google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Escatologia Reformada : julho 2020

domingo, 26 de julho de 2020

Os Erros do Dispensacionalismo




O dispensacionalismo – uma vez conhecido como Darbyismo devido a John Nelson Darby (1800-1882), o fundador tanto do dispensacionalismo como dos Irmãos [ou Irmãos de Plymouth] – é o mais sério dos erros com respeito ao milênio. Ele não é apenas certo ensino sobre o milênio e o futuro, mas é também um sistema teológico errôneo. 

O nome dispensacionalismo vem do fato que a teoria divide a história em diferentes “dispensações”, em cada uma das quais Deus tem uma relação pactual diferente com os homens, que termina com a falha deles em cumprir os requerimentos de Deus. Estamos agora, de acordo com o dispensacionalismo clássico de Darby, na “era da igreja”, ou dispensação da graça, com somente mais uma dispensação porvir, a saber, a dispensação do reino.

Alguns dos erros do dispensacionalismo que já tratamos são os seus ensinos com respeito ao arrebatamento secreto, pré-milenar e prétribulacional e as múltiplas vindas de Cristo. 

Outros ensinos do dispensacionalismo que explicaremos mais tarde são sua crença em múltiplas ressurreições e julgamentos e sua interpretação literalista da Escritura, especialmente Apocalipse 20.  

Mais alguns erros flagrantes do dispensacionalismo tem a ver com seu uso incorreto da Escritura: 

Primeiro, o dispensacionalismo é um método falho de interpretar a Escritura. O resultado deste método é que todo o Antigo Testamento e algumas partes do Novo Testamento são aplicados aos judeus e nos é dito não haver nenhuma aplicação aos cristãos do Novo Testamento, exceto talvez como um objeto de curiosidade. As notas da Bíblia de Estudo Scofield ensinam, por exemplo, que o Sermão do Monte não é cristão, mas judeu. Contra isto, a Escritura ensina que toda Escritura é proveitosa (e aplicável) aos cristãos do Novo Testamento (João 10:35; 2Timóteo 3:16,17). Porque o dispensacionalismo nega isto, ele tem sido acusado de dividir erroneamente a Palavra da verdade, embora alegue o oposto. 

Segundo, o dispensacionalismo segue um literalismo estrito, que, como um escritor aponta, é realmente o literalismo dos fariseus, que não viram e não podiam ver que Cristo era um Rei espiritual, e assim, o crucificaram. Este literalismo estrito (embora inconsistentemente aplicado) e a sua oposição ao que os dispensacionalistas chamam de “espiritualização” também são contrários à Escritura (1Coríntios 2:12-15). Em muitas passagens a própria Escritura “espiritualiza” as coisas do Antigo Testamento, de maneira notável 1Pedro 2:5-9 e todo o livro de Hebreus. Devemos dizer que, embora a Escritura deva ser interpretada cuidadosa e sobriamente, há coisas que não podem ser tomadas literalmente, tal como a pedrinha branca de Apocalipse 2:17. 

É a oposição do dispensacionalismo à espiritualização que leva à sua negação do reino celestial e espiritual de Cristo. É a visão errônea das Escrituras adotada pelo dispensacionalismo que é a raiz de todos os seus erros. 


Fonte (original): Doctrine according to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, p. 299-300.  

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto 

domingo, 19 de julho de 2020

Teoria do Duplo Cumprimento da Profecia




É óbvio que a maioria das profecias de Daniel já foram cumpridas. A maioria dos futuristas e historicistas prontamente admitem isso, mas não fazem as aplicações históricas a todos os reinos e governantes da história antiga como eu fiz.2 Em vez disso, o que eles fazem é tomar as passagens mais obscuras e aplicá-las a eventos na Idade Média ou do futuro. Isso é algumas vezes chamado de: “A Teoria do Duplo Cumprimento”. 

Será que profecias podem operar em diferentes níveis? Uma profecia pode falar num nível sobre coisas que estavam por acontecer no tempo de vida do profeta, mas em outro nível nos falar hoje sobre coisas que ainda hão de acontecer? Existe tal coisa como um “duplo cumprimento” para as profecias em Daniel, Mateus 24 e Apocalipse? 

Devemos crer que todos os detalhes de Daniel, do sermão no Monte das Oliveiras e de Apocalipse ocorrem duas vezes? Dois rolos com seis selos? Duas bestas? Dois grupos de 144.000? Dois Armagedons? Dois Milênios? Poderíamos continuar citando mais e mais. 

Se você adota uma visão de duplo cumprimento, você está fazendo isso sobre a base de influência teológica, e não mediante métodos sadios de interpretação.


Fonte: In the Days of these Kings.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
 

domingo, 12 de julho de 2020

2 Tessalonicenses 2.3-10




Em 40 d.C., o Imperador Calígula ordenou que sua estátua fosse instalada no templo de Jerusalém. Todo o mundo judeu reagiu a isto com horror. Todavia, antes de sua ordem ter sido colocada em prática, Calígula foi assassinado. Em 52-53 d.C., Paulo escreveu suas cartas aos Tessalonicenses. Ora, em 2 Tessalonicenses 2.3-10, o apóstolo afirma:

Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus. Não vos recordais de que, ainda convosco, eu costumava dizer-vos estas coisas? E, agora, sabeis o que o detém, para que ele seja revelado somente em ocasião própria. Com efeito, o mistério da iniquidade já opera e aguarda somente que seja afastado aquele que agora o detém; então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de sua vinda. Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos.

De acordo com Caird, Paulo tinham em mente o episódio de Calígula ao escrever tais palavras. O apóstolo viu na loucura de Calígula a insanidade e malignidade de um Estado ímpio. O pecado essencial e original do homem é ser um deus, conhecendo ou determinando para si mesmo o bem e o mal (Gênesis 3.5). Esse pecado primordial, que é o pecado em sua essência, se manifesta não apenas no homem, mas nas instituições humanas. Durante a maior parte da história, o Estado tem sido a principal instituição e, portanto, também a principal manifestação em forma coletiva do pecado original do homem. Por conseguinte, o Estado se apresentou diversas vezes como o salvador e deus do homem.

Warfield, comentando o texto paulino, chama atenção para a falácia das visões escatológicas populares. O grande fato acerca de toda profecia — e 2 Tessalonicenses 2.3-10 é uma profecia — é que seu propósito é ético ou moral. A profecia não busca satisfazer nossa curiosidade, mas nos fortalecer moralmente. A “vinda” do Senhor a fim de destruir o homem da iniquidade não é necessariamente, e muito menos neste caso específico, sua vinda em pessoa (a vinda no fim dos tempos), mas sua vinda em julgamento (vinda do fim de um período). De semelhante modo, nem a revelação nem a destruição do homem do pecado devem ser vistas como um evento do fim dos tempos. O homem da iniquidade se refere a alguém num futuro próximo ao de Paulo e dos tessalonicenses. Warfield considerava o homem da iniquidade como “a linha de imperadores, tomada como a encarnação do poder persecutório”. Por sua vez, o poder restringente (“aquilo que o detém”) era o estado judeu, cuja existência forneceu certa proteção aos cristãos, na medida em que Roma lhes concedeu, como uma “seita judaica”, a mesma imunidade com relação à jurisdição romana que a fé judaica possuía. Finalmente, nessa linha de interpretação, a apostasia é evidentemente a grande apostasia dos judeus, acumulando progressivamente ao longo dos anos e apressando, assim, sua destruição.

O apóstolo Paulo viu, portanto, uma íntima ligação entre o tentador e seu plano primitivo — o pecado original — e o estadismo fora de Cristo. Em Cristo, o Estado é o instrumento de Deus para o cumprimento da justiça. O Estado fora de Cristo é o instrumento de Satanás para a consecução de seu plano de substituir a vontade do Criador pela vontade da criatura. Por essa razão, é impossível para nós, cristãos, sermos indiferentes à teologia do Estado.



Rousas John Rushdoony Publicado originalmente em inglês sob o título Christianity and the State pela Chalcedon/Ross House Books, Vallecito, CA, 95251, EUA. Todos os direitos em língua portuguesa reservados por EDITORA MONERGISMO
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Telefone: (61) 8116-7481 — Site: www.editoramonergismo.com.br
edição, 2016
Tradução: Fabrício Tavares de Moraes
Revisão: Felipe Sabino de Araújo Neto 
pg. 123-127

domingo, 5 de julho de 2020

Vindo Sobre as Nuvens



Vimos que o discurso de Cristo sobre o Monte das Oliveiras, registrado em Mateus 24, Marcos 14 e Lucas 21, trata com o “o fim” – não do mundo, mas de Jerusalém e do templo; ele tem referência exclusiva aos “últimos dias” da era do Antigo Pacto. Jesus falou claramente dos seus próprios contemporâneos quando disse que “esta geração” veria “todas estas coisas”. A “Grande Tribulação” ocorreu durante o terrível tempo de sofrimento, guerra, fome e assassinato em massa que culminou na destruição do Templo no ano 70 d.C. O que parece ser um problema para esta interpretação, contudo, é o que Jesus diz a seguir: 

Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória. E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus (Mateus 24:29-31). 
Jesus parecia estar dizendo que a segunda vinda ocorreria imediatamente após a tribulação. Por acaso a segunda vinda ocorreu em 70 d.C.? Nós a perdemos? Primeiro, vamos esclarecer uma coisa desde o princípio: é impossível evitar a palavra imediatamente. 2 Ela significa imediatamente. Reconhecendo que a tribulação ocorreu durante a geração que então vivia, devemos encarar também o claro ensino da Escritura que, não importa sobre o que Jesus esteja falando nestes versículos, isso ocorreu imediatamente depois. Em outras palavras, estes versículos descrevem o que aconteceu no final da tribulação – que forma o seu clímax. 

Para entender o significado das expressões de Jesus nesta passagem, precisamos entender o Antigo Testamento muito mais que a maioria das pessoas de hoje entendem. Jesus estava falando a uma audiência que era intimamente familiar com os detalhes mais obscuros da literatura do Antigo Testamento. Eles tinham ouvido o Antigo Testamento lido e exposto inúmeras vezes em suas vidas, e tinham memorizado longas passagens. O conjunto de figuras bíblicas e formas de expressão tinham formado sua cultura, ambiente e vocabulário desde a tenra infância, e isto por várias gerações. 

O fato é que, quando Jesus falou aos seus discípulos sobre a queda de Jerusalém, ele usou vocabulário profético. Havia uma “linguagem” de profecia, instantaneamente reconhecível àqueles familiarizados com o Antigo Testamento. À medida que Jesus predizia o fim completo do sistema do Antigo Pacto – que foi, num sentido, o fim de um mundo todo – ele falou dele como qualquer outro profeta teria feito, com a linguagem comovente do juízo pactual. Consideraremos cada elemento nesta profecia, vendo como seu uso nos profetas do Antigo Testamento determinou seu significado no contexto do discurso de Jesus sobre a queda de Jerusalém. Lembremos que nosso padrão último de verdade é a Bíblia, e a Bíblia somente.  

O Sol, a Lua e as Estrelas 

No final da tribulação, disse Jesus, o universo entraria em colapso: a luz do sol e da lua seriam extintas, as estrelas cairiam, os poderes do céu seriam abalados. A base para este simbolismo está em Gênesis 1:14-16, onde é dito que o sol, a luz e as estrelas (“os poderes dos céus”) são os “sinais” que “governam” o mundo. Mais tarde na Escritura, essas luzes celestiais são usadas para falar das autoridades e governos terrenos; e quando Deus ameaça vir contra eles em julgamento, a mesma terminologia do universo em colapso é usada para descrever isso. Profetizando a queda de Babilônia diante dos medos em 539 a.C., Isaías escreveu: 

Eis que vem o Dia do SENHOR, dia cruel, com ira e ardente furor, para converter a terra em assolação e dela destruir os pecadores. Porque as estrelas e constelações dos céus não darão a sua luz; o sol, logo ao nascer, se escurecerá, e a lua não fará resplandecer a sua luz. (Isaías 13:9-10).
Significantemente, Isaías mais tarde profetizou a queda de Edom em termos de des-criação: 

Todo o exército dos céus se dissolverá, e os céus se enrolarão como um pergaminho; todo o seu exército cairá, como cai a folha da vide e a folha da figueira. (Isaías 34:4). 

O profeta Amós, contemporâneo de Isaías, profetizou a ruína de Samaria (722 a.C.) duma maneira muito similar: 

Sucederá que, naquele dia, diz o SENHOR Deus, farei que o sol se ponha ao meio-dia e entenebrecerei a terra em dia claro. (Amós 8:9). 

Outro exemplo é do profeta Ezequiel, que predisse a destruição do Egito. Deus disse através de Ezequiel: 

Quando eu te extinguir, cobrirei os céus e farei enegrecer as suas estrelas; encobrirei o sol com uma nuvem, e a lua não resplandecerá a sua luz. Por tua causa, vestirei de preto todos os brilhantes luminares do céu e trarei trevas sobre o teu país, diz o SENHOR Deus. (Ezequiel 32:7-8).
Deve ser enfatizado que nenhum desses eventos ocorreu literalmente. Deus não pretendia que alguém interpretasse estas declarações literalmente. Poeticamente, contudo, todas estas coisas aconteceram: com respeito às nações ímpias, “as luzes de apagaram”. Isso é simplesmente linguagem figurada, que não nos surpreenderia se fôssemos mais familiarizados com a Bíblia e seu caráter literário. 

O que Jesus está dizendo em Mateus 24, portanto, em terminologia profética imediatamente reconhecida pelos seus discípulos, é que a luz de Israel seria extinta; a nação do pacto cessaria de existir. Quando a tribulação terminar, o antigo Israel terá desaparecido.

O Sinal do Filho do Homem 

As traduções mais modernas de Mateus 24:30 são mais ou menos assim: “E então o sinal do Filho do Homem aparecerá no firmamento...”. Esta é uma tradução incorreta, baseada não no texto grego, mas nas suposições equivocadas dos tradutores sobre o assunto desta passagem (pensando que ela está falando sobre a segunda vinda). Uma tradução palavra por palavra do texto grego seria assim: 

E então aparecerá o sinal do Filho do Homem no céu... 

Como podemos ver, duas diferenças importantes aparecem na tradução correta: primeiro, a localização indicada é o céu, e não apenas o firmamento; segundo, não é o sinal que está no céu, mas o Filho do Homem. O ponto é simplesmente que este grande julgamento sobre Israel, a destruição de Jerusalém e do Templo, seria o sinal que Jesus Cristo está entronizado no céu à destra de Deus, governando as nações e vingando-se dos seus inimigos. O cataclismo divinamente ordenado do ano 70 d.C. revelou que Cristo tinha tirado o Reino de Israel e dado à Igreja; a desolação do antigo Templo foi o sinal final de que Deus o havia abandonado e estava agora habitando num novo Templo, a Igreja. Estes são todos aspectos do primeiro advento de Cristo, partes cruciais da obra que ele veio realizar por sua morte, ressurreição e ascensão ao trono. Este é o porquê a Bíblia fala do derramamento do Espírito Santo sobre a Igreja e a destruição de Israel como sendo o mesmo evento, pois estavam intimamente unidos teologicamente. O profeta Joel predisse tanto o Dia de Pentecoste como a destruição de Jerusalém duma só vez: 

E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias. Mostrarei prodígios no céu e na terra: sangue, fogo e colunas de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo; porque, no monte Sião e em Jerusalém, estarão os que forem salvos, como o SENHOR prometeu; e, entre os sobreviventes, aqueles que o SENHOR chamar. (Joel 2:28-32).

Como veremos num capítulo posterior, a interpretação inspirada de São Pedro deste texto em Atos 2 determina o fato que Joel está falando do período desde o derramamento inicial do Espírito até a destruição de Jerusalém, desde o Pentecoste até o Holocausto. É suficiente para nós observarmos aqui que a mesma linguagem de julgamento é usada nesta passagem. A interpretação sensacionalista comum de que “colunas de fumaça” são os cogumelos das explosões nucleares é uma distorção radical do texto, e um mau entendimento completo da linguagem profética da Bíblia. Isso faria tanto sentido quanto dizer que a coluna de fogo e fumaça durante o Êxodo foi resultado de uma explosão atômica. 

As Nuvens do Céu 

Isso, apropriadamente, nos leva ao próximo elemento na profecia de Jesus sobre a destruição de Jerusalém: “e todas as tribos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória” (RC). A palavra tribos aqui tem referência primária às tribos da terra de Israel; e é provável que a “lamentação” tenha dois sentidos. Primeiro, eles lamentariam com dor o sofrimento e a perda da sua terra; segundo, num dia no futuro, eles lamentariam em arrependimento por seus pecados, quando fossem convertidos da sua apostasia (veja Romanos 11).  

Mas como eles veriam a Cristo vindo sobre as nuvens? Este é um símbolo importante do poder e da glória de Deus, usado por toda a Bíblia. Por exemplo, pense na “coluna de fogo e nuvem” por meio da qual Deus salvou os israelitas e destruiu seus inimigos na libertação do Egito (veja Êxodo 13:21-22; 14:19-31; 19:16-19). De fato, por todo o Novo Testamento Deus estava vindo “nas nuvens”, salvando o seu povo e destruindo os seus inimigos: “Pões nas águas o vigamento da tua morada, tomas as nuvens por teu carro e voas nas asas do vento” (Salmos 104:3). Quando Isaías profetizou do julgamento de Deus sobre o Egito, ele escreveu: “Sentença contra o Egito. Eis que o SENHOR, cavalgando uma nuvem ligeira, vem ao Egito; os ídolos do Egito estremecerão diante dele, e o coração dos egípcios se derreterá dentro deles” (Isaías 19:1). O profeta Naum falou similarmente da destruição de Nínive por Deus: “O SENHOR tem o seu caminho na tormenta e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés” (Naum 1:3). A vinda de Deus “sobre as nuvens do céu” é um símbolo bíblico muito comum para sua presença, julgamento e salvação.

Mais significativo, contudo, é o fato que Jesus está se referindo a um evento específico associado com a destruição de Jerusalém e o fim do Antigo Pacto. Ele falou dele novamente no seu julgamento, quando o sumo sacerdote lhe perguntou se ele era o Cristo, ao que Jesus respondeu: 

Eu sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo Poderoso e vindo com as nuvens do céu (Marcos 14:62; cf. Mateus 26:64).  

Obviamente, Jesus não estava se referindo a um evento milhares de anos no futuro. Ele estava falando de algo que seus contemporâneos – “esta geração” – veriam em seu tempo de vida. A Bíblia nos diz exatamente quando Jesus veio com as nuvens do céu: 

Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos (Atos 1:9). 

De fato, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à destra de Deus (Marcos 16:19). 

Foi esse evento, a Ascensão à destra de Deus, que Daniel previu: 

Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído. (Daniel 7:13-14). 

A destruição de Jerusalém foi o sinal que o Filho do Homem, o Segundo Adão, estava no céu, governando o mundo e dispondo-o aos seus próprios propósitos. Em sua ascensão, ele tinha vindo sobre as nuvens do céu para receber o Reino do seu Pai; a destruição de Jerusalém foi a revelação desse fato. Em Mateus 24, portanto, Jesus não estava profetizando que ele viria literalmente sobre as nuvens no ano 70 d.C. (embora isso fosse figurativamente verdade). Sua literal “vinda sobre as nuvens”, em cumprimento de Daniel 7, aconteceu em 30 d.C., no começo da “última geração”. Mas em 70 d.C. as tribos de Israel veriam a destruição da nação como o resultado de ele ter ascendido ao trono do céu, para receber seu Reino.

A Reunião dos Eleitos 

Finalmente, Jesus anunciou que o resultado da destruição de Jerusalém seria o envio dos seus “anjos” para ajuntar os eleitos. Não é isto o arrebatamento? Não. A palavra anjos significa simplesmente mensageiros (cf. Tiago 2:25), a despeito da sua origem ser celestial ou terrena; é o contexto que determina se estes mencionados são criaturas celestiais ou não. A palavra frequentemente significa pregadores do Evangelho (veja Mateus 11:10; Lucas 7:24; 9:52; Apocalipse 1-3). No contexto, há toda razão para assumir que Jesus está falando do evangelismo mundial e da conversão das nações que ocorreriam após a destruição de Israel. 

O uso que Cristo faz da palavra ajuntar é significante neste sentido. A palavra, literalmente, é um verbo que significa sinagogar; o significado é que, com a destruição do Templo e do sistema do Antigo Pacto, o Senhor envia seus mensageiros para reunir seu povo eleito em sua Nova Sinagoga. Jesus está na verdade citando Moisés, que tinha prometido: “Ainda que os teus desterrados estejam para a extremidade dos céus, desde aí te sinagorará o SENHOR, teu Deus, e te tomará de lá” (Deuteronômio 30:4, Septuaginta). Nem um dos textos tem algo a ver com o arrebatamento; ambos estão preocupados com a restauração e estabelecimento da Casa de Deus, a congregação organizada do seu povo pactual. Isto se torna ainda mais enfático quando lembramos o que Jesus disse antes deste discurso: 

Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu sinagogar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta. (Mateus 23:37-38). 

Porque Jerusalém tinha apostado e recusado ser “sinagogada” por Cristo, seu Templo seria destruído, e uma Nova Sinagoga e Templo seriam formados: a Igreja. O Novo Templo foi criado, certamente, no Dia de Pentecoste, quando o Espírito veio habitar a Igreja. Mas o fato da existência do novo Templo seria evidente somente quando o Antigo Templo e o sistema do Antigo Pacto fossem tirados. As congregações cristãs começaram imediatamente a se chamarem de “sinagogas” (que é a palavra usada em Tiago 2:2), enquanto chamavam as reuniões dos judeus de “sinagogas de Satanás” (Apocalipse 2:9; 3:9). Todavia, eles anelavam o Dia do Juízo sobre Jerusalém e o Antigo Templo, quando a Igreja seria revelada como o verdadeiro Templo e Sinagoga de Deus. Porque o sistema do Antigo Pacto era “antiquado” e estava “prestes a desaparecer” (Hebreus 8:13), o escritor aos Hebreus instou-os a que tivessem esperança, “não deixemos de sinagogar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima” (Hebreus 10:25; cf. 2 Tessalonicenses 2:1-2). 

A promessa do Antigo Testamento de que Deus “sinagogaria” seu povo experimentou uma mudança importante no Novo Testamento. Em vez da forma simples da palavra, o termo usado por Jesus tem uma preposição grega epi como prefixo. Esta é uma expressão predileta do Novo Pacto, que intensifica a palavra original. O que Jesus está dizendo, portanto, é que a destruição do Templo no ano 70 d.C. o revelaria como tendo vindo com as nuvens para receber seu Reino; e demonstraria sua Igreja diante do mundo como a super-Sinagoga, completa e verdadeira.


Fonte: Capítulo 2 do excelente livro The Great Tribulation, de David Chilton. 
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto