google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Escatologia Reformada

quinta-feira, 5 de março de 2020

Escatologia de Acordo com Ulrico Zuínglio e Martin Bucer




Embora Ulrico Zuínglio, de Zurique (1484–1531) e Martin Bucer, de Estrasburgo (1491-1551), da primeira geração de reformadores, tenham sido ofuscados dentro da tradição reformada por Calvino, eles merecem uma breve menção. À semelhança do que fez Lutero nos anos iniciais de sua carreira, Zuínglio também questionava a canonicidade de Apocalipse, e, seguindo Lutero e Calvino, rejeitava inflexivelmente a doutrina romana do purgatório, chamando-a de “invenção sem fundamento”. Assim como Calvino, Zuínglio afirmava que a doutrina anabatista do sono da alma era contrária à Escritura e que ela“ contradiz toda a razão”. E, no artigo 12 de Ratio Fidei (1530), afirmou a existência do inferno como um lugar de castigo eterno, tanto contra a visão romana do purgatório como sobre o ensino de vários grupos anabatistas de que Deus concederia o perdão universal no tempo do fim.

Martin Bucer publicou o texto mais importante da era da Reforma sobre a teologia política, mas com importantes implicações escatológicas: De Regno Christi [O reino de Cristo], em 1550. Neste volume, Bucer definiu o reino de Cristo da seguinte maneira: O reino de nosso Salvador Jesus Cristo é aquela administração e cuidado da vida eterna dos eleitos de Deus, à qual esse mesmo Senhor e Rei dos Céus, por sua doutrina e disciplina, administrada por ministros adequados escolhidos para esse exato propósito, reúne a si seus eleitos, aqueles dispersos pelo mundo que são seus, mas que ele, ainda assim, quis que estivessem sujeitos aos poderes deste mundo. Ele os incorpora a si e à sua igreja, e assim os governa nela, os quais, purgados mais plenamente, dia a dia, de pecados, vivam bem e felizes tanto aqui como no tempo vindouro.

A distinção que Bucer faz entre o reino de Cristo e os poderes do mundo tem uma forte semelhança formal com a distinção de “dois reinos” feita por Lutero entre o reino de graça (reino de Cristo) e o reino de poder (o reino civil). No entanto, segundo Bucer, esses dois reinos estão unidos como o corpo de Cristo mediante a Palavra e o Espírito. Como tal, o reino de Cristo é “ visível e efetivamente realizado na Igreja na Terra, e, pela obediência ao testemunho da igreja, também no Estado”. A maneira pela qual os eleitos de Deus são incorporados ao corpo de Cristo, sua eleição para a salvação será evidente no desenrolar contínuo da história no meio das potências mundanas conforme eles“ vivem bem e felizes” até aquele tempo em que Jesus Cristo retorna para consumar seu reino que está sempre se revelando. Para Lutero, por outro lado, esse reino vem pelo ato de proclamar o evangelho, não por seus efeitos.

Em exílio na Inglaterra à época – Bucer havia se tornado Régio Professor de Divindade em Cambridge, em 1549, a convite de Thomas Cranmer (1489–1556), quando este fora exilado de Estrasburgo – e sua obra De Regno foi concebida como um modelo para a reforma na Inglaterra. O livro foi apresentado ao jovem rei Eduardo VI quando de sua publicação, em 1551, mas ambos morreram pouco depois: Bucer no mesmo ano e Eduardo em 1553. Sem dúvida, a morte precoce de Eduardo afetou negativamente a intenção anterior de Bucer de prover uma base teológica para o trabalho em andamento de reforma cívica na Inglaterra.

Embora não seja uma obra de escatologia per se, De Regno, ilustra o pensamento antiapocalíptico de grande parte da antiga tradição reformada, que considerava que o futuro reino de Jesus Cristo se realiza na contínua atividade de Deus por meio da igreja e de sua missão divinamente designada de pregar, administrar os sacramentos e disciplinar seus membros. Essa fidelidade, por sua vez, leva à consequente transformação da sociedade na qual a igreja é fiel a sua missão. Quando o reino de Cristo é definido nesses termos (ou similares), a escatologia se torna uma preocupação atual, além de uma esperança futura.39 Esse sentimento foi ecoado por Calvino, que observou: “O primeiro efeito do reino de Deus é domar os desejos de nossa carne. E agora, conforme esse reino aumenta, passo a passo, até o fim do mundo, devemos orar cada dia por sua vinda”.

Ao nos voltarmos para as opiniões escatológicas distintivas de Lutero e Calvino, não devemos perder
de vista o fato de que as opiniões desses reformadores sobre tais assuntos são substancialmente as mesmas. Ambos se enquadram na designação moderna de amilenistas (isto é, que os mil anos de Apocalipse 20 são uma descrição da era atual até o retorno do Senhor, não uma esperança escatológica futura, como no pré e no pós-milenismo), e ambos viam o segundo advento de Jesus Cristo, a ressurreição corporal no fim dos tempos e a libertação dos cristãos do julgamento escatológico final de Deus como a única segura e certa esperança do cristão no meio das lutas desta vida. É à luz de tão grande medida de concordância que podemos discutir seus distintivos escatológicos.

Ao mesmo tempo em que reconhece que a “linha [que os separa] não deve ser desenhada de forma muito acentuada”, Torrance observa que suas diferenças surgem em parte por conta das circunstâncias históricas e porque recorreram a fontes diferentes dentro da tradição cristã. O foco escatológico de Lutero, diz Torrance, centrou-se no julgamento final, ao se basear em certos pais da igreja latina, como Cipriano, que estavam preocupados com “a decadência e o colapso do mundo”. A ênfase de Calvino estava mais na ressurreição do corpo e no reordenamento do mundo, recorrendo à ênfase dos pais gregos sobre a encarnação como a base para a renovação de todas as coisas. Embora a afirmação de Torrance acerca dos discerníveis pedigrees intelectuais latino-gregos de Lutero e Calvino seja discutível, considero correta em sua maior parte a percepção de Torrance sobre a diferença de ênfase entre os dois reformadores.


Barrett, Matthew. Teologia da Reforma /tradução Francisco
Nunes. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017. p: 1795 - 1801

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Oséias 6.7



A segunda passagem em que o termo “aliança” pode ser aplicado à ordem da criação declara que o povo de Israel, “como Adão”, transgrediu a aliança.

Essa declaração pode ser entendida basicamente de três maneiras diferentes.

Em primeiro lugar, tem sido sugerido que “Adão” deve ser entendido como um lugar. “Em Adão” Israel quebrou a aliança.

Essa interpretação é difícil de ser sustentada. Somente puras suposições podem prover ocasião concreta de pecado nacional em Adão, localizado sobre o Jordão, cerca de 12 milhas ao norte de Jericó. A narrativa do refluxo do Jordão até Adão não faz referência a um pecado por parte de Israel (cf. Js 3.16).

Além disso, essa interpretação pareceria requerer uma emenda ao texto massorético. O texto como se encontra não diz “em Adão” mas “como Adão”.

A interpretação mais tradicional vê na frase “como Adão” uma referência explícita ao pecado do primeiro homem. Essa interpretação é a mais direta, e oferece menor numero de dificuldades. Assim como Adão transgrediu o arranjo da aliança estabelecida pela criação, assim Israel transgrediu a aliança ordenada no Sinai.

O terceiro modo possível de se ler essa frase sugere que Israel quebrou a aliança “como homem” ou “como humanidade”. “À semelhança dos homens”, Israel quebrou a aliança.

É difícil decidir entre estas ultimas duas interpretações. Mas em qualquer dos casos, algo estaria implicado a respeito do relacionamento do homem não-israelita com o seu Deus criador.

O ponto focal da passagem repousa numa comparação. O homem israelita (cf v. 4: “Efraim e Judá”) no seu relacionamento com Deus é comparado ao homem não-israelita na sua relação com Deus. Israel transgrediu a aliança. Quanto a isso, Israel é “como o homem” em geral ou “como Adão” em particular. Em qualquer dos dois casos, estaria implicado que uma relação de aliança existia entre Deus e o homem não-israelita. Como o homem não-israelita quebrou a aliança, assim o israelita a quebrou.

Em que sentido pode-se afirmar que o homem não-israelita permanece numa relação de aliança com Deus que pode ser quebrada? Não há nas Escrituras nenhuma menção a uma aliança especifica com o homem fora de Israel, exceto a aliança de Deus com Noé, à qual falta ênfase adequada aos elementos específicos de obrigação de aliança para Oséias dizer com clareza convincente que o homem “quebrou” a aliança.

Oséias evidentemente pretende sugerir que Deus estabeleceu uma relação de aliança com o homem fora de Israel mediante a criação. Se “Adão” é tomado individualmente, o termo se referia ao homem representativo original. Sua violação da aliança se referiria à falha especifica do teste de prova descrito nos primeiros capítulos de Gênesis. Se “Adão” é tomado genericamente, o termo se referiria a uma obrigação de aliança mais ampla que caiu sobre o homem quando lhe foram dadas responsabilidades solenes no mundo de Deus pela criação. Em qualquer desses dois casos, Oséias 6.7 pareceria aplicar terminologia de aliança ao relacionamento de Deus com os homens, estabelecido pela criação.

Para resumir o argumento a favor de ver a relação de Deus com o homem antes de Noé como tendo caráter de aliança, a despeito da ausência do uso explicito do termo “aliança” nos primeiros capítulos de Gênesis, dois pontos foram notados até aqui: primeiro, o relacionamento de Deus com Davi não foi referido como tendo caráter de “aliança” originalmente, mas, não obstante, teve caráter de aliança em substância; e, em segundo lugar, Jeremias 33.20ss e Oséias 6.7 claramente se referem ao relacionamento criador original de Deus em termos de aliança.

Em terceiro lugar, os elementos essenciais à existência de uma aliança estavam presentes no relacionamento de Deus com o homem antes de Noé, a despeito da ausência do termo “aliança” nos primeiros capítulos da narrativa de Gênesis. É a presença desses elementos que, afinal de contas, é determinante para a questão. As profecias messiânicas aparecem na Escritura muito antes de ocorrer o termo “messias”. As realidades do Reino de Deus na terra manifestam-se milhares de anos antes dos temos “rei” e “reino” aparecerem nas Escrituras para designar o relacionamento de Deus com a sua criação.

A mesma situação prevalece com relação ao termo “aliança”. Se os elementos essenciais para a caracterização de uma relação como de “aliança” estão presentes, o relacionamento sob consideração pode ser designado como tendo caráter de aliança, a despeito da ausência formal do termo.

E é exatamente essa circunstância que aparece nos primeiros capítulos de Gênesis. Um vínculo de vida e morte está claramente presente entre Deus e o homem recentemente criado (Gn 2.15-17). Se Adão se abstivesse de comer o fruto proibido, viveria. Se, porém, comesse da arvore do conhecimento do bem e do mal, morreria. Esse relacionamento de Deus com o homem é soberanamente administrado.

Subsequentemente, um vínculo de vida e morte foi estabelecido entre Deus e o homem depois da queda no pecado. De modo soberano, o Senhor obrigou-se a estabelecer inimizade entre a semente da mulher e a semente de Satanás (Gn 3.15). Esse compromisso divino fixou o palco para uma luta de vida e morte. O vínculo de Deus com o homem decaído resultou em vida para a semente da mulher e em morte para a semente de Satã.

A presença de todos os elementos essenciais à existência de uma aliança nesses relacionamentos de Deus com o homem antes de Noé fornece base adequada para a designação dessas circunstâncias como “aliança”. Embora o termo “aliança” possa não aparecer, a essência de uma relação de aliança certamente está presente.

Essencialmente, é essa substância basicamente relativa à aliança do status criado do homem que justifica o uso da terminologia relativa à aliança para descrever o relacionamento do homem com Deus antes de Noé. Em total soberania, Deus estabeleceu uma relacionamento. Esse relacionamento envolvia um compromisso de vida e morte.

Pela criação, Deus une-se ao homem em relação de aliança. Depois da queda do homem no pecado, o Deus de toda a criação graciosamente uniu-se ao homem outra vez mediante a promessa de redimir um povo para si mesmo da humanidade perdida. Da criação à consumação, o vínculo da aliança tem determinado a relação de Deus com o seu povo. A extensão das alianças divinas vai do princípio do mundo ao fim dos tempos.


Cristo dos Pactos / O. Palmer Robertson. Trad. Américo J. Ribeiro. Campinas - SP: Luz Para o Caminho, 1997. pg: 23-25

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Lutero e Calvino Como Figuras-Chaves na Escatologia



Antes de considerar as respectivas visões escatológicas de Martinho Lutero e de João Calvino, é importante explicar por que limitamos o escopo deste capítulo a Lutero e Calvino como representantes da “escatologia dos reformadores”. Há três razões para fazer isso. A primeira é que Martinho Lutero (nascido em 10 de novembro de 1483) e João Calvino (nascido em 10 de julho de 1509) são representativos das duas primeiras gerações de reformadores. Lutero era 26 anos mais velho que Calvino e representa a primeira geração dos envolvidos no trabalho de reforma (incluindo Philip Melanchthon, Ulrico Zuínglio e Martin Bucer), enquanto a vida e o trabalho de Calvino foram conduzidos sob a enorme sombra do marco evangélico de Lutero de outubro de 1517.

A segunda razão é que os dois homens tinham temperamentos completamente diferentes e trabalhavam em circunstâncias diferentes. Lutero era um reformador no verdadeiro sentido do termo, dedicando sua vida à pregação, ao ensino e à escrita. É bem conhecida a luta de Lutero com um profundo conflito interior (Anfechtungen) em uma vida presa entre o medo existencial da ira eterna de Deus e a bem-aventurada boa-nova do evangelho pela qual o Espírito Santo uniu os cristãos a Jesus Cristo, cuja vitória sobre o pecado e a sepultura em sua cruz e na ressurreição era a única verdadeira esperança, tanto nesta vida como na vindoura. Lutero escreveu: Quanto mais tempo o mundo permanece, pior fica. […] Quanto mais pregamos, menos atenção as pessoas dão, […] empenhadas em aumentar a maldade e a miséria a uma velocidade esmagadora. Nós clamamos e pregamos contra isso. […] Mas de que serve? No entanto, faz o bem de podermos esperar que o último dia chegue em breve. Então, os ímpios serão lançados no inferno, mas obteremos a salvação eterna nesse dia. […] Assim, podemos esperar confiantemente que o último dia não está longe.

Calvino, o pastor, também lutou com um profundo sentimento de desespero, expresso em uma notável seção das Institutas dedicada à “meditação sobre a vida futura”. Ele exortou os cristãos a desistirem de todos os acréscimos indevidos às coisas deste mundo, que empalideciam à luz do vindouro. Ao mesmo tempo, as lutas associadas à vida em um mundo caído também devem ser consideradas à luz da esperança inabalável dada por Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos e sua ascensão à destra do Pai, aos cristãos que estão nesse conflito. Calvino disse: “Quando, pois, com nossos olhos fixos em Cristo esperamos pelo céu, e nada na terra os impede de nos levar à bem-aventurança prometida, a declaração é verdadeiramente cumprida, de que ‘onde está nosso tesouro, aí nosso coração está’ [Mateus 6:21]”. Calvino escreveu que os cristãos devem esperar pacientemente a restauração final de todas as coisas no retorno de Cristo, assim como uma sentinela fielmente guarda seu posto até ser chamada de volta por seu comandante. Ele descreveu essa luta como viver no exílio, longe de sua pátria amada: Que o objetivo dos cristãos em julgar a vida mortal seja que, embora compreendam que ela não é nada mais do que miséria, entreguem-se, com maior zelo e prontidão, inteiramente a meditar na vida eterna que está por vir. Quando se chega a essa comparação com a vida futura, a vida presente não só pode ser seguramente negligenciada, mas, em comparação com a primeira, deve ser totalmente desprezada e detestada. Pois, se o céu é nossa pátria, o que mais é a terra senão nosso lugar de exílio?

Em seu comentário sobre a Primeira Carta de Paulo a Timóteo, Calvino acrescentou: “O único remédio para todas essas dificuldades é olhar para a manifestação de Cristo e sempre confiar nela”. Os exilados perseveraram em sua peregrinação por manter sempre em vista a alegria de voltar para casa.

A terceira razão é que esses dois reformadores são as figuras seminais nas duas maiores tradições da Reforma: a luterana e a reformada. Embora certamente tenha havido desenvolvimentos teológicos em ambas as tradições, como o fato de a tradição luterana ter modificado para um “sono" o entendimento de Lutero sobre o estado intermediário, ambos os reformadores estão no nascedouro (ou no caso específico de Calvino, próximo deste) de tradições dogmáticas confessionais e eclesiásticas de quase quinhentos anos que estão identificadas com eles. Lutero e Calvino servem como representantes aptos da escatologia dos reformadores.


Matthew Barrett. Teologia da Reforma. Tradução Francisco Nunes. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017. pg 1791-1795




quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Apocalipticismo Tardo-Medieval e os Reformadores Radicais



Outra razão dada para explicar por que os reformadores não trataram extensivamente de escatologia é que eles estavam tão desanimados com o extremismo da apocalíptica do período tardo- medieval, bem como o encontrado entre os seus contemporâneos anabatistas, que evitaram o assunto. Embora os pontos de vista escatológicos dos anabatistas radicais fossem de fato altamente especulativos, os reformadores não os ignoraram. De fato, Lutero foi influenciado por ideias e suposições proféticas do fim do período medieval, incluindo a percepção de que o julgamento final estava próximo, como o ponto culminante da luta de eras entre Deus e o Diabo. Conforme Lutero aprofundava essa expectativa ao longo de sua carreira, ele veio a entender que a redescoberta do evangelho era o ponto de virada crítico nessa guerra cósmica abrangente.

A concepção de que a história estava entrando numa terceira e última fase, a era do Espírito Santo, também se difundiu na Alta Idade Média, na qual as expectativas escatológicas foram aumentadas e os cálculos proféticos especulativos eram comuns. A “busca do milênio” (típico de apocalipticismo) brotou na Era da Reforma, mas especialmente entre os chamados “reformadores radicais”, que foram
influenciados em diferentes graus por Joaquim de Fiore (c. 1135–1202) e os Franciscanos Espirituais. Embora cada vez mais convencido de que o fim estava perto, Lutero rejeitou os elementos especulativos desses movimentos, incluindo a “terceira dispensação”, de Joaquim. No entanto, em 1541, Lutero publicou Suppatio annorum mundi [Cronologia do mundo], na qual argumentou que o ano de 1540 era o 5.500o ano após a criação e, embora tenha calculado que faltassem outros quinhentos anos até que o sábado eterno começasse, marcando o 6.000o ano de criação, concluiu que o Senhor prometera encurtar os dias por causa dos eleitos e poderia voltar em breve. 

Embora rejeitasse os elementos radicais da apocalíptica medieval, Lutero era completamente escatológico em sua perspectiva teológica, vendo a escatologia como entrelaçada com a revelação da
história humana. O foco de Lutero em solus Christus na doutrina da justificação pela fé deu a orientação para toda sua teologia, incluindo seu entendimento dos tempos do fim. Como o pecador justificado é libertado da ira de Deus e da punição eterna, a doutrina da justificação, que era o coração do recém-recuperado evangelho, dirige toda a história em direção a seu objetivo final. É a pregação contínua da lei e do evangelho – hostil aos cegos à verdade – que provoca grande parte da convulsão e do conflito que o povo de Deus enfrentará até o fim da história por parte do Diabo e daqueles a quem este cegou. Somente então a vitória de Jesus Cristo sobre o pecado, a morte, o Diabo, a lei e a ira de Deus será gloriosamente manifesta.

OS “ÚLTIMOS DIAS” E A REFORMA DA IGREJA 

Em contraste, portanto, à suposição generalizada de que osreformadores não se preocupavam com a
escatologia,seu trabalho de reforma era profundamente influenciado pela compreensão da  era em que viviam. De acordo com Timothy George: Apesar de todo o seu esforço em retornar à igreja primitiva do Novo Testamento e da idade patrística, a Reforma foi essencialmente um movimento voltado para o futuro. Foi um movimento dos“últimos dias” que viveu uma intensa tensão escatológica entre o “não mais” da antiga dispensação e o “ainda não” do reino de Deus porse consumar. Nenhum dos reformadores [...] abraçou muito as escatologias apocalípticas radicais que floresceram no século XVI. [...] Cada um deles estava convencido de que o reino de Deus estava irrompendo na história nos eventos dos quais ele [Deus] foi levado a fazer parte. Imbuído desse senso de urgência escatológica, em 1543 Calvino escreveu o seguinte a Carlos V, imperador do Sacro Império Romano: “A Reforma
da Igreja é obra de Deus e é tão independente da vida e do pensamento humanos como o é a ressurreição dos mortos ou qualquer outra obra”.

Os reformadores viram-se como partícipes de uma obra vital de Deus: a reforma da igreja. Pelo fato de acreditarem ser meros instrumentos nos propósitos soberanos de Deus, eles entenderam os tempos do fim na perspectiva presente, o “agora”revelando-se diante de seus próprios olhos. Lutero reclamou que a igreja romana e seus líderes estavam contentes em esperar pelo juízo final para a reforma da igreja e colocou o assunto como só ele poderia: “Em Roma, são necessários dois homens para uma reforma, ‘um para ordenar o bode e o outro, para segurar a peneira".

Em um comentário sobre Gálatas 4:6, Lutero descreveu seu foco no trabalho que Deus lhe dera: “Começamos a demolir o reino do anticristo, mas eles provocarão Cristo para apressar o dia de sua vinda gloriosa, quando ele abolirá todos os principados, potestades e forças, e colocará todos os seus inimigos debaixo de seus pés ”. Na estimativa de Lutero: “Estes últimos dias já começaram, e [...] portanto, as ‘últimas coisas começaram em nosso tempo histórico, de modo que o relógio escatológico começou a marcar”. A escatologia não é algo a ser relegado para o futuro distante, conforme testifica a contínua obra de redenção de Deus nos direciona ao fim dos tempos, que se desdobram até o retorno do Senhor.

Se os reformadores não reescreverem o dogma estabelecido da igreja com respeito aos tempos finais – em que Jesus há de retornar no fim da era para julgar o mundo, ressuscitar os mortos e estabelecer novo céu e nova terra –, eles certamente o modificaram um pouco e incorporaram seu entendimento escatológico em suas polêmicas e teologia pastoral, bem como em seus escritos dogmáticos.


Barrett, Matthew. Teologia da Reforma. Tradução Francisco Nunes. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017. p.1785-1791

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Novos Céus e Nova Terra



Muitos hoje duvidam que haja vida após a morte. Zombam daqueles que creem na vida eterna, dizendo que nossa esperança quanto ao céu é meramente a projeção de nossos desejos. Questionam o fundamento de nossa confiança de que o mundo vindouro será melhor do que este.

Nossa resposta como cristãos é o testemunho de Cristo, tanto de sua ressurreição quanto de seu ensino. Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (Jo 11.25). No discurso do cenáculo, na noite de sua traição, Jesus disse: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim” (Jo 14.1). Ele começou seu discurso com um imperativo: “Não...” Um imperativo significa uma obrigação. Somos ordenados a não ficarmos turbados de coração no que diz respeito ao nosso futuro no céu. Jesus também disse:

Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também. E vós sabeis o caminho para onde eu vou (vv. 2-4).

Jesus estava com seus discípulos, mas logo seria removido do meio deles, e eles ficaram ansiosos. Jesus lhes ofereceu consolo, reafirmando sua certeza com estas palavras: “Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar”. Em outras palavras, se o céu fosse uma esperança falsa à qual os discípulos estavam apegados, Jesus teria corrigido o erro deles. No entanto, tudo é verdadeiro, e Jesus estava indo adiante dos discípulos para lhes preparar lugar. Esta é a promessa de Cristo para seu povo: para todo aquele que crê em Cristo, há um lugar preparado na casa de seu Pai. Portanto, temos motivo para sermos confiantes quanto à realidade do céu.

ALEGRIA PROMETIDA

Na primeira epístola de João, obtemos alguns discernimentos sobre o nosso estado futuro:

Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo. Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro (1 Jo 3.1-3).

Este é um dos mais importantes, senão o mais importante, textos escatológicos do Novo Testamento. Promete aos crentes que desfrutaremos o ápice da felicidade no céu, “a visão beatífica” ou a visio Dei. A palavra beatífica vem da mesma palavra-raiz da qual temos a nossa palavra beatitude. As beatitudes são as afirmações de Jesus em seu Sermão do Monte, nas quais Jesus pronunciou oráculos de bênção (Mt 5.3-12). São promessas de bênção, um grau de felicidade que transcende qualquer prazer ou felicidade terrena. Quando Deus dá bem-aventurança a uma alma, isso é gozo e satisfação supremos. Essa bem-aventurança é vista aqui, em 1 João, na visão beatífica. É tão maravilhosa que a própria visão traz consigo mesma a plenitude da bênção.

A visão beatífica é a visão de Deus. João afirmou que não sabemos ainda o que seremos no céu, mas uma coisa nós sabemos: seremos semelhantes a ele, porque o veremos como ele é. Nós o veremos como ele é em si mesmo. Seremos capazes de ver não meramente uma visão indireta de Deus – uma sarça ardente ou uma coluna de nuvem ou de fogo – veremos o seu Ser desvelado. Moisés teve um vislumbre da glória de Deus, mas não pôde ver a face de Deus (Êx 34.4-5). Uma olhada íntima e face a face com Deus é totalmente proibida a todo mortal neste mundo. Somos chamados a dedicar-nos a nós mesmos em santidade a um Deus que nunca vemos. Servimos a um Senhor que é invisível para nós. Mas ele promete que um dia nós o veremos. Nas bem-aventuranças, não é aos misericordiosos, nem aos pobres de espírito, nem aos pacificadores que é feita a promessa de ver a Deus. Em vez disso, Jesus afirmou: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mt 5.8). A razão por que não podemos ver a Deus não está relacionada aos nossos olhos. Está relacionada ao nosso coração. Mas, quando entrarmos na glória e recebermos a plenitude de nossa santificação, o obstáculo para uma percepção direta e imediata de Deus será removido.Quando eu assisto a um jogo de basquete na televisão, estou assistindo realmente a um jogo de basquete? Não estou presente no evento; o jogo está acontecendo a muitos quilômetros de distância. Estou assistindo a uma transmissão eletrônica, uma reprodução. Há um meio entre o jogo e eu mesmo; assim, eu me torno ciente do jogo por intermédio do meio. Um meio é um intermediário; neste caso, ele transmite a imagem de algo de um lugar para outro. Quando eu assisto ao jogo na televisão, vejo apenas imagens do jogo. Se eu estivesse realmente no jogo, a luz do estádio transmitiria essas imagens aos meus olhos. Mesmo se eu tivesse visão perfeita, se fosse trancado num cômodo sem qualquer luz, não veria nada. Precisamos tanto de luz quanto das imagens para sermos capazes de ver.

Até a nossa visão presente é mediada. Jonathan Edwards disse que, na glória, nossa alma terá uma apreensão direta do Deus invisível. Não sabemos como isso acontecerá, mas sabemos realmente, por meio da Palavra de Deus, que o deleite de nossa alma, no céu, será ver a Deus como ele é.

A NATUREZA DO CÉU

No livro de Apocalipse, o apóstolo João registrou a visão que recebera na ilha de Patmos. Nessa visão, Cristo mostrou a João muitas coisas, incluindo o novo céu e a nova terra.

Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram (Ap 21.1-4).

Lemos que no céu não haverá nenhum mar, o que, se for entendido literalmente, pode desapontar os que amam praia. Entretanto, para os hebreus, o mar era um símbolo de violência. O litoral em Israel era rochoso e áspero. Além disso, era uma porta de entrada para investidas de saqueadores, e clima violento vinha do mar Mediterrâneo. Em toda a poesia hebraica, o mar é um símbolo negativo; o rio, a fonte e o poço servem como figuras positivas. Portanto, entendemos que a visão de João indica que não haverá mais catástrofes naturais violentas.

No céu também não haverá lágrimas. Associamos lágrimas com tristeza e pesar. Muitos de nós lembramos como, em nossa infância, nossa mãe nos consolava quando estávamos tristes, enxugando nossas lágrimas com o seu avental. Em geral, éramos levados às lágrimas de novo no dia seguinte, e precisávamos de consolo novamente. No entanto, quando Deus enxugar nossas lágrimas, elas nunca mais retornarão, porque as coisas que agora nos fazem chorar serão removidas. Não haverá mais morte, nem choro, nem dor. Estas coisas velhas terão desaparecido.

Quando João continua sua descrição, encontramos algumas dimensões surpreendentes de como será o céu e de como ele não será (vv. 18-21). O texto nos diz o que haverá no céu e o que não haverá. Achamos ruas de ouro tão excelente e puro que é translúcido. Fala das portas construídas de pérola magnificente e de um fundamento adornado de pedras preciosas. A literatura apocalíptica é imaginativa, por isso acredito que estas coisas são representações simbólicas do céu, mas eu não diria que é impossível Deus construir uma cidade como a que é descrita nesta passagem.

João nos diz mais: “Nela, não vi santuário, porque o seu santuário é o Senhor, o Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro. A cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada” (vv. 22-23). Não haverá nenhum templo, nem sol, nem lua. Nesta terra, um templo, ou igreja, é o símbolo visível da presença de Deus, mas no céu não haverá necessidade de qualquer templo, porque estaremos na presença real de Deus. Também não haverá necessidade de fonte de luz criadas – sol, luz, estrelas. O brilho da glória de Deus e do Cordeiro iluminará toda a cidade, e não haverá mais noite, porque a irradiante, reluzente e brilhante glória de Deus nunca cessa. O céu será iluminado com o puro e manifesto esplendor de Deus.

Para o que vivemos? Como forma de ilustração, Jonathan Edwards descreveu alguém que economiza dinheiro por vários anos a fim de sair em férias. Para chegar ao seu destino, ele precisa viajar, e, assim, a primeira noite ele passa numa hospedaria da estrada. Entretanto, no dia seguinte, em vez de continuar na viagem ao seu destino pretendido, ele resolve esquecer tudo e permanecer na hospedaria. Vivemos nossa vida desta maneira. Nós nos prendemos tenazmente à vida neste mundo, porque não estamos realmente convencidos da glória que o Pai estabeleceu no céu para seu povo. Toda esperança e todo gozo por que anelamos – e muito mais do que isso – abundarão neste lugar maravilhoso. Nosso maior momento será quando passarmos pela porta, deixarmos este mundo de lágrimas e tristeza, este vale de morte, e entrarmos na presença do Cordeiro.

R.C. Sproul. Somos todos Teologos: Uma introdução à Teologia Sistemática. pg: 257-260
Traduzido do original em inglês Everyone’s a Theologian: An Introduction to Systematic Theology
© Copyright 2014 por R.C. Sproul

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Sistemas Teológicos Comparados



Legenda: 

DISP – Dispensacionalismo 
DP- Dispensacionalismo Progressivo 
TP – Teologia do Pacto 
NTP – Nova Teologia do Pacto

Definição de Termos:

Israel Físico – a nação dos Judeus, descendeste físicos de Abraão através de Isaque e Jacó.

Israel Espiritual – os eleitos de Deus, todos aqueles em Cristo, quer judeu, quer gentio.
Igreja Universal – Israel espiritual, todos os eleitos de Deus de todos os tempos.

Igreja Visível – uma assembléia local de crentes batizados em Cristo, unidos pelo pacto para adoração e comunhão. 

1. Posição com respeito às Doutrinas da Graça:
DISP – Geralmente não Calvinista 
DP – Alguns não Calvinistas 
TP – Quase Sempre Calvinista 
NTP – Como o TP

2. Interpretação das Escrituras:
DISP – Interpretação Literal 
DP – Como o DISP 
TP - Literal ou Figurada, dependendo do contexto 
NTP – Como o TP 

3. "Analogia da Fé":
DISP – Não aceita a Analogia da Fé 
DP – Como o DISP 
TP – Usualmente aceitam a Analogia da Fé 
NTP – Como o TP 

4. Israel:
DISP – Descendentes físicos de Jacó 
DP – Como o TP 
TP – Descendentes físicos de Jacó, ou descendentes espirituais de Abraão, dependendo do contexto. 
NTP – Como o TP

5. Israel em Gálatas 6:16:
DISP – Descendentes físicos de Jacó somente 
DP – Descendentes físicos de Jacó que estão em Cristo (Judeus Crentes – físico e espiritual) 
TP – Israel Espiritual, paralelo a Gálatas 3:29; Romanos 2:28-29; 9:6; Filipenses 3:3 
NTP – Como o TP 

6. Israel e a Igreja:
DISP – Dois grupos distintos de povos de Deus com destinos separados 
DP – Como o TP. 
TP – Os eleitos de Deus que são “um povo”, a Igreja Universal que sempre existiu. 
NTP – No AT, os crentes são chamados simplesmente “o eleito de Israel”, não a Igreja. NTP não reconhece uma Igreja no AT, assim como no NT. Em Mateus 16:18, Jesus disse que Ele edificaria Sua Igreja. Há apenas um povo de Deus do qual o Israel natural era um prenúncio tipológico. Assim, a Igreja é o “Novo Israel”. 

7. Nascimento da Igreja:
DISP – Nasceu em Pentecoste, separada de Israel 
DP – A Igreja Visível nasceu em Pentecoste como uma extensão do programa de Deus para Israel 
TP – Nasceu no AT e atingiu a plenitude no NT 
NTP – Como o DISP 

8. Igreja na Profecia do AT:
DISP - Não, ela era um mistério, oculta até o NT 
DP – Como o TP 
TP - Sim, há muitas profecias diretas no AT sobre a Igreja do NT
NTP – Como o TP 

9. Israel na Profecia do AT:
DISP – Todas as profecias para Israel são para a nação e não tem nada a ver com a Igreja 
DP – Como o TP 
TP – Algumas profecias são para a nação de Israel, outras para o Israel espiritual 
NTP – Como o TP 

10. O Principal Propósito de Deus na História:
DISP – Israel Físico 
DP - "que na dispensação da plenitude dos tempos Ele tornará a congregar em Cristo todas as coisas, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra – nEle” 
TP - Cristo, e por extensão a Igreja 
NTP – Como o TP 

11. A Igreja e o Programa de Deus:
DISP – A Igreja é uma parêntesis no programa no programa de Deus (um mistério) 
DP – A Igreja é uma parte progressiva e integral de Seu tratamento com o Israel físico 
TP – A Igreja é a culminação do propósito salvador de Deus através das eras 
NTP – Como o TP 

12. Os Verdadeiros Herdeiros do Pacto de Abraão:
DISP – Isaque e o Israel físico 
DP – Israel Físico e Espiritual, incluindo a Igreja 
TP - Cristo, a Semente, e portanto todos aqueles em Cristo (Israel espiritual) 
NTP – Como o TP 

13. Pacto da Redenção dentro da Trindade:
DISP – Não há tal pacto 
DP – Como o DISP 
TP – Este pacto efetuou a eleição 
NTP – Não tal pacto, mas houve um eterno decreto para a redenção dentro da Trindade (uma determinação e um plano para salvar) 

14. Pacto das Obras com Adão:
DISP - Não 
DP – Como o TP 
TP – Deus fez um pacto condicional de obras com Adão, como um representante para todos os seus descendentes naturais 
NTP - Não, mas Adão é um representante para todos os seus descendentes naturais 

15. Pacto de Graça concernente a Adão:
DISP - Não 
DP - Não 
TP – Deus fez um Pacto de Graça com Cristo e Seu povo, incluindo Adão 
NTP – Não crê no uso do termo “Pacto da Graça”, visto que o termo não é encontrado em qualquer lugar nas Escrituras. NTP crê que somente quando a Bíblia estipula que o Pacto foi “cortado” entre Deus e o homem, é que há uma razão Bíblica para se crer que isto tenha sido feito. Isto não é dizer que Deus não é gracioso com o homem em “cortar” um pacto com ele; mas que o termo em si nunca é encontrado nas Escrituras, e portanto não deve ser usado, especialmente quando descrevendo o Pacto Mosaico, que era uma lei pactual. 

16. Israel e o Pacto Mosaico:
DISP - Israel aceitou o Pacto no Sinal sem pensar muito 
DP – Como o TP 
TP - Israel tinha a intenção de aceitar o Pacto no Sinai 
NTP - Israel estava tão aterrorizado no Sinai que eles teriam aceito qualquer coisa 

17. O Novo Concerto e Israel:
DISP – Jeremias 31:31-34 é somente para o Israel físico 
DP – Somente para o Israel físico, mas a Igreja tem feito parte do Novo Concerto 
TP – O Novo Concerto de Jeremias 31 é o mesmo de Lucas 22:20, ambos são para o Israel espiritual de acordo com Hebreus 8 
NTP – Como o TP 

18. O Programa de Deus e as “Dispensações”:
DISP – Deus age através de separadas dispensações 
DP – Como o DISP 
TP – Deus age através de pactos separados, porém relacionados. 
NTP – Deus opera através de pactos separados, porém relacionados, mas o Novo Pacto cumpre ou traz para sua realização final todos os outros porque eles são todos realizados/cumpridos em Cristo. 

19. Salvação dos Santos do AT:
DISP – Alguns salvos pelas obras 
DP – Como o TP 
TP – Todos que foram salvos, foram salvos pela graça somente 
NTP – Como o TP 

20. Fé é Cristo como um Portador do Pecado:
DISP - Não 
DP – Como o TP 
TP – Todos que são salvos são salvos pela fé em Cristo como um Portador do Pecado 
NTP – Como o TP 

21. Os Sacrifícios do AT:
DISP – Os sacrifícios do AT não foram reconhecidos como o Evangelho ou tipos do Messias como portador do pecado, mas somente vistos como tal em retrospecto. 
DP – Como o TP 
TP – Os crentes do AT creram no Evangelho do Messias como portador do pecado, principalmente pelos sacrifícios como tipos e profecias. 
NTP – Como o TP 

22. Habitação do Espírito Santo:
DISP – Habita somente os crentes na Dispensação da Graça, não no AT ou depois do rapto 
DP – Como o DISP 
TP – Habita todos os crentes em todas as eras, nunca retrocendendo 
NTP – Crê que a habitação não foi a mesma como no tempo da Igreja. Em João 13:16-18, Jesus disse que Ele enviaria o consolador para que Ele pudesse “habitar” (viver) com eles para sempre. Se o Espírito Santo já “habitasse” com eles, como a Igreja depois do Pentecoste, então esta promessa não significa nada. 

23. O Reino de Deus e Israel:
DISP - Jesus ofereceu o Reino literal para o Israel fisico, mas a oferta foi rejeitada e portanto postergada 
DP - Jesus ofereceu o Reino literal para o Israel físico. Somente um pequeno remanescente o aceitou. A nação física de Israel virá a crer e será feita uma parte do Reino literal no Reinado Milenial. 
TP - Jesus ofereceu um Reinado espiritual que foi rejeitado pelo Israel físico mas tem sido gradualmente aceito pelo Israel espiritual. 
NTP – Como o TP 

24. Os Crentes do AT e o Corpo/Noiva de Cristo:
DISP – Os crentes do AT não estavam em Cristo, e portanto não tinham parte no Corpo/Noiva 
DP – Como o TP 
TP – Os crentes em todas as eras estão em Cristo e fazem parte do Corpo/Noiva 
NTP – Como o TP, exceto que eles não vêem a igreja existindo antes do Pentecoste. 

25. Lei do AT:
DISP – A Lei do AT foi abolida por Cristo. O Israel Físico estará debaixo da Lei após o rapto 
DP – Como o DISP 
TP – A Lei do AT serve para 3 propósitos: 1) restringir pecado na sociedade, 2) conduzir a Cristo, e 3) para instrução na piedade. A lei cerimonial e civil foi abolida. A lei moral continua em vigor. 
NTP – A Lei do AT é obrigatória somente a medida que é interpretada, aplicada, e em alguns casos até mesmo expandida no NT. A Lei do AT é para servir com um tutor, expondo nossa pecaminosidade e nossa necessidade de um Salvador. Cristo é afirmado com sendo “O Novo Doador da Lei”, como oposto a Moisés que foi “O Antigo Doador da Lei”. 

26. A Lei do AT e a Igreja:
DISP – As leis do AT estão em vigor somente se forem repetidas no NT 
DP – Como o DISP 
TP – As leis do AT estão em vigor, a menos que ab-rogadas 
NTP – As leis do AT estão em vigor a medida que reiteradas por Jesus e pelos escritores neo-testamentários 

27. O Reino de Deus:
DISP – O Reino Milenial é o Reino de Deus 
DP – Como o DISP 
TP – A Igreja é o Reino de Deus 
NTP – A Igreja desde o Pentecoste é o Reino de Deus 

28. Reino Milenial:
DISP – Mil anos literais na terra – pré-milenistas 
DP – Como o DISP 
TP – O reino milenial é um figura para a era atual – amilenistas, alguns pós-milenistas, uns poucos pré-milenistas 
NTP – Como o TP 

29. Sacrifício do AT:
DISP – restaurado no reino Milenial como um memorial 
DP – Como o TP 
TP – cumprido em Cristo e para sempre substituído por Ele 
NTP – Como o TP 

30. O Futuro de Israel:
DISP – Israel Físico tem um futuro 
DP – Como o DISP 
TP – Alguns sustentam um futuro para o Israel físico, mas a maioria não 
NTP – Como o TP 

31. O Milênio e o Pacto com Abraão:
DISP – O Milênio é o cumprimento do Pacto Abraâmico 
DP – Como o DISP 
TP – Cristo cumpriu o Pacto Abraâmico 
NTP – Como o TP 

32. O Trono de Davi:
DISP – Jesus sentará no trono de Davi durante o Milênio, os santos reinando com Ele 
DP - Jesus está sentado no trono de Davi agora à destra do Pai 
TP – Cristo senta-se sobre o Trono do Céu. Os santos reinam sob Ele em espírito 
NTP – Como o TP 

33. Batismo:
DISP – Batismo dos crentes e alguns dispensacionalistas Presbiterianos que batizam infantes 
DP – Como o DISP 
TP – A maioria abraça o batismo infantil, exceto os Batistas que são Pactuais 
NTP – Batismo dos crentes somente 

Análise:


Número de posições únicas para cada sistema: 
(somente este sistema sustenta a crença na questão) 
DISP - 20 
DP - 8 
TP - 9 
NTP - 4 

Número de vezes quando há acordo entre os sistemas: 
DISP e DP - 13 
DISP e TP - 0 
DISP e NTP - 3 
DP e TP - 11 
DP e NTP - 10 
TP e NTP - 20



quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

O que é o Arrebatamento?



1 Tessalonicenses 4.13-18 é a instrução de Paulo sobre o que é popularmente chamado de arrebatamento. O arrebatamento é o transporte miraculoso de todos os cristãos vivos aos céus no retorno de Jesus. Há muitas informações erradas sobre esse evento, mas essa passagem nos dá algumas verdades definitivas sobre ele. Paulo deixou claro que o retorno de Jesus não vai ser secreto, mas será visível; será um retorno físico; e será um retorno triunfante, pois Ele não virá em inferioridade e submissão assim como Ele fez na Sua primeira vinda, mas em poder e glória. Os anjos disseram aos discípulos: 

“Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (Atos 1.11).Assim como Ele partiu visivelmente na nuvem da shekinah, Ele voltará visivelmente nessa nuvem de glória.

Há uma visão, que é bastante difundida na igreja de hoje, que diz que Jesus vai voltar para arrebatar a igreja para fora do mundo, que então a grande tribulação ocorrerá, até que Jesus retorne novamente. Penso que essa visão é resultado de uma má interpretação do que o Apostólo descreveu aqui em 1 Tessalonicenses.

Uma vez conversei com um dos principais representantes dessa escola de pensamento, um homem que ensina o arrebatamento “pretribulacionista”. Eu lhe disse:

“Não conheço um simples versículo em qualquer lugar da Bíblia que ensina o arrebatamento pré-tribulação. Você pode me dizer onde achar?”.Nunca vou esquecer o que ele me disse:

“Não, eu não posso. Porém, isso é o que me ensinaram quando eu era uma criança pequena.”Eu lhe disse:

“Vamos tirar a nossa teologia da Bíblia, ao invés das lições de escola dominical que ouvimos anos e anos atrás.”Vamos olhar para os eventos que Paulo descreveu. Primeiro, ele notou:

“o Senhor mesmo…. descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares” (1 Ts 4.16-17).Aqui, vemos que o propósito da vinda dos mortos e do nosso arrebatamento ao céu não é ir embora mas para encontrar com Jesus enquanto Ele está retornando. Ele não vai nos tirar do mundo permanentemente. Ele vai nos elevar para participarmos com Ele do Seu retorno triunfal.

Quando as legiões romanas eram despachadas para ir a um país estrangeiro numa campanha militar, seus estandartes traziam as letras SPQR, uma abreviação para Senatus Populus Que Romanus, que significa “o Senado e o povo de Roma”. Entendia-se em Roma que as conquistas dos militares não eram simplesmente para os políticos que governavam, mas para todos os cidadãos da cidade.

O exército poderia ter ido para uma campanha de dois ou três anos. Finalmente, os soldados retornariam, trazendo prisioneiros em correntes. Eles acampariam fora da cidade e enviariam um mensageiro para alertar o Senado e o povo que as legiões haviam retornado. Quando essas notícias chegavam, o povo começava a se preparar para receber os heróis vencedores. Quando tudo estava pronto, um trompete soava. Com isso, os cidadãos da cidade saíam para onde o exército estava acampado e se juntavam aos soldados em marcha pela cidade. A ideia era que eles tinham participado no triunfo do seu exército vencedor.

Essa é exatamente a linguagem que Paulo usou aqui. Ele estava dizendo que quando Jesus voltar em poder vencedor, crentes, mortos e vivos, serão levados nos ares para encontrar com Ele, não para ficar lá em cima, mas para se unir ao Seu retorno triunfal, para participar em Sua exaltação.

Parece que o objetivo de Paulo aqui era confortar os Tessalonicenses, que estavam tristes de que os seus entes falecidos, aparentemente, iriam perder o retorno triunfal de Cristo, a grande conclusão para o ministério de Jesus no fim dos tempos. Paulo os assegurou que os mortos em Cristo não vão perder de jeito nenhum o Seu retorno. Na verdade, eles estarão lá primeiro. Os mortos vão ressurgir primeiro, e então aqueles que continuam vivos e são de Cristo vão ser arrebatados juntamente com toda essa congregação para vir à terra novamente em triunfo.