google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Escatologia Reformada : A Ação da Besta e a sua Ressurreição

quinta-feira, 30 de maio de 2019

A Ação da Besta e a sua Ressurreição



A AÇÃO DA BESTA 

Enquanto continuamos desenvolvendo a imagem de João acerca da besta, descobrimos evidências adicionais a respeito de Nero vindo ao foco. Lê-se em Apocalipse 13.5,7: 

Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e autoridade para agir quarenta e dois meses. […] Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação.

Como ficamos sabendo pela leitura de Atos, o cristianismo não foi molestado pelo Império Romano durante seus primeiros anos. De fato, no final de Atos, Paulo chega a apelar a César para se proteger da perseguição judaica (At 25.11,12). Isso aconteceu mesmo nos primeiros dias do reinado de Nero. As coisas mudaram muito, no entanto, quando Nero lançou ataques aos cristãos na tentativa de desviar as suspeitas de ser ele o responsável pelo incêndio destrutivo e mortal que destruiu grande parte de Roma em 64 d.C.

O historiador romano Tácito (que nasceu no reinado de Nero) registrou a horrível perseguição que envolveu os cristãos em Roma:

Nero infligiu punições inauditas nos que, odiados por seus crimes abomináveis, eram geralmente chamados de cristãos (Ann. 15.44). 

Ele até fala do “imenso número” de cristãos assassinados por Nero. O cristão Clemente de Roma, que viveu nesse tempo, menciona “uma vasta multidão dos eleitos” que morreu sob Nero (1Clem 6). Sabemos que Pedro e Paulo foram executados nesse período.

Logo, a perseguição de Nero contra os cristãos — incluindo alguns dos maiores líderes — representou a “peleja” travada pela besta contra os santos a fim de vencê-los (Ap 13.7). Mas como deveríamos entender o período de “quarenta e dois meses” mencionados por João (Ap 13.5)?

Sabemos, pelos registros históricos, que o primeiro ataque de Nero contra os cristãos em Roma ocorreu em novembro de 64 d.C. Nero morreu no começo de junho de 68. Johann Lorenz von Mosheim, o grande historiador da igreja, resumiu esse período com estas palavras:

Principalmente, na série daqueles imperadores, dos quais a igreja se recorda com horror como seus perseguidores, destaca-se Nero, um príncipe cuja conduta para com os cristãos não admite atenuação, mas foi, até o último grau, desumana e caótica. A horrenda perseguição que se realizou por ordem desse tirano começou em Roma perto em meados de novembro do ano 64 de nosso Senhor… Essa horrenda perseguição só cessou com a morte de Nero. O império, como se sabe bem, não foi libertado da tirania desse monstro até o ano 68, quando ele deu fim à própria vida.

Assim, temos o período em que a besta pelejou contra os santos por quase 42 meses: de novembro de 64 até junho de 68. O encaixe é relevante e notável.

A RESSURREIÇÃO DA BESTA

Chego agora à parte da revelação que, muitos acreditam, coloca um obstáculo insuperável à interpretação de Nero/Roma como a besta do século I. Ironicamente, no entanto, essa revelação confirma a visão. A revelação que tenho em mente é a que envolve a morte e a ressurreição da besta: 

Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta (Ap 13.3). 

Como posso explicar esse conceito sem declarar que Nero morreu e foi ressuscitado dos mortos? É essa a objeção fatal da posição de Nero/Roma? 

Para interpretar com correção essa visão, devemos começar recordando-nos da identidade dupla da besta: ela pode transitar entre Roma (em sentido corporativo) e o governante de Roma (em sentido individual). Isto é, a besta representa os dois: o Império Romano como uma entidade política e Nero César como líder dessa entidade. Com isso em mente, notemos que o significado transita na visão, o que permite uma correspondência fascinante com a história do século I.

Nero governou Roma de 54 d.C. até a sua morte em 9 de junho de 68 d.C. Nas últimas semanas de vida, as destrutivas guerras civis romanas eclodiram. Em desespero, Nero suicidou-se quando as forças imperiais, sob a liderança do general Galba, estavam prestes a capturá-lo. O império foi lançado em convulsões devastadoras em sentido político e social. O historiador romano Tácito lamentou esse período negro na vida de Roma no século I:

A história em que estou entrando é de um período sobejo em desastres, terrível em batalhas, destroçado por conflitos civis, horrível mesmo na paz. Quatro imperadores caíram sob a espada; houve três guerras civis, mais guerras internacionais e, de modo geral, as duas coisas ao mesmo tempo. Houve sucesso no leste e infortúnio no oeste. O Ilírico foi transtornado, as províncias da Gália vacilaram, a Bretanha se rendeu e desistiu de imediato. Os sármatas e os suevos se levantaram contra nós; os dácios ganharam fama pelas derrotas infligidas e sofridas; até os partos quase pegaram em armas pelo charlatanismo de um pretenso Nero. Ademais, a Itália foi perturbada por desastres nunca vistos ou que voltaram após o lapso das eras. Cidades dos litorais férteis e ricos da Campânia foram tragadas ou arrasadas; Roma foi devastada por conflagrações, pelas quais os santuários mais antigos foram consumidos e o próprio Capitólio incendiado pelas mãos dos cidadãos. Sítios sagrados foram profanados; houve adultérios nos lugares altos. O mar se encheu de exilados, seus penhascos se contaminaram com os corpos dos mortos. Em Roma, houve mais crueldade medonha (Hist. 1.2,3). 

Com essa guerra civil caótica abalando os fundamentos do império, o mundo testemunha “os senhores da terra habitável” (War 4.3.10) sediados na “maior de todas as cidades” (War 4.11.5) sucumbindo em horrendos espasmos mortais. Como Tácito expressou:

Essa foi a condição do Estado romano quando Sérvio Galba, eleito cônsul pela segunda vez, e seu colega Tito Vínio iniciaram o ano que era para ser o último de Galba e, para o Estado, quase o fim (Hist. 1.11; grifo adicionado).

De acordo com Josefo, a morte de Nero suspendeu até a guerra judaica com Roma, quando o poderoso general Vespasiano e seu filho Tito cessam as hostilidades:

E agora, os dois estiveram em suspense sobre os afazeres públicos, estando o Império Romano, então, em uma condição instável; e não prosseguiram com a expedição contra os judeus, mas consideraram agora inoportuno empreender qualquer ataque contra estrangeiros, considerando o cuidado com o próprio país (War 4.9.2).

Os relatórios que chegaram até o campo de batalha em Israel são tão horríveis que lemos sobre Vespasiano: 

E seu pesar foi tão violento que ele não pôde suportar os tormentos que havia sobre ele, nem a se dedicar mais em outras guerras quando a sua terra natal estava desolada (War 4.10.2).

De fato, “Roma estava próxima da ruína” (War 4.11.5), de modo que “o Estado romano estava tão enfermo… [que] cada parte da terra habitável encontrava-se em uma condição indefinida e instável” (War 7.4.2).

Assim, depois do suicídio de Nero com a própria espada, parecia para o mundo que a poderosa Roma estava morrendo. João descreveu esse fenômeno como a besta recebendo uma ferida mortal em “uma de suas cabeças” (Ap 13.3). Mas então, o que acontece?

O famoso biógrafo romano Suetônio fala da ressurreição de Roma do estado de morte: 

O império que por muito tempo esteve indefinido e, assim, arrastando-se ao longo da usurpação e da morte violenta de três imperadores, foi por fim colocado sob controle e recebeu estabilidade da família Flaviana (Vesp. 1, grifo adicionado).

Josefo expressa a mesma surpresa com respeito à resiliência de Roma: 

Portanto, com a confirmação de todo o governo de Vespasiano, agora estabelecido, e a libertação inesperada dos deveres públicos romanos da ruína, Vespasiano voltou o pensamento para os insubmissos na Judeia (War 4.11.5; grifo adicionado).

Assim, depois de um período de penosas guerras civis, o império reviveu, para a perplexidade do mundo que agora retornava ao domínio de Roma. Como João afirmou: “Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta” (Ap 13.3), dizendo: “Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela?” (Ap 13.4b).

Isso, sem dúvida e de modo notável confirma o ponto de vista que aponta para Nero/Roma.

CONCLUSÃO

Estou convencido: da mesma forma que “todos os caminhos levam a Roma” , também toda a evidência da besta leva a ela. A evidência apresenta não só uma adequação notável (mesmo onde não esperaríamos), mas uma adequação relevante: Nero vive em um período que se encaixa (Ap 1.1,3). Seu império parece surgir do mar, da perspectiva de Israel (13.1). O Império Romano possui incrível autoridade política e poderio militar (13.2,4). Nero, como a sexta cabeça de Roma, aparece em cena na cronologia dos imperadores (17.10) e apresenta o caráter de um homem bestial (13.5,6,8).

Até o nome de Nero se encaixa no misterioso número da besta (Ap 13.18). Quando a besta “peleja contra os santos” , não ficamos surpresos ao saber que Nero foi o primeiro perseguidor imperial da igreja (13.7) — e pela exata duração indicada em Apocalipse (13.5). Pode-se até aplicar o aspecto mais improvável da profecia de João a Nero e ao Império Romano: a morte e a ressurreição da besta (13.3).


 Kenneth L. Gentry Jr.  Apocalipse para leigos — você pode entender a profecia bíblica —. pg: 103 - 111

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