google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Escatologia Reformada

sexta-feira, 21 de junho de 2019

O Papismo e a Idolatria Anticristã



“…Eu, muito consideraria comigo mesmo a grandeza da indignação de Deus contra aqueles que mesmo que em coisas mínimas, venham a submeter sua fidelidade ao Anticristianismo, quando o mesmo descerá sobre nós. Em Apocalipse XIII. 11, há menção de “uma besta que tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como um dragão” (essa besta, penso eu, é o papa)”, e ele exerce todo o poder da primeira besta“, isto é, ele exerce um poder responsável pelo poder pagão. Mas como assim? Versículo 16 “fez com que em todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, fosse posto um sinal na mão direita, ou nas suas testas; e que ninguém poderia comprar ou vender, caso não venha a ter o sinal“. Não importa o que a marca representa; mas receber qualquer coisa dele, é receber a sua marca; tanto em nossas testas, onde iremos mostrá-lo ao mundo inteiro; ou em nossas mãos, que certamente indica algo mais em particular, que pode ser mostrado quando a oportunidade serve. Mas porque? Por que, no cap XIV. 6, 7; iremos ler : “Eu vi outro anjo voar pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para proclamar a todos que habitam sobre a terra, de toda a nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz; Temei a Deus e dai-lhe glória; pois a hora do seu julgamento é vindo; e adorai Aquele que fez o céu e a terra, e o mar, e as fontes das águas“. Quando o Anticristo vem trazendo e colocando a sua marca na testa das pessoas e em suas mãos, Deus, pelo Seu Evangelho, chama os homens de suas falsa adorações e idolatria. Mas e, caso eles não venham a obedecer? Versos 9 e 10 nos dizer um que o “terceiro anjo seguiu, dizendo com grande voz: Se alguém adorar a besta e a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou na sua mão, tal beberá do vinho da ira de Deus, e se deitando e sendo misturado no cálice da sua ira; será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro“, [etc]. Alguns estarão aptos a dizer: “Façamos uma composição justa, e usemos algum cumprimento de acordo, para colocar um fim a essas disputas“. Se quiser fazer isso, vá fazer isso para o seu próprio perigo. Deus diz que você beberá do vinho da Sua ira, e você deitará, no cálice da Sua ira, e isso para todo o sempre. E eu acredito com todo meu coração e alma que esta será a parcela de todos os homens e mulheres nesta nação que venham a escolher por cumprir qualquer retorno à idolatria anticristã entre nós. DEUS DERRAMARÁ A SUA IRA SOBRE ELES“…

John Owen – Sermons of John Owen – Sermon XII – The use of faith, if popery should return upon us.

Tradução: Lucas Macedo


quinta-feira, 13 de junho de 2019

A prisão de Satanás



Quatro perguntas nos chamam a atenção:

Em primeiro lugar, o que significa a prisão de Satanás? Segundo Apocalipse 9:1,11; 11:7; 20:1-3, podemos concluir que o poço do abismo tem uma tampa (Ap 9:1) que pode ser aberta (Ap 9:2), fechada (20:3) e selada (20:3). João vê que o anjo tem a chave do abismo e uma grande corrente (20:1). Diz que ele prendeu a Satanás por mil anos (20:3). E que o fechou no abismo até completarem os mil anos. Isso tudo é um simbolismo. Um espírito não pode ser amarrado com corrente. Prendeu, fechou e selou são termos que denotam a limitação do seu poder. Satanás está limitado em sua ação de três formas: algemas, chave e selo. Nem no próprio abismo, nem sobre a terra, nem no céu ele tem poder para agir livremente.

Satanás só pode ir até onde Deus permite (Jó 1:12; 2:6). Ele está mantido sob freio.

Isso significa que a sua autoridade e seu poder foram restringidos. Satanás não pode mais enganar as nações. A evangelização dos povos foi ordenada e Deus vai chamar os Seus eleitos! A prisão de Satanás não significa que ele está inativo, fora de cena. Ele está na corrente de Deus. Essa corrente é grande. Mas ele é um inimigo limitado. 

Em segundo lugar, o que significa que Satanás não pode mais enganar as nações: 

A prisão de Satanás tem a ver com a primeira vinda e não com a segunda vinda: Vários textos bíblicos comprovam isso. Em Mateus 12:29 lemos: “Ou como pode alguém entrar na casa do valente e roubar-lhe os bens sem primeiro amarrá-lo? E, então, lhe saqueará a casa.” Em Lucas 10:17-18 está escrito: “Então, regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: “Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo Teu nome! Mas Ele lhes disse: “Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago” De igual forma em João 12:31-32 está registrado: “Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso. E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo”. Colossenses 2:15 diz: “E, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz”. Hebreus 2:14 afirma: “...para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo”. 1 Jo 3:8 ainda afirma: “...Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo”. Finalmente, lemos em Apocalipse 12:5-17 que a expulsão de Satanás foi o resultado da coroação de Cristo. Assim, a amarração de Satanás começou na primeira vinda de Cristo e isso é o que provavelmente Apocalipse 20:2 significa.

Simon Kistemaker, elucidando a questão da razão da prisão de Satanás, escreve:
Por toda a era veterotestamentária, somente a nação de Israel recebeu revelação de Deus (Rm 3:2). Embora nomes de indivíduos não judeus fossem inscritos nos registros divinos e adotados em sua família (SI 87:4-6), as nações gentílicas estavam destituídas de Sua Palavra. Mas tudo isso mudou depois que Cristo ressurgiu, quando instruiu Seus seguidores a fazer discípulos de todas as nações (Mt 28:19-20). Desde a ascensão de Jesus, a Satanás se tornou impossível deter o avanço do evangelho da salvação. Ele tem estado preso e destituído de autoridade, enquanto as nações do mundo ao redor do globo têm recebido as alegres boas-novas. O Filho de Deus tomou posse dessas nações (SI 2:7-8) e privou Satanás de desencaminhá-las durante esta era evangélica. Cristo está atraindo para Si pessoas de todas as nações, e dentre elas os eleitos de Deus serão salvos e atraídos ao Seu reino.

A prisão ou restrição do poder de Satanás tem a ver com a obra de Cristo na cruz e com a evangelização das nações, de onde Deus chama eficazmente todos os Seus eleitos. Satanás está restrito em seu poder no sentido de que não pode destruir a igreja (Mt 16:18) nem pode impedir que os eleitos de todas as nações recebam o evangelho e creiam (Rm 8:30). Satanás é impotente para evitar a expansão da igreja entre as nações por meio de um trabalho missionário ativo. A igreja é internacional. O particularismo da antiga dispensação (judeus) deu lugar ao universalismo da nova (igreja).

Precisamos voltar a esse ponto e deixar bem claro que a prisão de Satanás não significa sua inatividade. Satanás está vivo e ativo no planeta terra. Mais uma vez William Hendriksen é oportuno em seu comentário: 

O diabo não está atado em todo o sentido. Sua influência não está destruída completamente. Pelo contrário, dentro da esfera em que se lhe permite exercer sua influência para o mal, ele brama furiosamente. Um cão atado firmemente com uma longa coleira pode fazer muito dano dentro do círculo da sua prisão. Porém, fora daquele círculo o cão não pode causar nenhum dano. Apocalipse 20:1-3 nos ensina que o poder de Satanás está refreado e sua influência restringida a respeito de uma esfera definida de atividade: “para que não mais engane as nações”. Claro está que o diabo pode fazer muito durante este período de mil anos. Mas há uma coisa que ele não pode fazer durante este período! A respeito dessa coisa ele está amarrado definida e firmemente. Não pode destruir a igreja como uma poderosa organização missionária, publicadora do evangelho a todas as nações, e não pode fazê-lo até que se cumpram os mil anos.

Em terceiro lugar, o que significa o pouco tempo em que Satanás será solto depois do milênio? William Hendriksen diz que esse pouco tempo retrata o mesmo período da grande tribulação, a apostasia e o reinado do anticristo. Esse é o tempo que antecede à segunda vinda de Cristo.

Em quarto lugar, o que significam os mil anos durante os quais Satanás é preso? Este capítulo usa várias figuras simbólicas. O abismo, a corrente, a prisão, e também o milênio. O número mil sugere um período de completude, um período inteiro. Sugere um longo período, um período completo, o número dez cubicado. Mil anos é o tempo que vai da primeira vinda de Cristo até o tempo da grande tribulação, da apostasia, do aparecimento do homem da iniquidade, do período chamado “pouco tempo” de Satanás, que precede à segunda vinda de Cristo. E o período que Cristo está reinando até colocar todos os inimigos debaixo dos Seus pés (1 Co 15:23-25). Esse período do milênio precede o juízo e o juízo no ensino geral das Escrituras segue imediatamente à segunda vinda (Mt 25:31; Rm 8:20-22).

Nessa mesma linha de pensamento, o conhecido estudioso dessa matéria Antony Hoekema, afirma acerca dos mil anos: 

Sabemos que o número dez significa plenitude, e visto que mil é dez elevado à terceira potência, podemos pensar que a expressão “mil anos” é uma representação de um período completo, um período muito longo, de duração indeterminada. Coerentemente com o que foi dito anteriormente a respeito da estrutura do livro, e à luz dos versos 7-15 deste capítulo 20 (que descrevem o “pouco tempo” de Satanás, a batalha final e o juízo final), podemos chegar à conclusão que este período de mil anos se estende desde a primeira vinda de Cristo até muito pouco tempo antes da segunda.

Hernandes Dias Lopes. Apocalipse / Futuro chegou, as coisas que em breve devem acontecer - São Paulo, SP: Hagnos 2005.(Comentários expositivos Hagnos). pg. 345-349



sábado, 8 de junho de 2019

A Prosperidade do Evangelho e da Igreja



“Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu;” [Mateus 6:10]

“…A segunda petição é que ‘venha o teu reino’. Ainda que não contenha nada de novo, com justa razão diferencia-se e distingue-se da primeira, porque, se considerarmos atentamente nossa negligencia num assunto de tanta importância, é preciso ser-nos repetido muitas vezes o que já deveríamos ter compreendido.

Por isso, depois de ordenado que peçamos a Deus que abata e destrua por completo tudo o que mancha seu nome sacrossanto, acrescenta-se uma segunda petição, semelhante e quase idêntica à primeira: que venha o reino de Deus. Embora, já tenhamos explicado o que é esse reino, repeti-lo-ei agora em poucas palavras. Deus reina quando os homens, renunciando a si mesmos e menos-prezando o mundo e esta vida terrestre, submetem-se à justiça de Deus para aspirar à vida celestial.

E, por isso, esse reino consta de duas partes: uma é que Deus, com a virtude e potência de seu Espírito, corrija e domine todos os apetites da carne, que em tropel fazem a guerra; a outra, que forme todos os nossos sentidos para obedecerem seus mandamentos. Portanto, somente se atém a ordem legítima dessa petição aquele que começa por si mesmo, quer dizer, aquele que deseja ser limpo de toda corrupção que perturbe o sereno estado do reino de Deus e infecte sua pureza e perfeição.

E como a Palavra de Deus é tal qual um cetro real, somos ordenados aqui a pedirmos que domine o coração e o espírito de todos, para que voluntariamente lhe obedeçam; o que se verifica quando Ele os toca e move com uma secreta inspiração, dando-lhes a entender quão grande é o poder de sua Palavra, afim de ela ter a preeminência e ser considerada no grau de honra que lhe corresponde. Depois disso, é preciso aniquilar os ímpios, que, com obstinação e furor desesperados, resistem a seu império. Assim, Deus eleva seu reino abatendo o mundo todo, mas, de maneiras diversas, porque a uns doma suas lascívias, a outros quebra sua indômita soberba.

Logo, devemos desejar que, assim como no céu, Deus reúna todas as Igrejas, de todas as partes do mundo, multiplicando-as e aumentando-as em número, enriquecendo-as com seus dons e estabelecendo nelas boa ordem, e que, pelo contrário, derrube todos os inimigos da pura doutrina e religião, dissipe seus propósitos e abata suas empresas. Por isso se vê que, não sem causa, manda-nos desejar o contínuo progresso e aumento de seu reino, pois jamais as coisas dos homens vão tão bem que, limpas e despojadas de toda impureza dos vícios, floresçam e permaneçam em sua integridade e perfeição. Essa plenitude se estende até o último dia da vinda de Cristo, quando, como diz Paulo, ‘Deus seja tudo em todos’ (1Co 15:28).

E assim essa oração deve-nos afastar de todas as corrupções do mundo que nos separam de Deus, para que seu reino floresça entre nós, e deve, ao mesmo tempo, acender-nos em seu vivo desejo de mortificar nossa carne, e deve, por fim, ensinar-nos a levar com paciência nossa cruz, já que Deus quer propagar seu reino desse modo. E não nos deve pesar que o homem exterior se corrompa, contanto que o interior se renove; porque toda a condição do reino de Deus é tal que, quando nos submetemos à sua justiça. Ele nos faz partícipes de sua glória.

E isso se realiza quando, dia após dia, faz resplandecer mais sua luz e verdade, de modo que as trevas e mentiras de Satanás e de seu reino se dissipem, desvaneçam e destruam; quando o Senhor ampara os seus, guia-os com a assistência do Espírito pelo caminho reto, e os confirma na perseverança; e, ao contrário, quando destrói as ímpias conspirações dos inimigos, revela seus enganos, sai ao encontro de sua malícia e abate sua rebeldia, até que finalmente mate com o Espírito de sua boca o Anticristo, e destrua com o resplendor de sua vinda toda impiedade (2Ts 2:8).”…

João Calvino – A instituição da Religião Cristã – Tomo 2, Volume 2 – Editora Unesp, p.359-361


quinta-feira, 30 de maio de 2019

A Ação da Besta e a sua Ressurreição



A AÇÃO DA BESTA 

Enquanto continuamos desenvolvendo a imagem de João acerca da besta, descobrimos evidências adicionais a respeito de Nero vindo ao foco. Lê-se em Apocalipse 13.5,7: 

Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e autoridade para agir quarenta e dois meses. […] Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação.

Como ficamos sabendo pela leitura de Atos, o cristianismo não foi molestado pelo Império Romano durante seus primeiros anos. De fato, no final de Atos, Paulo chega a apelar a César para se proteger da perseguição judaica (At 25.11,12). Isso aconteceu mesmo nos primeiros dias do reinado de Nero. As coisas mudaram muito, no entanto, quando Nero lançou ataques aos cristãos na tentativa de desviar as suspeitas de ser ele o responsável pelo incêndio destrutivo e mortal que destruiu grande parte de Roma em 64 d.C.

O historiador romano Tácito (que nasceu no reinado de Nero) registrou a horrível perseguição que envolveu os cristãos em Roma:

Nero infligiu punições inauditas nos que, odiados por seus crimes abomináveis, eram geralmente chamados de cristãos (Ann. 15.44). 

Ele até fala do “imenso número” de cristãos assassinados por Nero. O cristão Clemente de Roma, que viveu nesse tempo, menciona “uma vasta multidão dos eleitos” que morreu sob Nero (1Clem 6). Sabemos que Pedro e Paulo foram executados nesse período.

Logo, a perseguição de Nero contra os cristãos — incluindo alguns dos maiores líderes — representou a “peleja” travada pela besta contra os santos a fim de vencê-los (Ap 13.7). Mas como deveríamos entender o período de “quarenta e dois meses” mencionados por João (Ap 13.5)?

Sabemos, pelos registros históricos, que o primeiro ataque de Nero contra os cristãos em Roma ocorreu em novembro de 64 d.C. Nero morreu no começo de junho de 68. Johann Lorenz von Mosheim, o grande historiador da igreja, resumiu esse período com estas palavras:

Principalmente, na série daqueles imperadores, dos quais a igreja se recorda com horror como seus perseguidores, destaca-se Nero, um príncipe cuja conduta para com os cristãos não admite atenuação, mas foi, até o último grau, desumana e caótica. A horrenda perseguição que se realizou por ordem desse tirano começou em Roma perto em meados de novembro do ano 64 de nosso Senhor… Essa horrenda perseguição só cessou com a morte de Nero. O império, como se sabe bem, não foi libertado da tirania desse monstro até o ano 68, quando ele deu fim à própria vida.

Assim, temos o período em que a besta pelejou contra os santos por quase 42 meses: de novembro de 64 até junho de 68. O encaixe é relevante e notável.

A RESSURREIÇÃO DA BESTA

Chego agora à parte da revelação que, muitos acreditam, coloca um obstáculo insuperável à interpretação de Nero/Roma como a besta do século I. Ironicamente, no entanto, essa revelação confirma a visão. A revelação que tenho em mente é a que envolve a morte e a ressurreição da besta: 

Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta (Ap 13.3). 

Como posso explicar esse conceito sem declarar que Nero morreu e foi ressuscitado dos mortos? É essa a objeção fatal da posição de Nero/Roma? 

Para interpretar com correção essa visão, devemos começar recordando-nos da identidade dupla da besta: ela pode transitar entre Roma (em sentido corporativo) e o governante de Roma (em sentido individual). Isto é, a besta representa os dois: o Império Romano como uma entidade política e Nero César como líder dessa entidade. Com isso em mente, notemos que o significado transita na visão, o que permite uma correspondência fascinante com a história do século I.

Nero governou Roma de 54 d.C. até a sua morte em 9 de junho de 68 d.C. Nas últimas semanas de vida, as destrutivas guerras civis romanas eclodiram. Em desespero, Nero suicidou-se quando as forças imperiais, sob a liderança do general Galba, estavam prestes a capturá-lo. O império foi lançado em convulsões devastadoras em sentido político e social. O historiador romano Tácito lamentou esse período negro na vida de Roma no século I:

A história em que estou entrando é de um período sobejo em desastres, terrível em batalhas, destroçado por conflitos civis, horrível mesmo na paz. Quatro imperadores caíram sob a espada; houve três guerras civis, mais guerras internacionais e, de modo geral, as duas coisas ao mesmo tempo. Houve sucesso no leste e infortúnio no oeste. O Ilírico foi transtornado, as províncias da Gália vacilaram, a Bretanha se rendeu e desistiu de imediato. Os sármatas e os suevos se levantaram contra nós; os dácios ganharam fama pelas derrotas infligidas e sofridas; até os partos quase pegaram em armas pelo charlatanismo de um pretenso Nero. Ademais, a Itália foi perturbada por desastres nunca vistos ou que voltaram após o lapso das eras. Cidades dos litorais férteis e ricos da Campânia foram tragadas ou arrasadas; Roma foi devastada por conflagrações, pelas quais os santuários mais antigos foram consumidos e o próprio Capitólio incendiado pelas mãos dos cidadãos. Sítios sagrados foram profanados; houve adultérios nos lugares altos. O mar se encheu de exilados, seus penhascos se contaminaram com os corpos dos mortos. Em Roma, houve mais crueldade medonha (Hist. 1.2,3). 

Com essa guerra civil caótica abalando os fundamentos do império, o mundo testemunha “os senhores da terra habitável” (War 4.3.10) sediados na “maior de todas as cidades” (War 4.11.5) sucumbindo em horrendos espasmos mortais. Como Tácito expressou:

Essa foi a condição do Estado romano quando Sérvio Galba, eleito cônsul pela segunda vez, e seu colega Tito Vínio iniciaram o ano que era para ser o último de Galba e, para o Estado, quase o fim (Hist. 1.11; grifo adicionado).

De acordo com Josefo, a morte de Nero suspendeu até a guerra judaica com Roma, quando o poderoso general Vespasiano e seu filho Tito cessam as hostilidades:

E agora, os dois estiveram em suspense sobre os afazeres públicos, estando o Império Romano, então, em uma condição instável; e não prosseguiram com a expedição contra os judeus, mas consideraram agora inoportuno empreender qualquer ataque contra estrangeiros, considerando o cuidado com o próprio país (War 4.9.2).

Os relatórios que chegaram até o campo de batalha em Israel são tão horríveis que lemos sobre Vespasiano: 

E seu pesar foi tão violento que ele não pôde suportar os tormentos que havia sobre ele, nem a se dedicar mais em outras guerras quando a sua terra natal estava desolada (War 4.10.2).

De fato, “Roma estava próxima da ruína” (War 4.11.5), de modo que “o Estado romano estava tão enfermo… [que] cada parte da terra habitável encontrava-se em uma condição indefinida e instável” (War 7.4.2).

Assim, depois do suicídio de Nero com a própria espada, parecia para o mundo que a poderosa Roma estava morrendo. João descreveu esse fenômeno como a besta recebendo uma ferida mortal em “uma de suas cabeças” (Ap 13.3). Mas então, o que acontece?

O famoso biógrafo romano Suetônio fala da ressurreição de Roma do estado de morte: 

O império que por muito tempo esteve indefinido e, assim, arrastando-se ao longo da usurpação e da morte violenta de três imperadores, foi por fim colocado sob controle e recebeu estabilidade da família Flaviana (Vesp. 1, grifo adicionado).

Josefo expressa a mesma surpresa com respeito à resiliência de Roma: 

Portanto, com a confirmação de todo o governo de Vespasiano, agora estabelecido, e a libertação inesperada dos deveres públicos romanos da ruína, Vespasiano voltou o pensamento para os insubmissos na Judeia (War 4.11.5; grifo adicionado).

Assim, depois de um período de penosas guerras civis, o império reviveu, para a perplexidade do mundo que agora retornava ao domínio de Roma. Como João afirmou: “Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta” (Ap 13.3), dizendo: “Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela?” (Ap 13.4b).

Isso, sem dúvida e de modo notável confirma o ponto de vista que aponta para Nero/Roma.

CONCLUSÃO

Estou convencido: da mesma forma que “todos os caminhos levam a Roma” , também toda a evidência da besta leva a ela. A evidência apresenta não só uma adequação notável (mesmo onde não esperaríamos), mas uma adequação relevante: Nero vive em um período que se encaixa (Ap 1.1,3). Seu império parece surgir do mar, da perspectiva de Israel (13.1). O Império Romano possui incrível autoridade política e poderio militar (13.2,4). Nero, como a sexta cabeça de Roma, aparece em cena na cronologia dos imperadores (17.10) e apresenta o caráter de um homem bestial (13.5,6,8).

Até o nome de Nero se encaixa no misterioso número da besta (Ap 13.18). Quando a besta “peleja contra os santos” , não ficamos surpresos ao saber que Nero foi o primeiro perseguidor imperial da igreja (13.7) — e pela exata duração indicada em Apocalipse (13.5). Pode-se até aplicar o aspecto mais improvável da profecia de João a Nero e ao Império Romano: a morte e a ressurreição da besta (13.3).


 Kenneth L. Gentry Jr.  Apocalipse para leigos — você pode entender a profecia bíblica —. pg: 103 - 111

sábado, 25 de maio de 2019

O caráter da Besta e o seu Número




O CARÁTER DA BESTA

João chama a besta por um termo derrogatório que reflete seu caráter maligno: “besta” (Ap 13.1). A imagem da “besta” com certeza indica que ele possuía um caráter mau. João apresenta essa besta como o composto de três carnívoros amedrontadores:

A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão. (Ap 13.2a)

Esses animais seriam aterrorizantes para qualquer conhecedor das arenas romanas onde homens e mulheres eram cruelmente “jogados aos leões” e outras feras.

Sem dúvida, Nero possuía um caráter imoral e bestial. Ele matou a própria mãe, o irmão, a tia e a esposa — além de muitos cidadãos romanos eminentes. Ele era conhecido por amarrar escravos em postes, vestir-se na pele de um leão e atacá-los e estuprá-los (Suetônio, Nero, 29). Era temido e odiado pelo próprio povo. A leitura da literatura antiga demonstra que Nero “era de uma brutalidade cruel e irrestrita”.

Tácito, o famoso historiador romano do século II, fala da “natureza cruel” de Nero que “condenou à morte tantos homens inocentes” (Hist. 4.7,8). O naturalista romano Plínio, o Velho, descreve Nero como “o destruidor da raça humana” e “o veneno do mundo” (Nat. Hist. 7.45; 22.92). O satirista romano Juvenal lamenta a “tirania cruel e sangrenta de Nero” (Sat. 7.225). Em outro lugar, ele chama Nero de “tirano cruel” (Sat. 10.306). No século I, Apolônio de Tiana até chama Nero de “besta” (registrado em Filostrato, Vit. 4.38).

Não só a besta é imoral e selvagem, mas é também presunçosamente blasfema:

Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e autoridade para agir quarenta e dois meses; e abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para lhe difamar o nome e difamar o tabernáculo, a saber, os que habitam no céu [...] e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. (Ap 13.5,6,8)

Nero cunhou moedas com uma imagem da própria cabeça lançando raios do sol. Com essa manobra, ele intencionalmente imitou o poderoso deus sol romano Apolo. Uma inscrição em Atenas o louva como “o todo-poderoso Nero César Sebasto, o novo Apolo”. 

Em 66 d.C., Tirídates, rei da Armênia, aproximouse de Nero em adoração, de acordo com o historiador romano Dião Cássio, do século II:

De fato, os procedimentos da conferência não foram limitados a meras conversas, mas uma plataforma elevada havia sido erigida na qual encontravam-se imagens de Nero e, na presença de armênios, partos e romanos, Tirídates aproximou-se e prestou-lhes reverência; então, após sacrificar a elas e chamá-las por nomes laudatórios, ele tirou o diadema de sua cabeça e colocou-o sobre elas. Tirídates publicamente prostrou-se diante de Nero, que estava assentado sobre a tribuna no fórum: “Mestre, eu sou o descendente de Arsaces, irmão dos reis Vologaesus e Pacorus, e teu escravo. E vim a ti, meu deus, para adorar-te como faço com Mitra. A sina que traçaste para mim será minha; pois tu és minha sorte e meu destino”. 

Com certeza Nero se adequa ao caráter de uma “besta”.

O NÚMERO DA BESTA

Sem dúvida, o aspecto mais conhecido do imaginário da besta no Apocalipse é o número “666”:

Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis. (Ap 13.8)

O que esse número significa? E como ele nos ajuda a identificar a besta do Apocalipse?

Antes de mostrar como esse número aponta para Nero, devo comentar sobre o número em si encontrado no Apocalipse. Alguns populistas modernos tentam encontrar a besta no mundo contemporâneo mediante a procura da série de três números seis em conjunto. Alguns anos atrás, uma teoria sugeriu que o presidente Reagan era a besta porque cada um dos seus três nomes era composto de seis letras: Ronald Wilson Reagan. Alguns propõem que ele consista em um código de computador baseado nesses três dígitos. Outros declaram que refere-se ao Mark VI Personal Identity Verifier usado em leituras biométricas da mão humana. Ou os códigos de barra, que começam com o código para “6” , têm uma barra central representando o “6” , e finalizam o código de barras com as linhas representando o “6” de novo.

Esses palpites perdem a leitura exata do Apocalipse. João não afirma que essa marca envolve uma série de três seis. No grego de Apocalipse 13.18, o número realmente é “seiscentos e sessenta e seis” , e não “seis seis seis”. Várias traduções deixam isso claro ao escrever o valor no formato alfabético, em vez de em algarismos (Almeida Revista e Atualizada, Nova Versão Internacional, Almeida Século 21, Nova Tradução na Linguagem de Hoje, Tradução Brasileira, Nova Almeida Atualizada). Uma série de seis não tem nada a ver com o número da besta. Na verdade, o número é o valor total: seiscentos e sessenta e seis, uma soma aritmética específica.

Enquanto tentamos decifrar o significado de João, devemos ter em mente que o sistema numérico arábico, tão conhecido por nós, não fazia parte do mundo antigo. Ele foi, na verdade, importado pela cultura ocidental no século XII. Antes dessa época, os alfabetos tinham duas funções: não eram apenas alfabetos, mas sistemas de enumeração (considere os números romanos que você conhece). Muitos dicionários bíblicos observam essa prática em relação às línguas bíblicas antigas na palavra principal: “Números, numerais”.

Continuando nossa busca pela identidade do que está escondido por trás do valor do número “seiscentos e sessenta e seis” , devemos nos lembrar de que João era judeu, e ele escrevia sobre o juízo divino contra os judeus. Em adição, devemos reconhecer que o Apocalipse é o livro mais hebraico do Novo Testamento, contendo marcas de imagens visuais traçadas no Antigo Testamento, com centenas de referências literárias a versículos do Antigo Testamento, e uma forma hebraica de grego diferente de qualquer outro registro do Novo Testamento.

Se fizermos a suposição razoável de que o hebraico seja a língua para procurarmos o significado do número da besta, chegaremos à mesma conclusão que outras linhas de evidência sugerem: a besta é Nero César. A soletração do seu nome em hebraico do século I era nrwn qsr (pronunciado: “Neron Kesar”). Alguns arqueólogos documentaram esse modo de soletrar em hebraico, que apresenta o valor exato “seiscentos e sessenta e seis”. O léxico de Jastrow do Talmude contém essa mesma escrita. A forma hebraica do nome de Nero é escrita: Nrwn Qsr. A valoração numérica desse modo de soletrar é a seguinte:

n = 50 r = 200 w = 6 n = 50 q = 100 s = 60 r = 200

A soma dessas letras resulta no número 666. Muitos acadêmicos bíblicos reconhecem esse nome como “a solução mais provável” do problema. E por que não? O nome “Nero César” não apenas se encaixa em sentido numérico, como a pessoa de Nero se adequa no contexto do drama de João.  

Mas agora: e quanto à besta impondo sua marca aos homens?

A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome. (Ap 13.16,17)

Ao responder essa pergunta, devemos recordar a natureza simbólica do Apocalipse e as imagens paralelas em seu interior que parecem se basear em uma prática do Antigo Testamento.

Em primeiro lugar, marcar homens a serviço da besta não é um sinal mais literal que marcar os servos do Cordeiro na próxima cena: 

Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu Pai. (Ap 14.1)

Em segundo lugar, essa marca parece uma metáfora sobre o domínio e o controle exercidos pela fonte da marca. Em Apocalipse 13, ninguém pode comprar nem vender sem a marca. Isto é, todos os súditos do Império Romano estão sob o domínio do imperador, que, na realidade, detém o sustento deles em suas mãos.

Em terceiro lugar, na exigência da besta por adoração (Ap 13.4,8), assim demonstrando suas presunções divinas, João apresenta essa alegação pretenciosa de soberania contra o pano de fundo de Antigo Testamento. Esse livro bastante orientado pelo Antigo Testamento usa a marca na mão direita e na fronte com imagem oposta à que Deus exigiu de seu povo a respeito da lei por ele concedida: 

Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração. […] Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. (Dt 6.6,8)

Isso é sublinhado pelo fato descrito antes: o versículo seguinte apresenta os servos do Cordeiro com uma marca na testa.

Em quarto lugar, qualquer marca dos dias de hoje contraria o significado do curto prazo dado de João (Ap 1.1,3; 22.6,10), a relevância para os cristãos perseguidos do século I (Ap 1.9; 3.10; 6.9-11; 12.4- 6,17), o tema apresentando o juízo contra Israel (Ap 1.7) e a conexão da besta com a era dos primeiros sete imperadores de Roma (Ap 17.9,10). Logo, a procura da marca nos dias de hoje contraria o contexto.

Como consequência, com esse imaginário da marca João está ensinando que a besta (Nero) desempenhará suas pretensões divinas, agindo como soberano absoluto sobre a vida e o destino dos súditos. Ela não imporá uma marca mais literal em seus súditos do que Cristo nos seus. Isso é imaginário fantasioso, não realidade literal.


 Kenneth L. Gentry Jr.  Apocalipse para leigos — você pode entender a profecia bíblica —. pg: 97 - 102

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

A Autoridade e a Cronologia da Besta



A AUTORIDADE DA BESTA

Agora, saímos dos indicadores temporais e geográficos para os políticos. A figura que João faz da autoridade da besta se encaixa bem na identidade romana. João não apenas vê a besta com muitos diademas e a visualiza com armas poderosas, mas nota em especial que Satanás lhe concede “grande autoridade”:

Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre os chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia. A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade. (Ap 13.1,2.

João destaca seu grande poder político pela imagem dos “dez chifres” com “dez diademas”. Na antiguidade, chifres animais simbolizavam autoridade política e força militar:

Deus tirou do Egito a Israel, cujas forças [chifres] são como as do boi selvagem; consumirá as nações, seus inimigos, e quebrará seus ossos, e, com as suas setas, os atravessará (Nm 24.8).

Ele tem a imponência do primogênito do seu touro, e as suas pontas são como as de um boi selvagem; com elas rechaçará todos os povos até às extremidades da terra. Tais, pois, as miríades de Efraim, e tais, os milhares de Manassés (Dt 33.17). Visto que, com o lado e com o ombro, dais empurrões e, com os chifres, impelis as fracas até as espalhardes fora (Ez 34.21). Depois disto, eu continuava olhando nas visões da noite, e eis aqui o quarto animal, terrível, espantoso e sobremodo forte, o qual tinha grandes dentes de ferro; ele devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele e tinha dez chifres.(Dn 7.7). As pessoas na visão que olham a besta estão perplexas pelo seu poder: “Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela?” (Ap 13.4b).

De fato, Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação (Ap 13.7). Todos nós estamos cientes do domínio e do poder de Roma no século I. Josefo fala dos romanos como “os senhores da terra habitável” (War 4.3.10), “os governantes do mundo inteiro” (Ant. 15.11.1). Ele chama Roma de “a maior de todas as cidades” (War 4.11.5). Fílon, um filósofo judeu do século I, fala do imperador de Roma “assumindo a soberania sobre tudo” (Embassy 8). Ele até escreveu a respeito da “soberania [de Roma] sobre as porções mais numerosas, valiosas e importantes do mundo habitável, o que, na verdade, alguém poderia com correção chamar de todo o mundo” (Embassy 10). A evidência a favor de Roma está aumentando.

A CRONOLOGIA DA BESTA 

O anjo intérprete de João apresenta ainda mais evidências nessa direção. Após afirmar que as sete cabeças representam sete montanhas, acrescenta que elas também representam sete reis: 

Aqui está o sentido, que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis, dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco (Ap 17.9,10).

Isso se torna muito útil em identificar o imperador particular que governava Roma quando João escreveu.

Agora, o anjo associa a série de sete reis a esse império famoso. Revela-se, então, que os cinco reis caídos representam os primeiros cinco imperadores de Roma: Júlio, Augusto, Tibério, Calígula e Cláudio (para a sua enumeração, consulte Lives of the Twelve Caesars, do biógrafo Suetônio do séc. II). Eles já estavam mortos quando João escreveu; portanto, já “caíram”. O sexto rei está reinando no momento, pois “um existe”. Esse é Nero César. O anjo então explica para João sobre o sétimo rei: ele “ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco”. O sétimo imperador de Roma foi Galba, que reinou de junho de 68 a janeiro de 69 — apenas seis meses, o imperador de reinado mais curto até essa época (o reinado de Nero durou mais de treze anos).

Assim, não só a besta retrata o Império Romano em sentido corporativo, mas, de forma específica, Nero, o sexto imperador. E Nero não foi apenas o primeiro imperador a perseguir a igreja cristã, mas também a autoridade que comissionou o general romano Vespasiano a atacar e destruir Jerusalém (Josefo, War, 3.1.2). Ele se encaixa no drama e no tema de Apocalipse com perfeição. Todavia, existem mais evidências!


Kenneth L. Gentry Jr. Apocalipse para leigos — você pode entender a profecia bíblica —. pg:90-94 

sábado, 2 de fevereiro de 2019

O Tempo e a Localização da Besta



O TEMPO DA BESTA

Ao identificar a besta, é essencial que os indicadores temporais de João sejam levados em consideração. Como ressaltei no capítulo 1, João sem dúvida espera o cumprimento de suas profecias no tempo de sua própria vida. Ele escreveu a um público contemporâneo sobre o que “Deus mostrou aos seus servos”. Ele não escreveu algo para uma cápsula de tempo a ser aberta depois. E ele declarou em tom dogmático que os acontecimentos contidos no que ele lhes “comunicou” “devem acontecer em breve”.

Considerando as circunstâncias do século I, João não espera que cada membro das sete igrejas mantenha uma cópia do Apocalipse. Em vez disso, ele os conclama a ouvir com atenção àquele que publicamente lê para eles (cp. Cl 4.16; 1Ts 5.27). De fato, ele propõe uma bênção para os que leem, ouvem e guardam suas profecias — “pois o tempo está próximo” (Ap 1.3). Como consequência, a besta deve ser uma figura do século I.

Essa observação temporal, sozinha, não prova que a besta é Nero ou o Império Romano. Mas ela elimina 100% das suposições modernas pelos “especialistas em profecia” populares. Veremos as várias linhas de evidências que apontam para essa direção.

A LOCALIZAÇÃO DA BESTA

O segundo passo para identificar a besta consiste em determinar sua localização geográfica. A besta aparece primeiro em Apocalipse 13, mas, quando ela se alia à grande meretriz, João fica confuso.

O anjo, porém, me disse: Por que te admiraste? Dir-te-ei o mistério da mulher e da besta que tem as sete cabeças e os dez chifres e que leva a mulher. (Ap 17.7)

Na interpretação do anjo, aprendemos que as sete cabeças da besta concedem uma pista sobre sua identidade: 

Aqui está o sentido, que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. (Ap 17.9)

Todos concordam que João escreveu o Apocalipse em algum momento no século I. Isso encerra a identidade geográfica da besta como a famosa “cidade em sete colinas” , Roma. 

João sublinha essa pista para nós ao observar que, ao surgir a besta pela primeira vez, ela aparece no mar: 

Vi emergir do mar uma besta. (Ap 13.1a) 

Como sabemos que João escreveu sobre a destruição do templo em Israel, a besta, nós suporíamos, surgiria do mar em um ponto de observação de Israel. Roma fica a noroeste de Israel atravessando o mar Mediterrâneo. Por exemplo, Paulo viaja de Israel a Roma cruzando o mar Mediterrâneo: quando ele está no tribunal em Israel, apela a César em Roma (At 25.11,21; 26.32).

Então, Agripa se dirigiu a Festo e disse: Este homem bem podia ser solto, se não tivesse apelado para César. Quando foi decidido que navegássemos para a Itália, entregaram Paulo e alguns outros presos a um centurião chamado Júlio, da Coorte Imperial. (At 26.32—27.1)

Ele navegou “costeando a Ásia” (27.2) até Chipre (27.4), Creta (27.7), Malta (28.1), e então para a Itália, parando em Régio (28.13a) e Putéoli (28.13b), antes de prosseguir os últimos quilômetros por terra até Roma (28.14).

A limitação temporal e as alusões geográficas apontam para Roma como a besta corporativa. No entanto, há mais.


 Kenneth L. Gentry Jr.  Apocalipse para leigos — você pode entender a profecia bíblica —. pg: 86 - 89