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quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Israel é o relógio de Deus no Mundo?



Essa expressão “relógio de Deus no mundo” é usada por muitos cristãos que vivem antenados no que acontece com o Estado Israelense. Para essas pessoas, o reaparecimento de Israel como nação e os constantes conflitos que ocorrem por aquelas bandas ganham ares escatológicos e são vistos como o cumprimento das profecias bíblicas acerca do fim dos tempos e o retorno de Cristo.

Devido as recentes notícias de conflitos entre palestinos e israelenses, choveu no Facebook campanhas de oração por Israel. Devemos apenas lembrar que do lado da Palestina estão morrendo pessoas, terroristas e não-terroristas, sendo assim, nossas orações devem se estender aos não-israelenses que também estão sendo vitimados. O direito à autodefesa é inegável, não entrarei nesse mérito. Quero apenas alertar a Igreja do Senhor, que o verdadeiro Israel de Deus deixou de ser uma nação há muito tempo. Mais precisamente há dois milênios, quando a Igreja de Cristo foi estabelecida na terra.

Não estou querendo com isso dizer que os fatos históricos são alheios a ação soberana de Deus. Obviamente acredito que a Trindade é quem faz a história, e não há nada desde a criação até o retorno de Cristo que não seja direcionado pela Divindade. Todavia questiono a clareza de algumas interpretações escatológicas. Sinceramente não acredito que certas profecias atribuídas ao futuro de Israel sejam para o Estado formado em 1948 pela ONU e com total apoio estadunidense. 

Vejam como existem algumas coisas bem forçadas; li num site os supostos cumprimentos das profecias bíblicas:


PROFECIA: “Também trarei do cativeiro o meu povo Israel; e eles reedificarão as cidades assoladas, e nelas habitarão; plantarão vinhas, e beberão o seu vinho; e farão pomares, e lhes comerão o fruto. Assim os plantarei na sua terra, e não serão mais arrancados da sua terra que lhes dei, diz o senhor teu Deus.” (Amós 9.13-14).

CUMPRIMENTO: Israel é o 3º maior produtor de flores, está entre as nações com o maior IDH do planeta e supera até os EUA no Índice de Esperança de Vida (alguém sabe que índice é esse?).

PROFECIA: “E vos tomarei dentre as nações, e vos congregarei de todas as terras, e vos trarei para a vossa terra.” (Ezequiel 36.24).
CUMPRIMENTO: Após 19 séculos, com a criação do moderno Estado de Israel, milhares de judeus dispersos pelo mundo, saíram de 120 nações para formar o seu país e assim cumprir o que está escrito na Bíblia. 

Ambos os profetas falam de coisas que na época eram futurísticas, todavia para nós são acontecimentos presentes nos anais da História. Amós profetizou antes do Cativeiro Babilônico, quando Nabucodonosor destruiu Jerusalém, profanou e saqueou o Templo e levou cativo milhares de milhares de judeus. Ezequiel foi profeta contemporâneo ao exílio. O cativeiro mencionado é o da Babilônia, e o regresso do cativeiro foi cumprido pela geração de Esdras e Neemias. Deus usou os Persas - principalmente Ciro - para punir os babilônicos e remir os israelitas. 

Ler estes autores com as lentes da escatologia moderna é cair num erro primário de quem desconhece a história daqueles que outrora foram chamados para serem luzeiros entre as nações, o povo que foi o receptor da Revelação Específica que culminou no ministério de Jesus Cristo. Por isso muito cuidado ao afirmarmos determinadas coisas, pois, estaremos dizendo aquilo que o Senhor nunca disse, acrescentando algo a Palavra. Deslize gravíssimo!

As questões belicosas entre Israel e a Faixa de Gaza envolvem interesses políticos e econômicos que estão aquém das promessas bíblicas. Mas daí você pergunta: Deus prometeu que aquela terra seria dos israelitas ou não prometeu? Sim, prometeu. Contudo não devemos esquecer que a promessa está inserida num contexto aliancista (Ex 19:5). Israel descumpriu a sua parte e por isso não tem que reclamar coisa alguma. Cristo, em certa ocasião, afirmou:

“Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos”. Mateus 21:43

E esta nação não é daqui. É a nação de forasteiros composta por cidadãos do Céu. As bênçãos que eram de Israel agora estão em posse da Igreja. E porquê? Porque os israelenses negaram o Messias. Essa negação fez com que pessoas de outros povos se juntassem a mesa com Abraão, Isaque e Jacó (Mt 8:11-12). Somos seus descendentes não por consanguinidade, mas sim mediante a Fé. Não basta descender de Abraão, tem que produzir frutos de arrependimento (Lc 3:8), e estes frutos foram produzidos por todos aqueles que receberam a Cristo como seu Senhor e Salvador, mediante a atuação do Espírito Santo, que é o que convence o homem de seus pecados (Jo 16:8).

Aconselho que diante de tudo o que esteja acontecendo no Oriente Médio, possamos ler os fatos com o olhar de misericórdia do Senhor. No momento em que escrevia esse texto, havia 120 mortes do lado da Palestina e 0 mortes do lado de Israel. E o mais triste nisso é que muitas crianças inocentes estão sendo assassinadas. O relógio de Deus no mundo é a Igreja, e esta ao cumprir o Ide coopera para a volta de Jesus (Mt 24:14). Há “filhos de Abraão” também entre os árabes. É necessário pregar para que o Espírito desperte os eleitos. Atentemos mais para a nossa missão e continuemos a orar por Israel, pela Palestina e pelo mundo inteiro. E que Deus tenha piedade do seu povo (a Igreja). 


Soli Deo Gloria.


segunda-feira, 22 de julho de 2019

O literalismo dispensacionalistas e suas inconsistências



O literalismo produz muitos equívocos de interpretação, por exemplo, Nicodemos, por conta do literalismo, não entendeu a linguagem figurada de Jesus, concluindo equivocadamente que nascer de novo era o mesmo que voltar ao ventre de sua mãe (Jo 3:4). E a mulher samaritana errou em interpretar literalmente a seguinte frase de Jesus “aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede”. Tanto que ela chegou a pedir para beber desta água para não precisar voltar a buscar água naquele poço (João 4:10-15). E os líderes judeus não entenderam a linguagem figurada de Jesus que falou do seu corpo como sendo templo e quiseram matar a Jesus por conta de sua errônea interpretação literal (Jo 2:21 e Mt 26:61). 

O literalismo levou os dispensacionalistas a fazerem uma separação tão radical entre Israel e Igreja, chegando ao ponto de negarem que o Sermão do Monte seja uma mensagem de Cristo para os cristãos, alegando tratar-se de uma mensagem apenas voltada aos judeus. (Vide notas da Bíblia dispensacionalista de Estudo Scofield). No entanto, o Novo Testamento aplica a Igreja aquilo que o Antigo Testamento exclusivamente diz a respeito de Israel: “vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus… vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus…” (1Pe2.9-10; Tt 2:14; Ap 1.6; 5.10; cp. Êx 19:5-6; Dt 14:2; Is 43:20).

Os dispensacionalistas seguem a mesma hermenêutica literalista que levou os fariseus a rejeitarem a Cristo, pois esperavam um rei político que os liderasse numa guerra contra o Império Romano, restaurando seu reino terreno, e não um rei pacífico e espiritual, cujo reino não é deste mundo. 

Agora, ao contrário do que alegam, os dispensacionalistas não são nada consistentes em sua proposta de interpretação literal das Escrituras Sagradas. Por exemplo:

1. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente as afirmações de Jesus sobre Satanás já ter sido amarrado (Mt 12.29), já ter caído do céu como um relâmpago (Lc 10.17) e que já havia chegado a hora dele ser expulso (Jo 12.31). 

2. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente a estupenda declaração de Jesus: “certamente é chegado o reino de Deus sobre vós” (Mt 12.28); simplesmente porque isto contradiz sua crença de que o reino foi adiado por conta da rejeição de Israel. 

3. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente a seguintes declarações de Jesus sobre seu reino não ser deste mundo e nem se manifestar com visível aparência: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (Jo 18.36); “Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós.” (Lc 17.20–21), os dispensacionalista preferem contrariar o claro ensino de Cristo, do que abandonarem sua ideia de ver estabelecido um reino milenar aqui na terra em termos físicos e literais.

4. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente as parábolas que ensinam que o Reino de Deus se manifesta no mundo de maneira discreta como um grão de mostarda e que vai crescendo de modo paulatino e que se defronta sempre com o inimigo que se apresenta em forma de pássaro ou daquele que planta o joio no meio do trigo (Mt 13).

5. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente as seguintes declarações de Jesus: “sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” Mt 16.18); e “é necessário que primeiro o evangelho seja pregado a todas as nações” (Mc 13.10), pois eles ensinam que o arrebatamento sempre foi iminente, podendo ter acontecido e acontecer a qualquer momento, mesmo antes do sucesso da Igreja em fazer discípulos de todas as nações, mesmo antes do cumprimento da profecia de que o Evangelho precisa necessariamente ser pregado para testemunho a todas as nações antes do fim. 

6. Os dispensacionalista não interpretam literalmente a profecia das Setenta Semanas de Daniel, pois dizem que ela não se cumpriu em 490 anos na vinda de Cristo, sua morte e, no consequente destruição de Jerusalém e do templo, ensinando, ao contrário, que há um intervalo de dois mil anos ou mais no seu cumprimento profético quando não existe nada naquela profecia que sequer sugira algo assim.

7. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente a profecia de Daniel 2, pois negam que Cristo tenha inaugurado seu Reino nos dias do Império Romano conforme esclarece Daniel: “nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre, como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro. O Grande Deus fez saber ao rei o que há de ser futuramente. Certo é o sonho, e fiel, a sua interpretação.” (Dn 2.44–45).

8. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente o ensino de Jesus quanto a necessidade de vigiar para não ser pego de surpresa pela Vinda do Senhor que porá fim a oportunidade de salvação (Mt 24.14 e 37; 25.1-13; Mc 13.33), pois, contrariamente, ensinam que será possível haver salvação depois do arrebatamento.

9. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente 2 Tessalonicenses 2, que ensina que “a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e a nossa reunião com ele”(2Ts 2.1), que sabemos se dará com o arrebatamento, “não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus, ou objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus.” (2Ts 2.3b,4). Isto porque a interpretação literal deste texto levaria necessariamente a negação do ensino pré-tribulacionista que ensina que a manifestação do Iníquo somente acontecerá após o arrebatamento da Igreja. 

10. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente as diversas passagens bíblicas que ensinam que a Igreja passa pela Grande Tribulação (Ap 1.9; 2.3-13; 6.9s; 7.9-17; 11.1-10; 12.11, 17; 13.7,8; 14.1-5,13). 

11. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente os textos que claramente ensinam que o juízo final dos incrédulos irá ocorrer com a Segunda-vinda (Dn 12.2; Mt 25.31-34).

12. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente as palavras de Tiago no encerramento do concílio de Jerusalém, onde ele vê a conversão dos gentios para fazerem parte da Igreja como o cumprimento da profecia a respeito da reedificação do tabernáculo caído de Davi. (At 15.14–19). 

13. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente a afirmação de Paulo que diz que a morte, o último inimigo, será destruída e tragada pela vitória na Segunda-vinda de Cristo (1Co 15.54), pois eles ensinam que, mesmo depois da Segunda Vinda de Cristo, haverá morte e rebelião na terra no milênio. 

14. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente quando Jesus diz que os redimidos ressuscitarão no "último dia” (Jo 6.40), eles afirmam que Jesus quis dizer mil e sete anos antes do último dia. Porque o dispensacionalismo ensina que a ressurreição dos que morreram em Cristo acontecerá antes do Início da Grande Tribulação que, segundo eles, durará 7 anos. Ainda segundo este ponto de vista, haveria um segundo momento de ressurreição de pessoas que se converteram e morreram durante o período da Grande Tribulação, ressurreição esta que se daria por ocasião da Segunda-Vinda de Cristo. Mas este ainda não seria o último dia, visto que eles ensinam que depois disto ainda haveria um período de mil anos de história sobre a face da terra. Por isto é que os dispensacionalistas precisam interpretar último dia de maneira bem figurada. Para eles existem múltiplos "ultimo dia". 

15. Os dispensacionalistas também não interpretam literalmente o texto em que Jesus diz que chegará "a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados” (João 5:28,29), eles negam o sentido normal do texto, alegando que ao dizer "a hora”, Jesus teria intencionado dizer pelo menos tres horas ou momentos distintas separadas por sete anos e mais outros mil anos. Além de tamanho disparate, eles ensinam também que, quando Jesus diz que naquela hora todos ressuscitarão, que não é bem assim, dizem que não devemos interpretar “todos” de maneira literal, pois, para eles, “todos" não significam todos, mas uns agora e outros depois e outros mais tarde ainda. 

16. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente o texto em que Jesus diz que o sumo-sacerdote e seus comparsas ali presentes o veriam vindo sobre as nuvens do céu (Mt 26:63-64), pois segundo a sua cronologia escatológica, os perdidos não ressuscitarão na Segunda-Vinda, mas apenas mil anos mais tarde. O resultado disto é que eles são forçados a apelar para a alegorização, dizendo que o sumo-sacerdote não ressuscitará para contemplar a vinda do Senhor, pois que ele ali representa a comunidade judaica. Jesus apenas estaria querendo dizer que haverá judeus vivos por ocasião da Segunda-vinda. 

17. Os dispensacionalistas também não interpretam literalmente Apocalipse 1.7 que ensina que "todos, até os que o traspassaram", verão Jesus regressando sobre as nuvens dos céus, pois ensinam eles que o termo "todos" não deve ser interpretado literalmente como "todos" e que de maneira alguma os que o traspassaram na cruz ressuscitarão para ver a Segunda-vinda de Cristo, pois ensinam que apenas os salvos ressuscitarão na Segunda Vinda de Cristo. Eles também recusam-se em concordar com a afirmação de Jesus de que a ressurreição dos salvos ninivitas se dará no dia do juízo final juntamente com a geração de judeus que rejeitou o testemunho de Cristo (Mt 12.41), simplesmente porque isto contraria seus pressupostos pré-milenistas. 

18. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente textos como João 10.16, 1 Coríntios 10.17; 12.13; Efésios 2.13-22 e Romanos 11 que ensinam que Deus só tem um povo, um só rebanho, pois há apenas uma só Oliveira da qual fazem parte pela fé judeus e gentios, pois Jesus derrubou a parede de separação que estava no meio, para que dos dois criasse, em si mesmo um novo homem, seu Corpo, a Igreja, edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo, a pedra angular. No entanto, os dispensacionalistas dizem que Deus tem dois povos, e que tem dois planos de salvação e dois destinos futuros, um terreno para Israel e outro celestial para a Igreja. Paulo usa 14 capítulos em Romanos para provar que nunca existiu um plano de salvação para judeus e outro para os gentios, mas, ao contrário, sempre houve um único plano eterno incluindo judeus e gentios (Gn 17.5; Rm 4.11, 12, 16, 17, 23, 24). 

19. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente Romanos 2.28-29: “Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, q no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus.” Pois uma interpretação literal deste texto implicaria necessariamente em espiritualizar o termo judeu, algo inadmissível para eles que vivem ensinando que judeu é judeu e cristão é cristão. Eles fazem uma separação radical entre Israel e Igreja.

20. Os dispensacionalistas também não interpretam literalmente Hebreus 12.22: “Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembléia”, pois isto seria espiritualizar Monte Sião e Jerusalém como algo pertencente a Igreja na Nova Aliança. 

21. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente o ensino de Paulo de que a promessa da terra feita a Abraão não diz respeito somente a Israel, mas também a Igreja. “Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim mediante a justiça da fé. Pois, se os da lei é que são os herdeiros, anula-se a fé e cancela-se a promessa, porque a lei suscita a ira; mas onde não há lei, também não há transgressão. Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça, a fim de que seja firme a promessa para toda a descendência, não somente ao que está no regime da lei, mas também ao que é da fé que teve Abraão (porque Abraão é pai de todos nós, como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí.)” (Rm 4.13–17). 

22. Os dispensacionalistas não interpretam literalmente o trecho de Hebreus 11 que diz que os patriarcas viram o cumprimento da promessa da terra em termos mais espirituais que terrestres, tanto que, Abraão, “pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade j que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador… Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. o Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade.” (Hb 11.9–16). Portanto, uma pátria celestial é a esperança dos judeus crentes do Antigo Testamento, idêntica a dos cristãos do Novo Testamento! Jesus subiu foi nos preparar um lar celestial na casa do Pai! “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também. (Jo 14.2–3). “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, a buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra” (Cl 3.1–2). Infelizmente, os dispensacionalistas seguem pensando na restauração de um reino terreno de Israel, enquanto que próprios patriarcas morreram na esperança de uma pátria celestial. Como Abraão, Isaque e Jacó, nós cristãos, também declaramos que “a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20).



quinta-feira, 18 de julho de 2019

1 Tessalonicenses 4 e Dispensacionalismo



Lemos Um  leitor  nos  envia  o  seguinte  questionamento:  “Em  I  Tess.  4,  está  escrito  que  os salvos  encontrarão  com  o  Senhor  nos  ares  (mortos  e  vivos),  isto  é  Pré-milenismo  e pré-tribulacionismo;  mas  há  muita  contestação,  pois  se  alega  que  Cristo  não  poderia voltar  várias  vezes  – onde  está  escrito na  Bíblia  que  Jesus  só  vai  voltar  uma  vez?”. 

A  pergunta  certamente  tem  haver  com  os  versículos  13  a  18,  onde  se  lê:  “Não  quero, porém,  irmãos,  que  sejais  ignorantes  acerca  dos  que  já  dormem,  para  que  não  vos entristeçais,  como  os  demais,  que  não  têm  esperança.  Porque,  se  cremos  que  Jesus morreu  e  ressuscitou,  assim  também  aos  que  em  Jesus  dormem,  Deus  os  tornará  a  trazer com  ele.  Dizemos-vos,  pois,  isto,  pela  palavra  do  Senhor:  que  nós,  os  que  ficarmos  vivos para  a  vinda  do  Senhor,  não  precederemos  os  que  dormem.  Porque  o  mesmo  Senhor descerá  do  céu  com  alarido,  e  com  voz  de  arcanjo,  e  com  a  trombeta  de  Deus;  e  os  que morreram  em  Cristo  ressuscitarão  primeiro.  Depois  nós,  os  que  ficarmos  vivos,  seremos arrebatados  juntamente  com  eles  nas  nuvens,  a  encontrar  o  Senhor  nos  ares,  e  assim estaremos  sempre  com  o  Senhor.  Portanto,  consolai-vos  uns  aos  outros  com  estas palavras”. 

Este  texto  nos  fala  de  dois  eventos  finais  que  aconteceriam  a  Igreja:  a)  a  ressurreição dos  cristãos  mortos;  e  b)  o  arrebatamento  dos  cristãos  vivos.  Este  texto,  a  princípio,  não nos  diz  nada  sobre  as  posições  Pré-Milenista  e  Pré-Tribulacionista.  A  intenção  de  S. Paulo  é  confortar  o  coração  dos  cristãos  para  os  quais  escrevem,  ao  que  parece,  aquela Igreja  estava  sendo  assediada  por  uma  heresia  que  negava  a  ressurreição  dos  mortos. Então,  Paulo  responde:  não  deem  ouvidos  a  este  ensino,  pois  nossa  fé  baseia-se  na ressurreição  do  Cristo,  e  se  Cristo  Ressuscitou,  os  mortos  em  Cristo  ressuscitarão também.  

Certamente,  eles  estavam  apavorados  com  a  ideia  de  que  os  seus  mortos  jamais veriam  a  vitória  final  da  Igreja,  que  eles  haviam  morrido  sem  receber  a  recompensa  que tanto  esperavam.  Por  isso  Paulo  diz  que  eles  seriam  recompensados  antes  dos  vivos: “Dizemos-vos,  pois,  isto,  pela  palavra  do  Senhor:  que  nós,  os  que  ficarmos  vivos  para  a vinda  do  Senhor,  não  precederemos  os  que  dormem.  Porque  o  mesmo  Senhor  descerá do  céu  com  alarido,  e  com  voz  de  arcanjo,  e  com  a  trombeta  de  Deus;  e  os  que morreram  em  Cristo  ressuscitarão  primeiro”.  Estavam  sendo  ensinados  –  por  algum herege  daqueles  dias  -  que  seus  mortos  haviam  perdido  a  recompensa,  pois  quando Cristo  voltasse,  estariam  mortos;  Paulo,  porém,  diz  que  justamente  o  oposto:  já  que morreram, se  encontrarão primeiro com  Jesus,  pois  o mortos ressuscitarão  primeiro.

Então,  este  é  o  telos  da  perícope  em  questão,  ou  seja,  sua  intenção  central.  Nada  no texto  sugere  que  Paulo  escreveu  para  ensinar  que  Jesus  voltaria  antes  do  Reino  ser inaugurado  (Pré-Milenismo),  ou  antes  de  haver  uma  Grande  Tribulação  (Pré-tribulacionismo).  Tais  temas  sequer  são  mencionados  no  texto,  como  podem  conferir por  si  mesmos.  Tudo  o  que  Paulo  está  dizendo  é  que  os  mortos  se  encontrariam  com Cristo  primeiro,  e  que  os  vivos,  se  encontrariam  com  ele  depois,  por  meio  do arrebatamento.

 Agora,  sobre  a  questão  de  Cristo  poder,  ou  não,  voltar  mais  de  uma  vez,  vale  dizer  o seguinte:  para  nós,  preteristas,  há,  sim,  duas  “vindas”  escatológicas  de  Cristo.  A primeira  vinda  foi  simbólica,  em  Juízo  contra  Jerusalém,  em  70  d.C,;  a  outra,  ainda futura,  se  dará  de  modo  corporal,  quando  ele  viver  ressuscitar  os  mortos  e  transformar os  vivos, na  inauguração  do Estado Eterno. 

O problema  com  a  posição  Dispensacionalista  é  que  ela  se  vê  obrigada  a  aceitar  várias ressurreições  finais,  e  não  apenas  esta  descrita  nas  Escrituras.  Para  sustentar  o Dispensacionalismo, se  precisa  de  várias  ressurreições  finais: 

1)  Os  dispensacionalistas  precisam  de  uma  ressurreição  de  salvos  antes  da  Grande Tribulação  começar  (aqui  ressuscitam  os  salvos  da  'Era  da  Igreja'); 

2)  Os  dispensacionalistas  precisam  de  uma  ressurreição  de  salvos  no  fim  da  Grande Tribulação (aqui  ressuscitam  os  salvos que  morreram  na  'Grande  Tribulação”); 

3)  Os  dispensacionalistas  precisam  de  uma  ressurreição  de  salvos  quando  o  Milênio acabar  (aqui  ressuscitam  os  salvos  que  morreram  durante  o  'Milênio'). 

Em  quarto  lugar,  eles  ainda  precisam  de  uma  Ressurreição  Final  para  os  condenados; ou  seja,  o  dispensacionalismo  acredita  em  4  ressurreições  finais.  No  entanto,  isso contraria  seu  pressuposto  hermenêutico  principal,  pois  alegam  a  obrigatoriedade  de interpretar  as  Escrituras  literalmente.  E  é  com  base  em  seu  apego  a  literalidade,  que  os dispensacionalistas  ensinam  que  haverá  duas  ressurreições  finais,  a  “primeira ressurreição”,  para  os  salvos,  na  Vinda  de  Cristo,  e  a  “segunda  ressurreição”,  para  a Morte,  na  época  do  Julgamento  Final.  Entretanto,  como  acabamos  de  ver,  aquilo  que eles chamam  de  “primeira  ressurreição”  é, na  verdade, três  ressurreições,  não uma.
   
De  modo  que,  apesar  de  Paulo,  no  texto  que  comentamos  na  primeira  parte  deste artigo,  não  falar  especificamente  sobre  estes  temas,  o  fato  de  ele  dizer  que  os  mortos  em Cristo  ressuscitaram  uma  vez,  e  que  os  vivos  serão  transformados,  e  depois  disso, “estaremos  para  sempre  com  o  Senhor”  (v.17),  destrói  completamente  as  teorias dispensacionalistas. 


quinta-feira, 11 de julho de 2019

Promessas Cumprindo-se em Cristo e na Igreja



Pensativo a respeito de como se dará o cumprimento da promessa relacionada a Terra Prometida, debrucei-me sobre as Escrituras em busca de resposta. Segue algumas considerações a respeito.

Um texto que me chamou bastante a atenção foi Hebreus 11.9-10, que claramente diz que Abraão, Isaque e Jacó habitaram em tendas na Terra Prometida de Canaã, considerando-a como terra alheia, porque nutriam a esperança de uma outra espécie de terra prometida, de caráter celestial, cujo arquiteto e construtor é o próprio Deus; O que nos faz lembrar das palavras de Jesus que disse aos discípulos que deveria subir aos céus para construir nossa definitiva habitação! Portanto, para o autor de Hebreus, a esperança dos patriarcas quanto a terra prometida é a mesma da Igreja: "Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo" (Fp 3.20). Por isso é que o autor de Hebreus arremata a questão dizendo: "Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade" (Hb 11:13-16). De modo que as Escrituras do Novo Testamento não veem as promessas da Terra Prometida encontrando um cumprimento terreno, mas celestial: "Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador" (Hb 11:9-10 ).

Outro texto bastante esclarecedor é o de Paulo, em Romanos 4.13, que diz: "Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim mediante a justiça da fé". Onde se vê que a promessa da terra é uma profecia que diz respeito aos descendentes espirituais de Abraão, judeus e gentios crentes em Cristo, herdeiros de todo o mundo renovado e celestial, uma nova terra, uma nova Jerusalém, ou seja, uma nova Canaã!

Assim como nosso corpo se revestirá de características celestiais e incorruptíveis, assim também acontecerá com a terra, que se revestirá do céu, numa espécie fusão, passando pela purificação do fogo! Não é à toa, que toda a criação geme e aspira a redenção (Rm 8.21). Por isto o céu é também chamado de Nova Jerusalém, nossa "terra" prometida que terá Jesus como o nosso sol (Ap 22.5), e também é dito que: "a cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada. As nações andarão mediante a sua luz, e os reis da terra lhe trazem a sua glória. As suas portas nunca jamais se fecharão de dia, porque, nela, não haverá noite. E lhe trarão a glória e a honra das nações. Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro" (Ap 21:23-27).

Notar tratar-se da descrição da Nova Jerusalém celeste, onde o sol já não existe mais como o conhecemos, e observe também que as nações ali trarão a glória e a honra a Jesus, mas devemos lembrar que a Nova Jerusalém desce do céu após o Juízo Final, portanto, a descrição aqui das nações louvando a Deus não pode estar se referindo a um milênio na terra, pois trata-se de uma nova terra que é celestial. O primeiro céu e a primeira terra passaram e eis que tudo se fez novo! Nações aqui significam os remidos de todas as nações que habitarão na Nova Jerusalém. Veja que é dito que somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro é que tem o direito de habitar nesta morada celestial.

Ainda sobre Romanos 4, observe que a promessa da Terra é para toda a descendência de Abraão, o que inclui os gentios que são filhos da fé ou filhos da promessa e não somente de judeus que receberam a lei de Moisés (Rm 4:16-17). Paulo afirma que é através dos filhos espirituais de Abraão que se cumpre a promessa de que Abraão seria pai de muitas nações (Rm 4:17).
"Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão" (Gl 3:7-9).

Aprendemos com Paulo que as promessas feitas a Abraão pertencem ao seu descendente que é Cristo e nEle se cumprem: "Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo" (Gl 3:16).

Lembrando que, quando Abraão esteve prestes a sacrificar o filho da promessa, Deus interveio, provendo o Verdadeiro Filho da Promessa, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo! O descendente que pisaria a cabeça da serpente, cumprindo a promessa feita a Adão, pai da humanidade.
Paulo conclui o capítulo 3 de Gálatas reafirmando que as promessas foram destinadas ao descendente por excelência de Abraão que é o Cristo (v. 19) e diz que tais promessas são extensivas a todos os que creem em Cristo: "Mas a Escritura encerrou tudo sob o pecado, para que, mediante a fé em Jesus Cristo, fosse a promessa concedida aos que creem" (Gl 3:22).

 A Igreja é a manifestação do remanescente de Israel. Notar que o primeiro gentio a se converter foi Cornélio. O que vale dizer que a Igreja era composta originariamente de crentes judeus, pelos remanescentes de Israel (Rm 2.28,29; 3.3,4; 9.6-8,27,29; 11.15), os gentios foram acrescentados nesta mesma oliveira. Há muito mais continuidade do que descontinuidade (Ef 2.18-20; 3.6; Gl 3.6-29). Não houve mudança no plano de Deus (Ef 1.3-4), mas revelação progressiva (Gl 6.16; 3.13,14). O Verdadeiro Israel é aquele que possui o Messias. Cristo é a Videira verdadeira (Jo 15.1), a videira é símbolo notório de Israel. O verdadeiro herdeiro de Abraão é o que tem fé no Messias prometido (Gl 3). É não é sem propósito que o número de apóstolos da Igreja é idêntico ao número de tribos de Israel. Paulo não diz que Deus mudou o seu plano original, antes, ele afirma que a Igreja sempre foi o plano de Deus (Ef 3.4-6, 21, 26, 31; Gl 3.8, 16; ver também Gn 3.15). O N.T. ensina que a lei, a circuncisão e a própria nação de Israel foram sombras da realidade que se encontra na Igreja (Cl 2.17; Hb 10.1; Ef 1.22,23). Israel era um tipo da Igreja; a terra um tipo do céu; a circuncisão um tipo do novo nascimento e do batismo; a lei um tipo e um aio para o evangelho e o templo um tipo do “Corpo de Cristo” ( Hb 8.5; 9.9, 24; 10.9,16,19-21; 11.9-16,39,40; 12.18-24; 13.10-14; Cl 2.11,12). Os cristão são chamados de “eleitos de Deus” (Rm 9.33). A Igreja foi profetizada no A.T.: (Jo 8.56; At 3.22-24; 1 Pe 2.9 comparar com Ex 19.5,6; Hb 2.12 comparar com Sl 22.22).

Em Romanos 11, Paulo fala sobre o futuro do remanescente de Israel. E nenhuma palavra é dita sobre o retorno a terra ou a reconstrução do templo e restauração do ritual levítico. Todas as profecias concernentes ao retorno de Israel para a terra e a reconstrução do templo foram feitas antes de 516 a.C., ano em que o templo foi reconstruído. Não existe nenhuma profecia mais a este respeito após 516 a.C., nem no A.T. e nem no N.T. Por exemplo, o livro de Malaquias não menciona, em momento algum, uma expectativa de retorno a terra e reconstrução do templo, pois, evidentemente, entendia que as profecias neste sentido tinham tido o seu cumprimento no ano de 516 a.C. Mas em Rm 11, Paulo fala de um retorno de Israel para Cristo e não para a Palestina. Nenhuma palavra é dita sobre Israel ser salvo após o “arrebatamento”. Paulo se inclui entre os remanescentes de Israel que serão salvos (Rm 11.1); Todos os israelitas crentes serão salvos. Em nenhum lugar encontramos base para a crença de que haverá uma segunda chance de salvação para os homens quer sejam judeus ou gentios após o arrebatamento da Igreja (Mt 25).

A herança de Abraão é uma pátria celestial (Hb 11.8,13-16, 39,40; 1 Pe 1.4). As expectativas judaicas se cumprem em Cristo (Lc 1.54, 55,68-74). A primeira vinda de Cristo completou a redenção de Israel e “tantos quantos o receberem foi lhes concedido o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1.10-12).

Por esta razão é que os gentios se tornaram co-herdeiros com Cristo de todas as promessas feitas a Abraão! "Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados" (Rm 8:17). E tais promessas, principalmente aquelas que dizem respeito a terra, encontram um cumprimento que vai muito além do território da Palestina, abrangendo o mundo todo (Rm 4.13) e vai muito além desta vida e do mundo material, mas invade a eternidade e é revestida da glória celestial.
Os crentes, judeus e gentios, já estão espiritualmente ressuscitados e assentados juntamente com Cristo nos lugares celestiais, ou seja, ao lado daquele que tem todo o poder no céu e na terra e vive e reina do seu alto e sublime trono, acima de todo o principado e potestade (Ef 2:6), e por isto é dito que os crentes já tem "chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados" (Hb 12:22-22). A vocação deles é celestial: "Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial" (Hb 3:1).

A esperança do cristão judeu, Paulo, também é a de um reino celestial e não milenar aqui na terra: "O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial" (2 Tim 4:18). "E, por isso, neste tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial" (2 Co 5:2 cf. Rm 8:21).

Espero ter sido capaz de demonstrar que as promessas feitas a Abraão foram destinadas a um descendente em especial que é o Messias. A própria Terra Prometida está sendo preparada por Cristo e se destina a todos os judeus e gentios que creem em Cristo. Os da fé são os verdadeiros descendentes de Abraão e herdeiros da promessa, co-herdeiros juntamente com Cristo.




sábado, 22 de dezembro de 2018

Deus, a Igreja é o Israel Verdadeiro?



Muitos crêem que as características doutrinárias definidoras do dispensacionalismo é sua escatologia singular. Certamente é a escatologia que ganha a maior atenção. Contudo, na realidade, a doutrina que define o dispensacionalismo, o seu sine qua non, é sua doutrina da igreja. O dogma fundamental é que a Igreja não é Israel. Essa declaração quer dizer várias coisas, mas a mais importante é o ensino dispensacionalista que a igreja, ou corpo de Cristo, consiste somente daqueles crentes salvos entre o Pentecoste e o Arrebatamento. Os santos do Antigo Testamento não são parte da Igreja, o corpo de Cristo.

Parte da dificuldade em avaliar a distinção dispensacionalisata entre Israel e a Igreja é a falta de definições precisas na literatura dispensacionalista. Tanto “Israel” como “Igreja” são usados numa variedade de sentidos por todo o Novo Testamento, e dizer simplesmente que a Igreja não é Israel é uma simplificação grosseira. Obviamente, se queremos dizer por “Israel” o Estado político de Israel ou os judeus incrédulos, então a Igreja não é Israel. Mas visto que dentro da nação incrédula de Israel sempre houve um remanescente, um “Israel verdadeiro”, não é correto fazer uma declaração geral abrangente divorciando Israel da Igreja em todo sentido das palavras.

No Antigo Testamento, a nação incrédula tinha um remanescente de crentes nela. Esse Israel verdadeiro, que incluía homens tais como Davi e Daniel, eram aqueles que não eram circuncidados apenas na carne, mas também no espírito. Quando Cristo veio, vemos a distinção entre o Israel nacional e incrédulo e o Israel verdadeiro. Os escribas e fariseus eram geralmente parte do Israel nacional incrédulo. Os apóstolos eram parte do Israel verdadeiro. Em Pentecoste, quando quase todos concordam que um novo estágio na história redentora começou, o Israel verdadeiro, o remanescente do Israel nacional, era a igreja. Nas décadas e séculos vindouros, os gentios começaram a ser adicionados a esse Israel verdadeiro – a igreja, mas isso não mudou o fato que existia e existe uma continuidade entre o Israel do Antigo Testamento e a igreja do Novo Testamento. A Igreja não é o Israel nacional ou incrédulo. Mas a Igreja é o Israel verdadeiro, o remanescente do Israel nacional. Existem vários lugares na Escritura onde essa verdade é claramente ensinada. Aqui nos focaremos brevemente em três.

Romanos 11:11-24 ensina claramente a unidade dos crentes de todas as eras. A ilustração da oliveira nesta passagem é uma das seções melhores conhecidas do livro de Romanos, mas seu significado nem sempre tem sido claro, especialmente para aqueles que separariam os crentes do Novo e do Antigo Testamento em corpos distintos. Existem quatro pontos principais neste texto da Escritura que são relevantes para o nosso tópico: 

1. A oliveira cultivada é o Israel natural. 

2. Os ramos naturais que foram cortados são os judeus incrédulos. 

3. Os ramos bons que permanecem são os judeus crentes. 

4. Os ramos bravos que são enxertados na oliveira boa são os gentios crentes.

A coisa mais importante a ser observada aqui é que existe apenas uma oliveira boa. No Antigo Testamento ela tinha contido tanto judeus incrédulos quanto crentes. Mas quando Cristo veio, os judeus incrédulos foram cortados, deixando apenas os judeus crentes. Crentes gentios estavam então, e ainda estão agora sendo enxertados nessa oliveira boa – o remanescente crente – o Israel verdadeiro. Fosse verdade o dispensacionalismo, a ilustração não faria sentido. Paulo não diz que Deus plantou uma oliveira completamente nova, na qual ele agora enxerta judeus e gentios crentes. Não, os judeus crentes continuaram ali onde estavam em sua relação pactual com Deus. Deus trouxe os crentes gentios para essa relação pactual já existente. O remanescente crente de Israel, o Israel verdadeiro, e a Igreja do Novo Testamento são um e o mesmo corpo de crentes. Esses crentes judeus e gentios são a oliveira boa.

Efésios 2:11-19 é uma passagem da Escritura que também tem importância especial para o nosso estudo. Neste texto, Paulo compara o estado anterior dos gentios em Cristo ao seu estado anterior à parte de Cristo. No versículo 12, Paulo lista cinco coisas que eram verdadeiras deles antes de se tornarem cristãos. Os crentes gentios estavam anteriormente:

1. Separados de Cristo. 

2. Excluídos da comunidade de Israel. 

3. Estranhos aos pactos da promessa. 

4. Sem esperança. 

5. Sem Deus no mundo.

Todas essas cinco coisas são mencionadas no tempo passado. Em outras palavras, todas as cinco eram verdadeiras dos gentios antes de sua fé em Cristo, e todas as cinco não mais eram verdade agora que os gentios tinham fé em Cristo. O que isso significa é que os crentes gentios estão agora:

1. Em Cristo. 

2. Incluídos na comunidade de Israel. 

3. Herdeiros dos pactos da promessa. 

4. Com Esperança. 

5. Com Deus no mundo.

De acordo com Paulo, todas essas coisas são agora verdade para os gentios crentes em Cristo. 

Gálatas 3:16, 29 enfatiza a herança dos gentios nas promessas abraâmicas. Aprendemos nesses versículos que:

1. As promessas abraâmicas foram feitas a Abraão e sua semente (v. 16). 

2. Sua Semente é Cristo (v. 16). 

3. Sua semente é também todos que pertencem a Cristo (v. 29). 

4. Portanto, as promessas abraâmicas pertencem a Cristo e a todos os que são seus (v. 29).

De acordo com Paulo, as promessas abraâmicas pertencem a todos que estão em Cristo e somente àqueles em Cristo. Visto que ele é o verdadeiro herdeiro, a verdadeira Semente, ninguém pode herdar as promessas à parte de Cristo. À parte da união com Cristo, nenhum judeu ou gentio tem qualquer reivindicação às promessas abraâmicas. 

A distinção dispensacionalista entre dois povos de Deus é biblicamente indefensável. Todos os que são salvos estão em Cristo, e somente aqueles que estão em Cristo são salvos. Não existe outra forma de salvação à parte da união com Cristo no único corpo de Cristo, a igreja – o verdadeiro Israel de Deus. 

Fonte: Every Thought Captive, Volume 5, Issue 2.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Dois Planos Diferentes?



Assim  como  existe  somente  um  povo  escolhido  que  forma uma  única  comunidade  da  aliança,  existe  somente  um  plano divino,  caracterizado  em  Ef  2.15  como  “a  nova  humanidade” criada  por  Deus.  O  argumento  dispensacionalista  de  que  Deus propôs  um  plano  originalmente  para  Israel  e  que  depois  iniciou outro  plano,  entre  parênteses,  para  a  Igreja,  plano  esse  que terminaria  abruptamente  no  “arrebatamento”,  carece  de  base bíblica e esquece do  objetivo real do propósito  de Deus.

Em  primeiro  lugar,  ao  contrário  do  que  diz  o  argumento dispensacionalista  de  um  plano  original  de  Deus  para  Israel,  a Escritura  revela  uma  progressão  do  único  plano  divino  para estabelecer  por  meio  de  Israel  uma  nova  humanidade  (Ef  2.15) numa  nova  Pátria  (Rm  4.13;  Hb  12.18,22).  Esse  plano progressivo  começa  no  Paraíso  perdido  e  termina  no  Paraíso restaurado. 

A  imagem  bíblica  é  profunda  e  incisiva.  Adão  entra  numa vida  de  pecado  e  é  separado  do  Paraíso.  É  relegado  ao descontentamento  e  a  vagar  separado  da  comunhão  com  o Criador.  O  mesmo  capítulo  que  faz  referência  à  Queda  também registra  o  plano  divino  para  a  restauração  da  comunhão  (Gn 3.15).  O  plano  de  Deus  é  definido  como  a  promessa  de  Deus  de fazer  por  meio  de  Abraão  que  “todos  os  povos  da  terra”  sejam “abençoados”  (Gn  12.3).  O  chamado  de  Abraão,  portanto, constitui o  antídoto divino para a  Queda. 

A  promessa  de  Deus  de  que  os  filhos  de  Abraão  herdariam  a Terra  Prometida  era  um  passo  preliminar  no  plano  progressivo de  Deus  pelo  qual  Abraão  e  seus  descendentes  herdariam  “uma pátria  melhor,  isto  é,  a  pátria  celestial”  (Hb  11.16).  O  plano  é melhor  visualizado  quando  observamos  Moisés  dirigindo  os descendentes  de  Abraão  e  tirando-os  de  seus  400  anos  de escravidão  no  Egito.  Depois  peregrinaram  por  40  anos  no deserto.  Deus  habitou  em  meio  ao  povo  e  o  preparou  para  a Terra  Prometida.  Do  mesmo  modo  que  Abraão,  Moisés,  no entanto,  somente viu a  promessa de longe. 

O  plano  de  Deus  assume  uma  realidade  concreta  quando Josué  dirige  a  conquista  da  Palestina.  As  peregrinações  de Adão,  Abraão  e  Moisés  terminam  quando  Josué  estabelece  o povo  na  Terra  Prometida  (Js  21.43).  Como  diz  Josué:  “Vocês sabem,  lá  no  fundo  do  coração  e  da  alma,  que  nenhuma  das boas  promessas  que  o  SENHOR,  o  seu  Deus,  lhes  fez  deixou  de cumprir-se.  Todas  se  cumpriram;  nenhuma  delas  falhou”  (Js 23.14). 

Porém,  assim  como  Adão  caíra  no  Paraíso,  os  descendentes de  Abraão  cairiam  na  Palestina.  Portanto,  as  palavras  de  Josué em  sua  despedida  anunciaram  uma  trágica  realidade:  “Mas, assim  como  cada  uma  das  boas  promessas  do  SENHOR,  o  seu Deus,  se  cumpriu,  também  o  SENHOR  fará  cumprir-se  em vocês  todo  o  mal  com  que  os  ameaçou,  até  eliminá-los  desta boa  terra  que  lhes  deu.  Se  violarem  a  aliança  que  o  SENHOR,  o seu  Deus,  lhes  ordenou,  e  passarem  a  cultuar  outros  deuses  e  a inclinar-se  diante  deles,  a  ira  do  SENHOR  se  acenderá  contra vocês,  e  vocês  logo  desaparecerão  da  boa  terra  que  ele  lhes deu” (Js 23.15,16). 

As  “boas  promessas”  de  Deus  alcançaram  seu  apogeu  durante o  reinado  de  Salomão,  cujo  governo  cobria  a  terra  desde  o  rio  Eufrates  ao  norte  até  o  rio  do  Egito  ao  sul  (1Rs  4.20,21; compare  com  Gn  15.18),  mas  mesmo  assim  a  terra  vomitou  os israelitas  do  mesmo  modo  como  havia  feito  com  os  cananeus antes  deles.  Durante  os  exílios  assírio  e  babilônio,  as peregrinações  experimentadas  por  Adão  foram  também experimentadas pelos descendentes  de Abraão. 

No  entanto,  as  promessas  de  Deus  a  Abraão  não  seriam anuladas.  Palestina  era  somente  uma  fase  preliminar  da promessa  patriarcal.  Abraão  não  seria  somente  pai  de  uma nação,  mas  “pai  de  muitas  nações”  (Gn  17.5).  Abraão  seria “herdeiro  do  mundo”  (Rm  4.13).  O  alvo  da  promessa  não  era  a Palestina,  mas o Paraíso restaurado. 

Deus  também  prometeu  a  Abraão  uma  semente  real.  Josué dirigiu  o  povo  de  Israel  à  Terra  da  Promessa.  Um  dia  Jesus dirigirá  Seu  povo  ao  Paraíso  restaurado.  Lá  o  povo  de  Deus entrará  em  seu  descanso.  Desde  a  rebelião  de  Adão  até  a semente  real  de  Abraão,  as  Escrituras  revelam  um  único  plano de  Deus  para  a  humanidade.  Em  vez  de  uma  sobreposição  de dois  planos  divinos  causada  pela  rejeição  de  Jesus  pelos  judeus, as  Escrituras  revelam  o  cumprimento  do  plano  de  Deus  na crucificação.  Porque  somente  mediante  a  fé  na  morte  e  na ressurreição  de  Cristo  é  que  a  única  comunidade  da  aliança poderá  encontrar  o  descanso  de  suas  peregrinações  (Hb  4.1-11). Em  Cristo,  o  último  Adão  (1Co  15.45),  as  promessas  de  Deus encontram  seu  pleno  cumprimento.  Paulo  coloca  nestes  termos: “E,  se  vocês  são  de  Cristo,  são  descendência  de  Abraão  e herdeiros segundo a  promessa” (Gl 3.29). 

Assim  como  não  existe  uma  “sobreposição”  de  dois  planos divinos,  igualmente  não  existe  um  “parêntese”  nos  propósitos de  Deus.  O  argumento  dispensacionalista  de  que  existe  um parêntese  no  plano  de  Deus  para  Israel,  e  que  esse  parêntese  é  o plano  de  Deus  para  a  Igreja,  nada  mais  é  do  que  o  produto  de uma  leitura  estranha  e  fantasiosa  da  Bíblia.  O  enfoque  principal desse  dogma  dispensacionalista  encontra-se  numa  interpretação incorreta  do  livro  de  Daniel.  Tim  LaHaye  costuma  dizer:  “É impossível  compreender  a  profecia  da  Bíblia  sem  compreender o  livro  de  Daniel.  Muitas  informações  a  respeito  de  assuntos importantes e a  sequência correta  dos  últimos  dias encontram-se em  Daniel”.  Algo  que  os  dispensacionalistas  fazem questão  de  ressaltar,  por  exemplo,  são  as  “setenta  semanas”  de Daniel (Dn  9.24-27). 

De  fato,  LaHaye  criou  uma  série  de  pressupostos  a  respeito das  setenta  semanas  de  Daniel.  Ele  afirma  simplesmente  que existe  um  lapso  de  2000  anos  (!)  entre  a  semana  69  e  a  semana 70.  E  que  esse  lapso  é  o  “parêntese”  no  qual  está  inserido  o plano  de  Deus  para  a  Igreja  [41].  Finalmente,  supõe  que  a  Igreja era  “um  mistério  oculto  no  Antigo  Testamento  (Rm  16.25,26; Ef  3.2-10;  Cl  1.25-27)”  e  que  “Israel,  e  não  a  Igreja,  cumprirá seu  destino  nacional  como  uma  entidade  separada  depois  do arrebatamento e da Tribulação e durante o  milênio”.

Deveria  ser  evidente  a  todos  que  essas  invenções  não  são produto  de  uma  leitura  fiel  do  texto  bíblico,  mas  sim  o  resultado de  uma  imaginação  fértil!  A  própria  ideia  de  que  os  profetas  do Antigo  Testamento  não  viram  “o  vale  da  Igreja”  [43],  que  a Igreja  “não  existia  antes  de  seu  nascimento  em  Pentecostes”  e que  “terá  um  fim  abrupto  no  arrebatamento”  [44],  é completamente  falsa.  Os  profetas  do  Antigo  Testamento  não somente  viram  o  “vale  da  Igreja”  –  eles  anunciaram  a  Igreja! Pedro,  falando  no  Pentecoste,  disse:  “De  fato,  todos  os  profetas, de  Samuel  em  diante,  um  por  um,  falaram  e  predisseram  estes dias”  (At  3.24).  O  que  os  profetas  do  Antigo  Testamento  não viram  nem  anunciaram  foi  que  a  Igreja  teria  um  “fim  abrupto no  arrebatamento”!  Em  outras  palavras,  a  ideia  de  que  a  Igreja  é um  mero  “parêntese”  nos  planos  de  Deus  não  tem  o  menor fundamento  bíblico.

Finalmente,  assim  como  não  há  uma  sobreposição  nem  um parêntese  no  plano  de  Deus,  também  não  há  nenhum arrebatamento  pré-tribulacionista..  Durante  1900  anos,  a  ideia de  um  arrebatamento  pré-tribulacionista  foi  completamente desconhecida  pela  Igreja.  Antes  de  Darby,  os  Irmãos  de Plymouth  acreditavam  que  o  arrebatamento  e  a  Segunda  Vinda de  Cristo  eram  eventos  simultâneos.  A  invenção  inovadora  de Darby  provocou  o  nascimento  da  ideia  do  arrebatamento  da Igreja  antes  da  Tribulação.  Timothy  Weber  explica:  “Antes  de Darby,  todos  os  pré-milenistas,  inclusive  os  futuristas,  criam que  o  arrebatamento  aconteceria  no  fim  da  Tribulação,  na Segunda  Vinda  de  Cristo.  Mas  Darby  viu  o  arrebatamento  e  a Segunda  Vinda  como  dois  acontecimentos  separados.  No arrebatamento,  Cristo  viria  para  seus  santos,  e  na  Segunda Vinda  ele  viria  com  os  seus  santos.  Entre  esses  dois  eventos aconteceria a  Tribulação”. 

Antes  de  Darby  essa  ideia  nunca  havia  sido  conhecida  no corpo  de  Cristo.  Harry  Ironside,  um  dispensacionalista, desafiava  aos  que  não  aceitavam  essa  posição:  “Procurem, assim  como  eu  procurei,  as  declarações  dos  chamados  Pais  da Igreja,  nos  períodos  anteriores  e  posteriores  a  Nicéia;  os comentários  teológicos  dos  eruditos;  os  escritores  católico romanos  de  todas  as  correntes  de  pensamento;  a  literatura  da Reforma;  os  sermões  dos  puritanos;  as  obras  teológicas  da atualidade,  e  perceberão  a  notável  ausência  desse  mistério”.  Ironside,  a  quem  LaHaye  considera  como  um  de  seus “heróis”, costumava,  contraditoriamente,  também  dizer: “Quando  você  ouvir  algo  novo,  examine-o  cuidadosamente, porque pode ser um erro”.

LaHaye  seguiu  o  conselho  de  seu  “herói”  e  esforçou-se  para tentar  demonstrar  que  o  arrebatamento  pré-tribulacional  da Igreja  não  é  algo  novo.  Como  evidência,  menciona  “a emocionante  descoberta  de  uma  declaração  contida  num  sermão apocalíptico  do  século  IV,  de  Pseudo-Efraim”,  apresentada  por Grant  Jeffrey.  Jeffrey  disse  que  havia  levado  “uma  década” procurando,  mas  que  valeu  a  pena:  “O  texto  efraimita  revela uma  declaração  clara  sobre  o  retorno  pré-tribulacionista  de Cristo  para  levar  seus  santos  ao  céu  a  fim  de  que  escapem  da Tribulação”. 

Assim  como  LaHaye,  o  filósofo  e  teólogo  Norman  Geisler ficou  emocionado  com  a  descoberta  de  Grant  Jeffrey.  Para fortalecer  sua  posição  dispensacionalista  ele  menciona  uma declaração  de  Jeffrey  que  diz  que  “o  manuscrito  efraimita revela  que  a  perspectiva  pré-tribulacionista  existia  desde  o século  III”.  Sua  opinião  é  de  que  os  primeiros  Pais  da igreja  primitiva,  “tais  como  Efraim  da  Síria,  eram  abertamente pré-tribulacionistas”.  Portanto,  assim  como  LaHaye, Geisler  não  aceita  o  argumento  de  que  o  conceito  de arrebatamento  pré-tribulacionista  teve  origem  no  século  XIX. Segundo  Geisler,  quem  pensa  desse  modo  está  cometendo  um erro.  As  declarações  de  Geisler  a  esse  respeito  circulam amplamente  como  demonstração  de  autoridade  final.  Não obstante,  seguindo  a  orientação  do  Dr.  Ironside,  seria  bom “examinar  cuidadosamente”  o  sermão  efraimita  para  ver  se depois  de  uma  década  de  buscas,  os  dispensacionalistas realmente  conseguiram  encontrar  um  precedente  histórico  do arrebatamento pré-tribulacionista  anterior ao  século XIX. 

Para  começar,  é  instrutivo  perceber  que  enquanto  Norman Geisler  atribui  o  sermão  em  questão  a  “Efraim  da  Síria”,  no século  III”,  Tim  LaHaye  acredita  que  esse  sermão  pode  ser  de autoria  de  “um  certo  Pseudo-Efraim”  que  teria  escrito  “talvez entre  os  anos  565  e  627”.  Sem  importar  quem  de  fato  o escreveu  e  quando,  podemos  dizer  com  certeza  absoluta  que nenhuma  tradição  de  arrebatamento  pré-tribulacionista  se originou  nele  ou  se  desenvolveu  a  partir  dele.  Ainda  mais importante,  como  sabem  os  historiadores  e  os  teólogos  sérios, uma  simples  pesquisa  nos  escritos  de  Efraim  revela  que  ele  era pós-tribulacionista,  e  não  pré-tribulacionista.  Não  somente  isto, mas  o  próprio  sermão  apresentado  pelos  dispensacionalistas como  “evidência”  de  suas  ideias,  utiliza  claramente  a  tradição do arrebatamento pós-tribulacionista do verdadeiro Efraim. 

Na  verdade,  é  difícil  imaginar  que  alguém,  lendo  esse  sermão em  seu  contexto,  consiga  chegar  à  conclusão  de  que  Efraim  (ou Pseudo-Efraim)  estivesse  falando  de  um  arrebatamento  secreto antes  da  Tribulação,  pois  nesse  mesmo  sermão,  o  autor  enfatiza que  os  cristãos  deverão  passar  pela  Grande  Tribulação.  De  fato, o  sermão  menciona  a  necessidade  de  uma  regeneração  antes  da Tribulação,  e  não  de  um  arrebatamento  antes  da  Tribulação.

Ainda  que  a  “emocionante  descoberta”  do  sermão apocalíptico  do  século  IV  de  Efraim  (ou  Pseudo-Efraim?)  tenha seu  valor  como  uma  peça  de  retórica,  ainda  assim  não  é  lá muito  relevante  para  a  teologia  cristã.  O  problema  não  está  na autoria  do  documento,  mas  na  exegese  correta  que  é  feita  do mesmo.  No  entanto,  mais  do  que  a  exegese  correta  desse documento,  devemos  preocupar-nos  com  a  exegese  correta  dos textos  bíblicos.  Podemos  começar  com  a  Primeira  Epístola  de Paulo  aos  Tessalonicenses,  numa  passagem  muito  usada  pelos dispensacionalistas  para  “comprovar”  a  teoria  do  arrebatamento pré-tribulacionista  de  Darby.  LaHaye  afirma:  “Um  dos  eventos proféticos  mais  convincentes  da  Bíblia  é  o  arrebatamento  da Igreja.  Ele  é  ensinado  claramente  em  1Ts  4.13-18,  trecho  no qual  o  apóstolo  Paulo  nos  dá  os  melhores  detalhes  disponíveis”.

Do  mesmo  modo  que  a  exegese  do  texto  efraimita,  uma exegese  de  1Ts  4  mostra  que  Paulo  não  está  pensando  num arrebatamento  pré-tribulacionista.  A  mensagem  de  Paulo  referese  à  gloriosa  esperança  da  ressurreição,  e  não  num  novo  ensino a  respeito  de  uma  vinda  secreta  de  Cristo,  na  qual  Ele  arrebatará a  Igreja.  Como  todo  erudito  bíblico  sabe,  o  ensino  de  Paulo  em 1Ts  4  é  paralelo  ao  seu  ensino  em  1Co  15.  Ambos  textos  tratam da  bendita  esperança  de  que  o  fim  ocorrerá  quando  Cristo voltar.  Ele  entregará  o  Reino  a  Deus  Pai  depois  de  ter  destruído todo  domínio,  autoridade  e  poder.  Quando  soe  a  trombeta, estaremos com  o Senhor para sempre. 

O  texto  não  diz  em  nenhum  lugar  que  quando  Cristo  vier  do céu  “com  a  voz  do  arcanjo  e  o  ressoar  da  trombeta  de  Deus” (1Ts  4.16),  Ele  se  deterá  no  meio  do  caminho,  mudará  de direção  e  nos  levará  consigo  às  mansões  celestiais,  enquanto  a terra  mergulha  no  caos.  Os  tessalonicenses  também  não entenderam  desse  modo.  O  Dr.  N.  T.  Wright  observa:  “Paulo apresenta  a  imagem  de  um  imperador  que  está  visitando  uma província.  Os  cidadãos  saem  ao  seu  encontro  em  campo  aberto e  o  escoltam  até  a  cidade.  A  imagem  de  Paulo  do  povo  ‘se reunindo  com  o  Senhor  nos  ares’  deve  ser  lida  assumindo-se que  o  povo  imediatamente  voltará  com  o  Senhor  para  um mundo novo”.

Além  disso,  existe  pouca  justificativa  para  supor  que  a  ideia do arrebatamento pré-tribulacionista se  baseia  numa “correspondência”  entre  o  ensino  de  Cristo  em  Jo  14.1-3  e  o ensino  de  Paulo  em  1Ts  4.13-18.  Ou  seja,  LaHaye  erra  mais uma  vez  ao  utilizar  as  palavras  do  Salvador  (“Não  se  perturbe  o coração  de  vocês.  Creiam  em  Deus;  creiam  também  em  mim. Na  casa  de  meu  Pai  há  muitos  aposentos;  se  não  fosse  assim,  eu lhes  teria  dito.  Vou  preparar-lhes  lugar.  E  se  eu  for  e  lhes preparar  lugar,  voltarei  e  os  levarei  para  mim,  para  que  vocês estejam  onde  eu  estiver”)  pretendendo  que  elas  sejam  o primeiro  ensino  sobre  o  “arrebatamento  pré-tribulacionista”  nas Escrituras.

Ver  desse  modo  toda  uma  cosmovisão  em  Jo  14  e  1Ts  4 segundo  a  qual  duas  terças  partes  do  povo  judeu  serão erradicadas  num  massacre  enquanto  o  povo  de  Jesus  descansa despreocupadamente  em  mansões  celestiais  é,  para  dizer  o mínimo,  uma  imposição  preocupante  de  uma  eisegese  insana, que  tem  contaminado  muitíssimos  evangélicos.  A  imagem  do Paraíso  de  Paulo  ou  a  metáfora  das  mansões  celestiais  de  Cristo não  foram  apresentadas  para  significar  um  refúgio  temporário no  céu  enquanto  a  terra  experimenta  um  holocausto  de  sete anos.  Antes,  representam  a  imagem  gloriosa  de  “um  novo  céu  e uma  nova  terra”  nos  quais  “não  haverá  mais  morte,  nem tristeza,  nem  choro,  nem  dor,  pois  a  antiga  ordem  já  passou” (Ap 21.4). 

Hank  Hanegraaff. Desmascarando o Dogma Dispensacionalista. Traduzido  e  Adaptado  por  F.V.S. pg: 18-26

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Dois Povos Diferentes?



Começaremos pelo coração do dogma dispensacionalista, que afirma que Deus tem dois povos diferentes, sendo que um deles será arrebatado antes de Deus continuar seu plano em relação ao outro. As Escrituras revelam que Deus tem dois povos distintos? Ou revela que há um só povo escolhido, que forma uma comunidade pactual?

Em vez de afirmar que Deus tem dois povos diferentes, a Escritura revela, do princípio ao fim, que somente há um povo escolhido, comprado “de toda raça, língua, povo e nação” (Ap 5.9). Como Paulo afirma: “os gentios são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e co-participantes da promessa em Cristo Jesus” (Ef 3.6).

Além disso, a mesma terminologia utilizada para descrever o povo de Israel no Antigo Testamento é utilizada para descrever a Igreja no Novo Testamento. Pedro chama esse único povo escolhido de “geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus” (1Pe 2.9). Esse é o povo escolhido de Deus, a geração eleita, não em virtude de uma descendência física de Abraão, mas em virtude de uma relação genuína com “a pedra viva – rejeitada pelos homens, mas escolhida por Deus e preciosa para ele” (1Pe 2.4). A verdadeira Igreja é o verdadeiro Israel, e o verdadeiro Israel é a verdadeira Igreja.

E mais: assim como o Antigo e o Novo Testamento revelam um só povo escolhido, também revelam que esse povo escolhido forma uma só comunidade da aliança. Ainda que essa única comunidade da aliança encontra-se fisicamente ligada à semente de Abraão, cujo número seria como o das “estrelas” no céu (Gn 15.5) ou como o “pó da terra” (Gn 13.16), ela fundamenta-se espiritualmente numa descendência singular, única – ou seja, num descendente individual. Paulo explica em sua epístola aos Gálatas: “as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. A Escritura não diz: ‘E aos seus descendentes’, como se falando de muitos, mas: ‘Ao seu descendente’, dando a entender que se trata de um só, isto é, Cristo” (Gl 3.16). Paulo continua explicando: “E se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3.29).

Afirmar que Israel deve “cumprir seu destino nacional como uma entidade separada depois do arrebatamento e da Tribulação durante o milênio” é uma afronta ao único descendente no qual todas as promessas feitas a Abraão foram cumpridas. Como disse Keith Mathison: “As promessas feitas aos israelitas, literalmente falando, foram cumpridas por um israelita literal, Jesus, o Messias. Ele é o descendente (‘a semente’) de Abraão”. O remanescente fiel de Israel do Antigo Testamento e do Cristianismo do Novo Testamento unem-se numa descendência genuína de Abraão, tornando-se seus herdeiros segundo a promessa. Esse remanescente não foi escolhido pela religião ou pela raça, mas pela sua relação com o Redentor ressurreto. Revestidos de Cristo, homens, mulheres, “de toda tribo, língua e nação”, formam uma única comunidade da aliança.

Finalmente, esse único povo escolhido por Deus, que forma a comunidade da aliança, é belamente representado em Romanos como uma oliveira cultivada (Rm 11.11-24). A árvore simboliza o Israel nacional, os ramos simbolizam os que creem, e suas raízes simbolizam Jesus, “a Raiz e o Descendente de Davi” (Ap 22.16). Os ramos naturais que foram cortados representam os judeus que rejeitaram Jesus. Os ramos de oliveira brava que foram enxertados representam os gentios que receberam Jesus. Por isso, Paulo diz: “Pois nem todos os descendentes de Israel são Israel. Nem por serem descendentes de Abraão passaram todos a ser filhos de Abraão. Ao contrário: ‘Por meio de Isaque a sua descendência será considerada’. Noutras palavras, não são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são considerados descendência de Abraão” (Rm 9.6-8).

Jesus é o único Descendente genuíno de Abraão. E todos os que estão revestidos de Cristo formam uma comunidade da aliança escolhida e unida em Cristo. Portanto, “não há judeu nem grego [nem árabe nem chinês, nem norteamericano nem africano, nem australiano nem brasileiro, etc], nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vocês são um em Cristo Jesus. E se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3.28,29). Estas palavras de Paulo são o epitáfio no túmulo do dispensacionalismo!

Portanto, a Bíblia simplesmente contradiz o ensino dispensacionalista de que Deus possui dois povos distintos. E se Deus sempre teve um único povo, o dogma dispensacionalista é esmagado pelo peso das Escrituras.


Hank Hanegraaff. Desmascarando o Dogma Dispensacionalista. Traduzido e Adaptado por F.V.S. Revista Última Chamada. pg: 16-18