google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Escatologia Reformada : novembro 2019

sábado, 23 de novembro de 2019

1Ts 4.15 e Hiper-Preterismo



“Dizemo-vos,  pois,  isto,  pela  palavra  do  Senhor:  que  nós,  os que  ficarmos  vivos  para  a  vinda  do  Senhor,  não precederemos  os  que dormem.” 

Uma  das  atrações  do  hiper-preterismo  é  baseada  num  mal-entendido  da declaração  de  Paulo  em  1  Tessalonicenses  4:15,  onde  ele  escreve:  “Dizemo-vos, pois,  isto,  pela  palavra  do  Senhor:  que  nós,  os  que  ficarmos  vivos  para  a  vinda  do Senhor,  não  precederemos  os  que  dormem”.  Devotos  de  Himineu  argumentam que  Paulo  cria  que  ele  e  alguns  crentes  escapariam  da  morte  para  testemunhar  a Segunda  Vinda.  Insiste-se  então  que  a  Parousia  deve  ter  ocorrido  durante  o  tempo de  vida  de  Paulo.  Há  inumeráveis  problemas  com  essa  interpretação.  Primeiro,  não somente  Paulo  teria  que  estar  vivo,  mas  também  todos  na  igreja  em  Tessalônica,  a quem  ele  estava  escrevendo  (ele  disse  “nós”,  os  que  ficarmos  vivos).  Se  afirmarmos dogmaticamente  que  Paulo  experimentou  a  Parousia,  então  devemos  afirmar dogmaticamente  o  mesmo  para  todos  os  seus  leitores.  Se  sequer  um  dos  seus leitores  morreu  antes  da  Parousia,  então  não  podemos  eliminar  a  possibilidade  que  o próprio  Paulo  (bem  como  todos  os  tessalonicenses)  poderia  ter  morrido  antes  do advento  do  Senhor.  Claramente,  Paulo  não  está  dizendo  aos  tessalonicenses  que cada  um  deles  escaparia  da  morte  para  experimentar  a  vinda  do  ano  70  d.C.  1 Tessalonicenses  pode  de  fato  ter  sido  a  primeira  carta  que  Paulo  escreveu  –  talvez vinte  anos  antes  da  destruição  de  Jerusalém.  A  razão  dele  falar  de  si  mesmo  e  eles (os  tessalonicenses)  como  “vivos”  é  porque  ele  deve  distinguir  entre  vivos  e  mortos. Seu  objetivo  é  transmitir  conforto  aos  vivos,  não  porque  sabia  que  os  então  vivos estariam  vivos  quando  Cristo  retornasse,  mas  porque  os  vivos  precisam  saber  que  os seus  mortos  serão  os  “primeiros”  beneficiários  da  Segunda  Vinda  (1Ts.  4:16).  Seu propósito  é  transmitir  conforto  aos  vivos  sobre  os  seus  mortos  (esse  é  o  motivo dele  se  enumerar  com  os  vivos),  não  profetizar  que  sua  geração  escaparia  da  morte. 

Outro  problema  com  a  interpretação  hiper-preterista  de  1  Tessalonicenses 4:15  é  que  essa  própria  epístola  foi  lida  por  outros  cristãos  também.  Ela  foi  lida  por “todos  os  santos  irmãos”  (1Ts.  5:26-27).  Tenha  em  mente  que  a  influência  e, portanto,  a  comunhão  dos  cristãos  tessalonicenses  era  grande:  essa  igreja  era  um exemplo  “para  todos  os  fiéis  na  Macedônia  e  Acaia”  (1Ts.  1:7).  Dessa  igreja  a palavra  do  Senhor  (que  incluía  “a  palavra  do  Senhor”  anunciada  a  Paulo  sobre  a Parousia  e  a  ressurreição  –  1Ts.  4:15)  “soou”  em  “todos  os  lugares”  (1:18).  De acordo  com  a  lógica  hiper-preterista,  cada  cristão  pré-70  d.C.  que  leu  1 Tessaloniceses  4:15  espancaria  o  anjo  da  morte,  a  fim  de  conseguir  estar  vivo  na vinda  de  Cristo  no  ano  70  d.C. 

Os  discípulos  de  Himineu  argumentam  que  tudo  de  Mateus  24  é  sobre  70 d.C.  A  vinda  de  Cristo  para  julgar  Israel  é  a  Segunda  Vinda,  alegam  eles.  Todavia, Jesus  diz  em  Mateus  24:36:  “Mas  daquele  dia  e  hora  ninguém  sabe,  nem  os  anjos  do céu,  mas  unicamente  meu  Pai.”  Se,  como  o  hiper-preterista  afirma,  o  “daquele  dia” do  versículo  36  refere-se  à  vinda  de  70  d.C.  (que  nem  Cristo  em  Sua  natureza humana  conhecia),  como  Paulo  e  todos os  tessalonicenses  sabiam  que  escapariam  da morte  para  experimentá-la? 

Os  himineus  têm  também  uma  dificuldade  insuperável  de  combinar  1 Tessalonicenses  4:17  com  1  Coríntios  15:52,  onde  lemos:  “Num  momento,  num abrir  e  fechar  de  olhos,  ante  a  última  trombeta;  porque  a  trombeta  soará,  e  os mortos  ressuscitarão  incorruptíveis,  e  nós  seremos  transformados.”  Observe: enquanto  em  1  Tessalonicenses  4:15  Paulo  fala  de  si  mesmo  como  possivelmente vivo  quando  Cristo  retornar,  em  1  Coríntios  15:52  ele  fala  de  si  mesmo  como corporalmente  “ressurreto”  no  retorno  de  Cristo.  O  objetivo  de  Paulo  não  é declarar  que  ele  estaria  morto  quando  Cristo  retornasse,  nem  que  estaria  vivo quando  do  seu  retorno.  Ele  está  meramente  se  identificando  com  o  povo  de  Deus. Sem  dúvida  Paulo  tinha  certo  conhecimento  que  estaria  vivo  ou  seria  um participante  na  ressurreição  após  sua  morte,  mas  esse  certo  conhecimento  não  é  o mesmo  que  dizer  que  ele  sabia  com  certeza  qual  dessas  alternativas  seria  o  seu destino. 

Além  disso,  em  nenhum  lugar  a  Bíblia  declara  que  a  ressurreição  corporal  de todos  os  crentes  acontecerá  “cedo”,  “está  próxima”  ou  “será  em  breve”.  Contudo, há  uma  declaração  descrevendo  os  hereges  que  afirmam  que  a  ressurreição  é  “já passada”  –  os  himineus! 


Tradução:  Felipe  Sabino  de  Araújo  Neto


sábado, 16 de novembro de 2019

As Setenta Semanas de Daniel



Qual o significado das “70 Semanas de Daniel (Dn 9.24-27)?


Primeiramente gostaria de ressaltar que em nenhum lugar no livro de Daniel ou em qualquer outra passagem da Bíblia encontramos qualquer menção de que exista um lapso, um intervalo ou um parêntesis entre a sexagésima-nona e septuagésima semanas da profecia de Daniel. Pelo contrário, Daniel profetiza: “Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo, esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre. Como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o outro. O Grande Deus faz saber ao rei o que há de ser futuramente...” (Dn 2.44,45).

Demonstrarei que a profecia das 70 Semanas de Daniel é hoje muito mais profecia realizada do que escatologia futura.

O profeta Daniel estava com seu povo no exílio babilônico. Ele estava estudando as profecias de Jeremias que previam que o exílio duraria 70 anos (Dn 9.2). Visto que o prazo dos 70 anos de exílio estava se cumprindo, Daniel, consciente de que o exílio havia sido uma punição de Deus por causa dos pecados de Israel, começa a interceder pedindo perdão a Deus em nome do seu povo, na esperança de que o castigo de Israel estivesse para acabar com o final dos 70 anos de cativeiro. A oração de Daniel é ouvida (Dn 9.20-23). Mas, para sua surpresa, ele recebe uma visão de que 70 Semanas estavam determinadas para a realização de seis benefícios favoráveis a Israel que se realizariam na pessoa do tão esperado Ungido ou Messias.

Em Daniel 9.24, temos os seis propósitos da visão das 70 Semanas: 


  1. Para fazer cessar a transgressão; 
  2. Para dar fim aos pecados; 
  3. Para expiar a iniquidade; 
  4. Para trazer a justiça eterna; 
  5. Para selar a visão e a profecia; e 
  6. Para ungir o Santo dos Santos.


Todas as correntes teológicas concordam que 70 semanas equivalem a 490 anos, entendendo que cada dia da semana correspondem a um ano (Gn 29:27; Lv 25:8; Nm 14:34; Ez 4:4-6). As 70 Semanas estão dividas em três períodos (v.25): 1. Sete Semanas (7x7=49 anos) de reedificação; Seguidas por: 2. Sessenta e duas semanas (62x7=434 anos); seguida do terceiro e último período: 3. Uma semana (1x7=7 anos) - O v. 26 diz que “após” as sessenta e duas semanas, ou seja, já dentro da última semana, será assassinado o ungido. E, em decorrência da morte do ungido, ocorreria a destruição de Jerusalém e do templo por um povo de um príncipe que haveria de vir (Dn 9.26); período em que surge o assolador (v.27); Por fim, a visão de Daniel termina com o assolador recebendo o merecido juízo de Deus.

457 A.C. foi o ano em que o rei Artaxerxes decretou que os judeus podiam retornar a Jerusalém para reconstruir a cidade e o Templo (Ed 7:12-26). Se contarmos 483 anos a partir dessa data, chegaremos ao ano 26 d.C. Sabemos que Jesus nasceu no ano 4 a.C., então, ele tinha 30 anos em 26 D.C., ocasião em que foi batizado e iniciou seu ministério terreno. Três anos e meio depois, Jesus foi crucificado. Em termos proféticos, tamanha precisão, embora não necessária, é realmente impressionante! É também dito que o Messias “fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício” (Dn 9.26–27). Ao fim desses três anos e meio, Jesus deu a Sua vida em uma Cruz. Sabemos que Jesus estabeleceu a Nova Aliança por meio do seu sangue derramado na cruz. Ele disse: “Este é o cálice da nova aliança no Meu sangue” (1Co 11:24-25). Com sua morte, Jesus tornou-se o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, pondo assim fim ao sacrifício e as ofertas de manjares, que eram sombras da realidade que nele encontram plena realização (Hb 8 e 9).

Três anos e meio após a morte de Cristo, ou seja, 490 anos após o decreto de Artaxerxes, tivemos a morte do primeiro mártir cristão, Estevão (At 7:59-60). Lucas fez questão de registrar que o próprio sumo sacerdote esteve presente, liderando o grupo de religiosos judeus que rejeitou o Evangelho de Cristo pregado por Estevão e o condenou a morte (At 7:1). A morte de Estevão é um verdadeiro marco, pois, a partir daí, temos a conversão de Saulo que será levantado como Apóstolo aos Gentios (At 9:1-6; 26:15-18). Na sequência, Deus desperta Pedro para a evangelização dos gentios! (At 10). As setenta semanas de favor de Deus para com Israel encerraram-se com a morte de Estevão. A partir daí a pregação do Evangelho se volta para os gentios:  “Então, Paulo e Barnabé, falando ousadamente, disseram: Cumpria que a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos julgais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os gentios. Porque o Senhor assim no-lo determinou: Eu te constituí para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até aos confins da terra. (At 13.46–47).

A profecia de Daniel não diz que o Assolador viria exatamente no final das Setenta Semanas, como parte dela, podendo ser entendido como consequência dos eventos dela, principalmente, a morte do Ungido. Portanto, em decorrência de Israel ter rejeitado seu Messias, Jerusalém seria cercada por seus inimigos e destruída, o que aconteceu algumas décadas depois, ainda naquela geração, exatamente como profetizou Jesus no final do capítulo 23 de Mateus.
Portanto, não existe nada no texto de Daniel que indique algo como um intervalo ou paralisação do relógio profético. Vemos que tais profecias são hoje mais história, do que profecias apocalípticas a respeito de dias ainda futuros, pois Jesus veio como Rei de Israel e estabeleceu a nova aliança que fôra profetizada por Jeremias. Jesus foi e é a única esperança de Israel. Na sua primeira vinda, Cristo cumpriu todos os seis propósitos da visão das 70 Semanas de Daniel. A Segunda Vinda de Cristo não será o início da septuagésima semana de Daniel, mas, sim, a consumação final da era presente. O Reino de Deus não foi postergado, mas já foi inaugurado por Jesus Cristo em Sua primeira Vinda, noa dias do Império Romano, exatamente como predito pelo profeta Daniel: "Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e esse reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos e será estabelecido para sempre" (Dn 2.44).

As palavras de Jesus registradas no Evangelho de Lucas revelam que a destruição de Jerusalém não traria o fim da era presente, pois Cristo afirmou que os judeus sobreviventes seriam levados cativos para todas as nações e disse ainda: "até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles." (Lc 21.24). Maravilho é notar que tudo aconteceu e tem acontecido conforme profetizado por Jesus. A cidade e o templo foram destruídos naquela geração e os judeus sobreviventes foram levados cativos e a cidade passou a ser pisada por gentios. É possível que os tempos dos gentios (sua evangelização) tenham se cumprido, pois os judeus regressaram a Jerusalém. Em 1948, Israel foi reconhecido como nação. Sinal dos tempos! Cristo em breve virá!

Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação. Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes; os que se encontrarem dentro da cidade, retirem-se; e os que estiverem nos campos, não entrem nela. Porque estes dias são de vingança, para se cumprir tudo o que está escrito. 23 Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Porque haverá grande aflição na terra e ira contra este povo. Cairão a fio de espada e serão levados cativos para todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles." (Lc 21.20–24).

Portanto, a destruição de Jerusalém não representa o fim desta era presente, porque Jesus disse que depois disto, Jerusalem seria pisada pelos gentios até que os tempos deles se completassem e ele também ensinou que era necessário que o Evangelho fosse pregado a todas as nações antes de Sua Segunda Vinda (Mc 13.10). Estamos na era da Igreja. De Jerusalém a Igreja se espalhou para todas as nações! (Cl 1.23 e 1Ts 1.8). As portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, que tem sido capaz de cumprir cabalmente sua missão de fazer discípulos de todas as nações (Mt 28.18-20) para que "os tempos dos gentios se completem" (Lc 21.24). Paulo a isto se referia quando disse "que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo" (Rm 11.25–26). O Apocalipse revela uma visão gloriosa do Israel de Deus pleno como "grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos (Ap 7.9). Aí, então, Cristo voltará e se cumprirá esta outra magnifica visão de Daniel: "Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído." (Dn 7.13–14).


Fonte: http://escatologiacrista.blogspot.com/2008/02/70-semanas-de-daniel.html?m=1 

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

O Templo de Ezequiel será construído na terra?



Muitas  pessoas  acreditam  que  estes  capítulos  apresentam  a  planta  para  um  templo  que ainda  será  construído.  Ensinam  que  este  templo  existirá  durante  um  reino  de  1.000  anos no qual, conforme  a  doutrina  do  pré-milenarismo, Jesus  reinará  aqui  na  terra.    

Mas  uma  análise  cuidadosa  do  texto  nos  mostra  que  Ezequiel  não  falou  de  um  templo literal  que  ainda  está  por  vir.  Há  vários  motivos  para  rejeitar  a  interpretação  literal destes  capítulos: 

  • Estes  capítulos  falam  de  sacerdotes  levitas  que  servem  no  santuário  (44:15-16; 48:11).  Se  aceitarmos  uma  interpretação  literal  deste  sacerdócio  para  um  futuro templo,  cairíamos  em  contradição  de  vários  ensinamentos  do  Novo  Testamento. Os  cristãos  –  judeus  e  gentios  –  fazem  parte  do  sacerdócio  santo  (1  Pedro  2:5). Jesus,  que  não  é  levita,  é  o  sumo  sacerdote  para  sempre  (Hebreus  7:11-14,21). “Ora,  se  ele  estivesse  na  terra,  nem  mesmo  sacerdote  seria...”  (Hebreus  8:4). Aplicar  a  profecia  de  Ezequiel  a  um  templo  literal  futuro  nega  o  sacerdócio  dos crentes  e, pior, nega  o sacerdócio de  Jesus! 

  • Estes  capítulos  falam  das  celebrações  anuais,  mensais  e  semanais  da  Antiga Aliança  (45:18  -  46:8).  Paulo  claramente  ensinou  que  estes  dias  especiais pertenciam  à  sombra  das  coisas  anteriores,  e  não  à  luz  do  evangelho (Colossenses  2:16-17).  Uma  interpretação  literal  das  visões  de  Ezequiel  inclui uma  volta  à  sombra!  Quem  fizesse  isso  abandonaria  a  luz  da  graça  de  Cristo (Gálatas  5:4). 

  • Estes  capítulos  falam  claramente  de  sacrifícios  de  animais  “pelo  pecado  e  pela culpa”  (40:38-43;  45:18-25;  46:1-15).  A  aplicação  literal  a  um  templo  futuro enfrenta  o  problema  sério  de  defender  sacrifícios  de  animais  pelo  pecado milhares  de  anos  depois  da  morte  de  Jesus.  Se  aceitar  esta  noção  de  sacrifícios literais,  estaria  negando  a  eficácia  e  a  suficiência  do  único  sacrifício  de  Jesus Cristo  (Hebreus  9:11-15,24-28;  10:1-18).  Se  afirmar  que  os  sacrifícios  em Ezequiel  são  simbólicos, o  sistema  de  interpretação  literal  começa  a  desmoronar. Se  os  sacrifícios  são  simbólicos,  as  medidas  podem  ser  simbólicas  e  o  próprio templo pode  ser  simbólico.    De  fato,  o  que  Ezequiel  falou  sobre  os  sacerdotes,  as  festas,  os  sacrifícios  e  sobre  o próprio  templo  serve  para  representar,  simbolicamente,  a  comunhão  que  os  cristãos  têm atualmente  em  Cristo,  no  reino  que  já  existe  (Colossenses  1:13).  É  errado  usar  este trecho para  ensinar  sobre  um  reino e  um  templo aqui  na  terra  no  futuro.




sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Literalismo e Apocalipse 20



Como vimos, o amilenismo não toma os mil anos de Apocalipse 20 literalmente, mas entende-os como uma referência simbólica à toda a era do Novo Testamento. O simbolismo é encontrado no fato que 1000 é 10x10x10, onde 10 é entendido como uma representação de completude. É este entendimento não-literal dos mil anos que desejamos defender.

Já apontamos que “mil” nem sempre deve ser tomado literalmente na Escritura. Deus não possui apenas os animais de milhares de montanhas, mas de todas elas (Sl. 50:10). Outras passagens nos Salmos onde “mil” não é literal, mas tem o significado de “todos” ou “o todo” são Salmos 84:10, Salmos 91:7 e Salmos 105:8. Aqueles que dizem que o número deve ser tomado sempre literalmente – incluindo Apocalipse 20 – estão errados.

Devemos ressaltar também que há outras coisas em Apocalipse 20 que não podem ser tomadas literalmente. Nos versículos 1 e 2, Satanás não é literalmente um dragão; nem pode um espírito, Satanás, ser preso com uma corrente literal (veja também Lucas 24:39). Além disso, a maioria das pessoas entenderia a referência a um “abismo” em Apocalipse 20:3 como sendo uma referência ao inferno, a morada de Satanás, não a um buraco no chão. Mais adiante no capítulo, o Anticristo não é uma “besta” (v. 10) no sentido literal, nem o livro da vida (v. 12) é um livro literal de papel e páginas impressas.

Inúmeras coisas no restante do livro de Apocalipse não podem ser tomadas literalmente. Nenhum cristão que conhecemos, por exemplo, espera que sua recompensa será de fato uma pedra branca com seu nome gravado nela (2:17) ou que ele se tornará uma “coluna” no céu (3:12), ou que Jesus realmente tem uma espada no lugar de uma língua (1:16).

É impressionante que aqueles que insistem mais ruidosamente num entendimento literal dos mil anos e dizem que qualquer outra coisa é infidelidade à Escritura, são os mesmos que estão indispostos a tomarem literalmente a referência às almas em Apocalipse 20:4. Eles insistem que essas não são almas literais, desincorporadas, mas pessoas completas.

Gostaríamos de lembrar aos nossos leitores que a própria Escritura não demanda um literalismo estrito e rigoroso; de fato, ela implica que essa espiritualização é necessária para a interpretação da Escritura. Somos informados em 1Coríntios 2:14:

“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.

Há muitos exemplos de tal espiritualização na Escritura, sendo Gálatas 4:21-31 um exemplo notável.

A maneira apropriada de interpretar a Escritura não é um literalismo rígido e impossível, mas permitir que a Escritura interprete a si mesma. Ela faz isso mostrando que “mil” pode algumas vezes ser entendido simbolicamente (Sl. 84:10); que a prisão de Satanás deve ocorrer durante a encarnação de Cristo (Mt. 12:29); e que os mil anos terminam com o fim do mundo (Ap. 20:7-15). A única conclusão possível, portanto, sobre a base da própria Escritura, é que os mil anos referem-se ao todo da era do Novo Testamento.

Mas tudo tem importância? Certamente! Se ainda houvesse uma era de mil anos após a era presente, a esperança celestial dos crentes e o julgamento final se tornariam tão remotos que o chamado para vigiar, orar e estar preparado para o retorno de Cristo seria quase irrelevante. A urgência do nosso chamado para esperar e estar atento para o fim de todas as coisas reside em nossa certeza de que essas coisas acontecerão em breve.

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Sobre o autor: Rev. Ronald Hanko é ministro ordenado da Protestant Reformed Church.

Fonte: Monergismo