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sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Literalismo e Apocalipse 20



Como vimos, o amilenismo não toma os mil anos de Apocalipse 20 literalmente, mas entende-os como uma referência simbólica à toda a era do Novo Testamento. O simbolismo é encontrado no fato que 1000 é 10x10x10, onde 10 é entendido como uma representação de completude. É este entendimento não-literal dos mil anos que desejamos defender.

Já apontamos que “mil” nem sempre deve ser tomado literalmente na Escritura. Deus não possui apenas os animais de milhares de montanhas, mas de todas elas (Sl. 50:10). Outras passagens nos Salmos onde “mil” não é literal, mas tem o significado de “todos” ou “o todo” são Salmos 84:10, Salmos 91:7 e Salmos 105:8. Aqueles que dizem que o número deve ser tomado sempre literalmente – incluindo Apocalipse 20 – estão errados.

Devemos ressaltar também que há outras coisas em Apocalipse 20 que não podem ser tomadas literalmente. Nos versículos 1 e 2, Satanás não é literalmente um dragão; nem pode um espírito, Satanás, ser preso com uma corrente literal (veja também Lucas 24:39). Além disso, a maioria das pessoas entenderia a referência a um “abismo” em Apocalipse 20:3 como sendo uma referência ao inferno, a morada de Satanás, não a um buraco no chão. Mais adiante no capítulo, o Anticristo não é uma “besta” (v. 10) no sentido literal, nem o livro da vida (v. 12) é um livro literal de papel e páginas impressas.

Inúmeras coisas no restante do livro de Apocalipse não podem ser tomadas literalmente. Nenhum cristão que conhecemos, por exemplo, espera que sua recompensa será de fato uma pedra branca com seu nome gravado nela (2:17) ou que ele se tornará uma “coluna” no céu (3:12), ou que Jesus realmente tem uma espada no lugar de uma língua (1:16).

É impressionante que aqueles que insistem mais ruidosamente num entendimento literal dos mil anos e dizem que qualquer outra coisa é infidelidade à Escritura, são os mesmos que estão indispostos a tomarem literalmente a referência às almas em Apocalipse 20:4. Eles insistem que essas não são almas literais, desincorporadas, mas pessoas completas.

Gostaríamos de lembrar aos nossos leitores que a própria Escritura não demanda um literalismo estrito e rigoroso; de fato, ela implica que essa espiritualização é necessária para a interpretação da Escritura. Somos informados em 1Coríntios 2:14:

“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.

Há muitos exemplos de tal espiritualização na Escritura, sendo Gálatas 4:21-31 um exemplo notável.

A maneira apropriada de interpretar a Escritura não é um literalismo rígido e impossível, mas permitir que a Escritura interprete a si mesma. Ela faz isso mostrando que “mil” pode algumas vezes ser entendido simbolicamente (Sl. 84:10); que a prisão de Satanás deve ocorrer durante a encarnação de Cristo (Mt. 12:29); e que os mil anos terminam com o fim do mundo (Ap. 20:7-15). A única conclusão possível, portanto, sobre a base da própria Escritura, é que os mil anos referem-se ao todo da era do Novo Testamento.

Mas tudo tem importância? Certamente! Se ainda houvesse uma era de mil anos após a era presente, a esperança celestial dos crentes e o julgamento final se tornariam tão remotos que o chamado para vigiar, orar e estar preparado para o retorno de Cristo seria quase irrelevante. A urgência do nosso chamado para esperar e estar atento para o fim de todas as coisas reside em nossa certeza de que essas coisas acontecerão em breve.

___________________
Sobre o autor: Rev. Ronald Hanko é ministro ordenado da Protestant Reformed Church.

Fonte: Monergismo

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Quatro grandes correntes de Interpretação do livro de Apocalipse



Há quatro grandes correntes de interpretação do livro de Apocalipse:

1. A corrente Pós-Milenistas

Os  pós-milenistas ensinam que a segunda vinda de Cristo se seguirá a um longo período de retidão e paz, chamado milênio. Robert Clouse citando Loraine Boettner, ilustre representante do pós-milenismo, diz: 

“o milênio se encerrará com a segunda vinda de Cristo, a ressurreição e o julgamento final. Em suma, os pós-milenistas apresentam um reino espiritual nos corações dos homens”. 

O pós-milenismo crê que o mundo vai ser cristianizado e que teremos um grande e poderoso reavivamento, produzindo um crescimento espantoso da igreja a ponto da terra encher-se do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar (Hc 2:4). Martyn Lloyd-Jones diz que os pós-milenistas creem que para o fim da era cristã, haverá um período de bênçãos inusitado e especial, o qual ofuscará tudo o que lemos em Atos capítulo 2. Haverá, dizem, uma tão tremenda profusão do Espírito Santo, levando a uma atividade missionária e evangelística tal, que a maioria das pessoas na face da terra será convertida e se tornará cristã. Russell Shedd diz que as raízes do pós-milenismo são reconhecíveis nas ideias de Ticônio e Agostinho. Essa corrente foi forte nos séculos XVII, XVIII e XIX, quando as missões estavam em franca expansão. O Pós-milenismo foi o ponto de vista defendido praticamente por todos os grandes protestantes e comentaristas evangélicos conservadores durante o século XIX. Homens como Jonathan Edwards, Charles Hodge e Benjamim Warfield, os famosos teólogos do Seminário de Princeton, foram defensores do Pós-Milenismo. Muitos missionários foram influenciados por esta interpretação, e muitos hinos missiológicos foram escritos inspirados por esta visão. 
Essa corrente, contudo, deixa de perceber que antes da vinda de Cristo estaremos vivendo um tempo de crise e não um tempo de despertamento espiritual intenso e universal. Devemos rejeitar essa corrente. Parece-nos que o otimismo incontido dos mestres do Pós-milenismo desfez-se no dramático realismo do século XX, com duas sangrentas guerras mundiais e o mundo sendo abocanhado pelo comunismo ateu. Millard Erickson interpreta corretamente quando diz que o forte declínio da popularidade do pós-milenismo é resultado mais das considerações históricas do que exegéticas. Diz ainda Millard que hoje os pós-milenistas são uma espécie extinta ou em perigo. 

Penso que Martyn Lloyd-Jones tocou no cerne da fraqueza do pós-milenismo, quando disse:

A dificuldade que pessoalmente encontro no ponto de vista pós-milenista é que parece haver um ensino tão claro nas Escrituras que longe de haver uma era áurea perto do fim, haverá um tempo de grande tribulação, quando a Igreja será sujeitada a terríveis provações, e haverá pavorosa e terrível guerra. Aliás, existe um versículo, uma declaração, que, até onde a compreendo, é suficiente para eliminar o ponto de vista pós-milenista. E Lucas 18:8, onde nosso Senhor diz: “Contudo, quando vier o Filho do homem, achará, porventura, fé na terra?” E fé ali significa a fé [...]. Sinto, pois, que sobre tais bases não posso aceitar a interpretação pós-milenista

Pós-milenismo não é literalista no que diz respeito à duração do milênio: o milênio é um período longo de tempo, não necessariamente mil anos medidos pelo calendário. O milênio terminará com a segunda vinda de Cristo, em vez de começar com ela.

2. A corrente Pré-Milenista

Ensinam os pré-milenistas que a segunda vinda de Cristo não seguirá, mas precederá o milênio. O Pré-Milenismo foi a posição oficial da Igreja Primitiva até o quarto século. Os pais da Igreja como Justino, o mártir, Tertuliano, Lactâncio, Papias, Irineu e Hipólito, escreveram sobre a tribulação pela qual a igreja passaria. George Ladd, ilustre representante do Pré-Milenismo Histórico, resume o período patrístico dizendo que cada pai da igreja que trata do assunto prevê que a igreja sofrerá às mãos do anticristo, mas Cristo a salvará mediante a Sua volta no fim da tribulação, quando, então, destruirá o anticristo, livrará Sua igreja e trará o mundo ao fim e inaugurará Seu reino milenar.

Robert Clouse diz que durante o século XIX o pré- j milenismo atraiu novamente ampla atenção. John Nelson f Darby (1800-1882), líder dos irmãos Plymouth articulou a perspectiva dispensacionalista do pré-milenismo. Descreveu a vinda de Cristo antes do milênio, consistindo de dois estágios: o primeiro, um arrebatamento secreto removendo a igreja antes da Grande Tribulação devastar a terra; o segundo, Cristo vindo com Seus santos para estabelecer o reino. No momento de sua morte, Darby havia deixado quarenta volumes de escritos e uns mil e quinhentos congressos realizados ao redor do mundo. Através de seus livros, que incluem quatro volumes acerca de profecia, o sistema de dispensações foi levado a todo o mundo de língua inglesa.

Um dos maiores fatores para o crescimento do dispen- sacionalismo no meio evangélico foi a Bíblia anotada de Scofield. Essa Bíblia foi publicada em 1909 e desde então tem larga aceitação nos Estados Unidos e em quase todo o mundo. Scofield divide a Bíblia em sete dispensações:1) A Inocência - desde Adão até a queda; 2) A consciência - desde a queda até o dilúvio; 3) O governo humano - desde Noé até Abraão; 4) A promessa - desde Abraão até Moisés; 5) A lei - desde Moisés até o Calvário; 6) A graça — desde o Calvário até a grande tribulação; 7) O reino - desde a grande tribulação até o fim do reinado de Cristo por mil anos na terra. Dentro dessa visão dis- pensacionalista, a igreja é apenas um parêntesis na história. Equivocadamente se pensa que a igreja é o mistério que não tinha sido previsto pelos profetas no Antigo Testamento. Angus Macleod, citando Dr. Ironside, grande expoente do dispensacionalismo chega a dizer: 

o relógio profético se deteve no Calvário. Nem um tic-tac se tem ouvido desde então e o relógio não começará a marcar até que Cristo regresse”.

Um dos grandes destaques da interpretação dispensacionalista é a distinção entre arrebatamento e segunda vinda de Cristo. Para os dispensacionalistas a segunda vinda de Cristo será em dois turnos: a vinda secreta para a igreja, o arrebatamento e a vinda visível com a igreja, a segunda vinda. George E. Henderlite, falando sobre essa diferença entre o arrebatamento e a segunda vinda visível de Cristo, diz:

No arrebatamento Jesus vem receber a Igreja no fim da dispensação atual, mas não chegará à terra. E a Igreja, os santos mortos ressuscitados, os vivos transformados, todos arrebatados, que saem ao encontro dEle no ar. Na segunda vinda, depois de alguns anos Ele vem para a terra a fim de estabelecer o Seu reino messiânico. 

John F Walvoord, um dos ilustres representantes do dispensacionalismo, complementa: 

“Entre o arrebatamento da igreja para o céu e o retorno de Cristo em triunfo para estabelecer seu reino, deve haver bastante tempo para que um novo grupo de crentes, formado de judeus e gentios, venha a Cristo e seja salvo”.

As Confissões Reformadas (Confissão de Augsburgo, Confissão Helvética e Confissão de Westminster) rejeitaram a ideia de um milênio terrenal, condenando essa hermenêutica como uma fantasia judaica.
Os Pré-Milenistas históricos ou moderados distinguem-se dos amilenistas em poucos aspectos: Reino e ressurreição. Porém, os Pré-Milenistas dispensacionalis- tas ou extremados têm vários ensinos estranhos às Escrituras: a) Distinção entre Igreja e Israel no tempo e na eternidade; b) o Reino de Deus adiado para o Milênio terreno; c) a crença num arrebatamento secreto, seguido de uma segunda vinda visível; d) a idéia de que a igreja não passará pela grande tribulação (a igreja será poupada da ira de Deus (thymos e orge), mas não da tribulação (thlipsis). A tribulação não é a ira de Deus contra os pecadores, mas, sim, a ira de Satanás, do anticristo e dos ímpios contra os santos; e) a idéia de que teremos várias ressurreições; f) a idéia de que haverá chance de salvação depois da segunda vinda de Cristo. 

Durante o século XIX o Pré-Milenismo atraiu novamente ampla atenção com John Nelson Darby e Edward Irving. No século passado houve uma explosão do dispensacionalismo, sobretudo, depois da Bíblia anotada de Scofield, os livros de Hal Lindsay, a revista Chamada da Meia Noite, e agora, mais recente, a série de livros “Deixados para trás” de Tim LaHaye. Muito embora essa vertente seja muito popular no mundo inteiro, ela carece de consistência bíblica e teológica em sua abordagem.

3. A corrente Amilenista

Os amilenistas não creem num milênio literal. Eles creem que o milênio é um período indeterminado que vai da primeira à segunda vinda de Cristo. No quarto século, o mais destacado teólogo da igreja ocidental, Agostinho de Hipona, passou a defender uma nova interpretação acerca do milênio. Millard Erickson diz que foi Agostinho quem sistematizou e desenvolveu a abordagem amilenista. O reino milenar de Cristo e Seus santos foi igualado à totalidade da história da igreja na terra. Essa interpretação foi chamada de Amilenismo.

O Amilenismo tornou-se a interpretação dominante no concílio de Éfeso em 431 d.C. Daí para a frente crer num milênio terrenal era considerado superstição. Os reformadores protestantes continuaram com o Amilenismo agostiniano. As confissões reformadas, sem exceção, abraçaram também o Amilenismo. Essa corrente parece- nos a que mais consistentemente interpreta o livro de Apocalipse com integridade hermenêutica.

O termo Amilenismo não é muito feliz, diz Antony Hoekema, pois sugere que os amilenistas não crêem no milênio ou não levam em conta os primeiros seis versículos de Apocalipse 20, que falam de um reino de mil anos. Os amilenistas, embora creiam no milênio, não o interpretam de forma literal. O amilenismo crê que o milênio está hoje em processo de realização. Ele vai da primeira à segunda vinda de Cristo. Por isso, Jay Adams sugeriu que o termo amilenismo seja trocado por milenismo realizado. Antony Hoekema diz que hoje vivemos a tensão entre o “já” e o “ainda não”. Já estamos no Reino, mas ainda não na sua plenitude. O Reino já chegou. Ele está dentro de nós, mas ainda não na sua consumação final. 

Benjamim Warfield faz a seguinte interpretação do milênio:

O número sagrado de sete em combinação com o número igualmente sagrado três formam o número da perfeição, dez, e quando este dez é levado à terceira potência, para formar mil, o vidente já disse tudo quanto podia para transmitir às nossas mentes a ideia da perfeição total.

Antony Hoekema sintetiza a visão do milênio conforme a interpretação amilenista, nos seguintes termos: 

Os amilenistas entendem que o milênio mencionado em Apocalipse 20:4-6 descreve o presente reinado das almas dos crentes falecidos que estão com Cristo no céu. Eles entendem que a prisão de Satanás que se menciona nos primeiros três versículos deste capítulo estão em efeito durante todo o período entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, ainda que terminará pouco tempo antes do regresso de Cristo. Ensinam, pois, que Cristo regressará depois deste reinado celestial de mil anos.

O livro de Apocalipse deve ser visto não como uma mensagem que registra os fatos em ordem cronológica e linear. As mesmas verdades principais são repetidas em sete seções paralelas e progressivas. William Hendriksen, segundo a minha visão, oferece o melhor sistema de interpretação do livro de Apocalipse, o conhecido paralelismo progressivo. De acordo com este ponto de vista, o livro de Apocalipse consiste de sete seções paralelas entre si, cada uma delas descrevendo a igreja e o mundo desde a época da primeira vinda de Cristo até a Sua segunda vinda.40 Cada seção descreve uma cena do fim. A cena do fim vai ficando cada vez mais clara, até chegar ao relato apoteótico da última seção.
Essas sete seções estão agrupadas em duas divisões principais: (Capítulos 1-11) e (Capítulos 12-22). A primeira descreve a perseguição do sistema do mundo e dos próprios ímpios contra a igreja e a segunda a perseguição do dragão e seus agentes. William Hendriksen, coloca esses fatos da seguinte maneira: Nos capítulos 1-11 de Apocalipse vemos o conflito entre os homens, ou seja, entre os crentes e os incrédulos. O mundo ataca a igreja. A igreja sai vitoriosa; é vingada e protegida. Nos capítulos 12-22, este conflito tem um significado mais profundo. E a manifestação exterior do ataque do diabo contra o Filho Varão. O dragão ataca a Cristo, sendo rechaçado, dirige toda sua fúria contra a igreja. Para ajudar-lhe usa as duas bestas e a grande meretriz, mas todos esses inimigos da igreja são derrotados no fim.

Primeira Seção (1-3) - Os sete candeeiros 

Qual é a lição dessa seção? E que Cristo tem o controle da igreja em Suas mãos. Encontramos aqui uma descrição do Cristo que morre, ressuscita e vai voltar (1:5-7). A morte e ressurreição de Cristo são o começo da era cristã, e a Sua segunda vinda é o término desta era. Nesta seção temos apenas um mero anúncio da segunda vinda para o juízo (1:7), mas nenhuma descrição do juízo.

Segunda Seção (4-7) - Os sete selos 

Qual é a mensagem dessa seção? E que Cristo tem o controle da história em Suas mãos (5:5). Contemplamos Sua morte (5:6), mas essa seção encerra-se com uma cena da segunda vinda de Cristo (6:6-12 e 7:9-17). Notemos a impressão produzida nos incrédulos pela segunda vinda (6:16-17), ao mesmo tempo a felicidade dos salvos (7:16-17). A segunda seção é uma reiteração da primeira. Sua revelação vai do princípio ao fim dos tempos, ao juízo final. Mais uma vez nos é mostrada a diferença entre os remidos e os perdidos. Nesta segunda seção, o juízo final não é meramente anunciado, mas definitivamente introduzido. Os ímpios estão aterrados pelo fato de terem que comparecer perante o Juiz.

Terceira Seção (8-11) - As sete trombetas 

Nesta seção vemos a igreja vingada, protegida e vitoriosa. Havendo começado com o Senhor como nosso sumo sacerdote (8:3-5), avançamos até o juízo final (10:7; 11:1519). Uma vez mais estamos tratando das mesmas coisas: O Senhor e Sua igreja e o que lhes sucede no mundo, o juízo final, os redimidos e os perdidos. As trombetas são avisos antes do derramamento completo das taças da ira de Deus. Antes de Deus punir finalmente, ele sempre avisa e oferece oportunidade de arrependimento. Nesta seção introduzem-se o juízo final e o gozo dos remidos.

Quarta Seção (12-14) - A tríade do mal 

Novamente voltamos ao início, ao nascimento de Cristo (12:5). Depois vem a perseguição do Dragão a Cristo e à igreja (12:13). Ele levanta a besta e o falso profeta. Finalmente, vem a cena do juízo final (14:8). Em Apocalipse 14:14-20 há uma cena clara do juízo final.

Quinta Seção (15-16) - As sete taças 

Descreve as sete taças da ira de Deus, representando a visitação final da Sua ira sobre os que permanecem impenitentes. Uma vez mais a cena começa no céu relatando o Cordeiro com Seu povo. Mas no capítulo 16 vemos uma espantosa descrição do juízo (16:15,20). Aqui a destruição é completa.

Sexta Seção (17-19) - A derrota dos agentes do Dragão 

Essa seção é um relato da destruição dos aliados do Dragão: A meretriz, a besta, o falso profeta e os seguidores da besta. Ao mesmo tempo em que a meretriz, a falsa igreja, está sendo destruída, a igreja é apresentada como esposa de Cristo (19:20). A grande festa das núpcias ocorre; o juízo final é relatado outra vez e uma grande distinção entre redimidos e perdidos ocorre novamente. No capítulo 19 há uma descrição detalhada da gloriosa vinda de Cristo (19:11-21).

Sétima Seção (20-22)

Essa seção mostra o Reinado de Cristo com as almas dos santos no céu e não o milênio na terra depois da segunda vinda. O capítulo 20 começa na primeira vinda e não depois da segunda vinda. Então, temos a descrição do juízo final (20:11-15). Após isso, vemos os novos céus e a nova terra e a igreja reinando com Cristo para sempre. Apesar dessas seções serem paralelas, elas são também progressivas. A última seção leva-nos mais além do que as outras. Apesar do juízo final já ter sido anunciado em (1:7) e brevemente descrito em (6:12-17), não é apresentado detalhadamente senão quando chegamos em (20:11-15). Apesar do gozo final dos redimidos já ter sido insinuado em (7:15-17), não encontramos uma descrição detalhada senão quando chegamos em (21:1-22:5). Aqui está o clímax glorioso deste livro!

Hernandes dias Lopes – Apocalipse / futuro chegou, as coisas que em breve devem acontecer; São Paulo, SP: Hagnos 2005. (Comentários expositivos Hagnos), p: 23-33


segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Argumentos a favor do Amilenismo



1. Quando olhamos para a totalidade da Bíblia, somente uma passagem (Apocalipse 20:1-6) parece ensinar o reino milenar terreno e futuro de Cristo, e essa passagem em si mesma é obscura. Não é sábio basear tão importante doutrina em uma passagem de interpretação incerta e amplamente controvertida.

Mas, como os amilenistas entendem Apocalipse 20:1-6? A interpretação amilenista vê essa passagem como referindo-se à presente era da igreja. A passagem é esta:

E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos. Lançou-o no abismo, o qual fechou e selou sobre ele, para que não enganasse mais as nações até que os mil anos se completassem. Depois disto é necessário que ele seja solto por um pouco de tempo. Então vi uns tronos; e aos que se assentaram sobre eles foi dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus, e que não adoraram a besta nem a sua imagem, e não receberam o sinal na fronte nem nas mãos; e reviveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se completassem. Esta é a primeira ressurreição.Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele durante os mil anos.

De acordo com a interpretação amilenista [1], a prisão de Satanás nos versículos 1 e 2 é a prisão que ocorreu durante o ministério terreno de Jesus. Ele falou sobre amarrar o valente a fim de poder saquear a casa (Mateus 12:29 - “Ou, como pode alguém entrar na casa do valente, e roubar-lhe os bens, se primeiro não amarrar o valente? e então lhe saquear a casa”) e disse que o Espírito de Deus estava presente naquele tempo em poder para triunfar sobre as forças demoníacas: “Mas se é pelo Espírito de Deus que eu expulso demônios, então chegou a vocês o Reino de Deus” (Mateus 12:28). Semelhantemente, com respeito à destruição do poder de Satanás, Jesus disse durante o Seu ministério: "Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago” (Lucas 10:18).

O amilenista argumenta que essa prisão de Satanás em Apocalipse 20:1-3 tem um propósito específico: “para assim impedi-lo de enganar as nações” (v. 3). Isso, então, é o que aconteceu quando Jesus veio e o evangelho começou a ser proclamado não simplesmente aos judeus, mas, após o Pentecoste, a todas as nações do mundo. De fato, a atividade missionária mundial da igreja e a presença da igreja na maioria das nações do mundo ou em todas elas mostra que o poder que Satanás tinha no Antigo Testamento de “enganar as nações” e mantê-las nas trevas acabou.

Na visão amilenista, argumenta-se que, como João viu as “almas” e não os corpos físicos no versículo 4, essa cena deve estar ocorrendo no céu. Quando o texto diz que “eles ressuscitaram”, não quer dizer que ressuscitaram fisicamente. Isso possivelmente significa que eles simplesmente “viveram”, já que o verbo no aoristo ezesan pode facilmente ser interpretado como a afirmação de um evento que ocorreu por um longo período de tempo. Alguns intérpretes amilenistas, no entanto, tomam o verbo ezesan como significando que “eles vieram à vida” no sentido de vir a uma existência celestial na presença de Cristo e começar a reinar com Ele do céu.

Conforme essa visão, a expressão “primeira ressurreição” (v. 5) refere-se a ir para o céu para estar com o Senhor. Essa não é uma ressurreição corporal, mas uma ida à presença do Senhor no céu. De modo semelhante, quando o versículo 5 diz que “o restante dos mortos não voltou a viver até se completarem os mil anos”, isso é entendido como se eles não tivessem vindo à presença de Deus para juízo até o final dos mil anos. Assim, tanto no versículo 4 quanto no 5, a expressão “voltou a viver” significa ir para a presença de Deus. (Outra posição amilenista da “primeira ressurreição” é a que se refere à ressurreição de Cristo e à participação dos crentes na ressurreição de Cristo por meio da união com Ele).

2. O segundo argumento muitas vezes propostos em favor do amilenismo é o fato de que a Escritura ensina somente uma ressurreição, tanto os crentes como os descrentes serão levantados da morte, não duas ressurreições (a ressurreição de crentes antes de o milênio começar e a ressurreição de descrentes para o juízo após o fim do milênio). Esse é uma argumento importante, porque a posição pré-milenista requer duas ressurreições separada por um período de mil anos.

Evidência a favor de uma única ressurreição é encontrada em versículos como João 5:28-29, nos quais Jesus diz: “Não fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados”. Aqui Jesus fala de uma única “hora” em que tantos crentes como descrentes mortos sairão de suas tumbas (ver também Daniel 12:2; Atos 24:15).

“E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno” (Daniel 12:2)

“Tendo esperança em Deus, como estes mesmos também esperam, de que há de haver ressurreição tanto dos justos como dos injustos” (Atos 24:15)

3. A idéia de crentes glorificados e de pecadores vivendo na terra juntos é muito difícil de aceitar. Berkhof diz: “É impossível entender como uma parte da velha terra e da humanidade pecadora poderá coexistir com uma parte da nova terra e de uma humanidade já glorificada. Como poderão os santos em corpos glorificados ter comunhão com pecadores na carne? Como poderão os santos glorificados viver nesta atmosfera sobrecarregada de pecado e em cenário de morte e decadência?” [2].

4. Se Cristo vem em glória para reinar sobre a terra, então como as pessoas ainda poderiam persistir no pecado? Uma vez que Jesus esteja realmente presente em Seu corpo ressurreto e reinando como rei sobre a terra, não parece altamente improvável que pessoas ainda O rejeitem e que o mal e a rebelião ainda cresçam na terra até o ponto de finalmente Satanás reunir as nações para a batalha contra Cristo?

5. Em conclusão, os amilenistas dizem que a Escritura parece indicar que todos os eventos mais importantes que ainda estão por acontecer antes do estado eterno ocorrerão de uma só vez. Cristo vai retornar, haverá uma só ressurreição de crentes e descrentes, o juízo final acontecerá, e o novo céu e a nova terra serão estabelecidos. Então, entraremos imediatamente para o estado eterno, sem qualquer milênio futuro.

NOTAS:

[1] - Aqui estou seguindo amplamente a excelente discussão de Anthony A. Hoekema, na obra Milênio: significado e interpretações, Robert G. Clouse, org. (Editora Cultura Cristã), p. 141-170.

[2] - Teologia Sistemática, p. 658.

Fonte: Wayne Grudem, Teologia Sistemática, Editora Vida.