google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Escatologia Reformada

segunda-feira, 22 de julho de 2019

O literalismo dispensacionalistas e suas inconsistências



O literalismo produz muitos equívocos de interpretação, por exemplo, Nicodemos, por conta do literalismo, não entendeu a linguagem figurada de Jesus, concluindo equivocadamente que nascer de novo era o mesmo que voltar ao ventre de sua mãe (Jo 3:4). E a mulher samaritana errou em interpretar literalmente a seguinte frase de Jesus “aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede”. Tanto que ela chegou a pedir para beber desta água para não precisar voltar a buscar água naquele poço (João 4:10-15). E os líderes judeus não entenderam a linguagem figurada de Jesus que falou do seu corpo como sendo templo e quiseram matar a Jesus por conta de sua errônea interpretação literal (Jo 2:21 e Mt 26:61). 

O literalismo levou os dispensacionalistas a fazerem uma separação tão radical entre Israel e Igreja, chegando ao ponto de negarem que o Sermão do Monte seja uma mensagem de Cristo para os cristãos, alegando tratar-se de uma mensagem apenas voltada aos judeus. (Vide notas da Bíblia dispensacionalista de Estudo Scofield). No entanto, o Novo Testamento aplica a Igreja aquilo que o Antigo Testamento exclusivamente diz a respeito de Israel: “vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus… vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus…” (1Pe2.9-10; Tt 2:14; Ap 1.6; 5.10; cp. Êx 19:5-6; Dt 14:2; Is 43:20).

Os dispensacionalistas seguem a mesma hermenêutica literalista que levou os fariseus a rejeitarem a Cristo, pois esperavam um rei político que os liderasse numa guerra contra o Império Romano, restaurando seu reino terreno, e não um rei pacífico e espiritual, cujo reino não é deste mundo. 

Agora, ao contrário do que alegam, os dispensacionalistas não são nada consistentes em sua proposta de interpretação literal das Escrituras Sagradas. Por exemplo:

1. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente as afirmações de Jesus sobre Satanás já ter sido amarrado (Mt 12.29), já ter caído do céu como um relâmpago (Lc 10.17) e que já havia chegado a hora dele ser expulso (Jo 12.31). 

2. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente a estupenda declaração de Jesus: “certamente é chegado o reino de Deus sobre vós” (Mt 12.28); simplesmente porque isto contradiz sua crença de que o reino foi adiado por conta da rejeição de Israel. 

3. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente a seguintes declarações de Jesus sobre seu reino não ser deste mundo e nem se manifestar com visível aparência: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (Jo 18.36); “Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós.” (Lc 17.20–21), os dispensacionalista preferem contrariar o claro ensino de Cristo, do que abandonarem sua ideia de ver estabelecido um reino milenar aqui na terra em termos físicos e literais.

4. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente as parábolas que ensinam que o Reino de Deus se manifesta no mundo de maneira discreta como um grão de mostarda e que vai crescendo de modo paulatino e que se defronta sempre com o inimigo que se apresenta em forma de pássaro ou daquele que planta o joio no meio do trigo (Mt 13).

5. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente as seguintes declarações de Jesus: “sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” Mt 16.18); e “é necessário que primeiro o evangelho seja pregado a todas as nações” (Mc 13.10), pois eles ensinam que o arrebatamento sempre foi iminente, podendo ter acontecido e acontecer a qualquer momento, mesmo antes do sucesso da Igreja em fazer discípulos de todas as nações, mesmo antes do cumprimento da profecia de que o Evangelho precisa necessariamente ser pregado para testemunho a todas as nações antes do fim. 

6. Os dispensacionalista não interpretam literalmente a profecia das Setenta Semanas de Daniel, pois dizem que ela não se cumpriu em 490 anos na vinda de Cristo, sua morte e, no consequente destruição de Jerusalém e do templo, ensinando, ao contrário, que há um intervalo de dois mil anos ou mais no seu cumprimento profético quando não existe nada naquela profecia que sequer sugira algo assim.

7. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente a profecia de Daniel 2, pois negam que Cristo tenha inaugurado seu Reino nos dias do Império Romano conforme esclarece Daniel: “nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre, como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro. O Grande Deus fez saber ao rei o que há de ser futuramente. Certo é o sonho, e fiel, a sua interpretação.” (Dn 2.44–45).

8. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente o ensino de Jesus quanto a necessidade de vigiar para não ser pego de surpresa pela Vinda do Senhor que porá fim a oportunidade de salvação (Mt 24.14 e 37; 25.1-13; Mc 13.33), pois, contrariamente, ensinam que será possível haver salvação depois do arrebatamento.

9. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente 2 Tessalonicenses 2, que ensina que “a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e a nossa reunião com ele”(2Ts 2.1), que sabemos se dará com o arrebatamento, “não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus, ou objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus.” (2Ts 2.3b,4). Isto porque a interpretação literal deste texto levaria necessariamente a negação do ensino pré-tribulacionista que ensina que a manifestação do Iníquo somente acontecerá após o arrebatamento da Igreja. 

10. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente as diversas passagens bíblicas que ensinam que a Igreja passa pela Grande Tribulação (Ap 1.9; 2.3-13; 6.9s; 7.9-17; 11.1-10; 12.11, 17; 13.7,8; 14.1-5,13). 

11. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente os textos que claramente ensinam que o juízo final dos incrédulos irá ocorrer com a Segunda-vinda (Dn 12.2; Mt 25.31-34).

12. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente as palavras de Tiago no encerramento do concílio de Jerusalém, onde ele vê a conversão dos gentios para fazerem parte da Igreja como o cumprimento da profecia a respeito da reedificação do tabernáculo caído de Davi. (At 15.14–19). 

13. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente a afirmação de Paulo que diz que a morte, o último inimigo, será destruída e tragada pela vitória na Segunda-vinda de Cristo (1Co 15.54), pois eles ensinam que, mesmo depois da Segunda Vinda de Cristo, haverá morte e rebelião na terra no milênio. 

14. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente quando Jesus diz que os redimidos ressuscitarão no "último dia” (Jo 6.40), eles afirmam que Jesus quis dizer mil e sete anos antes do último dia. Porque o dispensacionalismo ensina que a ressurreição dos que morreram em Cristo acontecerá antes do Início da Grande Tribulação que, segundo eles, durará 7 anos. Ainda segundo este ponto de vista, haveria um segundo momento de ressurreição de pessoas que se converteram e morreram durante o período da Grande Tribulação, ressurreição esta que se daria por ocasião da Segunda-Vinda de Cristo. Mas este ainda não seria o último dia, visto que eles ensinam que depois disto ainda haveria um período de mil anos de história sobre a face da terra. Por isto é que os dispensacionalistas precisam interpretar último dia de maneira bem figurada. Para eles existem múltiplos "ultimo dia". 

15. Os dispensacionalistas também não interpretam literalmente o texto em que Jesus diz que chegará "a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados” (João 5:28,29), eles negam o sentido normal do texto, alegando que ao dizer "a hora”, Jesus teria intencionado dizer pelo menos tres horas ou momentos distintas separadas por sete anos e mais outros mil anos. Além de tamanho disparate, eles ensinam também que, quando Jesus diz que naquela hora todos ressuscitarão, que não é bem assim, dizem que não devemos interpretar “todos” de maneira literal, pois, para eles, “todos" não significam todos, mas uns agora e outros depois e outros mais tarde ainda. 

16. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente o texto em que Jesus diz que o sumo-sacerdote e seus comparsas ali presentes o veriam vindo sobre as nuvens do céu (Mt 26:63-64), pois segundo a sua cronologia escatológica, os perdidos não ressuscitarão na Segunda-Vinda, mas apenas mil anos mais tarde. O resultado disto é que eles são forçados a apelar para a alegorização, dizendo que o sumo-sacerdote não ressuscitará para contemplar a vinda do Senhor, pois que ele ali representa a comunidade judaica. Jesus apenas estaria querendo dizer que haverá judeus vivos por ocasião da Segunda-vinda. 

17. Os dispensacionalistas também não interpretam literalmente Apocalipse 1.7 que ensina que "todos, até os que o traspassaram", verão Jesus regressando sobre as nuvens dos céus, pois ensinam eles que o termo "todos" não deve ser interpretado literalmente como "todos" e que de maneira alguma os que o traspassaram na cruz ressuscitarão para ver a Segunda-vinda de Cristo, pois ensinam que apenas os salvos ressuscitarão na Segunda Vinda de Cristo. Eles também recusam-se em concordar com a afirmação de Jesus de que a ressurreição dos salvos ninivitas se dará no dia do juízo final juntamente com a geração de judeus que rejeitou o testemunho de Cristo (Mt 12.41), simplesmente porque isto contraria seus pressupostos pré-milenistas. 

18. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente textos como João 10.16, 1 Coríntios 10.17; 12.13; Efésios 2.13-22 e Romanos 11 que ensinam que Deus só tem um povo, um só rebanho, pois há apenas uma só Oliveira da qual fazem parte pela fé judeus e gentios, pois Jesus derrubou a parede de separação que estava no meio, para que dos dois criasse, em si mesmo um novo homem, seu Corpo, a Igreja, edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo, a pedra angular. No entanto, os dispensacionalistas dizem que Deus tem dois povos, e que tem dois planos de salvação e dois destinos futuros, um terreno para Israel e outro celestial para a Igreja. Paulo usa 14 capítulos em Romanos para provar que nunca existiu um plano de salvação para judeus e outro para os gentios, mas, ao contrário, sempre houve um único plano eterno incluindo judeus e gentios (Gn 17.5; Rm 4.11, 12, 16, 17, 23, 24). 

19. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente Romanos 2.28-29: “Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, q no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus.” Pois uma interpretação literal deste texto implicaria necessariamente em espiritualizar o termo judeu, algo inadmissível para eles que vivem ensinando que judeu é judeu e cristão é cristão. Eles fazem uma separação radical entre Israel e Igreja.

20. Os dispensacionalistas também não interpretam literalmente Hebreus 12.22: “Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembléia”, pois isto seria espiritualizar Monte Sião e Jerusalém como algo pertencente a Igreja na Nova Aliança. 

21. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente o ensino de Paulo de que a promessa da terra feita a Abraão não diz respeito somente a Israel, mas também a Igreja. “Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim mediante a justiça da fé. Pois, se os da lei é que são os herdeiros, anula-se a fé e cancela-se a promessa, porque a lei suscita a ira; mas onde não há lei, também não há transgressão. Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça, a fim de que seja firme a promessa para toda a descendência, não somente ao que está no regime da lei, mas também ao que é da fé que teve Abraão (porque Abraão é pai de todos nós, como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí.)” (Rm 4.13–17). 

22. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente o trecho de Hebreus 11 que diz que os patriarcas viram o cumprimento da promessa da terra em termos mais espirituais que terrestres, tanto que, Abraão, “pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade j que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador… Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. o Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade.” (Hb 11.9–16). Portanto, uma pátria celestial é a esperança dos judeus crentes do Antigo Testamento, idêntica a dos cristãos do Novo Testamento! Jesus subiu foi nos preparar um lar celestial na casa do Pai! “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também. (Jo 14.2–3). “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, a buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra” (Cl 3.1–2). Infelizmente, os dispensacionalistas seguem pensando na restauração de um reino terreno de Israel, enquanto que próprios patriarcas morreram na esperança de uma pátria celestial. Como Abraão, Isaque e Jacó, nós cristãos, também declaramos que “a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20).



quinta-feira, 18 de julho de 2019

1 Tessalonicenses 4 e Dispensacionalismo



Lemos Um  leitor  nos  envia  o  seguinte  questionamento:  “Em  I  Tess.  4,  está  escrito  que  os salvos  encontrarão  com  o  Senhor  nos  ares  (mortos  e  vivos),  isto  é  Pré-milenismo  e pré-tribulacionismo;  mas  há  muita  contestação,  pois  se  alega  que  Cristo  não  poderia voltar  várias  vezes  – onde  está  escrito na  Bíblia  que  Jesus  só  vai  voltar  uma  vez?”. 

A  pergunta  certamente  tem  haver  com  os  versículos  13  a  18,  onde  se  lê:  “Não  quero, porém,  irmãos,  que  sejais  ignorantes  acerca  dos  que  já  dormem,  para  que  não  vos entristeçais,  como  os  demais,  que  não  têm  esperança.  Porque,  se  cremos  que  Jesus morreu  e  ressuscitou,  assim  também  aos  que  em  Jesus  dormem,  Deus  os  tornará  a  trazer com  ele.  Dizemos-vos,  pois,  isto,  pela  palavra  do  Senhor:  que  nós,  os  que  ficarmos  vivos para  a  vinda  do  Senhor,  não  precederemos  os  que  dormem.  Porque  o  mesmo  Senhor descerá  do  céu  com  alarido,  e  com  voz  de  arcanjo,  e  com  a  trombeta  de  Deus;  e  os  que morreram  em  Cristo  ressuscitarão  primeiro.  Depois  nós,  os  que  ficarmos  vivos,  seremos arrebatados  juntamente  com  eles  nas  nuvens,  a  encontrar  o  Senhor  nos  ares,  e  assim estaremos  sempre  com  o  Senhor.  Portanto,  consolai-vos  uns  aos  outros  com  estas palavras”. 

Este  texto  nos  fala  de  dois  eventos  finais  que  aconteceriam  a  Igreja:  a)  a  ressurreição dos  cristãos  mortos;  e  b)  o  arrebatamento  dos  cristãos  vivos.  Este  texto,  a  princípio,  não nos  diz  nada  sobre  as  posições  Pré-Milenista  e  Pré-Tribulacionista.  A  intenção  de  S. Paulo  é  confortar  o  coração  dos  cristãos  para  os  quais  escrevem,  ao  que  parece,  aquela Igreja  estava  sendo  assediada  por  uma  heresia  que  negava  a  ressurreição  dos  mortos. Então,  Paulo  responde:  não  deem  ouvidos  a  este  ensino,  pois  nossa  fé  baseia-se  na ressurreição  do  Cristo,  e  se  Cristo  Ressuscitou,  os  mortos  em  Cristo  ressuscitarão também.  

Certamente,  eles  estavam  apavorados  com  a  ideia  de  que  os  seus  mortos  jamais veriam  a  vitória  final  da  Igreja,  que  eles  haviam  morrido  sem  receber  a  recompensa  que tanto  esperavam.  Por  isso  Paulo  diz  que  eles  seriam  recompensados  antes  dos  vivos: “Dizemos-vos,  pois,  isto,  pela  palavra  do  Senhor:  que  nós,  os  que  ficarmos  vivos  para  a vinda  do  Senhor,  não  precederemos  os  que  dormem.  Porque  o  mesmo  Senhor  descerá do  céu  com  alarido,  e  com  voz  de  arcanjo,  e  com  a  trombeta  de  Deus;  e  os  que morreram  em  Cristo  ressuscitarão  primeiro”.  Estavam  sendo  ensinados  –  por  algum herege  daqueles  dias  -  que  seus  mortos  haviam  perdido  a  recompensa,  pois  quando Cristo  voltasse,  estariam  mortos;  Paulo,  porém,  diz  que  justamente  o  oposto:  já  que morreram, se  encontrarão primeiro com  Jesus,  pois  o mortos ressuscitarão  primeiro.

Então,  este  é  o  telos  da  perícope  em  questão,  ou  seja,  sua  intenção  central.  Nada  no texto  sugere  que  Paulo  escreveu  para  ensinar  que  Jesus  voltaria  antes  do  Reino  ser inaugurado  (Pré-Milenismo),  ou  antes  de  haver  uma  Grande  Tribulação  (Pré-tribulacionismo).  Tais  temas  sequer  são  mencionados  no  texto,  como  podem  conferir por  si  mesmos.  Tudo  o  que  Paulo  está  dizendo  é  que  os  mortos  se  encontrariam  com Cristo  primeiro,  e  que  os  vivos,  se  encontrariam  com  ele  depois,  por  meio  do arrebatamento.

 Agora,  sobre  a  questão  de  Cristo  poder,  ou  não,  voltar  mais  de  uma  vez,  vale  dizer  o seguinte:  para  nós,  preteristas,  há,  sim,  duas  “vindas”  escatológicas  de  Cristo.  A primeira  vinda  foi  simbólica,  em  Juízo  contra  Jerusalém,  em  70  d.C,;  a  outra,  ainda futura,  se  dará  de  modo  corporal,  quando  ele  viver  ressuscitar  os  mortos  e  transformar os  vivos, na  inauguração  do Estado Eterno. 

O problema  com  a  posição  Dispensacionalista  é  que  ela  se  vê  obrigada  a  aceitar  várias ressurreições  finais,  e  não  apenas  esta  descrita  nas  Escrituras.  Para  sustentar  o Dispensacionalismo, se  precisa  de  várias  ressurreições  finais: 

1)  Os  dispensacionalistas  precisam  de  uma  ressurreição  de  salvos  antes  da  Grande Tribulação  começar  (aqui  ressuscitam  os  salvos  da  'Era  da  Igreja'); 

2)  Os  dispensacionalistas  precisam  de  uma  ressurreição  de  salvos  no  fim  da  Grande Tribulação (aqui  ressuscitam  os  salvos que  morreram  na  'Grande  Tribulação”); 

3)  Os  dispensacionalistas  precisam  de  uma  ressurreição  de  salvos  quando  o  Milênio acabar  (aqui  ressuscitam  os  salvos  que  morreram  durante  o  'Milênio'). 

Em  quarto  lugar,  eles  ainda  precisam  de  uma  Ressurreição  Final  para  os  condenados; ou  seja,  o  dispensacionalismo  acredita  em  4  ressurreições  finais.  No  entanto,  isso contraria  seu  pressuposto  hermenêutico  principal,  pois  alegam  a  obrigatoriedade  de interpretar  as  Escrituras  literalmente.  E  é  com  base  em  seu  apego  a  literalidade,  que  os dispensacionalistas  ensinam  que  haverá  duas  ressurreições  finais,  a  “primeira ressurreição”,  para  os  salvos,  na  Vinda  de  Cristo,  e  a  “segunda  ressurreição”,  para  a Morte,  na  época  do  Julgamento  Final.  Entretanto,  como  acabamos  de  ver,  aquilo  que eles chamam  de  “primeira  ressurreição”  é, na  verdade, três  ressurreições,  não uma.
   
De  modo  que,  apesar  de  Paulo,  no  texto  que  comentamos  na  primeira  parte  deste artigo,  não  falar  especificamente  sobre  estes  temas,  o  fato  de  ele  dizer  que  os  mortos  em Cristo  ressuscitaram  uma  vez,  e  que  os  vivos  serão  transformados,  e  depois  disso, “estaremos  para  sempre  com  o  Senhor”  (v.17),  destrói  completamente  as  teorias dispensacionalistas. 


quarta-feira, 17 de julho de 2019

Quatro grandes correntes de Interpretação do livro de Apocalipse



Há quatro grandes correntes de interpretação do livro de Apocalipse:

1. A corrente Pós-Milenistas

Os  pós-milenistas ensinam que a segunda vinda de Cristo se seguirá a um longo período de retidão e paz, chamado milênio. Robert Clouse citando Loraine Boettner, ilustre representante do pós-milenismo, diz: 

“o milênio se encerrará com a segunda vinda de Cristo, a ressurreição e o julgamento final. Em suma, os pós-milenistas apresentam um reino espiritual nos corações dos homens”. 

O pós-milenismo crê que o mundo vai ser cristianizado e que teremos um grande e poderoso reavivamento, produzindo um crescimento espantoso da igreja a ponto da terra encher-se do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar (Hc 2:4). Martyn Lloyd-Jones diz que os pós-milenistas creem que para o fim da era cristã, haverá um período de bênçãos inusitado e especial, o qual ofuscará tudo o que lemos em Atos capítulo 2. Haverá, dizem, uma tão tremenda profusão do Espírito Santo, levando a uma atividade missionária e evangelística tal, que a maioria das pessoas na face da terra será convertida e se tornará cristã. Russell Shedd diz que as raízes do pós-milenismo são reconhecíveis nas ideias de Ticônio e Agostinho. Essa corrente foi forte nos séculos XVII, XVIII e XIX, quando as missões estavam em franca expansão. O Pós-milenismo foi o ponto de vista defendido praticamente por todos os grandes protestantes e comentaristas evangélicos conservadores durante o século XIX. Homens como Jonathan Edwards, Charles Hodge e Benjamim Warfield, os famosos teólogos do Seminário de Princeton, foram defensores do Pós-Milenismo. Muitos missionários foram influenciados por esta interpretação, e muitos hinos missiológicos foram escritos inspirados por esta visão. 
Essa corrente, contudo, deixa de perceber que antes da vinda de Cristo estaremos vivendo um tempo de crise e não um tempo de despertamento espiritual intenso e universal. Devemos rejeitar essa corrente. Parece-nos que o otimismo incontido dos mestres do Pós-milenismo desfez-se no dramático realismo do século XX, com duas sangrentas guerras mundiais e o mundo sendo abocanhado pelo comunismo ateu. Millard Erickson interpreta corretamente quando diz que o forte declínio da popularidade do pós-milenismo é resultado mais das considerações históricas do que exegéticas. Diz ainda Millard que hoje os pós-milenistas são uma espécie extinta ou em perigo. 

Penso que Martyn Lloyd-Jones tocou no cerne da fraqueza do pós-milenismo, quando disse:

A dificuldade que pessoalmente encontro no ponto de vista pós-milenista é que parece haver um ensino tão claro nas Escrituras que longe de haver uma era áurea perto do fim, haverá um tempo de grande tribulação, quando a Igreja será sujeitada a terríveis provações, e haverá pavorosa e terrível guerra. Aliás, existe um versículo, uma declaração, que, até onde a compreendo, é suficiente para eliminar o ponto de vista pós-milenista. E Lucas 18:8, onde nosso Senhor diz: “Contudo, quando vier o Filho do homem, achará, porventura, fé na terra?” E fé ali significa a fé [...]. Sinto, pois, que sobre tais bases não posso aceitar a interpretação pós-milenista

Pós-milenismo não é literalista no que diz respeito à duração do milênio: o milênio é um período longo de tempo, não necessariamente mil anos medidos pelo calendário. O milênio terminará com a segunda vinda de Cristo, em vez de começar com ela.

2. A corrente Pré-Milenista

Ensinam os pré-milenistas que a segunda vinda de Cristo não seguirá, mas precederá o milênio. O Pré-Milenismo foi a posição oficial da Igreja Primitiva até o quarto século. Os pais da Igreja como Justino, o mártir, Tertuliano, Lactâncio, Papias, Irineu e Hipólito, escreveram sobre a tribulação pela qual a igreja passaria. George Ladd, ilustre representante do Pré-Milenismo Histórico, resume o período patrístico dizendo que cada pai da igreja que trata do assunto prevê que a igreja sofrerá às mãos do anticristo, mas Cristo a salvará mediante a Sua volta no fim da tribulação, quando, então, destruirá o anticristo, livrará Sua igreja e trará o mundo ao fim e inaugurará Seu reino milenar.

Robert Clouse diz que durante o século XIX o pré- j milenismo atraiu novamente ampla atenção. John Nelson f Darby (1800-1882), líder dos irmãos Plymouth articulou a perspectiva dispensacionalista do pré-milenismo. Descreveu a vinda de Cristo antes do milênio, consistindo de dois estágios: o primeiro, um arrebatamento secreto removendo a igreja antes da Grande Tribulação devastar a terra; o segundo, Cristo vindo com Seus santos para estabelecer o reino. No momento de sua morte, Darby havia deixado quarenta volumes de escritos e uns mil e quinhentos congressos realizados ao redor do mundo. Através de seus livros, que incluem quatro volumes acerca de profecia, o sistema de dispensações foi levado a todo o mundo de língua inglesa.

Um dos maiores fatores para o crescimento do dispen- sacionalismo no meio evangélico foi a Bíblia anotada de Scofield. Essa Bíblia foi publicada em 1909 e desde então tem larga aceitação nos Estados Unidos e em quase todo o mundo. Scofield divide a Bíblia em sete dispensações:1) A Inocência - desde Adão até a queda; 2) A consciência - desde a queda até o dilúvio; 3) O governo humano - desde Noé até Abraão; 4) A promessa - desde Abraão até Moisés; 5) A lei - desde Moisés até o Calvário; 6) A graça — desde o Calvário até a grande tribulação; 7) O reino - desde a grande tribulação até o fim do reinado de Cristo por mil anos na terra. Dentro dessa visão dis- pensacionalista, a igreja é apenas um parêntesis na história. Equivocadamente se pensa que a igreja é o mistério que não tinha sido previsto pelos profetas no Antigo Testamento. Angus Macleod, citando Dr. Ironside, grande expoente do dispensacionalismo chega a dizer: 

o relógio profético se deteve no Calvário. Nem um tic-tac se tem ouvido desde então e o relógio não começará a marcar até que Cristo regresse”.

Um dos grandes destaques da interpretação dispensacionalista é a distinção entre arrebatamento e segunda vinda de Cristo. Para os dispensacionalistas a segunda vinda de Cristo será em dois turnos: a vinda secreta para a igreja, o arrebatamento e a vinda visível com a igreja, a segunda vinda. George E. Henderlite, falando sobre essa diferença entre o arrebatamento e a segunda vinda visível de Cristo, diz:

No arrebatamento Jesus vem receber a Igreja no fim da dispensação atual, mas não chegará à terra. E a Igreja, os santos mortos ressuscitados, os vivos transformados, todos arrebatados, que saem ao encontro dEle no ar. Na segunda vinda, depois de alguns anos Ele vem para a terra a fim de estabelecer o Seu reino messiânico. 

John F Walvoord, um dos ilustres representantes do dispensacionalismo, complementa: 

“Entre o arrebatamento da igreja para o céu e o retorno de Cristo em triunfo para estabelecer seu reino, deve haver bastante tempo para que um novo grupo de crentes, formado de judeus e gentios, venha a Cristo e seja salvo”.

As Confissões Reformadas (Confissão de Augsburgo, Confissão Helvética e Confissão de Westminster) rejeitaram a ideia de um milênio terrenal, condenando essa hermenêutica como uma fantasia judaica.
Os Pré-Milenistas históricos ou moderados distinguem-se dos amilenistas em poucos aspectos: Reino e ressurreição. Porém, os Pré-Milenistas dispensacionalis- tas ou extremados têm vários ensinos estranhos às Escrituras: a) Distinção entre Igreja e Israel no tempo e na eternidade; b) o Reino de Deus adiado para o Milênio terreno; c) a crença num arrebatamento secreto, seguido de uma segunda vinda visível; d) a idéia de que a igreja não passará pela grande tribulação (a igreja será poupada da ira de Deus (thymos e orge), mas não da tribulação (thlipsis). A tribulação não é a ira de Deus contra os pecadores, mas, sim, a ira de Satanás, do anticristo e dos ímpios contra os santos; e) a idéia de que teremos várias ressurreições; f) a idéia de que haverá chance de salvação depois da segunda vinda de Cristo. 

Durante o século XIX o Pré-Milenismo atraiu novamente ampla atenção com John Nelson Darby e Edward Irving. No século passado houve uma explosão do dispensacionalismo, sobretudo, depois da Bíblia anotada de Scofield, os livros de Hal Lindsay, a revista Chamada da Meia Noite, e agora, mais recente, a série de livros “Deixados para trás” de Tim LaHaye. Muito embora essa vertente seja muito popular no mundo inteiro, ela carece de consistência bíblica e teológica em sua abordagem.

3. A corrente Amilenista

Os amilenistas não creem num milênio literal. Eles creem que o milênio é um período indeterminado que vai da primeira à segunda vinda de Cristo. No quarto século, o mais destacado teólogo da igreja ocidental, Agostinho de Hipona, passou a defender uma nova interpretação acerca do milênio. Millard Erickson diz que foi Agostinho quem sistematizou e desenvolveu a abordagem amilenista. O reino milenar de Cristo e Seus santos foi igualado à totalidade da história da igreja na terra. Essa interpretação foi chamada de Amilenismo.

O Amilenismo tornou-se a interpretação dominante no concílio de Éfeso em 431 d.C. Daí para a frente crer num milênio terrenal era considerado superstição. Os reformadores protestantes continuaram com o Amilenismo agostiniano. As confissões reformadas, sem exceção, abraçaram também o Amilenismo. Essa corrente parece- nos a que mais consistentemente interpreta o livro de Apocalipse com integridade hermenêutica.

O termo Amilenismo não é muito feliz, diz Antony Hoekema, pois sugere que os amilenistas não crêem no milênio ou não levam em conta os primeiros seis versículos de Apocalipse 20, que falam de um reino de mil anos. Os amilenistas, embora creiam no milênio, não o interpretam de forma literal. O amilenismo crê que o milênio está hoje em processo de realização. Ele vai da primeira à segunda vinda de Cristo. Por isso, Jay Adams sugeriu que o termo amilenismo seja trocado por milenismo realizado. Antony Hoekema diz que hoje vivemos a tensão entre o “já” e o “ainda não”. Já estamos no Reino, mas ainda não na sua plenitude. O Reino já chegou. Ele está dentro de nós, mas ainda não na sua consumação final. 

Benjamim Warfield faz a seguinte interpretação do milênio:

O número sagrado de sete em combinação com o número igualmente sagrado três formam o número da perfeição, dez, e quando este dez é levado à terceira potência, para formar mil, o vidente já disse tudo quanto podia para transmitir às nossas mentes a ideia da perfeição total.

Antony Hoekema sintetiza a visão do milênio conforme a interpretação amilenista, nos seguintes termos: 

Os amilenistas entendem que o milênio mencionado em Apocalipse 20:4-6 descreve o presente reinado das almas dos crentes falecidos que estão com Cristo no céu. Eles entendem que a prisão de Satanás que se menciona nos primeiros três versículos deste capítulo estão em efeito durante todo o período entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, ainda que terminará pouco tempo antes do regresso de Cristo. Ensinam, pois, que Cristo regressará depois deste reinado celestial de mil anos.

O livro de Apocalipse deve ser visto não como uma mensagem que registra os fatos em ordem cronológica e linear. As mesmas verdades principais são repetidas em sete seções paralelas e progressivas. William Hendriksen, segundo a minha visão, oferece o melhor sistema de interpretação do livro de Apocalipse, o conhecido paralelismo progressivo. De acordo com este ponto de vista, o livro de Apocalipse consiste de sete seções paralelas entre si, cada uma delas descrevendo a igreja e o mundo desde a época da primeira vinda de Cristo até a Sua segunda vinda.40 Cada seção descreve uma cena do fim. A cena do fim vai ficando cada vez mais clara, até chegar ao relato apoteótico da última seção.
Essas sete seções estão agrupadas em duas divisões principais: (Capítulos 1-11) e (Capítulos 12-22). A primeira descreve a perseguição do sistema do mundo e dos próprios ímpios contra a igreja e a segunda a perseguição do dragão e seus agentes. William Hendriksen, coloca esses fatos da seguinte maneira: Nos capítulos 1-11 de Apocalipse vemos o conflito entre os homens, ou seja, entre os crentes e os incrédulos. O mundo ataca a igreja. A igreja sai vitoriosa; é vingada e protegida. Nos capítulos 12-22, este conflito tem um significado mais profundo. E a manifestação exterior do ataque do diabo contra o Filho Varão. O dragão ataca a Cristo, sendo rechaçado, dirige toda sua fúria contra a igreja. Para ajudar-lhe usa as duas bestas e a grande meretriz, mas todos esses inimigos da igreja são derrotados no fim.

Primeira Seção (1-3) - Os sete candeeiros 

Qual é a lição dessa seção? E que Cristo tem o controle da igreja em Suas mãos. Encontramos aqui uma descrição do Cristo que morre, ressuscita e vai voltar (1:5-7). A morte e ressurreição de Cristo são o começo da era cristã, e a Sua segunda vinda é o término desta era. Nesta seção temos apenas um mero anúncio da segunda vinda para o juízo (1:7), mas nenhuma descrição do juízo.

Segunda Seção (4-7) - Os sete selos 

Qual é a mensagem dessa seção? E que Cristo tem o controle da história em Suas mãos (5:5). Contemplamos Sua morte (5:6), mas essa seção encerra-se com uma cena da segunda vinda de Cristo (6:6-12 e 7:9-17). Notemos a impressão produzida nos incrédulos pela segunda vinda (6:16-17), ao mesmo tempo a felicidade dos salvos (7:16-17). A segunda seção é uma reiteração da primeira. Sua revelação vai do princípio ao fim dos tempos, ao juízo final. Mais uma vez nos é mostrada a diferença entre os remidos e os perdidos. Nesta segunda seção, o juízo final não é meramente anunciado, mas definitivamente introduzido. Os ímpios estão aterrados pelo fato de terem que comparecer perante o Juiz.

Terceira Seção (8-11) - As sete trombetas 

Nesta seção vemos a igreja vingada, protegida e vitoriosa. Havendo começado com o Senhor como nosso sumo sacerdote (8:3-5), avançamos até o juízo final (10:7; 11:1519). Uma vez mais estamos tratando das mesmas coisas: O Senhor e Sua igreja e o que lhes sucede no mundo, o juízo final, os redimidos e os perdidos. As trombetas são avisos antes do derramamento completo das taças da ira de Deus. Antes de Deus punir finalmente, ele sempre avisa e oferece oportunidade de arrependimento. Nesta seção introduzem-se o juízo final e o gozo dos remidos.

Quarta Seção (12-14) - A tríade do mal 

Novamente voltamos ao início, ao nascimento de Cristo (12:5). Depois vem a perseguição do Dragão a Cristo e à igreja (12:13). Ele levanta a besta e o falso profeta. Finalmente, vem a cena do juízo final (14:8). Em Apocalipse 14:14-20 há uma cena clara do juízo final.

Quinta Seção (15-16) - As sete taças 

Descreve as sete taças da ira de Deus, representando a visitação final da Sua ira sobre os que permanecem impenitentes. Uma vez mais a cena começa no céu relatando o Cordeiro com Seu povo. Mas no capítulo 16 vemos uma espantosa descrição do juízo (16:15,20). Aqui a destruição é completa.

Sexta Seção (17-19) - A derrota dos agentes do Dragão 

Essa seção é um relato da destruição dos aliados do Dragão: A meretriz, a besta, o falso profeta e os seguidores da besta. Ao mesmo tempo em que a meretriz, a falsa igreja, está sendo destruída, a igreja é apresentada como esposa de Cristo (19:20). A grande festa das núpcias ocorre; o juízo final é relatado outra vez e uma grande distinção entre redimidos e perdidos ocorre novamente. No capítulo 19 há uma descrição detalhada da gloriosa vinda de Cristo (19:11-21).

Sétima Seção (20-22)

Essa seção mostra o Reinado de Cristo com as almas dos santos no céu e não o milênio na terra depois da segunda vinda. O capítulo 20 começa na primeira vinda e não depois da segunda vinda. Então, temos a descrição do juízo final (20:11-15). Após isso, vemos os novos céus e a nova terra e a igreja reinando com Cristo para sempre. Apesar dessas seções serem paralelas, elas são também progressivas. A última seção leva-nos mais além do que as outras. Apesar do juízo final já ter sido anunciado em (1:7) e brevemente descrito em (6:12-17), não é apresentado detalhadamente senão quando chegamos em (20:11-15). Apesar do gozo final dos redimidos já ter sido insinuado em (7:15-17), não encontramos uma descrição detalhada senão quando chegamos em (21:1-22:5). Aqui está o clímax glorioso deste livro!

Hernandes dias Lopes – Apocalipse / futuro chegou, as coisas que em breve devem acontecer; São Paulo, SP: Hagnos 2005. (Comentários expositivos Hagnos), p: 23-33


quinta-feira, 11 de julho de 2019

Promessas Cumprindo-se em Cristo e na Igreja



Pensativo a respeito de como se dará o cumprimento da promessa relacionada a Terra Prometida, debrucei-me sobre as Escrituras em busca de resposta. Segue algumas considerações a respeito.

Um texto que me chamou bastante a atenção foi Hebreus 11.9-10, que claramente diz que Abraão, Isaque e Jacó habitaram em tendas na Terra Prometida de Canaã, considerando-a como terra alheia, porque nutriam a esperança de uma outra espécie de terra prometida, de caráter celestial, cujo arquiteto e construtor é o próprio Deus; O que nos faz lembrar das palavras de Jesus que disse aos discípulos que deveria subir aos céus para construir nossa definitiva habitação! Portanto, para o autor de Hebreus, a esperança dos patriarcas quanto a terra prometida é a mesma da Igreja: "Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo" (Fp 3.20). Por isso é que o autor de Hebreus arremata a questão dizendo: "Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade" (Hb 11:13-16). De modo que as Escrituras do Novo Testamento não veem as promessas da Terra Prometida encontrando um cumprimento terreno, mas celestial: "Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador" (Hb 11:9-10 ).

Outro texto bastante esclarecedor é o de Paulo, em Romanos 4.13, que diz: "Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim mediante a justiça da fé". Onde se vê que a promessa da terra é uma profecia que diz respeito aos descendentes espirituais de Abraão, judeus e gentios crentes em Cristo, herdeiros de todo o mundo renovado e celestial, uma nova terra, uma nova Jerusalém, ou seja, uma nova Canaã!

Assim como nosso corpo se revestirá de características celestiais e incorruptíveis, assim também acontecerá com a terra, que se revestirá do céu, numa espécie fusão, passando pela purificação do fogo! Não é à toa, que toda a criação geme e aspira a redenção (Rm 8.21). Por isto o céu é também chamado de Nova Jerusalém, nossa "terra" prometida que terá Jesus como o nosso sol (Ap 22.5), e também é dito que: "a cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada. As nações andarão mediante a sua luz, e os reis da terra lhe trazem a sua glória. As suas portas nunca jamais se fecharão de dia, porque, nela, não haverá noite. E lhe trarão a glória e a honra das nações. Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro" (Ap 21:23-27).

Notar tratar-se da descrição da Nova Jerusalém celeste, onde o sol já não existe mais como o conhecemos, e observe também que as nações ali trarão a glória e a honra a Jesus, mas devemos lembrar que a Nova Jerusalém desce do céu após o Juízo Final, portanto, a descrição aqui das nações louvando a Deus não pode estar se referindo a um milênio na terra, pois trata-se de uma nova terra que é celestial. O primeiro céu e a primeira terra passaram e eis que tudo se fez novo! Nações aqui significam os remidos de todas as nações que habitarão na Nova Jerusalém. Veja que é dito que somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro é que tem o direito de habitar nesta morada celestial.

Ainda sobre Romanos 4, observe que a promessa da Terra é para toda a descendência de Abraão, o que inclui os gentios que são filhos da fé ou filhos da promessa e não somente de judeus que receberam a lei de Moisés (Rm 4:16-17). Paulo afirma que é através dos filhos espirituais de Abraão que se cumpre a promessa de que Abraão seria pai de muitas nações (Rm 4:17).
"Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão" (Gl 3:7-9).

Aprendemos com Paulo que as promessas feitas a Abraão pertencem ao seu descendente que é Cristo e nEle se cumprem: "Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo" (Gl 3:16).

Lembrando que, quando Abraão esteve prestes a sacrificar o filho da promessa, Deus interveio, provendo o Verdadeiro Filho da Promessa, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo! O descendente que pisaria a cabeça da serpente, cumprindo a promessa feita a Adão, pai da humanidade.
Paulo conclui o capítulo 3 de Gálatas reafirmando que as promessas foram destinadas ao descendente por excelência de Abraão que é o Cristo (v. 19) e diz que tais promessas são extensivas a todos os que creem em Cristo: "Mas a Escritura encerrou tudo sob o pecado, para que, mediante a fé em Jesus Cristo, fosse a promessa concedida aos que creem" (Gl 3:22).

 A Igreja é a manifestação do remanescente de Israel. Notar que o primeiro gentio a se converter foi Cornélio. O que vale dizer que a Igreja era composta originariamente de crentes judeus, pelos remanescentes de Israel (Rm 2.28,29; 3.3,4; 9.6-8,27,29; 11.15), os gentios foram acrescentados nesta mesma oliveira. Há muito mais continuidade do que descontinuidade (Ef 2.18-20; 3.6; Gl 3.6-29). Não houve mudança no plano de Deus (Ef 1.3-4), mas revelação progressiva (Gl 6.16; 3.13,14). O Verdadeiro Israel é aquele que possui o Messias. Cristo é a Videira verdadeira (Jo 15.1), a videira é símbolo notório de Israel. O verdadeiro herdeiro de Abraão é o que tem fé no Messias prometido (Gl 3). É não é sem propósito que o número de apóstolos da Igreja é idêntico ao número de tribos de Israel. Paulo não diz que Deus mudou o seu plano original, antes, ele afirma que a Igreja sempre foi o plano de Deus (Ef 3.4-6, 21, 26, 31; Gl 3.8, 16; ver também Gn 3.15). O N.T. ensina que a lei, a circuncisão e a própria nação de Israel foram sombras da realidade que se encontra na Igreja (Cl 2.17; Hb 10.1; Ef 1.22,23). Israel era um tipo da Igreja; a terra um tipo do céu; a circuncisão um tipo do novo nascimento e do batismo; a lei um tipo e um aio para o evangelho e o templo um tipo do “Corpo de Cristo” ( Hb 8.5; 9.9, 24; 10.9,16,19-21; 11.9-16,39,40; 12.18-24; 13.10-14; Cl 2.11,12). Os cristão são chamados de “eleitos de Deus” (Rm 9.33). A Igreja foi profetizada no A.T.: (Jo 8.56; At 3.22-24; 1 Pe 2.9 comparar com Ex 19.5,6; Hb 2.12 comparar com Sl 22.22).

Em Romanos 11, Paulo fala sobre o futuro do remanescente de Israel. E nenhuma palavra é dita sobre o retorno a terra ou a reconstrução do templo e restauração do ritual levítico. Todas as profecias concernentes ao retorno de Israel para a terra e a reconstrução do templo foram feitas antes de 516 a.C., ano em que o templo foi reconstruído. Não existe nenhuma profecia mais a este respeito após 516 a.C., nem no A.T. e nem no N.T. Por exemplo, o livro de Malaquias não menciona, em momento algum, uma expectativa de retorno a terra e reconstrução do templo, pois, evidentemente, entendia que as profecias neste sentido tinham tido o seu cumprimento no ano de 516 a.C. Mas em Rm 11, Paulo fala de um retorno de Israel para Cristo e não para a Palestina. Nenhuma palavra é dita sobre Israel ser salvo após o “arrebatamento”. Paulo se inclui entre os remanescentes de Israel que serão salvos (Rm 11.1); Todos os israelitas crentes serão salvos. Em nenhum lugar encontramos base para a crença de que haverá uma segunda chance de salvação para os homens quer sejam judeus ou gentios após o arrebatamento da Igreja (Mt 25).

A herança de Abraão é uma pátria celestial (Hb 11.8,13-16, 39,40; 1 Pe 1.4). As expectativas judaicas se cumprem em Cristo (Lc 1.54, 55,68-74). A primeira vinda de Cristo completou a redenção de Israel e “tantos quantos o receberem foi lhes concedido o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1.10-12).

Por esta razão é que os gentios se tornaram co-herdeiros com Cristo de todas as promessas feitas a Abraão! "Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados" (Rm 8:17). E tais promessas, principalmente aquelas que dizem respeito a terra, encontram um cumprimento que vai muito além do território da Palestina, abrangendo o mundo todo (Rm 4.13) e vai muito além desta vida e do mundo material, mas invade a eternidade e é revestida da glória celestial.
Os crentes, judeus e gentios, já estão espiritualmente ressuscitados e assentados juntamente com Cristo nos lugares celestiais, ou seja, ao lado daquele que tem todo o poder no céu e na terra e vive e reina do seu alto e sublime trono, acima de todo o principado e potestade (Ef 2:6), e por isto é dito que os crentes já tem "chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados" (Hb 12:22-22). A vocação deles é celestial: "Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial" (Hb 3:1).

A esperança do cristão judeu, Paulo, também é a de um reino celestial e não milenar aqui na terra: "O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial" (2 Tim 4:18). "E, por isso, neste tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial" (2 Co 5:2 cf. Rm 8:21).

Espero ter sido capaz de demonstrar que as promessas feitas a Abraão foram destinadas a um descendente em especial que é o Messias. A própria Terra Prometida está sendo preparada por Cristo e se destina a todos os judeus e gentios que creem em Cristo. Os da fé são os verdadeiros descendentes de Abraão e herdeiros da promessa, co-herdeiros juntamente com Cristo.




sábado, 6 de julho de 2019

Pré-Milenismo em Julgamento



A interpretação de um milênio literal encontra várias dificuldades: 

Primeiro, não encontramos essa ideia de um milênio terrenal após a segunda vinda de Cristo nos evangelhos e nas epístolas paulinas e gerais. 

Segundo, o Novo Testamento ensina uma única volta de Cristo, e não duas.

Terceiro, uma interpretação literal desse número, em um livro de simbolismos, especialmente neste capítulo saturado de símbolos, é um obstáculo considerável. 

Quarto, o milênio fala de Cristo reinando fisicamente aqui neste mundo, enquanto o Seu ensino mostra que o Seu reino é espiritual. 

Quinto, a ideia de um milênio na terra e a posição de preeminência dos judeus, reintroduz aquela distinção entre judeus e gentios já abolida (Cl 3:11; Ef 2:14,19). Só existe uma igreja e uma noiva, formada de judeus e gentios. 

Sexto, a ideia do milênio terrenal ensina que haverá pelo menos duas ressurreições, uma de crentes antes do milênio e outra de ímpios depois do milênio e isto está em oposição ao que o restante da Bíblia ensina (Jo 5:28-29; Jo 6:39,40,44,54; 11:24). 

Sétimo, a ideia do milênio cria a grande dificuldade da convivência do Cristo glorificado com os santos glorificados vivendo com homens ainda na carne (Fp 3:21). 

Oitavo, como conceber a ideia de que as nações estarão sob o reinado de Cristo mil anos e depois elas se rebelam totalmente contra Ele (20:7-9)? 

Nono, a cena descrita por João em Apocalipse 20 de forma alguma ocorre na terra; é uma cena celestial. 

Décimo, todo o ensino do Novo Testamento é que o juízo é universal e segue imediatamente à segunda vinda, mas a crença no milênio terrenal, o juízo acontece mil anos depois da segunda vinda e só para os incrédulos. 

Arthur Lewis diz que constitui-se um obstáculo intransponível a ideia pré-milenista que ensina a permanência de pecadores convivendo com os santos glorificados durante o reino milenar de Cristo na terra. [01] Nesta mesma linha W. J. Grier fala dos paradoxos de um reinado de mil anos: 1) Os santos glorificados estarão em uma terra ainda não “glorificada” ou renovada, isto é, ainda não purificada pelo fogo; 2) Santos, com corpos glorificados, se misturarão com santos e com pecadores que não terão corpos glorificados; 3) Satanás será acorrentado para que não mais engane as nações; apesar disso, elas continuarão, realmente, inimigas de Cristo, prontas para obedecer a Satanás e a guerrear contra os santos, tão logo termine o milênio. Os rebeldes parecem até mais numerosos que os justos, ao se findar esse período, pois são “como a areia do mar”, enquanto que os santos se reúnem em um “arraial” e em uma “cidade” e só fogo vindo do céu salva o frágil agrupamento. [02] O próprio Dr. Russell Shedd, um dos mais respeitados estudiosos do Novo Testamento dos nossos dias, diz:

“Nós não temos suficiente informação na Bíblia para responder a todas as perguntas levantadas. O que fica bem assegurado é a esperança que João coloca no fim de seu livro. Haverá um período (se ‘mil anos’ é literal ou não, não nos preocupa) de paz e segurança total”. [03]

O que, pois, são os mil anos? Martyn Lloyd-Jones responde:

“Sugiro-lhes que é uma figura simbólica com o intuito de indicar a perfeita extensão de tempo, conhecida de Deus, e unicamente de Deus, entre a primeira e a segunda vindas. Não são mil anos literais, mas a totalidade do período enquanto Cristo está reinando até que seus inimigos sejam feitos estrado de seus pés e Ele regresse para o juízo final”. [04]


[01] H. Barclay Swete. The Apocalipse of St John. Mcmillan. Londres. 1917: p. CXL. 
[02] Em todas a profecias do livro de Apocalipse, Cristo é apresentado como o vencedor (1:18; 2:8; 5:9-14; 6:2; 11:15; 12:9-11; 14:1,14; 15:2-4; 19:16; 20:4; 22:3). 
[03] Ricardo L. V. Mascareñas. Os Últimos Dias. Editora Candeia. São Paulo, SP. 2001: p. 23. 
[04] Charles R. Erdman. Apocalipse. Casa Editora Presbiteriana. São Paulo, SP. 1960: p. 8.


sábado, 29 de junho de 2019

A Segunda Vinda de Cristo é iminente?



A Segunda Vinda de Cristo é iminente? Pode acontecer a qualquer momento sem prévios sinais? A resposta é não. Pois não seria lógico concluir que determinados textos estão ensinando a idéia da iminência hoje, quando se evidencia que estes mesmos textos não poderiam ter sido interpretados neste sentido por seus primitivos destinatários. Por exemplo, os textos, como Mc 9.1; Mc 13.29-30; Mt 10.23; Rm 13.11-12; Tg 5.8; 1 Pe 4.7; Ap 22.20; Hb 10.25, 37; 1 Jo 2.18, usados pelos dispensacionalistas para defender uma Segunda Vinda de Cristo iminente, nunca poderiam ter sido compreendidos pelos discípulos com esta intenção, pois quando foram escritos, certos eventos tinham, necessariamente, que ocorrer antes da Segunda Vinda de Cristo, por exemplo: A promessa do consolador (Jo 16.7, 13, 26); Evangelho deveria ser pregado a todo mundo (Mt 26.13; At 1.8; 9.15; 22.15; 26.2); Pedro seria morto conforme profetizado por Cristo (Jo 21.18); guerras viriam antes do fim (Lc 21.9); primeiro ocorreria a apostasia e o aparecimento do Homem da Iniquidade (2 Ts 2.2,3). Paulo recebeu de Deus diversas orientações sobre o que lhe ocorreria no decurso de sua vida e ministério, inclusive sobre sua morte (At 9.15; 22.15; 26.2; 23.11; 27.24; 28.30; 2 Tm 4.5ss. Fica evidente, então, que a Igreja neo-testamentária não poderia ter esperado uma vinda de Cristo a qualquer momento. Se os textos usados pelos dispensacionalistas nunca poderiam ter significado de iminência para os leitores originais, também não têm este significado para nós, hoje.

Cristo no Sermão das últimas coisas nos ensinou que sinais deveriam preceder sua Segunda Vinda. Sinais depõem contra a idéia de “iminência”. Os sinais não têm a intenção de nos conceder condições para precisar o dia da Segunda Vinda, Jesus denuncia a fascinação por cálculos (Mt 24.33-36); os sinais mencionados por Cristo são inespecíficos para este fim, antes, o propósito é preparar o povo de Deus com a compreensão das pressões que terá de suportar. O propósito de Jesus é encorajar, não a especulação, mas a vigilância - fortalecer a fé e advertir os discípulos do que será a sua sorte como seguidores dela. Se os cristãos atentarem para as palavras de Cristo, como disse Travis, “conhecerão que a situação não está fora do controle de Deus, e que eles podem ‘perseverar até o fim e serem salvos’ (Mc 13.13) e que além dessas tribulações está o retorno triunfante do Filho do Homem (Mc 13.24-27)”.1 Por não sabermos quando se dará Sua Segunda Vinda, é necessária a vigilância (Mt 24.42-25.13). Alguns textos sugerem um tempo relativamente longo entre a ascensão e a Segunda Vinda de Cristo (Rm 9; 11; Mt 24.45-51; 2 Pe 3). O livro de Atos é um livro de história da Igreja e ninguém escreve história convencido de que o mundo está para acabar. 

Os textos que falam sobre uma “vinda súbita” e o dos “sinais”, e mesmo aqueles que apontam para uma “demora”, não são contraditórios, mas complementares. Em 1 Tessalonicenses 5, temos uma referência à “vinda súbita”, já em 2 Tessalonicenses 2, temos a menção de “sinais” que devem preceder a Segunda Vinda de Cristo. Jesus não disse que poderia vir a qualquer momento, antes profetizou uma série de eventos que se dariam antes daquele glorioso dia. Tais sinais não são suficientemente precisos para calcularmos o tempo da Sua vinda, que para nós permanece como incerta, requerendo que estejamos sempre alertas. Este “em breve” pode até nos parecer demorado, como bem explicou Pedro, dizendo que há um propósito para o que encaramos como “demora”, a longanimidade de Deus e seu desejo que nenhum pereça (2 Pe 3.9); Pedro ensina que podemos fazer algo para “apressar” a Segunda Vinda de Cristo (2 Pe 3.12), que depende, em algum sentido, das conversões (At 3.19-21). Jesus disse: “Mas é necessário que primeiro o evangelho seja pregado a todas as nações” (Mc 13.10; cf. Mt 24.14). Conforme o ensino do apóstolo Pedro, a Segunda Vinda de Cristo não é iminente, pelo contrário ela depende da realização dos propósitos de Deus, que, por sua vez, estão vinculados à missão da Igreja. É desta forma que podemos entender o que o apóstolo quer dizer com esta incumbência dada aos cristãos de “apressar” a vinda do Senhor (2 Pe 3.12). Seria contraditório crer que a Segunda Vinda de Cristo pode se dar a qualquer momento, independente de qualquer fator ou cumprimento profético, e, ao mesmo tempo, ensinar que pode ser feito algo para apressar a vinda do Senhor. Ou Pedro era um pré-tribulacionista que acreditava que a Segunda Vinda de Cristo era iminente ou era, como deixou claro em sua segunda epístola, daqueles que acreditam que a Segunda Vinda do Senhor depende, entre outras coisas, da obra missionária da Igreja. Por isso, exorta os cristãos que cumpram o seu papel, apressando a volta de Jesus.




terça-feira, 25 de junho de 2019

A Vinda do Anticristo



Segundo  as  palavras  de  Jesus  em  Mateus  24,  uma  das  características  crescentes  da época  precedente  à  queda  de  Israel  haveria  de  ser  a  apostasia  dentro  da  Igreja  Cristã.  Isso  foi mencionado  anteriormente,  mas  um  estudo  mais  concentrado  nesse  ponto  lançará  mais luz  sobre  várias  questões  relacionadas  ao  Novo  Testamento  –  questões  com  freqüência concebidas  de  forma  errônea. 

Geralmente  pensamos  no  período  apostólico  como  um  tempo  de  evangelismo explosivo  e  crescimento  da  Igreja,  uma  “idade  de  ouro”  quando  ocorriam  milagres assombrosos  todos  os  dias.  Essa  imagem  comum  é  substancialmente  correta,  mas  é defeituosa  em  vista  de  uma  omissão  proeminente.  Tendemos  a  negligenciar  o  fato  que  a Igreja  primitiva  foi  o  cenário  da  aparição  da  heresia  mais  dramática  na  história  do  mundo

A Grande  Apostasia 

A  heresia  começou  a  introduzir-se  muito  cedo  no  desenvolvimento  da  Igreja.  Atos 15  registra  a  reunião  do  primeiro  Concílio  da  Igreja,  que  foi  realizada  a  fim  de  tomar  uma decisão  autoritativa  com  respeito  à  questão  da  justificação  pela  fé  (alguns  mestres  tinham promovido  a  falsa  doutrina  que  uma  pessoa  deveria  guardar  as  leis  cerimoniais  do  Antigo Testamento  para  ser  justificado).  Contudo,  o  problema  não  desapareceu;  alguns  anos depois,  Paulo  teve  que  tratar  com  ele  novamente,  em  sua  carta  às  igrejas  da  Galácia.  Como disse  S.  Paulo,  essa  aberração  doutrinária  não  era  insignificante,  pois  afetava  a  própria salvação:  era  um  “evangelho  diferente”,  uma  deformação  total  da  verdade,  e  equivalia  a uma  repudiação  do  próprio  Jesus  Cristo.  Usando  algumas  das  terminologias  mais  severas de  sua  carreira,  Paulo  pronunciou  condenação  sobre  os  “falsos  irmãos”  que  ensinavam  a heresia  (veja  Gálatas  1:6-9;  2:5,  11-21;  3:1-3;  5:1-12).  

S.  Paulo  também  previu  que  a  heresia  contagiaria  as  igrejas  da  Ásia  Menor.  Reuniu os  presbíteros  de  Éfeso,  e  exortou-os  a  “atendei  por  vós  e  por  todo  o  rebanho”,  pois  “eu sei  que,  depois  da  minha  partida,  entre  vós  penetrarão  lobos  vorazes,  que  não  pouparão  o rebanho.  E  que,  dentre  vós  mesmos,  se  levantarão  homens  falando  coisas  pervertidas  para arrastar  os  discípulos  atrás  deles”  (Atos  20:28-30).  Tal  como  S.  Paulo  tinha  predito,  a  falsa doutrina  se  tornou  um  problema  de  proporções  enormes  nessas  igrejas.  No  tempo  em  que o  livro  do  Apocalipse  foi  escrito,  algumas  delas  tinham  chegado  a  estar  quase completamente  arruinadas  por  meio  do  progresso  dos  ensinos  heréticos  e  a  apostasia resultante  (Apocalipse  2:2,  6,  14-16,  20-24;  3:1-4,  15-18). 

Mas  o  problema  da  heresia  não  ficou  limitado  a  uma  área  geográfica  ou  cultural.  Ele se  espalhou  e  se  tornou  um  tema  cada  vez  mais  tratado  pelo  conselho  apostólico  e  de vigilância  pastoral  com  o  avançar  do  tempo.  Alguns  hereges  ensinavam  que  a  ressurreição final  já  tinha  acontecido  (2  Timóteo 2:18),  enquanto  outros  alegavam  que  a  ressurreição  era impossível  (1  Coríntios 15:12);  alguns  ensinavam  doutrinas  estranhas  de  ascetismo  e adoração  a  anjos  (Colossenses  2:8, 18-23;  1 Timóteo 4:1-3),  enquanto  outros  advogavam todo  tipo  de  imoralidade  e  rebelião  em  nome  da  “liberdade”  (2  Pedro 1-3,  10-22;  Judas 4, 8, 10-13, 16).  Repetidamente  os  apóstolos  se  viam  forçados  a  repreender  fortemente  a tolerância  para  com  os  falsos  mestres  e  “falsos  apóstolos”  (Romanos 16:17-18;  2  Coríntios 11:3-4, 12-15;  Filipenses 3:18-19;  1 Timóteo 1:3-7;  2 Timóteo 4:2-5),  pois  estes  tinham  sido a  causa  do  afastamento  de  muitos  da  fé,  e  a  extensão  da  apostasia  estava  crescendo  à medida  que  o  tempo  avançava  (1Timóteo 1:19-20;  6:20-21;  2 Timóteo  2:16-18;  3:1-9,  13; 4:10, 14-16).  Uma  das  últimas  cartas  do  Novo  Testamento,  o  livro  de  Hebreus,  foi  escrita  a uma  comunidade  cristã  que  estava  a  ponto  de  abandonar  completamente  o  Cristianismo.  A Igreja  Cristã  da  primeira  geração  não  foi  caracterizada  somente  pela  fé  e  milagres;  ela  foi caracterizada  também  por  uma  crescente  desobediência  à  lei,  rebelião  e  heresia  dentro  da própria  comunidade  cristã  –  tal  como  Jesus  tinha  predito  em  Mateus  24. 

A Grande Apostasia 

Os  cristãos  tinham  um  termo  específico  para  essa  apostasia.  Eles  a  chamavam  de Anticristo.  Muitos  escritores  populares  têm  feito  especulações  acerca  desse  termo, usualmente  falhando  em  considerar  seu uso  na  Escritura.  Em  primeiro  lugar,  considere  um fato  que  sem  dúvida  assombrará  algumas  pessoas:  a  palavra  “Anticristo”  nunca  ocorre  no  livro  do Apocalipse.  Nem  uma  só  vez.  Todavia,  o  termo  é  rotineiramente  usado  por  mestres  cristãos como  um  sinônimo  de  “a  Besta”  de  Apocalipse  13.  Obviamente,  não  há  dúvida  que  a  Besta é  um  inimigo  de  Cristo,  e  por  isso  é  “anti”  Cristo  nesse  sentido;  meu  ponto,  contudo,  é  que o  termo  Anticristo  é  usado  num  sentido  muito  específico,  e  em  sua  essência  não  se  relaciona com  a  figura  conhecida  como  “a  Besta”  e  “666”.

Um erro  adicional  ensina  que  “o  Anticristo”  é  um  indivíduo  específico;  relacionado com  isso  está  a  noção  de  que  “ele”  é  alguém  que  aparecerá  no  final  do  mundo.  Todas  essas idéias,  como  a  primeira,  são  contraditas  pelo  Novo  Testamento. 

De  fato,  as  únicas  ocorrências  do  termo  Anticristo  estão  nos  versículos  abaixo,  das cartas  do  apóstolo  João: 

Filhinhos,  já  é  a  última  hora;  e,  como  ouvistes  que  vem  o  anticristo, também,  agora,  muitos  anticristos  têm  surgido;  pelo  que  conhecemos  que  é a  última  hora.  

Eles  saíram  de  nosso  meio;  entretanto,  não  eram  dos  nossos;  porque,  se tivessem  sido  dos  nossos,  teriam  permanecido  conosco;  todavia,  eles  se foram  para  que  ficasse  manifesto  que  nenhum  deles  é  dos  nossos. 

Quem  é  o  mentiroso,  senão  aquele  que  nega  que  Jesus  é  o  Cristo?  Este  é  o anticristo,  o  que  nega  o  Pai  e  o  Filho.  Todo  aquele  que  nega  o  Filho,  esse não  tem  o  Pai;  aquele  que  confessa  o  Filho  tem  igualmente  o  Pai.  

Isto  que  vos  acabo  de  escrever  é  acerca  dos  que  vos  procuram  enganar  (1 João  2:18-19,  22-23,  26).

Amados,  não  deis  crédito  a  qualquer  espírito;  antes,  provai  os  espíritos  se procedem  de  Deus,  porque  muitos  falsos  profetas  têm  saído  pelo  mundo fora.

Nisto  reconheceis  o  Espírito  de  Deus:  todo  espírito  que confessa que Jesus Cristo  veio  em  carne  é  de  Deus; e  todo  espírito  que  não  confessa  a  Jesus  não  procede  de  Deus;  pelo contrário,  este  é  o  espírito  do  anticristo,  a  respeito  do  qual  tendes  ouvido que  vem e,  presentemente,  já  está  no  mundo.

Filhinhos,  vós  sois  de  Deus  e  tendes  vencido  os  falsos  profetas,  porque maior  é  aquele  que  está  em  vós  do  que  aquele  que  está  no  mundo.  Eles procedem  do  mundo;  por  essa  razão,  falam  da  parte  do  mundo,  e  o  mundo os  ouve.  

Nós  somos  de  Deus;  aquele  que  conhece  a  Deus  nos  ouve;  aquele  que  não  é da  parte  de  Deus  não  nos  ouve.  Nisto  reconhecemos  o  espírito  da  verdade  e o  espírito  do  erro  (1  João  4:1-6).  

Porque  muitos  enganadores  têm  saído  pelo  mundo  fora,  os  quais  não confessam  Jesus  Cristo  vindo  em  carne;  assim  é  o  enganador  e  o  anticristo.

Acautelai-vos,  para  não  perderdes  aquilo  que  temos  realizado  com  esforço, mas  para  receberdes  completo  galardão.  

Todo  aquele  que  ultrapassa  a  doutrina  de  Cristo  e  nela  não  permanece  não tem  Deus;  o  que  permanece  na  doutrina,  esse  tem  tanto  o  Pai  como  o  Filho. 

Se  alguém  vem  ter  convosco  e  não  traz  esta  doutrina,  não  o  recebais  em casa,  nem  lhe  deis  as  boas-vindas.  

Porquanto  aquele  que  lhe  dá  boas-vindas  faz-se  cúmplice  das  suas  obras más  (2  João  7-11). 

Os  textos  citados  acima  incluem  todas  as  passagens  da  Bíblia  que  mencionam  a palavra  Anticristo,  e  delas  podemos  extrair  várias  conclusões  importantes: 

Primeiro,  os  cristãos  já  tinham  sido  advertidos  sobre  a  vinda  do  Anticristo  (1  João  2:18; 4:3). 

Segundo,  não  há  um  único,  mas  “muitos  Anticristos”  (1  João  2:18).  O  termo Anticristo,  portanto,  não  pode  ser  simplesmente  uma  designação  de  um  indivíduo. 

Terceiro,  o  Anticristo  já  estava  atuando  quando  S.  João  escreveu:  “também,  agora, muitos  anticristos  têm  surgido”  (1João 2:18);  “Isto  que  vos  acabo  de  escrever  é  acerca  dos que  vos  procuram  enganar”  (1João  2:26);  “este  é  o  espírito  do  anticristo,  a  respeito  do  qual tendes  ouvido  que  vem  e,  presentemente,  já  está  no  mundo”  (1João 4:3);  “Porque  já  muitos enganadores  entraram  no  mundo,  os  quais  não  confessam  que  Jesus  Cristo  veio  em  carne. Este  tal  é  o  enganador  e  o  anticristo”  (2João  7,  RC).  Obviamente,  se  o  Anticristo  já  estava presente  no  primeiro  século,  ele  não  era  alguma  figura  que  surgiria  no  final  do  mundo.

Quarto,  o  Anticristo  era  um  sistema  de  incredulidade,  particularmente  a  heresia  de  negar  a pessoa  e  obra  de  Jesus  Cristo.  Embora  os  Anticristos  aparentemente  alegassem  pertencer  ao  Pai, eles  ensinavam  que  Jesus  não  era  o  Cristo  (1João 2:22);  em  união  com  os  falsos  profetas  (1 João  4:1),  negavam  a  encarnação  (1João 4:3; 2João 7,9);  e  rejeitavam  a  doutrina  apostólica (1João  4:6). 

Quinto,  os  Anticristos  tinham  sido  membros  da  Igreja  Cristã,  mas  tinham abandonado  a  fé  (1João 2:19).  Agora  esses  apóstatas  estavam  tentando  enganar  outros cristãos,  a  fim  de  apartar  de  Jesus  Cristo  toda  a  Igreja  (1João  2:26;  4:1;  2João 7, 10). 

Colocando  tudo  isso  junto,  podemos  ver  que  o  Anticristo  é  uma  descrição  tanto  do sistema  de  apostasia como  de  indivíduos  apóstatas.  Em  outras  palavras,  o  Anticristo  era  o cumprimento  da  profecia  de  Jesus  que  um  tempo  de  grande  apostasia  chegaria,  quando “muitos  hão  de  se  escandalizar,  trair  e  odiar  uns  aos  outros;  levantar-se-ão  muitos  falsos profetas  e  enganarão  a  muitos”  (Mateus  24:10-11).  Como  João  disse,  os  cristãos  tinham sido  advertidos  da  vinda  do  Anticristo;  e,  certamente,  “muitos  Anticristos”  surgiram.  Por um  tempo,  eles  creram  no  evangelho;  mais  tarde  abandonaram  a  fé,  e  então  começaram  a tentar  enganar  a  outros,  quer  iniciando  novas  seitas  ou,  o  que  é  mais  provável,  procurando atrair  cristãos  para  o  judaísmo  –  a  falsa  religião  que  alegava  adorar  o  Pai  enquanto  negava  o Filho.  Quando  a  doutrina  do  Anticristo  é  entendida,  ela  se  encaixa  perfeitamente  com  o que  o  restante  do  Novo  Testamento  fala  sobre  a  época  da  “última  geração”. 

Um  dos  Anticristos  que  afligiu  a  Igreja  primitiva  foi  Cerinto,  o  líder  de  uma  seita judaica  do  primeiro  século.  Considerado  pelos  Pais  da  Igreja  como  “o  Arqui-herege”,  e identificado  como  um  dos  “falsos  apóstolos”  aos  quais  S.  Paulo  se  opôs,  Cerinto  era  um judeu  que  se  uniu  à  Igreja  e  começou  a  afastar  os  cristãos  da  fé  ortodoxa.  Ele  ensinava  uma deidade  menor,  e  não  o  Deus  verdadeiro,  que  tinha  criado  o  mundo  (sustentando,  com  os gnósticos,  que  Deus  era  muito  “espiritual”  para  se  preocupar  com  a  realidade  material). Logicamente,  isso  significava  também  uma  negação  da  encarnação,  visto  que  Deus  não tomaria  para  si  mesmo  um  corpo  físico  e  uma  personalidade  verdadeiramente  humana.  E Cerinto  era  consistente:  ele  declarou  que  Jesus  tinha  sido  meramente  um  homem  comum, não  nascido  de  uma  virgem;  que  “o  Cristo”  (um  espírito  celestial)  tinha  descido  sobre  o homem  Jesus  em  seu  batismo  (capacitando-o  a  realizar  milagres),  mas  então  o  deixou novamente  na  crucificação.  Cerinto  também  advogava  uma  doutrina  da  justificação  pelas obras  –  em  particular,  a  necessidade  absoluta  de  observar  as  ordenanças  cerimoniais  do Antigo  Pacto  para  ser  salvo. 

Ademais,  Cerinto  foi  aparentemente  o  primeiro  a  ensinar  que  a  segunda  vinda iniciaria  um  reino  literal  de  Cristo  em  Jerusalém  por  mil  anos.  Embora  isso  fosse  contrário ao  ensino  apostólico  do  reino,  Cerinto  alegou  que  um  anjo  tinha  lhe  revelado  essa  doutrina (assim  como  Joseph  Smith,  um  Anticristo  do  século  19,  afirmaria  mais  tarde  ter  recebido uma  revelação  angelical). 

Os  verdadeiros  apóstolos  se  opuseram  fortemente  à  heresia  de  Cerinto.  S.  Paulo admoestou  as  igrejas:  “Mas,  ainda  que  nós  ou  mesmo  um  anjo  vindo  do  céu  vos  pregue evangelho  que  vá  além  do  que  vos  temos  pregado,  seja  anátema!”  (Gálatas 1:8),  e  na  mesma carta  continuou  refutando  as  heresias  legalistas  sustentadas  por  Cerinto.  De  acordo  com  a tradição,  o  apóstolo  João  escreveu  seu  evangelho  e  suas  cartas  com  Cerinto  especialmente em  mente.  (Somos  informados  que  S.  João  entrou  certa  vez  numa  casa  de  banho  público  e reconheceu  esse  Anticristo  diante  dele.  O  apóstolo  imediatamente  deu  meia-volta  e  correu, gritando:  “Fujamos,  não  seja  que  desabe  o  edifício;  pois  Cerinto,  o  inimigo  da  verdade,  está dentro!”). 

Retornando  às  declarações  de  S.  João  sobre  o  espírito  do  Anticristo,  devemos observar  que  ele  enfatiza  outro  ponto,  muito  significante:  segundo  Jesus  predisse  em  Mateus  24,  a  vinda  do  Anticristo  é  um  sinal  “do  Fim”:  “Filhinhos,  já  é  a  última  hora;  e,  como ouvistes  que  vem  o  anticristo,  também,  agora,  muitos  anticristos  têm  surgido;  pelo  que conhecemos  que  é  a  última  hora”  (1  João  2:18).  A  relação  que  as  pessoas  geralmente  fazem  entre o  Anticristo  e  “os  últimos  dias”  é  correta;  mas  o  que  é  frequentemente  ignorado  é  o  fato que  a  expressão  os  últimos  dias,  e  termos  similares,  é  usada  na  Bíblia  para  referir-se,  não  ao fim  do  mundo  físico,  mas  aos  últimos  dias  da  nação  de  Israel,  os  “últimos  dias”  que  terminariam com  a  destruição  do  templo  em  70  d.C.  Isso,  também,  surpreenderá  a  muitos,  mas  devemos aceitar  os  ensinos  claros  da  Escritura.  Os  autores  do  Novo  Testamento  sem  dúvida  usavam a  linguagem  os  “últimos  tempos”  quando  falando  do  período  em  que  viviam,  antes  da queda  de  Jerusalém.  Como  temos  visto,  o  apóstolo  João  disse  duas  coisas  sobre  esse  ponto: primeiro,  que  o  Anticristo  já  tinha  vindo;  e,  segundo,  que  a  presença  do  Anticristo  era  prova  de  que ele  e  seus  leitores  estavam  vivendo  na  “última  hora”.  Em  uma  de  suas  primeiras  cartas,  S.  Paulo teve  que  corrigir  uma  impressão  errônea  com  respeito  ao  juízo  vindouro  sobre  Israel.  Os falsos  mestres  assustavam  os  crentes  dizendo  que  o  dia  do  juízo  estava  por  vir  sobre  eles.  S. Paulo  lembrou  aos  cristãos  o  que  ele  tinha  explicando  antes: 

Ninguém,  de  nenhum  modo,  vos  engane,  porque  isto  não  acontecerá  sem que  primeiro  venha  a  apostasia..  (2  Tessalonicenses  2:3). 

No  fim  daquela  época,  contudo,  enquanto  João  estava  escrevendo  suas  cartas,  a Grande  Apostasia  –  o  espírito  do  Anticristo,  sobre  o  qual  o  Senhor  tinha  profetizado  –  era uma  realidade. 

S.  Judas,  que  escreveu  um  dos  últimos  livros  do  Novo  Testamento,  deixa-nos  sem dúvida  sobre  esse  assunto.  Fazendo  fortes  condenações  contra  os  hereges  que  tinham invadido  a  Igreja  e  estavam  tentando  afastar  os  cristãos  da  fé  ortodoxa  (Judas 1-16),  ele recorda  aos  seus  leitores  que  eles  já  haviam  sido  advertidos  sobre  essa  mesma  coisa: 

Vós,  porém,  amados,  lembrai-vos  das  palavras  anteriormente  proferidas pelos  apóstolos  de  nosso  Senhor  Jesus  Cristo,  os  quais  vos  diziam:  No  último tempo,  haverá  escarnecedores,  andando  segundo  as  suas  ímpias  paixões.  São  estes os  que  promovem  divisões,  sensuais,  que  não  têm  o  Espírito  (Judas  17-19). 

S.  Judas  claramente  considera  as  advertências  sobre  os  “encarnecedores”  como  se referindo  aos  hereges  dos  seus  dias  –  significando  que  seus  dias  era  o  período  do  “último tempo”.  Como  S.  João,  ele  sabia  que  a  multiplicação  rápida  dos  falsos  irmãos  era  um  sinal do  Fim.  O  Anticristo  tinha  chegado,  e  já  era  a  última  hora. 


Fonte:  Capítulo  3  do  excelente  livro  The  Great  Tribulation, de David Chilton. 

Tradução: Felipe  Sabino de Araújo Neto