google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Escatologia Reformada : O caráter da Besta e o seu Número

sábado, 25 de maio de 2019

O caráter da Besta e o seu Número




O CARÁTER DA BESTA

João chama a besta por um termo derrogatório que reflete seu caráter maligno: “besta” (Ap 13.1). A imagem da “besta” com certeza indica que ele possuía um caráter mau. João apresenta essa besta como o composto de três carnívoros amedrontadores:

A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão. (Ap 13.2a)

Esses animais seriam aterrorizantes para qualquer conhecedor das arenas romanas onde homens e mulheres eram cruelmente “jogados aos leões” e outras feras.

Sem dúvida, Nero possuía um caráter imoral e bestial. Ele matou a própria mãe, o irmão, a tia e a esposa — além de muitos cidadãos romanos eminentes. Ele era conhecido por amarrar escravos em postes, vestir-se na pele de um leão e atacá-los e estuprá-los (Suetônio, Nero, 29). Era temido e odiado pelo próprio povo. A leitura da literatura antiga demonstra que Nero “era de uma brutalidade cruel e irrestrita”.

Tácito, o famoso historiador romano do século II, fala da “natureza cruel” de Nero que “condenou à morte tantos homens inocentes” (Hist. 4.7,8). O naturalista romano Plínio, o Velho, descreve Nero como “o destruidor da raça humana” e “o veneno do mundo” (Nat. Hist. 7.45; 22.92). O satirista romano Juvenal lamenta a “tirania cruel e sangrenta de Nero” (Sat. 7.225). Em outro lugar, ele chama Nero de “tirano cruel” (Sat. 10.306). No século I, Apolônio de Tiana até chama Nero de “besta” (registrado em Filostrato, Vit. 4.38).

Não só a besta é imoral e selvagem, mas é também presunçosamente blasfema:

Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e autoridade para agir quarenta e dois meses; e abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para lhe difamar o nome e difamar o tabernáculo, a saber, os que habitam no céu [...] e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. (Ap 13.5,6,8)

Nero cunhou moedas com uma imagem da própria cabeça lançando raios do sol. Com essa manobra, ele intencionalmente imitou o poderoso deus sol romano Apolo. Uma inscrição em Atenas o louva como “o todo-poderoso Nero César Sebasto, o novo Apolo”. 

Em 66 d.C., Tirídates, rei da Armênia, aproximouse de Nero em adoração, de acordo com o historiador romano Dião Cássio, do século II:

De fato, os procedimentos da conferência não foram limitados a meras conversas, mas uma plataforma elevada havia sido erigida na qual encontravam-se imagens de Nero e, na presença de armênios, partos e romanos, Tirídates aproximou-se e prestou-lhes reverência; então, após sacrificar a elas e chamá-las por nomes laudatórios, ele tirou o diadema de sua cabeça e colocou-o sobre elas. Tirídates publicamente prostrou-se diante de Nero, que estava assentado sobre a tribuna no fórum: “Mestre, eu sou o descendente de Arsaces, irmão dos reis Vologaesus e Pacorus, e teu escravo. E vim a ti, meu deus, para adorar-te como faço com Mitra. A sina que traçaste para mim será minha; pois tu és minha sorte e meu destino”. 

Com certeza Nero se adequa ao caráter de uma “besta”.

O NÚMERO DA BESTA

Sem dúvida, o aspecto mais conhecido do imaginário da besta no Apocalipse é o número “666”:

Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis. (Ap 13.8)

O que esse número significa? E como ele nos ajuda a identificar a besta do Apocalipse?

Antes de mostrar como esse número aponta para Nero, devo comentar sobre o número em si encontrado no Apocalipse. Alguns populistas modernos tentam encontrar a besta no mundo contemporâneo mediante a procura da série de três números seis em conjunto. Alguns anos atrás, uma teoria sugeriu que o presidente Reagan era a besta porque cada um dos seus três nomes era composto de seis letras: Ronald Wilson Reagan. Alguns propõem que ele consista em um código de computador baseado nesses três dígitos. Outros declaram que refere-se ao Mark VI Personal Identity Verifier usado em leituras biométricas da mão humana. Ou os códigos de barra, que começam com o código para “6” , têm uma barra central representando o “6” , e finalizam o código de barras com as linhas representando o “6” de novo.

Esses palpites perdem a leitura exata do Apocalipse. João não afirma que essa marca envolve uma série de três seis. No grego de Apocalipse 13.18, o número realmente é “seiscentos e sessenta e seis” , e não “seis seis seis”. Várias traduções deixam isso claro ao escrever o valor no formato alfabético, em vez de em algarismos (Almeida Revista e Atualizada, Nova Versão Internacional, Almeida Século 21, Nova Tradução na Linguagem de Hoje, Tradução Brasileira, Nova Almeida Atualizada). Uma série de seis não tem nada a ver com o número da besta. Na verdade, o número é o valor total: seiscentos e sessenta e seis, uma soma aritmética específica.

Enquanto tentamos decifrar o significado de João, devemos ter em mente que o sistema numérico arábico, tão conhecido por nós, não fazia parte do mundo antigo. Ele foi, na verdade, importado pela cultura ocidental no século XII. Antes dessa época, os alfabetos tinham duas funções: não eram apenas alfabetos, mas sistemas de enumeração (considere os números romanos que você conhece). Muitos dicionários bíblicos observam essa prática em relação às línguas bíblicas antigas na palavra principal: “Números, numerais”.

Continuando nossa busca pela identidade do que está escondido por trás do valor do número “seiscentos e sessenta e seis” , devemos nos lembrar de que João era judeu, e ele escrevia sobre o juízo divino contra os judeus. Em adição, devemos reconhecer que o Apocalipse é o livro mais hebraico do Novo Testamento, contendo marcas de imagens visuais traçadas no Antigo Testamento, com centenas de referências literárias a versículos do Antigo Testamento, e uma forma hebraica de grego diferente de qualquer outro registro do Novo Testamento.

Se fizermos a suposição razoável de que o hebraico seja a língua para procurarmos o significado do número da besta, chegaremos à mesma conclusão que outras linhas de evidência sugerem: a besta é Nero César. A soletração do seu nome em hebraico do século I era nrwn qsr (pronunciado: “Neron Kesar”). Alguns arqueólogos documentaram esse modo de soletrar em hebraico, que apresenta o valor exato “seiscentos e sessenta e seis”. O léxico de Jastrow do Talmude contém essa mesma escrita. A forma hebraica do nome de Nero é escrita: Nrwn Qsr. A valoração numérica desse modo de soletrar é a seguinte:

n = 50 r = 200 w = 6 n = 50 q = 100 s = 60 r = 200

A soma dessas letras resulta no número 666. Muitos acadêmicos bíblicos reconhecem esse nome como “a solução mais provável” do problema. E por que não? O nome “Nero César” não apenas se encaixa em sentido numérico, como a pessoa de Nero se adequa no contexto do drama de João.  

Mas agora: e quanto à besta impondo sua marca aos homens?

A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome. (Ap 13.16,17)

Ao responder essa pergunta, devemos recordar a natureza simbólica do Apocalipse e as imagens paralelas em seu interior que parecem se basear em uma prática do Antigo Testamento.

Em primeiro lugar, marcar homens a serviço da besta não é um sinal mais literal que marcar os servos do Cordeiro na próxima cena: 

Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu Pai. (Ap 14.1)

Em segundo lugar, essa marca parece uma metáfora sobre o domínio e o controle exercidos pela fonte da marca. Em Apocalipse 13, ninguém pode comprar nem vender sem a marca. Isto é, todos os súditos do Império Romano estão sob o domínio do imperador, que, na realidade, detém o sustento deles em suas mãos.

Em terceiro lugar, na exigência da besta por adoração (Ap 13.4,8), assim demonstrando suas presunções divinas, João apresenta essa alegação pretenciosa de soberania contra o pano de fundo de Antigo Testamento. Esse livro bastante orientado pelo Antigo Testamento usa a marca na mão direita e na fronte com imagem oposta à que Deus exigiu de seu povo a respeito da lei por ele concedida: 

Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração. […] Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. (Dt 6.6,8)

Isso é sublinhado pelo fato descrito antes: o versículo seguinte apresenta os servos do Cordeiro com uma marca na testa.

Em quarto lugar, qualquer marca dos dias de hoje contraria o significado do curto prazo dado de João (Ap 1.1,3; 22.6,10), a relevância para os cristãos perseguidos do século I (Ap 1.9; 3.10; 6.9-11; 12.4- 6,17), o tema apresentando o juízo contra Israel (Ap 1.7) e a conexão da besta com a era dos primeiros sete imperadores de Roma (Ap 17.9,10). Logo, a procura da marca nos dias de hoje contraria o contexto.

Como consequência, com esse imaginário da marca João está ensinando que a besta (Nero) desempenhará suas pretensões divinas, agindo como soberano absoluto sobre a vida e o destino dos súditos. Ela não imporá uma marca mais literal em seus súditos do que Cristo nos seus. Isso é imaginário fantasioso, não realidade literal.


 Kenneth L. Gentry Jr.  Apocalipse para leigos — você pode entender a profecia bíblica —. pg: 97 - 102

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