google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Escatologia Reformada

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

As Setenta Semanas



Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para cessar a transgressão, e para dar fim aos pecados, e para expiar a iniqüidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo. Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos. E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações. E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador. (Dn. 9:24-27).

A profecia das setenta semanas em Daniel 9 deve ser discutida brevemente por causa de sua importância fundacional para o sistema dispensacionalista de escatologia. Embora a profecia não tenha nenhuma implicação importante sobre o debate entre amilenistas e pós-milenistas, a interpretação dispensacionalista se tornou quase uma obviedade para a maioria dos evangélicos modernos. Por essa razão somente, a profecia merece a nossa atenção. A interpretação dispensacionalista dessa visão pode ser resumida da seguinte forma:

1. O versículo 24 é uma apresentação de toda a profecia. 

2. Os seis propósitos de Deus no versículo 24 serão finalmente cumpridos somente na segunda vinda de Cristo. 

3. O decreto para restaurar e reconstruir Jerusalém (v. 25) foi emitido em 445 a.C. por Artaxerxes (Neemias 2:1-8). 

4. Os sete ‘setes’ e os sessenta e dois ‘setes’, quando entendidos como 483 anos de 360 dias cada, terminam um pouco antes da morte de Cristo. 

5. Entre o fim da sexagésima nona semana e o começo da septuagésima semana, há uma lacuna de tempo indefinida, durante a qual o relógio profético é parado para Israel e a era da igreja transpirar. 

6. Toda a septuagésima semana é futura e começará quando um líder político fizer um “pacto” (aliança) com o povo de Israel. 

7. No começo da septuagésima semana, o arrebatamento de todos os crentes ocorrerá. 

8. No meio dessa septuagésima semana, o líder político suspenderá os sacrifícios num templo reconstruído, e um período de grande tribulação começará em Israel. 9. A septuagésima semana termina com a segunda vinda de Cristo. 

Tradicionalmente, a igreja tem interpretado essa passagem em Daniel como uma profecia do primeiro advento de Cristo e a destruição de Jerusalém pelos exércitos romanos. A interpretação dispensacionalista de uma “lacuna” emergiu pela primeira vez no século dezenove, para fornecer suporte para essa nova escatologia. A fim de demonstrar a verdade da interpretação tradicional e provar a inadequação da interpretação dispensacionalista, várias observações devem ser feitas:

1. As setenta semanas do versículo 24 são 490 anos. Essas setenta semanas são divididas em três períodos de tempo: sete semanas (49 anos), sessenta e duas semanas (434 anos) e uma semana (7 anos). Esses períodos de tempo foram especificados para que Daniel pudesse “conhecer e discernir” o cumprimento de tempo envolvido, assim como tinha discernido o cumprimento de tempo na profecia de Jeremias (9:2). Tal discernimento é impossível se um intervalo indefinido existe entre a sexagésima nova e septuagésima semana – especialmente quando esse intervalo, como os dispensacionalistas insistem, já é mais de quatro vezes maior que o próprio período das setenta semanas.

2. É possível que o decreto de Artaxerxes em Neemias 2 seja o decreto mencionado por Daniel no versículo 25. A despeito de se é esse decreto ou outro das opiniões sugeridas, o ponto dessa declaração é que uma quantidade específica de tempo passará entre o decreto e a vinda do Messias. 3. As seis coisas a serem realizadas durante os 490 anos (v. 24) foram todas cumpridas no primeiro século.

a. Cessar a transgressão. A rebelião pecaminosa de Israel contra Deus teve o seu clímax em sua rejeição e crucificação do Messias (Mt. 21:33-45; Atos 7:51-52). 

b. Dar fim aos pecados. Os pecados de Israel foram reservados para punição até a geração que rejeitou o Messias (Mt. 23:29-36). 

c. Expiar a iniqüidade. Isso foi cumprido na morte expiatória de Cristo (Hb. 2:17; 9:12-14, 26; 1 João 4:10). 

d. Trazer a justiça eterna. Isso foi realizado através da obra redentora de Jesus (Rm. 3:21-22). e. Selar a visão e a profecia. Os olhos e ouvidos dos judeus foram “selados” para não entender as profecias de Deus (cf. Is. 6:9-10; 29:10-11; Mt. 13:11-16; João 12:37-41). 

f. Ungir o Santíssimo. Isso foi cumprido por Cristo (um nome que significa literalmente “o Ungido”) de várias formas (cf. Lucas 4:18-19; Hb. 1:9; 9:22-28).

4. Após as sete semanas e as sessenta e duas semanas, que implicariam um tempo durante a septuagésima semana, o Messias é “cortado”. Isto é, ele sofre a pena de morte. 

5. Num ponto (não especificado) após o corte do Messias, a cidade e o santuário são destruídos. A destruição de Jerusalém (v. 26-27) no ano 70 d.C. foi uma conseqüência da rejeição e crucificação de Cristo. Daniel não diz que isso ocorre dentro da septuagésima semana. 

6. Aquele que confirma uma aliança no versículo 27 é o Messias no versículo 26. Que o antecedente de “ele” não é o “príncipe” do versículo 26 é confirmado de várias formas:

a. A palavra “príncipe” nem mesmo é o assunto da sentença no versículo 26. O assunto principal é o Messias.

b. O “fim” no versículo 26 é o “fim da destruição”, não o “seu” fim.

7. O Messias cumpriu ou confirmou as estipulações do antigo pacto, e a obra pactual de Cristo foi direcionada aos muitos (judeus fiéis) por quase exatamente sete anos, ou uma semana. Os três anos e meio do ministério de Cristo foram focados primariamente sobre os judeus (Mt. 10:5; 15:24), e por aproximadamente três anos e meio após sua morte e ressurreição, o ministério dos Seus apóstolos foi focado quase exclusivamente sobre os judeus (Atos 1:8; 2:14; Rm. 1:16; 2:10).

8. Cristo colocou um fim aos sacrifícios por seu sacrifício de uma vez por todas na cruz (Hb. 8-10; esp. 10:8, 9, 12).

9. O texto de Daniel, embora forneça uma declaração clara dos eventos que marcam o fim da sexagésima nona e o meio da septuagésima semana, não diz nada sobre um evento marcando o fim da septuagésima semana. Portanto, não é necessário encontrar tal evento na Escritura nem na história.

A profecia de Daniel 7 nos fornece um intervalo de tempo específico no qual espera a vinda do Messias e a inauguração do reino. Em Daniel 9, encontramos a vinda do Messias profetizada para o ano exato e somos informados do que deve acontecer para que as promessas do reino sejam cumpridas. O Messias vindouro seria “cortado”. Ele seria executado. Mas em Sua morte, Ele faria uma expiação pela iniqüidade e produziria justiça eterna. Tudo isso foi cumprido no primeiro advento de Cristo.

Fonte: Extraído e traduzido do excelente livro Postmillennialism: An Eschatology of Hope, Keith A. Mathison, P&R, p. 219-22.

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto

sábado, 15 de dezembro de 2018

A Grandeza da Grande Tribulação



O argumento mais sofisticado apresentado contra a interpretação preterista de Mateus 24:1-34 está contido nas palavras clássicas: "Sim, mas..." Neste caso, o "mas" é invariavelmente seguido por uma referência a Mateus 24:21-22, onde se lê:

...“Pois naquele tempo haverá uma grande tribulação, tal como não houve desde o princípio do mundo até agora, nem tornará a haver jamais. E se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma vida se salvaria. Mas, por causa dos eleitos, aqueles dias serão abreviados”.

...Vamos considerar alguns desses "Sim, mas" argumentos e, em seguida, expô-los à luz das Escrituras. Todos estes são tomadas a partir de contextos que lidam com Mateus 24:21-22.

..."Nossa tribulação é maior do que sua Tribulação"[1]

...Charles C. Ryrie argumenta: "o fato de que este período é ainda futuro será ainda mais evidente à medida que as características forem dadas... Primeiro, é um período único."[2]

...Em seguida, ele cita Mateus 24:21.

...Gleason L. Archer aponta para o nosso texto, indicando "um nível de destruição terrível e avassaladora ultrapassando tudo o que já foi visto."[3]

...Douglas Moo comenta que ela (a grande tribulação) é "o maior perigo na história do mundo."[4] Quem diria que a guerra de 70 dC foi o maior perigo na história do mundo, considerando-se simplesmente em termos de perdas humanas?

...Charles L. Feinberg fala da I e II Guerra Mundial e então pergunta: "quem pode, legitimamente, igualá-las com. . Mateus 24:21?"[5] A indicação é que se duas guerras mundiais não aplicam-se a Mateus 24:21, certamente a guerra dos judeus com Roma também não se aplica.

...David L. Turner escreve que "o estresse de natureza inigualável desse julgamento (24:21-22) não parece ter se esgotado com a destruição de 70 dC, tão grave quanto foi."[6]

...E John Walvoord adora escrever sobre a Grande Tribulação mais do que qualquer outra pessoa, e do que Hal Lindsey. Ele a chama de "tempo de angústia sem precedentes", um julgamento que "seria superior a qualquer julgamento do passado ou do futuro".[7] Na verdade, nunca "na história do mundo houve destruição da vida humana descrita aqui."[8] de fato, “as tentações e provações daquele dia seria tão graves que iriam exterminar toda a raça humana se não fosse pelo fato de sua interrupção pelo retorno de Jesus Cristo".[9]

...Interpretada literalmente, a tribulação claramente ofusca tudo o que o mundo já conheceu por meio da destruição”.[10]

...“Por onde devo começar a dizer quão grande a tribulação pode ser?”[11]

...O Senhor diz que “tal como não houve desde o princípio do mundo até agora, nem tornará a haver jamais." Sua advertência fala do perigo “nenhuma carne se salvaria”.Como podemos harmonizar estas declarações tão dramáticas ao evento de 70 dC? Por uma questão de fato, a harmonização é possível. E tal é muito mais consistente com a Escritura que o futurismo do dispensacionalismo.

O Cronograma

...Primeiro, Cristo disse "todas essas coisas" acontecerão com "Esta geração" (Mat. 24:34). E Ele disse isto no contexto da destruição do templo que estava de pé naquele momento (Mateus 23:36-24:3). Sabemos por uma questão de fato histórico indiscutível que o Templo foi destruído por Tito Augusto", em 70 dC, no cerco do Templo.[12]Quando Jesus carrega sua cruz ao Calvário Ele exorta as filhas "de Jerusalém" a chorarem por si por causa do julgamento vindouro (Lucas 23:28-31, compare Ap. 6:16). Apocalipse menciona a Grande Tribulação (Ap 7:14) em um contexto de prazo de tempo semelhante (ver: Apocalipse 1:1, 3; 22:6).

O Cenário judaico

...Em segundo lugar, devemos entender esta passagem da perscpectiva judaica na época de Cristo. A Guerra Judaica com Roma em 67-70 dC provocou a morte de dezenas de milhares de judeus na Judéia e a escravidão de milhares e milhares mais. O historiador judeu Flávio Josefo, que foi uma testemunha ocular, registrou que 1.100.000 judeus pereceram durante o cerco de Jerusalém. J. L. von Mosheim escreveu que "Através de toda a história da raça humana, nos encontramos com poucas, se houverem, instâncias de abate e devastação para serem comparadas com esta."[13]

...Mas tão terrível quando a perda de vida judaica foi, a total devastação de Jerusalém, a destruição final do templo, e a cessação conclusivo do sistema sacrificial foram ainda mais lamentados. A importancia pactual da perda do templo se destaca como o resultado mais dramático da Guerra. Assim, qualquer calamidade judaica após 70 dC diminui-se em comparação com a importancia redentiva-histórica da perda do templo.

...Josefo lamenta a destruição absoluta de Jerusalém em vários lugares, com palavras similares ao nosso Senhor: "Considerando a guerra que os judeus fizeram com os Romanos tem sido a maior de todas, não apenas de nossos dias, mas, de algum modo, de todas das quais já se ouviram” (Guerras, Prefácio, 1). “As desgraças de todos os homens, desde o princípio do mundo, se comparadas com estas dos judeus, não são tão consideradas quanto eram” (Guerras, Prefácio, 4). “Nem qualquer outra cidade já sofreu tais misérias... desde o princípio do mundo” (Guerras, 5:10:5).

A Perspectiva Divina

...Em terceiro lugar, devemos entender a importância do evento a partir da perspectiva divina. Deve ser considerado como o santo julgamento de Deus[14] pela crucificação de Seu Filho pelos judeus maus.[15] Isso fica claro na parábola da vinha, que termina:

...“Por fim, enviou-lhes o seu filho, imaginando: 'Irão poupar o meu filho'. Os vinhateiros, porém, vendo o filho, confabularam: 'Este é o herdeiro: vamos! Matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança'. Agarrando-o, lançaram-no para fora da vinha e o mataram. Pois bem, quando vier o dono da vinha, que irá fazer com esses vinhateiros?" Responderam-lhe: "Certamente destruirá de maneira horrível esses infames e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que entregarão os frutos no tempo devido". (Mt 21 :37-41).

...Veja também Lucas 19:41-44:

...“E quando chegou perto e viu a cidade, chorou sobre ela, dizendo: Ah! se tu conhecesses, ao menos neste dia, o que te poderia trazer a paz! mas agora isso está encoberto aos teus olhos. Porque dias virão sobre ti em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te apertarão de todos os lados,e te derribarão, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem; e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo da tua visitação”.

O Dilúvio de Noé

...Em quarto lugar, apenas alguns versos depois de Mateus 24:21-22, o Senhor menciona o dilúvio de Noé (vs. 38-39), que realmente destruiu o mundo inteiro, exceto uma família. Até mesmo as declarações dispensacionalistas acima veem sua Grande Tribulação longe de deixar apenas uma família viva! A linguagem de Cristo não deve ser considerada literalmente. É uma hiperbole dramática, justificada pela gravidade da situação. Nem todos os judeus foram mortos, mas sua devastação foi tal que se Deus não a tivesse abreviado[16], certamente todos de Israel teriam sido totalmente destruídos (ver. Matt. 24:22).

Linguagem profética

...Quinto, esta linguagem de evento-único de Cristo é bastante comum na terminologia da escritura profética.[17] O Antigo Testamento tem bom número de tais declarações, que apoiam nossa visão de que a linguagem é hiperbólica. Quanto à aflição da décima praga sobre o Egito, A Escritura diz:

...“Pelo que haverá grande clamor em toda a terra do Egito, como nunca houve nem haverá jamais” (Êxodo 11:6).

...De acordo com os dispensacionalistas, a Grande Tribulação afeta toda a terra e, conseqüentemente, afeta o Egito. Mas esta passagem diz que o Egito nunca mais voltará a experimentar um evento tão terrível como a décima praga! Em uma profecia a respeito do cativeiro babilônico e a destruição de Jerusalém, Deus emprega uma linguagem que lembra a de Cristo.

...“E por causa de todas as tuas abominações farei sem ti o que nunca fiz, e coisas às quais nunca mais farei semelhantes”. (Ez 5:9).

...Até mesmo os dispensacionalistas admitem que esta profecia é sobre o cativeiro da Babilônia de um passado distante![18]

...E é especificamente sobre Jerusalém, que é muito proeminente na passagem de Mateus 24. Daniel fala do cativeiro babilônico em linguagem similar.

...“E ele confirmou a sua palavra, que falou contra nós, e contra os nossos juízes que nos julgavam, trazendo sobre nós um grande mal; porquanto debaixo de todo o céu nunca se fez como se tem feito a Jerusalém”. (Daniel 9:12).

...Claramente, a linguagem de evento-unico é uma linguagem comum na literatura profética. Não é para ser considerada literalmente, como é evidente a partir de toda a evidência acima.

Conclusão

...Os relatos de Josefo são curiosos, mas nada como a própria Escritura para nos mostrar que de fato aquela tribulação aconteceu naquela geração. Os quatro evangelhos, apesar de fazerem parte do Novo Testamento, narram a vida de Jesus sob o contexto do Antigo Testamento (Gl. 4:4). Jesus era judeu, estava familiarizado com a linguagem profética (Lc. 4:16), era profeta, dirigia-se a uma audiencia judaica, e, antes de tudo, falava pelo mesmo espírito que os antigos profetas falaram. Assim, usou a mesma linguagem que Isaías, Jeremias, Ezequiel e muitos outros, os quais usaram a expressão “como nunca houve nem haverá jamais” de forma hiperbólica e não literal.[19]

Tradução/Adaptação: Paulo Tiago Moreira Gonçalves
1. Meu título para este texto é emprestado de meu livro, A Grandeza da Grande Comissão, e ....é usado com minha própria permissão. Se não acredita em mim, é ...só me perguntar.
2. Charles C. Ryria, A Base da fé pré-milenista (Neptune, NJ: Loizeaux, 1953), p. ...141.
3. Gleason L. Archer, in Archer, et s /, O Arrebatamento:. Pre, Mid, ou Pós-tribulacional?
....(Grand Rapids: Zondervan, 19S4), p. 109.
4. Douglas J. Moo, in Archer, et a. /, O Arrebatamento, p. 165.
5. Charles L. Feinbarg, Milenialismo: As duas principais visões (3 ª ed: Chicago: Moody,
....19S0), p. 167.
6. David L. Turner, "Estrutura e Seqüência de Mateus 24:1-41: interação com Tratamentos
....evangélicos,” Grace Theological Journal 10:1 (Primavera de 1989) 
...13.
7. John F. Wahmord, Manual de Conhecimento da Profecia (Wheaton, IL:...Victor.19WX. 00,521. 5s4.
8. Ibid., P. 556.
9. John F. Walvoord, As Nações, Israel e a Igreja na Profecia (3 VOL. em um:...Grand Rapida: Zondewan e 196S), 2:110.
10. Ibid., 3:129.
11. Sung to the tune of Andy Williams’ “Love Story.” Usually played in the key of...G-Whiz, at Rapture parties such as those held under host, Edgar C. Whisenant.
12. Josefo, Guerras 7:1:1.
13. John Laurence von Moeheim, Comentários Históricos sobre o Estado de...Cristianismo (New York:. Converse 1 S54). 1:125.
14. Minha compreensão do Apocalipse é que ele representa o decreto de divórcio...de Deus contra Israel (Ap 4-5), o julgamento dela tem uma mulher adúltera (Ap,...6-19), e Deus casando-se com uma nova esposa, a Igreja da Nova Aliança (Ap...20-22). Veja: Kenneth L. Gentry, Jr., Crhist Shall Have Dominion; Escatologia...Pós-milenista (Tyler, TX: Instituto para Economia cristã, em breve), cap. 17 e O...Divórcio de ISRAEL: Um Comentário sobre Apocalipse (em breve),
15. Tão enfatizado no Novo Testamento. Os judeus foram os responsáveis??: Atos...2:22-23, Atos 3:13-15, Atos 5:30; 7:52; 1 Tes. 2:14-15. eles exigiram que os...Romanos o crucificassem: Ap, 17; Mt. 20.18-19; 27:11-25, Marcos 10:33; 15:1;...Lucas 18:32; 23:1-2; João 18:28-31; 19:12, 15; Atos 3:13, Atos 4:26-27,
16. Foi limitada a três anos e meio: Primavera de 67 DC – Agosto/Setembro de 70...dC. Ver A Besta do Apocalipse (Tyler, TX: Instituto para Economia cristã, 1989).
17. Esta questão foi um ponto importante em um debate informal que tive com o...futurista pós-milenista Willard Ramsay, autor de Manhã Feliz de Sião. Se...estiver interessado, enviar R $ 5,00 por uma fita para: 124 Meadowbrook Dr.,...Mauldin, SC 29662
18. Waivoord, Manual de Conhecimento da Profecia, p. 160. Pentecostes, Venha...o Teu Reino, p. 180. Charles "Babilonia" Dyer, "Ezequiel", em Walvoord e Zuck,...Comentário do Conhecimento Bíblico: Antigo Testamento (Wheaton, IL: Victor,...1985), p. 1236.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Dois Planos Diferentes?



Assim  como  existe  somente  um  povo  escolhido  que  forma uma  única  comunidade  da  aliança,  existe  somente  um  plano divino,  caracterizado  em  Ef  2.15  como  “a  nova  humanidade” criada  por  Deus.  O  argumento  dispensacionalista  de  que  Deus propôs  um  plano  originalmente  para  Israel  e  que  depois  iniciou outro  plano,  entre  parênteses,  para  a  Igreja,  plano  esse  que terminaria  abruptamente  no  “arrebatamento”,  carece  de  base bíblica e esquece do  objetivo real do propósito  de Deus.

Em  primeiro  lugar,  ao  contrário  do  que  diz  o  argumento dispensacionalista  de  um  plano  original  de  Deus  para  Israel,  a Escritura  revela  uma  progressão  do  único  plano  divino  para estabelecer  por  meio  de  Israel  uma  nova  humanidade  (Ef  2.15) numa  nova  Pátria  (Rm  4.13;  Hb  12.18,22).  Esse  plano progressivo  começa  no  Paraíso  perdido  e  termina  no  Paraíso restaurado. 

A  imagem  bíblica  é  profunda  e  incisiva.  Adão  entra  numa vida  de  pecado  e  é  separado  do  Paraíso.  É  relegado  ao descontentamento  e  a  vagar  separado  da  comunhão  com  o Criador.  O  mesmo  capítulo  que  faz  referência  à  Queda  também registra  o  plano  divino  para  a  restauração  da  comunhão  (Gn 3.15).  O  plano  de  Deus  é  definido  como  a  promessa  de  Deus  de fazer  por  meio  de  Abraão  que  “todos  os  povos  da  terra”  sejam “abençoados”  (Gn  12.3).  O  chamado  de  Abraão,  portanto, constitui o  antídoto divino para a  Queda. 

A  promessa  de  Deus  de  que  os  filhos  de  Abraão  herdariam  a Terra  Prometida  era  um  passo  preliminar  no  plano  progressivo de  Deus  pelo  qual  Abraão  e  seus  descendentes  herdariam  “uma pátria  melhor,  isto  é,  a  pátria  celestial”  (Hb  11.16).  O  plano  é melhor  visualizado  quando  observamos  Moisés  dirigindo  os descendentes  de  Abraão  e  tirando-os  de  seus  400  anos  de escravidão  no  Egito.  Depois  peregrinaram  por  40  anos  no deserto.  Deus  habitou  em  meio  ao  povo  e  o  preparou  para  a Terra  Prometida.  Do  mesmo  modo  que  Abraão,  Moisés,  no entanto,  somente viu a  promessa de longe. 

O  plano  de  Deus  assume  uma  realidade  concreta  quando Josué  dirige  a  conquista  da  Palestina.  As  peregrinações  de Adão,  Abraão  e  Moisés  terminam  quando  Josué  estabelece  o povo  na  Terra  Prometida  (Js  21.43).  Como  diz  Josué:  “Vocês sabem,  lá  no  fundo  do  coração  e  da  alma,  que  nenhuma  das boas  promessas  que  o  SENHOR,  o  seu  Deus,  lhes  fez  deixou  de cumprir-se.  Todas  se  cumpriram;  nenhuma  delas  falhou”  (Js 23.14). 

Porém,  assim  como  Adão  caíra  no  Paraíso,  os  descendentes de  Abraão  cairiam  na  Palestina.  Portanto,  as  palavras  de  Josué em  sua  despedida  anunciaram  uma  trágica  realidade:  “Mas, assim  como  cada  uma  das  boas  promessas  do  SENHOR,  o  seu Deus,  se  cumpriu,  também  o  SENHOR  fará  cumprir-se  em vocês  todo  o  mal  com  que  os  ameaçou,  até  eliminá-los  desta boa  terra  que  lhes  deu.  Se  violarem  a  aliança  que  o  SENHOR,  o seu  Deus,  lhes  ordenou,  e  passarem  a  cultuar  outros  deuses  e  a inclinar-se  diante  deles,  a  ira  do  SENHOR  se  acenderá  contra vocês,  e  vocês  logo  desaparecerão  da  boa  terra  que  ele  lhes deu” (Js 23.15,16). 

As  “boas  promessas”  de  Deus  alcançaram  seu  apogeu  durante o  reinado  de  Salomão,  cujo  governo  cobria  a  terra  desde  o  rio  Eufrates  ao  norte  até  o  rio  do  Egito  ao  sul  (1Rs  4.20,21; compare  com  Gn  15.18),  mas  mesmo  assim  a  terra  vomitou  os israelitas  do  mesmo  modo  como  havia  feito  com  os  cananeus antes  deles.  Durante  os  exílios  assírio  e  babilônio,  as peregrinações  experimentadas  por  Adão  foram  também experimentadas pelos descendentes  de Abraão. 

No  entanto,  as  promessas  de  Deus  a  Abraão  não  seriam anuladas.  Palestina  era  somente  uma  fase  preliminar  da promessa  patriarcal.  Abraão  não  seria  somente  pai  de  uma nação,  mas  “pai  de  muitas  nações”  (Gn  17.5).  Abraão  seria “herdeiro  do  mundo”  (Rm  4.13).  O  alvo  da  promessa  não  era  a Palestina,  mas o Paraíso restaurado. 

Deus  também  prometeu  a  Abraão  uma  semente  real.  Josué dirigiu  o  povo  de  Israel  à  Terra  da  Promessa.  Um  dia  Jesus dirigirá  Seu  povo  ao  Paraíso  restaurado.  Lá  o  povo  de  Deus entrará  em  seu  descanso.  Desde  a  rebelião  de  Adão  até  a semente  real  de  Abraão,  as  Escrituras  revelam  um  único  plano de  Deus  para  a  humanidade.  Em  vez  de  uma  sobreposição  de dois  planos  divinos  causada  pela  rejeição  de  Jesus  pelos  judeus, as  Escrituras  revelam  o  cumprimento  do  plano  de  Deus  na crucificação.  Porque  somente  mediante  a  fé  na  morte  e  na ressurreição  de  Cristo  é  que  a  única  comunidade  da  aliança poderá  encontrar  o  descanso  de  suas  peregrinações  (Hb  4.1-11). Em  Cristo,  o  último  Adão  (1Co  15.45),  as  promessas  de  Deus encontram  seu  pleno  cumprimento.  Paulo  coloca  nestes  termos: “E,  se  vocês  são  de  Cristo,  são  descendência  de  Abraão  e herdeiros segundo a  promessa” (Gl 3.29). 

Assim  como  não  existe  uma  “sobreposição”  de  dois  planos divinos,  igualmente  não  existe  um  “parêntese”  nos  propósitos de  Deus.  O  argumento  dispensacionalista  de  que  existe  um parêntese  no  plano  de  Deus  para  Israel,  e  que  esse  parêntese  é  o plano  de  Deus  para  a  Igreja,  nada  mais  é  do  que  o  produto  de uma  leitura  estranha  e  fantasiosa  da  Bíblia.  O  enfoque  principal desse  dogma  dispensacionalista  encontra-se  numa  interpretação incorreta  do  livro  de  Daniel.  Tim  LaHaye  costuma  dizer:  “É impossível  compreender  a  profecia  da  Bíblia  sem  compreender o  livro  de  Daniel.  Muitas  informações  a  respeito  de  assuntos importantes e a  sequência correta  dos  últimos  dias encontram-se em  Daniel”.  Algo  que  os  dispensacionalistas  fazem questão  de  ressaltar,  por  exemplo,  são  as  “setenta  semanas”  de Daniel (Dn  9.24-27). 

De  fato,  LaHaye  criou  uma  série  de  pressupostos  a  respeito das  setenta  semanas  de  Daniel.  Ele  afirma  simplesmente  que existe  um  lapso  de  2000  anos  (!)  entre  a  semana  69  e  a  semana 70.  E  que  esse  lapso  é  o  “parêntese”  no  qual  está  inserido  o plano  de  Deus  para  a  Igreja  [41].  Finalmente,  supõe  que  a  Igreja era  “um  mistério  oculto  no  Antigo  Testamento  (Rm  16.25,26; Ef  3.2-10;  Cl  1.25-27)”  e  que  “Israel,  e  não  a  Igreja,  cumprirá seu  destino  nacional  como  uma  entidade  separada  depois  do arrebatamento e da Tribulação e durante o  milênio”.

Deveria  ser  evidente  a  todos  que  essas  invenções  não  são produto  de  uma  leitura  fiel  do  texto  bíblico,  mas  sim  o  resultado de  uma  imaginação  fértil!  A  própria  ideia  de  que  os  profetas  do Antigo  Testamento  não  viram  “o  vale  da  Igreja”  [43],  que  a Igreja  “não  existia  antes  de  seu  nascimento  em  Pentecostes”  e que  “terá  um  fim  abrupto  no  arrebatamento”  [44],  é completamente  falsa.  Os  profetas  do  Antigo  Testamento  não somente  viram  o  “vale  da  Igreja”  –  eles  anunciaram  a  Igreja! Pedro,  falando  no  Pentecoste,  disse:  “De  fato,  todos  os  profetas, de  Samuel  em  diante,  um  por  um,  falaram  e  predisseram  estes dias”  (At  3.24).  O  que  os  profetas  do  Antigo  Testamento  não viram  nem  anunciaram  foi  que  a  Igreja  teria  um  “fim  abrupto no  arrebatamento”!  Em  outras  palavras,  a  ideia  de  que  a  Igreja  é um  mero  “parêntese”  nos  planos  de  Deus  não  tem  o  menor fundamento  bíblico.

Finalmente,  assim  como  não  há  uma  sobreposição  nem  um parêntese  no  plano  de  Deus,  também  não  há  nenhum arrebatamento  pré-tribulacionista..  Durante  1900  anos,  a  ideia de  um  arrebatamento  pré-tribulacionista  foi  completamente desconhecida  pela  Igreja.  Antes  de  Darby,  os  Irmãos  de Plymouth  acreditavam  que  o  arrebatamento  e  a  Segunda  Vinda de  Cristo  eram  eventos  simultâneos.  A  invenção  inovadora  de Darby  provocou  o  nascimento  da  ideia  do  arrebatamento  da Igreja  antes  da  Tribulação.  Timothy  Weber  explica:  “Antes  de Darby,  todos  os  pré-milenistas,  inclusive  os  futuristas,  criam que  o  arrebatamento  aconteceria  no  fim  da  Tribulação,  na Segunda  Vinda  de  Cristo.  Mas  Darby  viu  o  arrebatamento  e  a Segunda  Vinda  como  dois  acontecimentos  separados.  No arrebatamento,  Cristo  viria  para  seus  santos,  e  na  Segunda Vinda  ele  viria  com  os  seus  santos.  Entre  esses  dois  eventos aconteceria a  Tribulação”. 

Antes  de  Darby  essa  ideia  nunca  havia  sido  conhecida  no corpo  de  Cristo.  Harry  Ironside,  um  dispensacionalista, desafiava  aos  que  não  aceitavam  essa  posição:  “Procurem, assim  como  eu  procurei,  as  declarações  dos  chamados  Pais  da Igreja,  nos  períodos  anteriores  e  posteriores  a  Nicéia;  os comentários  teológicos  dos  eruditos;  os  escritores  católico romanos  de  todas  as  correntes  de  pensamento;  a  literatura  da Reforma;  os  sermões  dos  puritanos;  as  obras  teológicas  da atualidade,  e  perceberão  a  notável  ausência  desse  mistério”.  Ironside,  a  quem  LaHaye  considera  como  um  de  seus “heróis”, costumava,  contraditoriamente,  também  dizer: “Quando  você  ouvir  algo  novo,  examine-o  cuidadosamente, porque pode ser um erro”.

LaHaye  seguiu  o  conselho  de  seu  “herói”  e  esforçou-se  para tentar  demonstrar  que  o  arrebatamento  pré-tribulacional  da Igreja  não  é  algo  novo.  Como  evidência,  menciona  “a emocionante  descoberta  de  uma  declaração  contida  num  sermão apocalíptico  do  século  IV,  de  Pseudo-Efraim”,  apresentada  por Grant  Jeffrey.  Jeffrey  disse  que  havia  levado  “uma  década” procurando,  mas  que  valeu  a  pena:  “O  texto  efraimita  revela uma  declaração  clara  sobre  o  retorno  pré-tribulacionista  de Cristo  para  levar  seus  santos  ao  céu  a  fim  de  que  escapem  da Tribulação”. 

Assim  como  LaHaye,  o  filósofo  e  teólogo  Norman  Geisler ficou  emocionado  com  a  descoberta  de  Grant  Jeffrey.  Para fortalecer  sua  posição  dispensacionalista  ele  menciona  uma declaração  de  Jeffrey  que  diz  que  “o  manuscrito  efraimita revela  que  a  perspectiva  pré-tribulacionista  existia  desde  o século  III”.  Sua  opinião  é  de  que  os  primeiros  Pais  da igreja  primitiva,  “tais  como  Efraim  da  Síria,  eram  abertamente pré-tribulacionistas”.  Portanto,  assim  como  LaHaye, Geisler  não  aceita  o  argumento  de  que  o  conceito  de arrebatamento  pré-tribulacionista  teve  origem  no  século  XIX. Segundo  Geisler,  quem  pensa  desse  modo  está  cometendo  um erro.  As  declarações  de  Geisler  a  esse  respeito  circulam amplamente  como  demonstração  de  autoridade  final.  Não obstante,  seguindo  a  orientação  do  Dr.  Ironside,  seria  bom “examinar  cuidadosamente”  o  sermão  efraimita  para  ver  se depois  de  uma  década  de  buscas,  os  dispensacionalistas realmente  conseguiram  encontrar  um  precedente  histórico  do arrebatamento pré-tribulacionista  anterior ao  século XIX. 

Para  começar,  é  instrutivo  perceber  que  enquanto  Norman Geisler  atribui  o  sermão  em  questão  a  “Efraim  da  Síria”,  no século  III”,  Tim  LaHaye  acredita  que  esse  sermão  pode  ser  de autoria  de  “um  certo  Pseudo-Efraim”  que  teria  escrito  “talvez entre  os  anos  565  e  627”.  Sem  importar  quem  de  fato  o escreveu  e  quando,  podemos  dizer  com  certeza  absoluta  que nenhuma  tradição  de  arrebatamento  pré-tribulacionista  se originou  nele  ou  se  desenvolveu  a  partir  dele.  Ainda  mais importante,  como  sabem  os  historiadores  e  os  teólogos  sérios, uma  simples  pesquisa  nos  escritos  de  Efraim  revela  que  ele  era pós-tribulacionista,  e  não  pré-tribulacionista.  Não  somente  isto, mas  o  próprio  sermão  apresentado  pelos  dispensacionalistas como  “evidência”  de  suas  ideias,  utiliza  claramente  a  tradição do arrebatamento pós-tribulacionista do verdadeiro Efraim. 

Na  verdade,  é  difícil  imaginar  que  alguém,  lendo  esse  sermão em  seu  contexto,  consiga  chegar  à  conclusão  de  que  Efraim  (ou Pseudo-Efraim)  estivesse  falando  de  um  arrebatamento  secreto antes  da  Tribulação,  pois  nesse  mesmo  sermão,  o  autor  enfatiza que  os  cristãos  deverão  passar  pela  Grande  Tribulação.  De  fato, o  sermão  menciona  a  necessidade  de  uma  regeneração  antes  da Tribulação,  e  não  de  um  arrebatamento  antes  da  Tribulação.

Ainda  que  a  “emocionante  descoberta”  do  sermão apocalíptico  do  século  IV  de  Efraim  (ou  Pseudo-Efraim?)  tenha seu  valor  como  uma  peça  de  retórica,  ainda  assim  não  é  lá muito  relevante  para  a  teologia  cristã.  O  problema  não  está  na autoria  do  documento,  mas  na  exegese  correta  que  é  feita  do mesmo.  No  entanto,  mais  do  que  a  exegese  correta  desse documento,  devemos  preocupar-nos  com  a  exegese  correta  dos textos  bíblicos.  Podemos  começar  com  a  Primeira  Epístola  de Paulo  aos  Tessalonicenses,  numa  passagem  muito  usada  pelos dispensacionalistas  para  “comprovar”  a  teoria  do  arrebatamento pré-tribulacionista  de  Darby.  LaHaye  afirma:  “Um  dos  eventos proféticos  mais  convincentes  da  Bíblia  é  o  arrebatamento  da Igreja.  Ele  é  ensinado  claramente  em  1Ts  4.13-18,  trecho  no qual  o  apóstolo  Paulo  nos  dá  os  melhores  detalhes  disponíveis”.

Do  mesmo  modo  que  a  exegese  do  texto  efraimita,  uma exegese  de  1Ts  4  mostra  que  Paulo  não  está  pensando  num arrebatamento  pré-tribulacionista.  A  mensagem  de  Paulo  referese  à  gloriosa  esperança  da  ressurreição,  e  não  num  novo  ensino a  respeito  de  uma  vinda  secreta  de  Cristo,  na  qual  Ele  arrebatará a  Igreja.  Como  todo  erudito  bíblico  sabe,  o  ensino  de  Paulo  em 1Ts  4  é  paralelo  ao  seu  ensino  em  1Co  15.  Ambos  textos  tratam da  bendita  esperança  de  que  o  fim  ocorrerá  quando  Cristo voltar.  Ele  entregará  o  Reino  a  Deus  Pai  depois  de  ter  destruído todo  domínio,  autoridade  e  poder.  Quando  soe  a  trombeta, estaremos com  o Senhor para sempre. 

O  texto  não  diz  em  nenhum  lugar  que  quando  Cristo  vier  do céu  “com  a  voz  do  arcanjo  e  o  ressoar  da  trombeta  de  Deus” (1Ts  4.16),  Ele  se  deterá  no  meio  do  caminho,  mudará  de direção  e  nos  levará  consigo  às  mansões  celestiais,  enquanto  a terra  mergulha  no  caos.  Os  tessalonicenses  também  não entenderam  desse  modo.  O  Dr.  N.  T.  Wright  observa:  “Paulo apresenta  a  imagem  de  um  imperador  que  está  visitando  uma província.  Os  cidadãos  saem  ao  seu  encontro  em  campo  aberto e  o  escoltam  até  a  cidade.  A  imagem  de  Paulo  do  povo  ‘se reunindo  com  o  Senhor  nos  ares’  deve  ser  lida  assumindo-se que  o  povo  imediatamente  voltará  com  o  Senhor  para  um mundo novo”.

Além  disso,  existe  pouca  justificativa  para  supor  que  a  ideia do arrebatamento pré-tribulacionista se  baseia  numa “correspondência”  entre  o  ensino  de  Cristo  em  Jo  14.1-3  e  o ensino  de  Paulo  em  1Ts  4.13-18.  Ou  seja,  LaHaye  erra  mais uma  vez  ao  utilizar  as  palavras  do  Salvador  (“Não  se  perturbe  o coração  de  vocês.  Creiam  em  Deus;  creiam  também  em  mim. Na  casa  de  meu  Pai  há  muitos  aposentos;  se  não  fosse  assim,  eu lhes  teria  dito.  Vou  preparar-lhes  lugar.  E  se  eu  for  e  lhes preparar  lugar,  voltarei  e  os  levarei  para  mim,  para  que  vocês estejam  onde  eu  estiver”)  pretendendo  que  elas  sejam  o primeiro  ensino  sobre  o  “arrebatamento  pré-tribulacionista”  nas Escrituras.

Ver  desse  modo  toda  uma  cosmovisão  em  Jo  14  e  1Ts  4 segundo  a  qual  duas  terças  partes  do  povo  judeu  serão erradicadas  num  massacre  enquanto  o  povo  de  Jesus  descansa despreocupadamente  em  mansões  celestiais  é,  para  dizer  o mínimo,  uma  imposição  preocupante  de  uma  eisegese  insana, que  tem  contaminado  muitíssimos  evangélicos.  A  imagem  do Paraíso  de  Paulo  ou  a  metáfora  das  mansões  celestiais  de  Cristo não  foram  apresentadas  para  significar  um  refúgio  temporário no  céu  enquanto  a  terra  experimenta  um  holocausto  de  sete anos.  Antes,  representam  a  imagem  gloriosa  de  “um  novo  céu  e uma  nova  terra”  nos  quais  “não  haverá  mais  morte,  nem tristeza,  nem  choro,  nem  dor,  pois  a  antiga  ordem  já  passou” (Ap 21.4). 

Hank  Hanegraaff. Desmascarando o Dogma Dispensacionalista. Traduzido  e  Adaptado  por  F.V.S. pg: 18-26

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Dois Povos Diferentes?



Começaremos pelo coração do dogma dispensacionalista, que afirma que Deus tem dois povos diferentes, sendo que um deles será arrebatado antes de Deus continuar seu plano em relação ao outro. As Escrituras revelam que Deus tem dois povos distintos? Ou revela que há um só povo escolhido, que forma uma comunidade pactual?

Em vez de afirmar que Deus tem dois povos diferentes, a Escritura revela, do princípio ao fim, que somente há um povo escolhido, comprado “de toda raça, língua, povo e nação” (Ap 5.9). Como Paulo afirma: “os gentios são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e co-participantes da promessa em Cristo Jesus” (Ef 3.6).

Além disso, a mesma terminologia utilizada para descrever o povo de Israel no Antigo Testamento é utilizada para descrever a Igreja no Novo Testamento. Pedro chama esse único povo escolhido de “geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus” (1Pe 2.9). Esse é o povo escolhido de Deus, a geração eleita, não em virtude de uma descendência física de Abraão, mas em virtude de uma relação genuína com “a pedra viva – rejeitada pelos homens, mas escolhida por Deus e preciosa para ele” (1Pe 2.4). A verdadeira Igreja é o verdadeiro Israel, e o verdadeiro Israel é a verdadeira Igreja.

E mais: assim como o Antigo e o Novo Testamento revelam um só povo escolhido, também revelam que esse povo escolhido forma uma só comunidade da aliança. Ainda que essa única comunidade da aliança encontra-se fisicamente ligada à semente de Abraão, cujo número seria como o das “estrelas” no céu (Gn 15.5) ou como o “pó da terra” (Gn 13.16), ela fundamenta-se espiritualmente numa descendência singular, única – ou seja, num descendente individual. Paulo explica em sua epístola aos Gálatas: “as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. A Escritura não diz: ‘E aos seus descendentes’, como se falando de muitos, mas: ‘Ao seu descendente’, dando a entender que se trata de um só, isto é, Cristo” (Gl 3.16). Paulo continua explicando: “E se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3.29).

Afirmar que Israel deve “cumprir seu destino nacional como uma entidade separada depois do arrebatamento e da Tribulação durante o milênio” é uma afronta ao único descendente no qual todas as promessas feitas a Abraão foram cumpridas. Como disse Keith Mathison: “As promessas feitas aos israelitas, literalmente falando, foram cumpridas por um israelita literal, Jesus, o Messias. Ele é o descendente (‘a semente’) de Abraão”. O remanescente fiel de Israel do Antigo Testamento e do Cristianismo do Novo Testamento unem-se numa descendência genuína de Abraão, tornando-se seus herdeiros segundo a promessa. Esse remanescente não foi escolhido pela religião ou pela raça, mas pela sua relação com o Redentor ressurreto. Revestidos de Cristo, homens, mulheres, “de toda tribo, língua e nação”, formam uma única comunidade da aliança.

Finalmente, esse único povo escolhido por Deus, que forma a comunidade da aliança, é belamente representado em Romanos como uma oliveira cultivada (Rm 11.11-24). A árvore simboliza o Israel nacional, os ramos simbolizam os que creem, e suas raízes simbolizam Jesus, “a Raiz e o Descendente de Davi” (Ap 22.16). Os ramos naturais que foram cortados representam os judeus que rejeitaram Jesus. Os ramos de oliveira brava que foram enxertados representam os gentios que receberam Jesus. Por isso, Paulo diz: “Pois nem todos os descendentes de Israel são Israel. Nem por serem descendentes de Abraão passaram todos a ser filhos de Abraão. Ao contrário: ‘Por meio de Isaque a sua descendência será considerada’. Noutras palavras, não são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são considerados descendência de Abraão” (Rm 9.6-8).

Jesus é o único Descendente genuíno de Abraão. E todos os que estão revestidos de Cristo formam uma comunidade da aliança escolhida e unida em Cristo. Portanto, “não há judeu nem grego [nem árabe nem chinês, nem norteamericano nem africano, nem australiano nem brasileiro, etc], nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vocês são um em Cristo Jesus. E se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3.28,29). Estas palavras de Paulo são o epitáfio no túmulo do dispensacionalismo!

Portanto, a Bíblia simplesmente contradiz o ensino dispensacionalista de que Deus possui dois povos distintos. E se Deus sempre teve um único povo, o dogma dispensacionalista é esmagado pelo peso das Escrituras.


Hank Hanegraaff. Desmascarando o Dogma Dispensacionalista. Traduzido e Adaptado por F.V.S. Revista Última Chamada. pg: 16-18









sábado, 24 de novembro de 2018

A Origem do ensino de um Arrebatamento Pré-Tribulacional



Sempre que o cristão encontra uma doutrina que não foi ensinada por alguém de qualquer ramo da igreja de Cristo durante os dezoito séculos passados, ele deveria ter muita suspeita de tal ensino. Esse fato em e por si mesmo não prova que o novo ensino é falso. Mas, deveria definitivamente levantar suspeitas, pois se algo é ensinado na Escritura, não é absurdo esperar que ao menos uns poucos teólogos e exegetas tenham descoberto isso antes. O ensino de um arrebatamento secreto pré-tribulacional é uma doutrina que nunca existiu antes de 1830. O arrebatamento pré-tribulacional veio à existência mediante uma exegese cuidadosa da Escritura? Não! A primeira pessoa a ensinar a doutrina foi uma jovem chamada Margaret Macdonald. Margaret não era teóloga nem expositora bíblica, mas uma profetiza da seita Irvingita2 (a Igreja Católica Apostólica). O jornalista cristão Dave MacPherson escreveu um livro sobre o assunto da origem do arrebatamento secreto. Ele escreve: “Temos visto que uma jovem escocesa chamada Margaret Macdonald teve uma revelação particular em Port Glasgow, Escócia, no começo de 1830, de que um grupo seleto de cristãos seria capturado para encontrar Cristo nos ares, antes dos dias do Anticristo. Uma testemunha ocular, Robert Norton M.D., preservou o relato escrito a mão por ela da sua revelação de um arrebatamento pré-tribulacional em dois de seus livros, e disse que foi a primeira vez que alguém dividiu a segunda vinda em duas partes ou estágios distintos. Seus escritos, juntamente com muitas outras literaturas da Igreja Católica Apostólica, ficaram escondidos por muitas décadas do pensamento evangélico dominante, e apenas recentemente reapareceram. As visões de Margaret eram bem conhecidas por aqueles que visitavam sua casa, entre eles John Darby dos Irmãos. Dentro de poucos meses sua concepção profética distintiva foi refletida na edição de setembro de 1830 do The Morning Watch3 e na primeira assembléia dos Irmãos em Plymouth, Inglaterra. Os primeiros discípulos da interpretação pré-tribulacionista freqüentemente a chamavam de uma nova doutrina”.

John Nelson Darby (1800-1882), que foi o líder do movimento Irmãos e “pai do Dispensacionalismo moderno”, tomou o novo ensino de Margaret Macdonald sobre o arrebatamento, fez algumas mudanças (ela ensinava um arrebatamento parcial de crentes, enquanto ele ensinava que todos os crentes seriam arrebatados) e incorporou-o em seu entendimento dispensacionalista da Escritura e profecia. Darby gastaria o resto de sua vida falando, escrevendo e viajando para espalhar a nova teoria do arrebatamento. Os Irmãos de Plymouth admitiam abertamente e até mesmo se orgulhavam do fato que entre os seus ensinos estavam alguns totalmente novos, que nunca tinham sido ensinados pelos pais da igreja, escolásticos medievais, reformadores protestantes e muitos outros comentaristas.

O maior responsável pela ampla aceitação do pré-tribulacionismo e dispensacionalismo entre os evangélicos foi Cyrus Ingerson Scofield (18431921). C. I. Scofield publicou sua Bíblia de Referência Scofield em 1909. Essa Bíblia, que expunha as doutrinas de Darby em suas notas, se tornou muito popular em círculos fundamentalistas. Na mente de muitos – professores da Bíblia, pastores fundamentalistas e multidões de cristãos professos – as notas de Scofield eram praticamente igualadas à própria palavra de Deus. Se uma pessoa não aderia ao esquema dispensacionalista e pré-tribulacional, ele ou ela seria quase que automaticamente rotulado de modernista.

Hoje existe uma abundância de livros advogando a teoria do arrebatamento pré-tribulacional e o entendimento dispensacionalista dos fins dos tempos. Dado o fato que entre os cristãos professos o arrebatamento prétribulacional ainda é freneticamente popular, uma comparação dessa teoria com o ensino bíblico está justificado. Veremos que os argumentos típicos oferecidos em favor dessa teoria estão em conflito com a Bíblia.

Fonte: Extraído e traduzido do livreto “Is the Pretribulation Rapture Biblical?”, de Brian Schwertley.

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto











quinta-feira, 22 de novembro de 2018

As Duas Testemunhas



A verdadeira Igreja é agora representada pelo símbolo das duas testemunhas. Essas testemunhas simbolizam a Igreja militante dando testemunho por meio dos seus ministros e missionários ao longo de toda a presente dispensação. O fato de que são duas testemunhas enfatiza a tarefa missionária da Igreja (cf. Lc 10:1). O Senhor envia seus missionários dois a dois; o que falta a um o outro supre. Agora, a Igreja como organização, funcionando por meio de seus ministros e missionários, desenvolverá seu trabalho por 1.260 dias.

Esse é o período que se estende do momento da ascensão de Cristo até quase o dia do juízo final (cf. Ap 12:5,6,14). Trata-se, sem dúvida, do equivalente exato de 42 meses, pois 42 vezes 30 é 1.260 – e de “um tempo, tempos e metade de um tempo”, que são três anos e meio (Ap 12:14). É o período de aflições, a presente era do evangelho. Pode surgir a questão: Por que esse período é agora expresso em termos de meses (verso 2), depois em termos de dias (verso 3)? Aqui a nossa resposta é uma suposição: no verso 2 temos a figura de uma cidade sendo sitiada e, finalmente, tomada e pisoteada. A duração do sítio de uma cidade é geralmente expressa em termos de meses. No verso 3, entretanto, as duas testemunhas são descritas profetizando; essa é uma atividade diária. Elas testemunham a cada dia, pela dispensação inteira. Elas pregam o arrependimento, razão pela qual se vestem de saco.

Para que tenhamos uma visão nítida da figura da Igreja como uma poderosa organização missionária por toda a presente era do evangelho, ela é aqui descrita num quádruplo simbolismo.

Primeiro, assim como “as duas oliveiras e os dois candeeiros”, Josué e Zorobabel (?) (cf. Zc 4), representavam os ofícios pelos quais Deus abençoou Israel, assim durante a era do evangelho ele abençoa sua Igreja por meio de ofícios, a saber, a pregação da Palavra e o ministério de sacramentos.

Segundo, tal como os missionários saíram dois a dois (Lc 10:1), assim através da era do evangelho a Igreja, como uma organização, cumpre sua missão no mundo.

Terceiro, assim como o fogo do julgamento e da condenação saiu da boca de Jeremias para devorar os inimigos de Deus (Jr 5:14), assim também quando a Igreja de hoje, por meio dos seus ofícios, condena o ímpio, com base na Palavra de Deus, essa condenação realmente resulta em sua destruição (Mt 18:18).

Quarto, tal como Elias recebeu poder para fechar os céus de modo que não chovesse (1ºRs 17:1), e tal como Moisés recebeu autoridade para tornar as águas em sangue (Ex 7:20), também assim o poderoso ministério da Igreja desta presente época, no caso de sua mensagem ser rejeitada, tem de julgar e condenar o mundo.

Esse poder não é imaginário, mas muito real. O Senhor não apenas derrama desgraças sobre o mundo iníquo em resposta às orações dos santos perseguidos (8:3-5), mas também assegura à Igreja que, sempre que ela estiver engajada no ofício oficial da Palavra e verdadeira diante do mundo, seus julgamentos serão os seus julgamentos (Mt 16:19; 18:18,19; Jo 20:21-23).

Na verdade, num sentido moral, a Igreja ainda golpeia a terra com cada praga! O mundo iníquo deveria ser cauteloso, pois se alguém está firmemente determinado a prejudicar a Igreja, contra ele sai o fogo da boca das testemunhas de Deus.

Se alguém pretender [1] causar dano aos verdadeiros ministros e missionários, será igualmente destruído (verso 5).

Esta era do evangelho, contudo, chegará ao final (cf. Mt 24:14). A Igreja, como poderosa organização missionária, findará seu testemunho. A besta que sobe do abismo, isto é, o mundo anticristão, movido pelo inferno, pelejará contra a Igreja e a destruirá. Esta é a batalha do Armagedom. A besta não marará todos os crentes. Haverá crentes na terra quando Cristo voltar, embora sejam um pequeno número (Lc 18:8). Mas a Igreja, como poderosa organização missionária e para a disseminação do evangelho e o ministério da Palavra, será destruída. Como ilustração, pense na condição do comunismo na China no presente tempo; certamente, há crentes sinceros ali, mas e quanto à proclamação poderosa, oficial, aberta e pública e à disseminação do evangelho? E não é essa a condição que se espalha em outros países? Assim, logo antes da segunda vinda, o cadáver da Igreja, cujo testemunho oficial e público foi silenciado e sufocado pelo mundo, está tombado na praça da grande cidade. Esta é a praça da Jerusalém imoral e anticristã. Jerusalém crucificou o Senhor. Por causa de sua imoralidade e perseguição dos santos ela se tornou, espiritualmente, como Sodoma e Egito (cf. Is 1:10; 3:9; Jr 23:14; Ez 16:46). Tornou-se símbolo da Babilônia e da totalidade do mundo imoral e anticristão. Assim, quando lemos que o cadáver da Igreja está jogado na praça da grande cidade, [2] isso quer dizer, simplesmente, que a Igreja está morta no meio do mundo: ela não mais existe como instituição de influência e de poder missionário! Seus líderes foram mortos; sua voz foi silenciada. Essa condição dura três dias e meio, o que é um breve período (Mt 24:22; cf. Ap 20:7-9). O mundo nem mesmo permite que os corpos das testemunhas sejam enterrados. Esses corpos estão jogados nas praças, expostos aos insetos, aves e cães. O mundo faz um grande piquenique: ele celebra! As pessoas enviam presentes umas às outras e tripudiam sobre as testemunhas (cf. Et 9:22).
Sua palavra não os atormenta mais. Mundo estulto! Sua alegria é prematura.

Os cadáveres, de repente, começam a se mexer; o fôlego de vida de Deus entrou neles; as testemunhas se põem em pé. Em conexão com a segunda vinda de Cristo a Igreja é restaurada à vida, à honra, ao poder, à influência. Para o mundo, a hora da oportunidade se foi. No dia do juízo, quando o mundo verá a Igreja restaurada à honra e à glória, o mundo ficará paralisado de medo. A Igreja – ainda sob o simbolismo das duas testemunhas – agora ouve a voz: “Subi para aqui”. Imediatamente a Igreja ascende ao céu numa nuvem de glória. “E seus inimigos a contemplaram.” Não se trata de um arrebatamento secreto.

Agora, outra vez dirigimos nossa atenção para o mundo iníquo. Conquanto o resumo da História da Igreja tenha nos levado para o dia do juízo e alem dele, retornemos para os eventos que ocorrem pouco antes desse dia final. Como todos esses eventos se agrupam em torno da segunda vinda, é evidente que a expressão “naquela hora” não nos impede de fazê-lo. Na visão, o apóstolo vê que a terra está tremendo. Temos aqui a mesma figura de 6:12. Um terremoto imediatamente precede o juízo final. Já cai uma décima parte da cidade; em outras palavras, a obra da destruição começa. Tão terrível é o terremoto que mata sete mil pessoas. Este é, provavelmente, uma representação simbólica dos acontecimentos alarmantes nas vésperas do juízo final. O número sete mil não deve ser tomado literalmente; ele fala do número completo dos que são destinados à destruição pelo terremoto. Nem todos os iníquos serão destruídos. Aqueles que permanecem vivos ficam aterrorizados e “dão glória ao Deus do céu”. Isso, é claro, não significa que se converteram. Longe disso! Estão, simplesmente, chocados de terror. O Rei Nabucodonosor, em seus dias, muitas vezes glorificou o Deus do céu (Dn 2:47; 3:28; 4:1ss.; 4:34; 4:37). Mas isso não implica que ele era um homem convertido.

Agora tudo está pronto para o juízo final; pois, a despeito de todas as trombetas de advertência, o mundo permaneceu impenitente e, além disso, rejeitou o testemunho das duas testemunhas – a Igreja como uma organização – e as matou (verso 7). Portanto, agora o ajuste final deve ocorrer. Assim, lemos: “Passou o segundo ai, vem aí o terceiro ai”.

[1] Note a diferença nas duas formas verbais no original.
[2] O termo “grande cidade” sempre se refere à Babilônia e jamais à Nova e Santa Jerusalém.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Argumentos a favor do Amilenismo



1. Quando olhamos para a totalidade da Bíblia, somente uma passagem (Apocalipse 20:1-6) parece ensinar o reino milenar terreno e futuro de Cristo, e essa passagem em si mesma é obscura. Não é sábio basear tão importante doutrina em uma passagem de interpretação incerta e amplamente controvertida.

Mas, como os amilenistas entendem Apocalipse 20:1-6? A interpretação amilenista vê essa passagem como referindo-se à presente era da igreja. A passagem é esta:

E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos. Lançou-o no abismo, o qual fechou e selou sobre ele, para que não enganasse mais as nações até que os mil anos se completassem. Depois disto é necessário que ele seja solto por um pouco de tempo. Então vi uns tronos; e aos que se assentaram sobre eles foi dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus, e que não adoraram a besta nem a sua imagem, e não receberam o sinal na fronte nem nas mãos; e reviveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se completassem. Esta é a primeira ressurreição.Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele durante os mil anos.

De acordo com a interpretação amilenista [1], a prisão de Satanás nos versículos 1 e 2 é a prisão que ocorreu durante o ministério terreno de Jesus. Ele falou sobre amarrar o valente a fim de poder saquear a casa (Mateus 12:29 - “Ou, como pode alguém entrar na casa do valente, e roubar-lhe os bens, se primeiro não amarrar o valente? e então lhe saquear a casa”) e disse que o Espírito de Deus estava presente naquele tempo em poder para triunfar sobre as forças demoníacas: “Mas se é pelo Espírito de Deus que eu expulso demônios, então chegou a vocês o Reino de Deus” (Mateus 12:28). Semelhantemente, com respeito à destruição do poder de Satanás, Jesus disse durante o Seu ministério: "Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago” (Lucas 10:18).

O amilenista argumenta que essa prisão de Satanás em Apocalipse 20:1-3 tem um propósito específico: “para assim impedi-lo de enganar as nações” (v. 3). Isso, então, é o que aconteceu quando Jesus veio e o evangelho começou a ser proclamado não simplesmente aos judeus, mas, após o Pentecoste, a todas as nações do mundo. De fato, a atividade missionária mundial da igreja e a presença da igreja na maioria das nações do mundo ou em todas elas mostra que o poder que Satanás tinha no Antigo Testamento de “enganar as nações” e mantê-las nas trevas acabou.

Na visão amilenista, argumenta-se que, como João viu as “almas” e não os corpos físicos no versículo 4, essa cena deve estar ocorrendo no céu. Quando o texto diz que “eles ressuscitaram”, não quer dizer que ressuscitaram fisicamente. Isso possivelmente significa que eles simplesmente “viveram”, já que o verbo no aoristo ezesan pode facilmente ser interpretado como a afirmação de um evento que ocorreu por um longo período de tempo. Alguns intérpretes amilenistas, no entanto, tomam o verbo ezesan como significando que “eles vieram à vida” no sentido de vir a uma existência celestial na presença de Cristo e começar a reinar com Ele do céu.

Conforme essa visão, a expressão “primeira ressurreição” (v. 5) refere-se a ir para o céu para estar com o Senhor. Essa não é uma ressurreição corporal, mas uma ida à presença do Senhor no céu. De modo semelhante, quando o versículo 5 diz que “o restante dos mortos não voltou a viver até se completarem os mil anos”, isso é entendido como se eles não tivessem vindo à presença de Deus para juízo até o final dos mil anos. Assim, tanto no versículo 4 quanto no 5, a expressão “voltou a viver” significa ir para a presença de Deus. (Outra posição amilenista da “primeira ressurreição” é a que se refere à ressurreição de Cristo e à participação dos crentes na ressurreição de Cristo por meio da união com Ele).

2. O segundo argumento muitas vezes propostos em favor do amilenismo é o fato de que a Escritura ensina somente uma ressurreição, tanto os crentes como os descrentes serão levantados da morte, não duas ressurreições (a ressurreição de crentes antes de o milênio começar e a ressurreição de descrentes para o juízo após o fim do milênio). Esse é uma argumento importante, porque a posição pré-milenista requer duas ressurreições separada por um período de mil anos.

Evidência a favor de uma única ressurreição é encontrada em versículos como João 5:28-29, nos quais Jesus diz: “Não fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados”. Aqui Jesus fala de uma única “hora” em que tantos crentes como descrentes mortos sairão de suas tumbas (ver também Daniel 12:2; Atos 24:15).

“E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno” (Daniel 12:2)

“Tendo esperança em Deus, como estes mesmos também esperam, de que há de haver ressurreição tanto dos justos como dos injustos” (Atos 24:15)

3. A idéia de crentes glorificados e de pecadores vivendo na terra juntos é muito difícil de aceitar. Berkhof diz: “É impossível entender como uma parte da velha terra e da humanidade pecadora poderá coexistir com uma parte da nova terra e de uma humanidade já glorificada. Como poderão os santos em corpos glorificados ter comunhão com pecadores na carne? Como poderão os santos glorificados viver nesta atmosfera sobrecarregada de pecado e em cenário de morte e decadência?” [2].

4. Se Cristo vem em glória para reinar sobre a terra, então como as pessoas ainda poderiam persistir no pecado? Uma vez que Jesus esteja realmente presente em Seu corpo ressurreto e reinando como rei sobre a terra, não parece altamente improvável que pessoas ainda O rejeitem e que o mal e a rebelião ainda cresçam na terra até o ponto de finalmente Satanás reunir as nações para a batalha contra Cristo?

5. Em conclusão, os amilenistas dizem que a Escritura parece indicar que todos os eventos mais importantes que ainda estão por acontecer antes do estado eterno ocorrerão de uma só vez. Cristo vai retornar, haverá uma só ressurreição de crentes e descrentes, o juízo final acontecerá, e o novo céu e a nova terra serão estabelecidos. Então, entraremos imediatamente para o estado eterno, sem qualquer milênio futuro.

NOTAS:

[1] - Aqui estou seguindo amplamente a excelente discussão de Anthony A. Hoekema, na obra Milênio: significado e interpretações, Robert G. Clouse, org. (Editora Cultura Cristã), p. 141-170.

[2] - Teologia Sistemática, p. 658.

Fonte: Wayne Grudem, Teologia Sistemática, Editora Vida.