja” travada pela besta contra os santos a fim de vencê-los (Ap 13.7). Mas como deveríamos entender o período de “quarenta e dois meses” mencionados por João (Ap 13.5)?

Sabemos, pelos registros históricos, que o primeiro ataque de Nero contra os cristãos em Roma ocorreu em novembro de 64 d.C. Nero morreu no começo de junho de 68. Johann Lorenz von Mosheim, o grande historiador da igreja, resumiu esse período com estas palavras:

Principalmente, na série daqueles imperadores, dos quais a igreja se recorda com horror como seus perseguidores, destaca-se Nero, um príncipe cuja conduta para com os cristãos não admite atenuação, mas foi, até o último grau, desumana e caótica. A horrenda perseguição que se realizou por ordem desse tirano começou em Roma perto em meados de novembro do ano 64 de nosso Senhor… Essa horrenda perseguição só cessou com a morte de Nero. O império, como se sabe bem, não foi libertado da tirania desse monstro até o ano 68, quando ele deu fim à própria vida.

Assim, temos o período em que a besta pelejou contra os santos por quase 42 meses: de novembro de 64 até junho de 68. O encaixe é relevante e notável.

A RESSURREIÇÃO DA BESTA

Chego agora à parte da revelação que, muitos acreditam, coloca um obstáculo insuperável à interpretação de Nero/Roma como a besta do século I. Ironicamente, no entanto, essa revelação confirma a visão. A revelação que tenho em mente é a que envolve a morte e a ressurreição da besta: 

Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta (Ap 13.3). 

Como posso explicar esse conceito sem declarar que Nero morreu e foi ressuscitado dos mortos? É essa a objeção fatal da posição de Nero/Roma? 

Para interpretar com correção essa visão, devemos começar recordando-nos da identidade dupla da besta: ela pode transitar entre Roma (em sentido corporativo) e o governante de Roma (em sentido individual). Isto é, a besta representa os dois: o Império Romano como uma entidade política e Nero César como líder dessa entidade. Com isso em mente, notemos que o significado transita na visão, o que permite uma correspondência fascinante com a história do século I.

Nero governou Roma de 54 d.C. até a sua morte em 9 de junho de 68 d.C. Nas últimas semanas de vida, as destrutivas guerras civis romanas eclodiram. Em desespero, Nero suicidou-se quando as forças imperiais, sob a liderança do general Galba, estavam prestes a capturá-lo. O império foi lançado em convulsões devastadoras em sentido político e social. O historiador romano Tácito lamentou esse período negro na vida de Roma no século I:

A história em que estou entrando é de um período sobejo em desastres, terrível em batalhas, destroçado por conflitos civis, horrível mesmo na paz. Quatro imperadores caíram sob a espada; houve três guerras civis, mais guerras internacionais e, de modo geral, as duas coisas ao mesmo tempo. Houve sucesso no leste e infortúnio no oeste. O Ilírico foi transtornado, as províncias da Gália vacilaram, a Bretanha se rendeu e desistiu de imediato. Os sármatas e os suevos se levantaram contra nós; os dácios ganharam fama pelas derrotas infligidas e sofridas; até os partos quase pegaram em armas pelo charlatanismo de um pretenso Nero. Ademais, a Itália foi perturbada por desastres nunca vistos ou que voltaram após o lapso das eras. Cidades dos litorais férteis e ricos da Campânia foram tragadas ou arrasadas; Roma foi devastada por conflagrações, pelas quais os santuários mais antigos foram consumidos e o próprio Capitólio incendiado pelas mãos dos cidadãos. Sítios sagrados foram profanados; houve adultérios nos lugares altos. O mar se encheu de exilados, seus penhascos se contaminaram com os corpos dos mortos. Em Roma, houve mais crueldade medonha (Hist. 1.2,3). 

Com essa guerra civil caótica abalando os fundamentos do império, o mundo testemunha “os senhores da terra habitável” (War 4.3.10) sediados na “maior de todas as cidades” (War 4.11.5) sucumbindo em horrendos espasmos mortais. Como Tácito expressou:

Essa foi a condição do Estado romano quando Sérvio Galba, eleito cônsul pela segunda vez, e seu colega Tito Vínio iniciaram o ano que era para ser o último de Galba e, para o Estado, quase o fim (Hist. 1.11; grifo adicionado).

De acordo com Josefo, a morte de Nero suspendeu até a guerra judaica com Roma, quando o poderoso general Vespasiano e seu filho Tito cessam as hostilidades:

E agora, os dois estiveram em suspense sobre os afazeres públicos, estando o Império Romano, então, em uma condição instável; e não prosseguiram com a expedição contra os judeus, mas consideraram agora inoportuno empreender qualquer ataque contra estrangeiros, considerando o cuidado com o próprio país (War 4.9.2).

Os relatórios que chegaram até o campo de batalha em Israel são tão horríveis que lemos sobre Vespasiano: 

E seu pesar foi tão violento que ele não pôde suportar os tormentos que havia sobre ele, nem a se dedicar mais em outras guerras quando a sua terra natal estava desolada (War 4.10.2).

De fato, “Roma estava próxima da ruína” (War 4.11.5), de modo que “o Estado romano estava tão enfermo… [que] cada parte da terra habitável encontrava-se em uma condição indefinida e instável” (War 7.4.2).

Assim, depois do suicídio de Nero com a própria espada, parecia para o mundo que a poderosa Roma estava morrendo. João descreveu esse fenômeno como a besta recebendo uma ferida mortal em “uma de suas cabeças” (Ap 13.3). Mas então, o que acontece?

O famoso biógrafo romano Suetônio fala da ressurreição de Roma do estado de morte: 

O império que por muito tempo esteve indefinido e, assim, arrastando-se ao longo da usurpação e da morte violenta de três imperadores, foi por fim colocado sob controle e recebeu estabilidade da família Flaviana (Vesp. 1, grifo adicionado).

Josefo expressa a mesma surpresa com respeito à resiliência de Roma: 

Portanto, com a confirmação de todo o governo de Vespasiano, agora estabelecido, e a libertação inesperada dos deveres públicos romanos da ruína, Vespasiano voltou o pensamento para os insubmissos na Judeia (War 4.11.5; grifo adicionado).

Assim, depois de um período de penosas guerras civis, o império reviveu, para a perplexidade do mundo que agora retornava ao domínio de Roma. Como João afirmou: “Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta” (Ap 13.3), dizendo: “Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela?” (Ap 13.4b).

Isso, sem dúvida e de modo notável confirma o ponto de vista que aponta para Nero/Roma.

CONCLUSÃO

Estou convencido: da mesma forma que “todos os caminhos levam a Roma” , também toda a evidência da besta leva a ela. A evidência apresenta não só uma adequação notável (mesmo onde não esperaríamos), mas uma adequação relevante: Nero vive em um período que se encaixa (Ap 1.1,3). Seu império parece surgir do mar, da perspectiva de Israel (13.1). O Império Romano possui incrível autoridade política e poderio militar (13.2,4). Nero, como a sexta cabeça de Roma, aparece em cena na cronologia dos imperadores (17.10) e apresenta o caráter de um homem bestial (13.5,6,8).

Até o nome de Nero se encaixa no misterioso número da besta (Ap 13.18). Quando a besta “peleja contra os santos” , não ficamos surpresos ao saber que Nero foi o primeiro perseguidor imperial da igreja (13.7) — e pela exata duração indicada em Apocalipse (13.5). Pode-se até aplicar o aspecto mais improvável da profecia de João a Nero e ao Império Romano: a morte e a ressurreição da besta (13.3).


 Kenneth L. Gentry Jr.  Apocalipse para leigos — você pode entender a profecia bíblica —. pg: 103 - 111

sábado, 25 de maio de 2019

O caráter da Besta e o seu Número




O CARÁTER DA BESTA

João chama a besta por um termo derrogatório que reflete seu caráter maligno: “besta” (Ap 13.1). A imagem da “besta” com certeza indica que ele possuía um caráter mau. João apresenta essa besta como o composto de três carnívoros amedrontadores:

A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão. (Ap 13.2a)

Esses animais seriam aterrorizantes para qualquer conhecedor das arenas romanas onde homens e mulheres eram cruelmente “jogados aos leões” e outras feras.

Sem dúvida, Nero possuía um caráter imoral e bestial. Ele matou a própria mãe, o irmão, a tia e a esposa — além de muitos cidadãos romanos eminentes. Ele era conhecido por amarrar escravos em postes, vestir-se na pele de um leão e atacá-los e estuprá-los (Suetônio, Nero, 29). Era temido e odiado pelo próprio povo. A leitura da literatura antiga demonstra que Nero “era de uma brutalidade cruel e irrestrita”.

Tácito, o famoso historiador romano do século II, fala da “natureza cruel” de Nero que “condenou à morte tantos homens inocentes” (Hist. 4.7,8). O naturalista romano Plínio, o Velho, descreve Nero como “o destruidor da raça humana” e “o veneno do mundo” (Nat. Hist. 7.45; 22.92). O satirista romano Juvenal lamenta a “tirania cruel e sangrenta de Nero” (Sat. 7.225). Em outro lugar, ele chama Nero de “tirano cruel” (Sat. 10.306). No século I, Apolônio de Tiana até chama Nero de “besta” (registrado em Filostrato, Vit. 4.38).

Não só a besta é imoral e selvagem, mas é também presunçosamente blasfema:

Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e autoridade para agir quarenta e dois meses; e abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para lhe difamar o nome e difamar o tabernáculo, a saber, os que habitam no céu [...] e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. (Ap 13.5,6,8)

Nero cunhou moedas com uma imagem da própria cabeça lançando raios do sol. Com essa manobra, ele intencionalmente imitou o poderoso deus sol romano Apolo. Uma inscrição em Atenas o louva como “o todo-poderoso Nero César Sebasto, o novo Apolo”. 

Em 66 d.C., Tirídates, rei da Armênia, aproximouse de Nero em adoração, de acordo com o historiador romano Dião Cássio, do século II:

De fato, os procedimentos da conferência não foram limitados a meras conversas, mas uma plataforma elevada havia sido erigida na qual encontravam-se imagens de Nero e, na presença de armênios, partos e romanos, Tirídates aproximou-se e prestou-lhes reverência; então, após sacrificar a elas e chamá-las por nomes laudatórios, ele tirou o diadema de sua cabeça e colocou-o sobre elas. Tirídates publicamente prostrou-se diante de Nero, que estava assentado sobre a tribuna no fórum: “Mestre, eu sou o descendente de Arsaces, irmão dos reis Vologaesus e Pacorus, e teu escravo. E vim a ti, meu deus, para adorar-te como faço com Mitra. A sina que traçaste para mim será minha; pois tu és minha sorte e meu destino”. 

Com certeza Nero se adequa ao caráter de uma “besta”.

O NÚMERO DA BESTA

Sem dúvida, o aspecto mais conhecido do imaginário da besta no Apocalipse é o número “666”:

Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis. (Ap 13.8)

O que esse número significa? E como ele nos ajuda a identificar a besta do Apocalipse?

Antes de mostrar como esse número aponta para Nero, devo comentar sobre o número em si encontrado no Apocalipse. Alguns populistas modernos tentam encontrar a besta no mundo contemporâneo mediante a procura da série de três números seis em conjunto. Alguns anos atrás, uma teoria sugeriu que o presidente Reagan era a besta porque cada um dos seus três nomes era composto de seis letras: Ronald Wilson Reagan. Alguns propõem que ele consista em um código de computador baseado nesses três dígitos. Outros declaram que refere-se ao Mark VI Personal Identity Verifier usado em leituras biométricas da mão humana. Ou os códigos de barra, que começam com o código para “6” , têm uma barra central representando o “6” , e finalizam o código de barras com as linhas representando o “6” de novo.

Esses palpites perdem a leitura exata do Apocalipse. João não afirma que essa marca envolve uma série de três seis. No grego de Apocalipse 13.18, o número realmente é “seiscentos e sessenta e seis” , e não “seis seis seis”. Várias traduções deixam isso claro ao escrever o valor no formato alfabético, em vez de em algarismos (Almeida Revista e Atualizada, Nova Versão Internacional, Almeida Século 21, Nova Tradução na Linguagem de Hoje, Tradução Brasileira, Nova Almeida Atualizada). Uma série de seis não tem nada a ver com o número da besta. Na verdade, o número é o valor total: seiscentos e sessenta e seis, uma soma aritmética específica.

Enquanto tentamos decifrar o significado de João, devemos ter em mente que o sistema numérico arábico, tão conhecido por nós, não fazia parte do mundo antigo. Ele foi, na verdade, importado pela cultura ocidental no século XII. Antes dessa época, os alfabetos tinham duas funções: não eram apenas alfabetos, mas sistemas de enumeração (considere os números romanos que você conhece). Muitos dicionários bíblicos observam essa prática em relação às línguas bíblicas antigas na palavra principal: “Números, numerais”.

Continuando nossa busca pela identidade do que está escondido por trás do valor do número “seiscentos e sessenta e seis” , devemos nos lembrar de que João era judeu, e ele escrevia sobre o juízo divino contra os judeus. Em adição, devemos reconhecer que o Apocalipse é o livro mais hebraico do Novo Testamento, contendo marcas de imagens visuais traçadas no Antigo Testamento, com centenas de referências literárias a versículos do Antigo Testamento, e uma forma hebraica de grego diferente de qualquer outro registro do Novo Testamento.

Se fizermos a suposição razoável de que o hebraico seja a língua para procurarmos o significado do número da besta, chegaremos à mesma conclusão que outras linhas de evidência sugerem: a besta é Nero César. A soletração do seu nome em hebraico do século I era nrwn qsr (pronunciado: “Neron Kesar”). Alguns arqueólogos documentaram esse modo de soletrar em hebraico, que apresenta o valor exato “seiscentos e sessenta e seis”. O léxico de Jastrow do Talmude contém essa mesma escrita. A forma hebraica do nome de Nero é escrita: Nrwn Qsr. A valoração numérica desse modo de soletrar é a seguinte:

n = 50 r = 200 w = 6 n = 50 q = 100 s = 60 r = 200

A soma dessas letras resulta no número 666. Muitos acadêmicos bíblicos reconhecem esse nome como “a solução mais provável” do problema. E por que não? O nome “Nero César” não apenas se encaixa em sentido numérico, como a pessoa de Nero se adequa no contexto do drama de João.  

Mas agora: e quanto à besta impondo sua marca aos homens?

A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome. (Ap 13.16,17)

Ao responder essa pergunta, devemos recordar a natureza simbólica do Apocalipse e as imagens paralelas em seu interior que parecem se basear em uma prática do Antigo Testamento.

Em primeiro lugar, marcar homens a serviço da besta não é um sinal mais literal que marcar os servos do Cordeiro na próxima cena: 

Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu Pai. (Ap 14.1)

Em segundo lugar, essa marca parece uma metáfora sobre o domínio e o controle exercidos pela fonte da marca. Em Apocalipse 13, ninguém pode comprar nem vender sem a marca. Isto é, todos os súditos do Império Romano estão sob o domínio do imperador, que, na realidade, detém o sustento deles em suas mãos.

Em terceiro lugar, na exigência da besta por adoração (Ap 13.4,8), assim demonstrando suas presunções divinas, João apresenta essa alegação pretenciosa de soberania contra o pano de fundo de Antigo Testamento. Esse livro bastante orientado pelo Antigo Testamento usa a marca na mão direita e na fronte com imagem oposta à que Deus exigiu de seu povo a respeito da lei por ele concedida: 

Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração. […] Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. (Dt 6.6,8)

Isso é sublinhado pelo fato descrito antes: o versículo seguinte apresenta os servos do Cordeiro com uma marca na testa.

Em quarto lugar, qualquer marca dos dias de hoje contraria o significado do curto prazo dado de João (Ap 1.1,3; 22.6,10), a relevância para os cristãos perseguidos do século I (Ap 1.9; 3.10; 6.9-11; 12.4- 6,17), o tema apresentando o juízo contra Israel (Ap 1.7) e a conexão da besta com a era dos primeiros sete imperadores de Roma (Ap 17.9,10). Logo, a procura da marca nos dias de hoje contraria o contexto.

Como consequência, com esse imaginário da marca João está ensinando que a besta (Nero) desempenhará suas pretensões divinas, agindo como soberano absoluto sobre a vida e o destino dos súditos. Ela não imporá uma marca mais literal em seus súditos do que Cristo nos seus. Isso é imaginário fantasioso, não realidade literal.


 Kenneth L. Gentry Jr.  Apocalipse para leigos — você pode entender a profecia bíblica —. pg: 97 - 102

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

A Autoridade e a Cronologia da Besta



A AUTORIDADE DA BESTA

Agora, saímos dos indicadores temporais e geográficos para os políticos. A figura que João faz da autoridade da besta se encaixa bem na identidade romana. João não apenas vê a besta com muitos diademas e a visualiza com armas poderosas, mas nota em especial que Satanás lhe concede “grande autoridade”:

Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre os chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia. A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade. (Ap 13.1,2.

João destaca seu grande poder político pela imagem dos “dez chifres” com “dez diademas”. Na antiguidade, chifres animais simbolizavam autoridade política e força militar:

Deus tirou do Egito a Israel, cujas forças [chifres] são como as do boi selvagem; consumirá as nações, seus inimigos, e quebrará seus ossos, e, com as suas setas, os atravessará (Nm 24.8).

Ele tem a imponência do primogênito do seu touro, e as suas pontas são como as de um boi selvagem; com elas rechaçará todos os povos até às extremidades da terra. Tais, pois, as miríades de Efraim, e tais, os milhares de Manassés (Dt 33.17). Visto que, com o lado e com o ombro, dais empurrões e, com os chifres, impelis as fracas até as espalhardes fora (Ez 34.21). Depois disto, eu continuava olhando nas visões da noite, e eis aqui o quarto animal, terrível, espantoso e sobremodo forte, o qual tinha grandes dentes de ferro; ele devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele e tinha dez chifres.(Dn 7.7). As pessoas na visão que olham a besta estão perplexas pelo seu poder: “Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela?” (Ap 13.4b).

De fato, Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação (Ap 13.7). Todos nós estamos cientes do domínio e do poder de Roma no século I. Josefo fala dos romanos como “os senhores da terra habitável” (War 4.3.10), “os governantes do mundo inteiro” (Ant. 15.11.1). Ele chama Roma de “a maior de todas as cidades” (War 4.11.5). Fílon, um filósofo judeu do século I, fala do imperador de Roma “assumindo a soberania sobre tudo” (Embassy 8). Ele até escreveu a respeito da “soberania [de Roma] sobre as porções mais numerosas, valiosas e importantes do mundo habitável, o que, na verdade, alguém poderia com correção chamar de todo o mundo” (Embassy 10). A evidência a favor de Roma está aumentando.

A CRONOLOGIA DA BESTA 

O anjo intérprete de João apresenta ainda mais evidências nessa direção. Após afirmar que as sete cabeças representam sete montanhas, acrescenta que elas também representam sete reis: 

Aqui está o sentido, que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis, dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco (Ap 17.9,10).

Isso se torna muito útil em identificar o imperador particular que governava Roma quando João escreveu.

Agora, o anjo associa a série de sete reis a esse império famoso. Revela-se, então, que os cinco reis caídos representam os primeiros cinco imperadores de Roma: Júlio, Augusto, Tibério, Calígula e Cláudio (para a sua enumeração, consulte Lives of the Twelve Caesars, do biógrafo Suetônio do séc. II). Eles já estavam mortos quando João escreveu; portanto, já “caíram”. O sexto rei está reinando no momento, pois “um existe”. Esse é Nero César. O anjo então explica para João sobre o sétimo rei: ele “ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco”. O sétimo imperador de Roma foi Galba, que reinou de junho de 68 a janeiro de 69 — apenas seis meses, o imperador de reinado mais curto até essa época (o reinado de Nero durou mais de treze anos).

Assim, não só a besta retrata o Império Romano em sentido corporativo, mas, de forma específica, Nero, o sexto imperador. E Nero não foi apenas o primeiro imperador a perseguir a igreja cristã, mas também a autoridade que comissionou o general romano Vespasiano a atacar e destruir Jerusalém (Josefo, War, 3.1.2). Ele se encaixa no drama e no tema de Apocalipse com perfeição. Todavia, existem mais evidências!


Kenneth L. Gentry Jr. Apocalipse para leigos — você pode entender a profecia bíblica —. pg:90-94