google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Escatologia Reformada

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Sistemas Teológicos Comparados



Legenda: 

DISP – Dispensacionalismo 
DP- Dispensacionalismo Progressivo 
TP – Teologia do Pacto 
NTP – Nova Teologia do Pacto

Definição de Termos:

Israel Físico – a nação dos Judeus, descendeste físicos de Abraão através de Isaque e Jacó.

Israel Espiritual – os eleitos de Deus, todos aqueles em Cristo, quer judeu, quer gentio.
Igreja Universal – Israel espiritual, todos os eleitos de Deus de todos os tempos.

Igreja Visível – uma assembléia local de crentes batizados em Cristo, unidos pelo pacto para adoração e comunhão. 

1. Posição com respeito às Doutrinas da Graça:
DISP – Geralmente não Calvinista 
DP – Alguns não Calvinistas 
TP – Quase Sempre Calvinista 
NTP – Como o TP

2. Interpretação das Escrituras:
DISP – Interpretação Literal 
DP – Como o DISP 
TP - Literal ou Figurada, dependendo do contexto 
NTP – Como o TP 

3. "Analogia da Fé":
DISP – Não aceita a Analogia da Fé 
DP – Como o DISP 
TP – Usualmente aceitam a Analogia da Fé 
NTP – Como o TP 

4. Israel:
DISP – Descendentes físicos de Jacó 
DP – Como o TP 
TP – Descendentes físicos de Jacó, ou descendentes espirituais de Abraão, dependendo do contexto. 
NTP – Como o TP

5. Israel em Gálatas 6:16:
DISP – Descendentes físicos de Jacó somente 
DP – Descendentes físicos de Jacó que estão em Cristo (Judeus Crentes – físico e espiritual) 
TP – Israel Espiritual, paralelo a Gálatas 3:29; Romanos 2:28-29; 9:6; Filipenses 3:3 
NTP – Como o TP 

6. Israel e a Igreja:
DISP – Dois grupos distintos de povos de Deus com destinos separados 
DP – Como o TP. 
TP – Os eleitos de Deus que são “um povo”, a Igreja Universal que sempre existiu. 
NTP – No AT, os crentes são chamados simplesmente “o eleito de Israel”, não a Igreja. NTP não reconhece uma Igreja no AT, assim como no NT. Em Mateus 16:18, Jesus disse que Ele edificaria Sua Igreja. Há apenas um povo de Deus do qual o Israel natural era um prenúncio tipológico. Assim, a Igreja é o “Novo Israel”. 

7. Nascimento da Igreja:
DISP – Nasceu em Pentecoste, separada de Israel 
DP – A Igreja Visível nasceu em Pentecoste como uma extensão do programa de Deus para Israel 
TP – Nasceu no AT e atingiu a plenitude no NT 
NTP – Como o DISP 

8. Igreja na Profecia do AT:
DISP - Não, ela era um mistério, oculta até o NT 
DP – Como o TP 
TP - Sim, há muitas profecias diretas no AT sobre a Igreja do NT
NTP – Como o TP 

9. Israel na Profecia do AT:
DISP – Todas as profecias para Israel são para a nação e não tem nada a ver com a Igreja 
DP – Como o TP 
TP – Algumas profecias são para a nação de Israel, outras para o Israel espiritual 
NTP – Como o TP 

10. O Principal Propósito de Deus na História:
DISP – Israel Físico 
DP - "que na dispensação da plenitude dos tempos Ele tornará a congregar em Cristo todas as coisas, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra – nEle” 
TP - Cristo, e por extensão a Igreja 
NTP – Como o TP 

11. A Igreja e o Programa de Deus:
DISP – A Igreja é uma parêntesis no programa no programa de Deus (um mistério) 
DP – A Igreja é uma parte progressiva e integral de Seu tratamento com o Israel físico 
TP – A Igreja é a culminação do propósito salvador de Deus através das eras 
NTP – Como o TP 

12. Os Verdadeiros Herdeiros do Pacto de Abraão:
DISP – Isaque e o Israel físico 
DP – Israel Físico e Espiritual, incluindo a Igreja 
TP - Cristo, a Semente, e portanto todos aqueles em Cristo (Israel espiritual) 
NTP – Como o TP 

13. Pacto da Redenção dentro da Trindade:
DISP – Não há tal pacto 
DP – Como o DISP 
TP – Este pacto efetuou a eleição 
NTP – Não tal pacto, mas houve um eterno decreto para a redenção dentro da Trindade (uma determinação e um plano para salvar) 

14. Pacto das Obras com Adão:
DISP - Não 
DP – Como o TP 
TP – Deus fez um pacto condicional de obras com Adão, como um representante para todos os seus descendentes naturais 
NTP - Não, mas Adão é um representante para todos os seus descendentes naturais 

15. Pacto de Graça concernente a Adão:
DISP - Não 
DP - Não 
TP – Deus fez um Pacto de Graça com Cristo e Seu povo, incluindo Adão 
NTP – Não crê no uso do termo “Pacto da Graça”, visto que o termo não é encontrado em qualquer lugar nas Escrituras. NTP crê que somente quando a Bíblia estipula que o Pacto foi “cortado” entre Deus e o homem, é que há uma razão Bíblica para se crer que isto tenha sido feito. Isto não é dizer que Deus não é gracioso com o homem em “cortar” um pacto com ele; mas que o termo em si nunca é encontrado nas Escrituras, e portanto não deve ser usado, especialmente quando descrevendo o Pacto Mosaico, que era uma lei pactual. 

16. Israel e o Pacto Mosaico:
DISP - Israel aceitou o Pacto no Sinal sem pensar muito 
DP – Como o TP 
TP - Israel tinha a intenção de aceitar o Pacto no Sinai 
NTP - Israel estava tão aterrorizado no Sinai que eles teriam aceito qualquer coisa 

17. O Novo Concerto e Israel:
DISP – Jeremias 31:31-34 é somente para o Israel físico 
DP – Somente para o Israel físico, mas a Igreja tem feito parte do Novo Concerto 
TP – O Novo Concerto de Jeremias 31 é o mesmo de Lucas 22:20, ambos são para o Israel espiritual de acordo com Hebreus 8 
NTP – Como o TP 

18. O Programa de Deus e as “Dispensações”:
DISP – Deus age através de separadas dispensações 
DP – Como o DISP 
TP – Deus age através de pactos separados, porém relacionados. 
NTP – Deus opera através de pactos separados, porém relacionados, mas o Novo Pacto cumpre ou traz para sua realização final todos os outros porque eles são todos realizados/cumpridos em Cristo. 

19. Salvação dos Santos do AT:
DISP – Alguns salvos pelas obras 
DP – Como o TP 
TP – Todos que foram salvos, foram salvos pela graça somente 
NTP – Como o TP 

20. Fé é Cristo como um Portador do Pecado:
DISP - Não 
DP – Como o TP 
TP – Todos que são salvos são salvos pela fé em Cristo como um Portador do Pecado 
NTP – Como o TP 

21. Os Sacrifícios do AT:
DISP – Os sacrifícios do AT não foram reconhecidos como o Evangelho ou tipos do Messias como portador do pecado, mas somente vistos como tal em retrospecto. 
DP – Como o TP 
TP – Os crentes do AT creram no Evangelho do Messias como portador do pecado, principalmente pelos sacrifícios como tipos e profecias. 
NTP – Como o TP 

22. Habitação do Espírito Santo:
DISP – Habita somente os crentes na Dispensação da Graça, não no AT ou depois do rapto 
DP – Como o DISP 
TP – Habita todos os crentes em todas as eras, nunca retrocendendo 
NTP – Crê que a habitação não foi a mesma como no tempo da Igreja. Em João 13:16-18, Jesus disse que Ele enviaria o consolador para que Ele pudesse “habitar” (viver) com eles para sempre. Se o Espírito Santo já “habitasse” com eles, como a Igreja depois do Pentecoste, então esta promessa não significa nada. 

23. O Reino de Deus e Israel:
DISP - Jesus ofereceu o Reino literal para o Israel fisico, mas a oferta foi rejeitada e portanto postergada 
DP - Jesus ofereceu o Reino literal para o Israel físico. Somente um pequeno remanescente o aceitou. A nação física de Israel virá a crer e será feita uma parte do Reino literal no Reinado Milenial. 
TP - Jesus ofereceu um Reinado espiritual que foi rejeitado pelo Israel físico mas tem sido gradualmente aceito pelo Israel espiritual. 
NTP – Como o TP 

24. Os Crentes do AT e o Corpo/Noiva de Cristo:
DISP – Os crentes do AT não estavam em Cristo, e portanto não tinham parte no Corpo/Noiva 
DP – Como o TP 
TP – Os crentes em todas as eras estão em Cristo e fazem parte do Corpo/Noiva 
NTP – Como o TP, exceto que eles não vêem a igreja existindo antes do Pentecoste. 

25. Lei do AT:
DISP – A Lei do AT foi abolida por Cristo. O Israel Físico estará debaixo da Lei após o rapto 
DP – Como o DISP 
TP – A Lei do AT serve para 3 propósitos: 1) restringir pecado na sociedade, 2) conduzir a Cristo, e 3) para instrução na piedade. A lei cerimonial e civil foi abolida. A lei moral continua em vigor. 
NTP – A Lei do AT é obrigatória somente a medida que é interpretada, aplicada, e em alguns casos até mesmo expandida no NT. A Lei do AT é para servir com um tutor, expondo nossa pecaminosidade e nossa necessidade de um Salvador. Cristo é afirmado com sendo “O Novo Doador da Lei”, como oposto a Moisés que foi “O Antigo Doador da Lei”. 

26. A Lei do AT e a Igreja:
DISP – As leis do AT estão em vigor somente se forem repetidas no NT 
DP – Como o DISP 
TP – As leis do AT estão em vigor, a menos que ab-rogadas 
NTP – As leis do AT estão em vigor a medida que reiteradas por Jesus e pelos escritores neo-testamentários 

27. O Reino de Deus:
DISP – O Reino Milenial é o Reino de Deus 
DP – Como o DISP 
TP – A Igreja é o Reino de Deus 
NTP – A Igreja desde o Pentecoste é o Reino de Deus 

28. Reino Milenial:
DISP – Mil anos literais na terra – pré-milenistas 
DP – Como o DISP 
TP – O reino milenial é um figura para a era atual – amilenistas, alguns pós-milenistas, uns poucos pré-milenistas 
NTP – Como o TP 

29. Sacrifício do AT:
DISP – restaurado no reino Milenial como um memorial 
DP – Como o TP 
TP – cumprido em Cristo e para sempre substituído por Ele 
NTP – Como o TP 

30. O Futuro de Israel:
DISP – Israel Físico tem um futuro 
DP – Como o DISP 
TP – Alguns sustentam um futuro para o Israel físico, mas a maioria não 
NTP – Como o TP 

31. O Milênio e o Pacto com Abraão:
DISP – O Milênio é o cumprimento do Pacto Abraâmico 
DP – Como o DISP 
TP – Cristo cumpriu o Pacto Abraâmico 
NTP – Como o TP 

32. O Trono de Davi:
DISP – Jesus sentará no trono de Davi durante o Milênio, os santos reinando com Ele 
DP - Jesus está sentado no trono de Davi agora à destra do Pai 
TP – Cristo senta-se sobre o Trono do Céu. Os santos reinam sob Ele em espírito 
NTP – Como o TP 

33. Batismo:
DISP – Batismo dos crentes e alguns dispensacionalistas Presbiterianos que batizam infantes 
DP – Como o DISP 
TP – A maioria abraça o batismo infantil, exceto os Batistas que são Pactuais 
NTP – Batismo dos crentes somente 

Análise:


Número de posições únicas para cada sistema: 
(somente este sistema sustenta a crença na questão) 
DISP - 20 
DP - 8 
TP - 9 
NTP - 4 

Número de vezes quando há acordo entre os sistemas: 
DISP e DP - 13 
DISP e TP - 0 
DISP e NTP - 3 
DP e TP - 11 
DP e NTP - 10 
TP e NTP - 20



quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

O que é o Arrebatamento?



1 Tessalonicenses 4.13-18 é a instrução de Paulo sobre o que é popularmente chamado de arrebatamento. O arrebatamento é o transporte miraculoso de todos os cristãos vivos aos céus no retorno de Jesus. Há muitas informações erradas sobre esse evento, mas essa passagem nos dá algumas verdades definitivas sobre ele. Paulo deixou claro que o retorno de Jesus não vai ser secreto, mas será visível; será um retorno físico; e será um retorno triunfante, pois Ele não virá em inferioridade e submissão assim como Ele fez na Sua primeira vinda, mas em poder e glória. Os anjos disseram aos discípulos: 

“Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (Atos 1.11).Assim como Ele partiu visivelmente na nuvem da shekinah, Ele voltará visivelmente nessa nuvem de glória.

Há uma visão, que é bastante difundida na igreja de hoje, que diz que Jesus vai voltar para arrebatar a igreja para fora do mundo, que então a grande tribulação ocorrerá, até que Jesus retorne novamente. Penso que essa visão é resultado de uma má interpretação do que o Apostólo descreveu aqui em 1 Tessalonicenses.

Uma vez conversei com um dos principais representantes dessa escola de pensamento, um homem que ensina o arrebatamento “pretribulacionista”. Eu lhe disse:

“Não conheço um simples versículo em qualquer lugar da Bíblia que ensina o arrebatamento pré-tribulação. Você pode me dizer onde achar?”.Nunca vou esquecer o que ele me disse:

“Não, eu não posso. Porém, isso é o que me ensinaram quando eu era uma criança pequena.”Eu lhe disse:

“Vamos tirar a nossa teologia da Bíblia, ao invés das lições de escola dominical que ouvimos anos e anos atrás.”Vamos olhar para os eventos que Paulo descreveu. Primeiro, ele notou:

“o Senhor mesmo…. descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares” (1 Ts 4.16-17).Aqui, vemos que o propósito da vinda dos mortos e do nosso arrebatamento ao céu não é ir embora mas para encontrar com Jesus enquanto Ele está retornando. Ele não vai nos tirar do mundo permanentemente. Ele vai nos elevar para participarmos com Ele do Seu retorno triunfal.

Quando as legiões romanas eram despachadas para ir a um país estrangeiro numa campanha militar, seus estandartes traziam as letras SPQR, uma abreviação para Senatus Populus Que Romanus, que significa “o Senado e o povo de Roma”. Entendia-se em Roma que as conquistas dos militares não eram simplesmente para os políticos que governavam, mas para todos os cidadãos da cidade.

O exército poderia ter ido para uma campanha de dois ou três anos. Finalmente, os soldados retornariam, trazendo prisioneiros em correntes. Eles acampariam fora da cidade e enviariam um mensageiro para alertar o Senado e o povo que as legiões haviam retornado. Quando essas notícias chegavam, o povo começava a se preparar para receber os heróis vencedores. Quando tudo estava pronto, um trompete soava. Com isso, os cidadãos da cidade saíam para onde o exército estava acampado e se juntavam aos soldados em marcha pela cidade. A ideia era que eles tinham participado no triunfo do seu exército vencedor.

Essa é exatamente a linguagem que Paulo usou aqui. Ele estava dizendo que quando Jesus voltar em poder vencedor, crentes, mortos e vivos, serão levados nos ares para encontrar com Ele, não para ficar lá em cima, mas para se unir ao Seu retorno triunfal, para participar em Sua exaltação.

Parece que o objetivo de Paulo aqui era confortar os Tessalonicenses, que estavam tristes de que os seus entes falecidos, aparentemente, iriam perder o retorno triunfal de Cristo, a grande conclusão para o ministério de Jesus no fim dos tempos. Paulo os assegurou que os mortos em Cristo não vão perder de jeito nenhum o Seu retorno. Na verdade, eles estarão lá primeiro. Os mortos vão ressurgir primeiro, e então aqueles que continuam vivos e são de Cristo vão ser arrebatados juntamente com toda essa congregação para vir à terra novamente em triunfo.


terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O erro Pré-Milenista ou o Rapto e a Revelação



Como uma pessoa vê os eventos que cercam o retorno de Jesus Cristo em glória é determinado largamente pela interpretação dada ao termo milênio (mil anos – veja Apocalipse 20:1-7). Como foi apontado no artigo prévio, há três interpretações: pós-, pré- e a-milenismo. Temos visto que pós-milenismo é aquela visão otimista que sustenta que Cristo retornará depois do milênio (um longo período de tempo, não necessariamente de mil anos exatos), e encontrará o mundo completamente Cristianizado com somente uns poucos vestígios de pecado remanescente. Será uma era dourada de justiça e paz, a maioria da humanidade será salva, e as guerras desaparecerão da face da terra. Foi mostrado que tal conceito não pode ser harmonizado com muitas porções das Sagradas Escrituras e, portanto, deve ser rejeitado.

Considerando o pré-milenismo, a primeira dica que alguém recebe de que esta visão não pode ser o ensino da Palavra de Deus é a assombrosa falta de acordo entre os próprios pré-milenistas. Se as Escrituras apresentam as últimas coisas como esta visão insiste, não deveria haver unanimidade em tudo, exceto, talvez, em alguns pontos menores? Mas este não é o caso. A definição que ofereceremos não é, portanto, representativa de todos pré-milenistas, mas é suficientemente geral para incluir a maioria: o pré-milenismo histórico é a visão das últimas coisas que sustenta que a segunda vinda de Cristo será seguida por um período de paz (exatamente mil anos) durante o qual tempo Cristo reinará sobre esta terra num reino terreno; então, virá o fim. Uma forma mais radical desta visão é o dispensacionalismo. Os dispensacionalistas dividem a história da humanidade em sete períodos ou dispensações distintas, e ensinam que Deus trata com a raça humana durante cada período de acordo com um princípio distinto: inocência, consciência, governo humano, promessa, lei, graça e reino. Além do mais, esta visão insiste que a Igreja será removida da terra antes da grande tribulação (veja Mateus 24:29). Esta última visão, desenvolvida por John N. Darby na Inglaterra por volta de 1830, e disseminada neste país pela Bíblia de Referência Scofield, é realmente o fenômeno único chamado Pré-Milenismo Americano. Ele não é ensinado na Bíblia, mas na Bíblia de Referência Scofield. Não confundam as duas. A Bíblia é a infalível Palavra de Deus; a Bíblia de Referência Scofield é um comentário enganoso que contém “notas explicativas” na mesma página do texto da Escritura. O Pré-Milenismo nunca foi incorporado em nenhum dos credos, mas é uma interpretação privada de indivíduos de muitas denominações. Nunca foi mantido por teólogos destacados, nem ensinado em seminários onde a erudição e a exegese são proeminentes, mas por vários grupos Pentecostais e de Santidade, e Institutos Bíblicos. Hoje, isto parece ter mudado um pouco. O Pré-Milenismo parece estar invadindo aos poucos a comunidade Reformada. E é para contra-atacar esta tendência, e para oferecer ao povo de Deus algumas diretrizes escriturísticas para julgamento, que examinaremos brevemente esta visão errônea.

Tenhamos claramente em mente o seguinte. Seus principais distintivos são: 

1. Os judeus são originalmente o povo de Deus, pelo qual Deus se interessou; eles são Seu povo do Reino. A eles Deus falou o Antigo Testamento inteiro e a eles Ele prometeu o Messias. 
2. Quando Cristo veio, Ele não foi reconhecido nem crido pela maioria dos judeus. Esta contingência não tinha sido prevista pelos profetas, nem era o plano original de Deus. Contudo, visto que Israel, as dozes tribos, rejeitou o Cristo, como um expediente Ele lançou mão dos gentios, cujo povo constitui a Igreja em distinção do Reino. Dessa forma, a Igreja é um parêntese na história. Ela começou na cruz e terminará no começo do milênio. Além do mais, isto implica que a Escritura foi escrita para dois receptores distintos. Parte é para os judeus – o Antigo Testamento inteiro, a maior parte dos Evangelhos e especialmente o Sermão do Monte, e partes do Apocalipse. As epístolas mais outras partes do livro de Apocalipse são para a Igreja. 
3. Em qualquer momento, sem sinais ou anúncio, haverá um Rapto. Veja 1 Tessalonicenses 4:13-17, Mateus 24:40-41 e Mateus 25:13. Por Rapto se quer dizer a vinda súbita e secreta de Cristo para tomar para Si, nos ares, os corpos dos santos vivos e ressuscitados. Os ímpios permanecerão no túmulo. Esta é a segunda vinda de Cristo para os Seus santos e é conhecida como a primeira ressurreição. 
4. Depois se segue um período de sete anos chamado a Tribulação (a septuagésima semana de Daniel 9:24-27). Durante este tempo todos os eventos de Apocalipse 4:9 e Mateus 24 acontecerão. A Igreja, contudo, não estará sob a tribulação, mas estará com seu Senhor nos ares. 
5. Então Cristo virá com os Seus santos para esta terra novamente na Revelação [Manifestação]. Neste tempo há uma segunda ressurreição daqueles santos que morreram durante a tribulação. A segunda vinda de Cristo introduz o Milênio. 
6. Com o advento do Milênio, os tempos proféticos retornam, pois Deus se volta para o Seu povo favorecido, os judeus. Cristo vem para esta terra e reina num reino terreno de paz e prosperidade, um reino que tem o seu centro em Jerusalém. Os judeus são restaurados a Palestina, e à vista do Messias se voltam para Ele numa grande conversão nacional. No princípio deste período Satanás é amarrado, e Cristo destrói o Anticristo na batalha do Armagedon. A maldição é removida da natureza: os desertos florescem e os animais selvagens são amansados. Grandes números de gentios são também convertidos e incorporados a este Reino. 
7. No final do Milênio, Satanás é solto por um pouco de tempo. 
8. Então acontece a terceira ressurreição, a dos ímpios no final do mundo. Eles são julgados com o Diabo e seus anjos, achados em falta e designados a sentir para sempre o aguilhão do inferno. 
9. Finalmente, o estado eterno com toda a plenitude do céu e a ausência do inferno é introduzido. Alguns dizem que todos os redimidos são reunidos num Novo Céu e Nova Terra. Outros mantêm que o Reino e a Igreja estarão separados para sempre; um na Palestina terrena, e a outra no céu.

O exposto acima é uma apresentação altamente condensada e grandemente simplificada do assunto. Alguns autores listam até 22 eventos separados. Muitos pregadores pré-milenistas devem utilizar quadros complicados espalhados na fachada do edifício da igreja para estarem seguros de que eles estão sendo seguidos. Um catálogo curto dos pontos importantes do pré-milenismo é o seguinte: sete dispensações, oito pactos, duas segundas vindas, três ou quatro ressurreições, e pelo menos quatro julgamentos. É difícil conceber isto como sendo o ensino da Bíblia, que foi escrita numa linguagem simples para pessoas simples; sim, para crianças. Agora, nos dirigiremos à refrescante, não complicada e clara Palavra de Deus, para obter luz nestes assuntos.

Como fundamento para todo pensamento Pré-Milenista, está a separação feita entre a velha dispensação de Israel e a nova dispensação da Igreja. A questão é: Israel é o povo do Reino de Deus e os gentios Sua igreja? Ou Israel é um conceito espiritual, de forma que Israel é a Igreja e a Igreja é Israel? Se a unidade básica do pacto da graça pode ser estabelecida; se Abraão, por exemplo, e os gentios do Novo Testamento são um aos olhos de Deus; se Deus trata com Seu povo em todas as épocas de acordo com um mesmo princípio – fé, então o Pré-Milenismo cai, e pode somente ser chamado de um engenhoso mal-uso das Escrituras. Com aquele homem de Fé, Abraão, a quem os judeus orgulhosamente traçam sua ancestralidade, Deus estabeleceu Seu pacto eterno de graça. Gênesis 17:7. Esse pacto foi estabelecido mais adiante com a descendência de Abraão. Gênesis 22:17. O Senhor deixa claro que em Sua semente (Cristo) todas as nações da terra serão benditas. Gênesis 22:18. No livro de Gálatas, Paulo (o apóstolo dos gentios), toma o exemplo de Abraão quando repreende os insensatos gálatas por sua tentativa de justiça pelas obras. Ao deixar claro que Deus toma a fé em Cristo por justiça, o apóstolo fala estas maravilhosas palavras: “Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão” (Gálatas 3:7). Mais tarde escreve: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro; para que a benção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo”. Ele concluiu este capítulo com as palavras: “Não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa” (Gálatas 3:28-29). Pode alguém deixar de nota a unidade da obra de redenção de Deus? A semente de Abraão, o verdadeiro Israel espiritual, é composta de todos aqueles a quem foi dado fé em Seu Filho amado. Em íntima conexão com o acima exposto está o fato que Paulo também enfatizou a unidade da Igreja de todas as eras em passagens tais como Romanos 9:6-9, Efésios 2:19-22, Efésios 4:4-6 e Colossenses 1:16-20. O próprio Jesus como o Bom Pastor estava intensamente consciente da unidade daqueles que Deus lhe havia dado para redimir; Ele disse aos judeus no pórtico de Salomão: “Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor” (João 10:16).

Em segundo lugar, o texto mais referido pelos Pré-Milenistas, 1 Tessalonicenses 4:13-17, simplesmente não prova um “rapto” súbito e silencioso e uma ressurreição separada dos justos e ímpios. Em vez disso ensina: um retorno visível e notável (grito, voz, trombeta) de Cristo; a ressurreição dos corpos dos santos mortos seguida imediatamente pela translação daqueles que estiverem vivos na vinda de Cristo, sem dizer nada sobre os ímpios; que os santos estarão para sempre com o Senhor deles, sugerindo não que eles retornem a esta terra mundana novamente em seus corpos glorificados, espirituais e incorruptíveis, mas que eles permanecerão com Cristo em glória celestial! Além do mais, o próprio Cristo deixa claro que haverá apenas uma ressurreição: “Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação” (João 5:28,29). As Escrituras revelam UMA segunda vinda de Cristo, UMA ressurreição em Sua vinda e UM julgamento.

O método de interpretação seguido pelos aderentes deste sistema é um defeituoso. Uma regra saída é que as passagens difíceis da Palavra, e certamente Apocalipse 20 o é, devem ser explicada à luz de textos mais simples. Contudo, alguém não pode escapar do sentimento de que com esta visão, uma teoria preconcebida é trazida à Escritura, passagens difíceis são apeladas como prova e então, se tenta fazer com que as passagens mais simples se encaixem com a teoria. O resultado é uma divisão violenta da Palavra e, portanto, da obra redentora de Deus! Sua Palavra é uma (apresentada em dois testamentos, profecia e cumprimento), e a redenção de Jesus Cristo é uma!

Positivamente, vivemos perto do fim do que Apocalipse chama de “mil anos”. Este milênio começou em Pentecostes e terminará quando o tempo e a história terminarem. Cristo retornará pessoalmente e visivelmente, chamará os mortos dos sepulcros e dos mares, julgará todos os homens de acordo com suas obras, e colocará Suas ovelhas num só rebanho, a casa celestial com muitas moradas! Que a verdade Reformada continue sendo proclamada que “o Filho de Deus reúne, protege e conserva, dentre todo o gênero humano, sua comunidade eleita para a vida eterna. Isto Ele fez por seu Espírito e sua Palavra, na unidade da verdadeira fé, desde o princípio do mundo até o fim” (Catecismo de Heidelberg, Domingo XXI). Benditos aqueles são membros vivos dela!


Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto

sábado, 23 de novembro de 2019

1Ts 4.15 e Hiper-Preterismo



“Dizemo-vos,  pois,  isto,  pela  palavra  do  Senhor:  que  nós,  os que  ficarmos  vivos  para  a  vinda  do  Senhor,  não precederemos  os  que dormem.” 

Uma  das  atrações  do  hiper-preterismo  é  baseada  num  mal-entendido  da declaração  de  Paulo  em  1  Tessalonicenses  4:15,  onde  ele  escreve:  “Dizemo-vos, pois,  isto,  pela  palavra  do  Senhor:  que  nós,  os  que  ficarmos  vivos  para  a  vinda  do Senhor,  não  precederemos  os  que  dormem”.  Devotos  de  Himineu  argumentam que  Paulo  cria  que  ele  e  alguns  crentes  escapariam  da  morte  para  testemunhar  a Segunda  Vinda.  Insiste-se  então  que  a  Parousia  deve  ter  ocorrido  durante  o  tempo de  vida  de  Paulo.  Há  inumeráveis  problemas  com  essa  interpretação.  Primeiro,  não somente  Paulo  teria  que  estar  vivo,  mas  também  todos  na  igreja  em  Tessalônica,  a quem  ele  estava  escrevendo  (ele  disse  “nós”,  os  que  ficarmos  vivos).  Se  afirmarmos dogmaticamente  que  Paulo  experimentou  a  Parousia,  então  devemos  afirmar dogmaticamente  o  mesmo  para  todos  os  seus  leitores.  Se  sequer  um  dos  seus leitores  morreu  antes  da  Parousia,  então  não  podemos  eliminar  a  possibilidade  que  o próprio  Paulo  (bem  como  todos  os  tessalonicenses)  poderia  ter  morrido  antes  do advento  do  Senhor.  Claramente,  Paulo  não  está  dizendo  aos  tessalonicenses  que cada  um  deles  escaparia  da  morte  para  experimentar  a  vinda  do  ano  70  d.C.  1 Tessalonicenses  pode  de  fato  ter  sido  a  primeira  carta  que  Paulo  escreveu  –  talvez vinte  anos  antes  da  destruição  de  Jerusalém.  A  razão  dele  falar  de  si  mesmo  e  eles (os  tessalonicenses)  como  “vivos”  é  porque  ele  deve  distinguir  entre  vivos  e  mortos. Seu  objetivo  é  transmitir  conforto  aos  vivos,  não  porque  sabia  que  os  então  vivos estariam  vivos  quando  Cristo  retornasse,  mas  porque  os  vivos  precisam  saber  que  os seus  mortos  serão  os  “primeiros”  beneficiários  da  Segunda  Vinda  (1Ts.  4:16).  Seu propósito  é  transmitir  conforto  aos  vivos  sobre  os  seus  mortos  (esse  é  o  motivo dele  se  enumerar  com  os  vivos),  não  profetizar  que  sua  geração  escaparia  da  morte. 

Outro  problema  com  a  interpretação  hiper-preterista  de  1  Tessalonicenses 4:15  é  que  essa  própria  epístola  foi  lida  por  outros  cristãos  também.  Ela  foi  lida  por “todos  os  santos  irmãos”  (1Ts.  5:26-27).  Tenha  em  mente  que  a  influência  e, portanto,  a  comunhão  dos  cristãos  tessalonicenses  era  grande:  essa  igreja  era  um exemplo  “para  todos  os  fiéis  na  Macedônia  e  Acaia”  (1Ts.  1:7).  Dessa  igreja  a palavra  do  Senhor  (que  incluía  “a  palavra  do  Senhor”  anunciada  a  Paulo  sobre  a Parousia  e  a  ressurreição  –  1Ts.  4:15)  “soou”  em  “todos  os  lugares”  (1:18).  De acordo  com  a  lógica  hiper-preterista,  cada  cristão  pré-70  d.C.  que  leu  1 Tessaloniceses  4:15  espancaria  o  anjo  da  morte,  a  fim  de  conseguir  estar  vivo  na vinda  de  Cristo  no  ano  70  d.C. 

Os  discípulos  de  Himineu  argumentam  que  tudo  de  Mateus  24  é  sobre  70 d.C.  A  vinda  de  Cristo  para  julgar  Israel  é  a  Segunda  Vinda,  alegam  eles.  Todavia, Jesus  diz  em  Mateus  24:36:  “Mas  daquele  dia  e  hora  ninguém  sabe,  nem  os  anjos  do céu,  mas  unicamente  meu  Pai.”  Se,  como  o  hiper-preterista  afirma,  o  “daquele  dia” do  versículo  36  refere-se  à  vinda  de  70  d.C.  (que  nem  Cristo  em  Sua  natureza humana  conhecia),  como  Paulo  e  todos os  tessalonicenses  sabiam  que  escapariam  da morte  para  experimentá-la? 

Os  himineus  têm  também  uma  dificuldade  insuperável  de  combinar  1 Tessalonicenses  4:17  com  1  Coríntios  15:52,  onde  lemos:  “Num  momento,  num abrir  e  fechar  de  olhos,  ante  a  última  trombeta;  porque  a  trombeta  soará,  e  os mortos  ressuscitarão  incorruptíveis,  e  nós  seremos  transformados.”  Observe: enquanto  em  1  Tessalonicenses  4:15  Paulo  fala  de  si  mesmo  como  possivelmente vivo  quando  Cristo  retornar,  em  1  Coríntios  15:52  ele  fala  de  si  mesmo  como corporalmente  “ressurreto”  no  retorno  de  Cristo.  O  objetivo  de  Paulo  não  é declarar  que  ele  estaria  morto  quando  Cristo  retornasse,  nem  que  estaria  vivo quando  do  seu  retorno.  Ele  está  meramente  se  identificando  com  o  povo  de  Deus. Sem  dúvida  Paulo  tinha  certo  conhecimento  que  estaria  vivo  ou  seria  um participante  na  ressurreição  após  sua  morte,  mas  esse  certo  conhecimento  não  é  o mesmo  que  dizer  que  ele  sabia  com  certeza  qual  dessas  alternativas  seria  o  seu destino. 

Além  disso,  em  nenhum  lugar  a  Bíblia  declara  que  a  ressurreição  corporal  de todos  os  crentes  acontecerá  “cedo”,  “está  próxima”  ou  “será  em  breve”.  Contudo, há  uma  declaração  descrevendo  os  hereges  que  afirmam  que  a  ressurreição  é  “já passada”  –  os  himineus! 


Tradução:  Felipe  Sabino  de  Araújo  Neto


sábado, 16 de novembro de 2019

As Setenta Semanas de Daniel



Qual o significado das “70 Semanas de Daniel (Dn 9.24-27)?


Primeiramente gostaria de ressaltar que em nenhum lugar no livro de Daniel ou em qualquer outra passagem da Bíblia encontramos qualquer menção de que exista um lapso, um intervalo ou um parêntesis entre a sexagésima-nona e septuagésima semanas da profecia de Daniel. Pelo contrário, Daniel profetiza: “Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo, esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre. Como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o outro. O Grande Deus faz saber ao rei o que há de ser futuramente...” (Dn 2.44,45).

Demonstrarei que a profecia das 70 Semanas de Daniel é hoje muito mais profecia realizada do que escatologia futura.

O profeta Daniel estava com seu povo no exílio babilônico. Ele estava estudando as profecias de Jeremias que previam que o exílio duraria 70 anos (Dn 9.2). Visto que o prazo dos 70 anos de exílio estava se cumprindo, Daniel, consciente de que o exílio havia sido uma punição de Deus por causa dos pecados de Israel, começa a interceder pedindo perdão a Deus em nome do seu povo, na esperança de que o castigo de Israel estivesse para acabar com o final dos 70 anos de cativeiro. A oração de Daniel é ouvida (Dn 9.20-23). Mas, para sua surpresa, ele recebe uma visão de que 70 Semanas estavam determinadas para a realização de seis benefícios favoráveis a Israel que se realizariam na pessoa do tão esperado Ungido ou Messias.

Em Daniel 9.24, temos os seis propósitos da visão das 70 Semanas: 


  1. Para fazer cessar a transgressão; 
  2. Para dar fim aos pecados; 
  3. Para expiar a iniquidade; 
  4. Para trazer a justiça eterna; 
  5. Para selar a visão e a profecia; e 
  6. Para ungir o Santo dos Santos.


Todas as correntes teológicas concordam que 70 semanas equivalem a 490 anos, entendendo que cada dia da semana correspondem a um ano (Gn 29:27; Lv 25:8; Nm 14:34; Ez 4:4-6). As 70 Semanas estão dividas em três períodos (v.25): 1. Sete Semanas (7x7=49 anos) de reedificação; Seguidas por: 2. Sessenta e duas semanas (62x7=434 anos); seguida do terceiro e último período: 3. Uma semana (1x7=7 anos) - O v. 26 diz que “após” as sessenta e duas semanas, ou seja, já dentro da última semana, será assassinado o ungido. E, em decorrência da morte do ungido, ocorreria a destruição de Jerusalém e do templo por um povo de um príncipe que haveria de vir (Dn 9.26); período em que surge o assolador (v.27); Por fim, a visão de Daniel termina com o assolador recebendo o merecido juízo de Deus.

457 A.C. foi o ano em que o rei Artaxerxes decretou que os judeus podiam retornar a Jerusalém para reconstruir a cidade e o Templo (Ed 7:12-26). Se contarmos 483 anos a partir dessa data, chegaremos ao ano 26 d.C. Sabemos que Jesus nasceu no ano 4 a.C., então, ele tinha 30 anos em 26 D.C., ocasião em que foi batizado e iniciou seu ministério terreno. Três anos e meio depois, Jesus foi crucificado. Em termos proféticos, tamanha precisão, embora não necessária, é realmente impressionante! É também dito que o Messias “fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício” (Dn 9.26–27). Ao fim desses três anos e meio, Jesus deu a Sua vida em uma Cruz. Sabemos que Jesus estabeleceu a Nova Aliança por meio do seu sangue derramado na cruz. Ele disse: “Este é o cálice da nova aliança no Meu sangue” (1Co 11:24-25). Com sua morte, Jesus tornou-se o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, pondo assim fim ao sacrifício e as ofertas de manjares, que eram sombras da realidade que nele encontram plena realização (Hb 8 e 9).

Três anos e meio após a morte de Cristo, ou seja, 490 anos após o decreto de Artaxerxes, tivemos a morte do primeiro mártir cristão, Estevão (At 7:59-60). Lucas fez questão de registrar que o próprio sumo sacerdote esteve presente, liderando o grupo de religiosos judeus que rejeitou o Evangelho de Cristo pregado por Estevão e o condenou a morte (At 7:1). A morte de Estevão é um verdadeiro marco, pois, a partir daí, temos a conversão de Saulo que será levantado como Apóstolo aos Gentios (At 9:1-6; 26:15-18). Na sequência, Deus desperta Pedro para a evangelização dos gentios! (At 10). As setenta semanas de favor de Deus para com Israel encerraram-se com a morte de Estevão. A partir daí a pregação do Evangelho se volta para os gentios:  “Então, Paulo e Barnabé, falando ousadamente, disseram: Cumpria que a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos julgais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os gentios. Porque o Senhor assim no-lo determinou: Eu te constituí para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até aos confins da terra. (At 13.46–47).

A profecia de Daniel não diz que o Assolador viria exatamente no final das Setenta Semanas, como parte dela, podendo ser entendido como consequência dos eventos dela, principalmente, a morte do Ungido. Portanto, em decorrência de Israel ter rejeitado seu Messias, Jerusalém seria cercada por seus inimigos e destruída, o que aconteceu algumas décadas depois, ainda naquela geração, exatamente como profetizou Jesus no final do capítulo 23 de Mateus.
Portanto, não existe nada no texto de Daniel que indique algo como um intervalo ou paralisação do relógio profético. Vemos que tais profecias são hoje mais história, do que profecias apocalípticas a respeito de dias ainda futuros, pois Jesus veio como Rei de Israel e estabeleceu a nova aliança que fôra profetizada por Jeremias. Jesus foi e é a única esperança de Israel. Na sua primeira vinda, Cristo cumpriu todos os seis propósitos da visão das 70 Semanas de Daniel. A Segunda Vinda de Cristo não será o início da septuagésima semana de Daniel, mas, sim, a consumação final da era presente. O Reino de Deus não foi postergado, mas já foi inaugurado por Jesus Cristo em Sua primeira Vinda, noa dias do Império Romano, exatamente como predito pelo profeta Daniel: "Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e esse reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos e será estabelecido para sempre" (Dn 2.44).

As palavras de Jesus registradas no Evangelho de Lucas revelam que a destruição de Jerusalém não traria o fim da era presente, pois Cristo afirmou que os judeus sobreviventes seriam levados cativos para todas as nações e disse ainda: "até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles." (Lc 21.24). Maravilho é notar que tudo aconteceu e tem acontecido conforme profetizado por Jesus. A cidade e o templo foram destruídos naquela geração e os judeus sobreviventes foram levados cativos e a cidade passou a ser pisada por gentios. É possível que os tempos dos gentios (sua evangelização) tenham se cumprido, pois os judeus regressaram a Jerusalém. Em 1948, Israel foi reconhecido como nação. Sinal dos tempos! Cristo em breve virá!

Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação. Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes; os que se encontrarem dentro da cidade, retirem-se; e os que estiverem nos campos, não entrem nela. Porque estes dias são de vingança, para se cumprir tudo o que está escrito. 23 Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Porque haverá grande aflição na terra e ira contra este povo. Cairão a fio de espada e serão levados cativos para todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles." (Lc 21.20–24).

Portanto, a destruição de Jerusalém não representa o fim desta era presente, porque Jesus disse que depois disto, Jerusalem seria pisada pelos gentios até que os tempos deles se completassem e ele também ensinou que era necessário que o Evangelho fosse pregado a todas as nações antes de Sua Segunda Vinda (Mc 13.10). Estamos na era da Igreja. De Jerusalém a Igreja se espalhou para todas as nações! (Cl 1.23 e 1Ts 1.8). As portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, que tem sido capaz de cumprir cabalmente sua missão de fazer discípulos de todas as nações (Mt 28.18-20) para que "os tempos dos gentios se completem" (Lc 21.24). Paulo a isto se referia quando disse "que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo" (Rm 11.25–26). O Apocalipse revela uma visão gloriosa do Israel de Deus pleno como "grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos (Ap 7.9). Aí, então, Cristo voltará e se cumprirá esta outra magnifica visão de Daniel: "Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído." (Dn 7.13–14).


Fonte: http://escatologiacrista.blogspot.com/2008/02/70-semanas-de-daniel.html?m=1 

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

O Templo de Ezequiel será construído na terra?



Muitas  pessoas  acreditam  que  estes  capítulos  apresentam  a  planta  para  um  templo  que ainda  será  construído.  Ensinam  que  este  templo  existirá  durante  um  reino  de  1.000  anos no qual, conforme  a  doutrina  do  pré-milenarismo, Jesus  reinará  aqui  na  terra.    

Mas  uma  análise  cuidadosa  do  texto  nos  mostra  que  Ezequiel  não  falou  de  um  templo literal  que  ainda  está  por  vir.  Há  vários  motivos  para  rejeitar  a  interpretação  literal destes  capítulos: 

  • Estes  capítulos  falam  de  sacerdotes  levitas  que  servem  no  santuário  (44:15-16; 48:11).  Se  aceitarmos  uma  interpretação  literal  deste  sacerdócio  para  um  futuro templo,  cairíamos  em  contradição  de  vários  ensinamentos  do  Novo  Testamento. Os  cristãos  –  judeus  e  gentios  –  fazem  parte  do  sacerdócio  santo  (1  Pedro  2:5). Jesus,  que  não  é  levita,  é  o  sumo  sacerdote  para  sempre  (Hebreus  7:11-14,21). “Ora,  se  ele  estivesse  na  terra,  nem  mesmo  sacerdote  seria...”  (Hebreus  8:4). Aplicar  a  profecia  de  Ezequiel  a  um  templo  literal  futuro  nega  o  sacerdócio  dos crentes  e, pior, nega  o sacerdócio de  Jesus! 

  • Estes  capítulos  falam  das  celebrações  anuais,  mensais  e  semanais  da  Antiga Aliança  (45:18  -  46:8).  Paulo  claramente  ensinou  que  estes  dias  especiais pertenciam  à  sombra  das  coisas  anteriores,  e  não  à  luz  do  evangelho (Colossenses  2:16-17).  Uma  interpretação  literal  das  visões  de  Ezequiel  inclui uma  volta  à  sombra!  Quem  fizesse  isso  abandonaria  a  luz  da  graça  de  Cristo (Gálatas  5:4). 

  • Estes  capítulos  falam  claramente  de  sacrifícios  de  animais  “pelo  pecado  e  pela culpa”  (40:38-43;  45:18-25;  46:1-15).  A  aplicação  literal  a  um  templo  futuro enfrenta  o  problema  sério  de  defender  sacrifícios  de  animais  pelo  pecado milhares  de  anos  depois  da  morte  de  Jesus.  Se  aceitar  esta  noção  de  sacrifícios literais,  estaria  negando  a  eficácia  e  a  suficiência  do  único  sacrifício  de  Jesus Cristo  (Hebreus  9:11-15,24-28;  10:1-18).  Se  afirmar  que  os  sacrifícios  em Ezequiel  são  simbólicos, o  sistema  de  interpretação  literal  começa  a  desmoronar. Se  os  sacrifícios  são  simbólicos,  as  medidas  podem  ser  simbólicas  e  o  próprio templo pode  ser  simbólico.    De  fato,  o  que  Ezequiel  falou  sobre  os  sacerdotes,  as  festas,  os  sacrifícios  e  sobre  o próprio  templo  serve  para  representar,  simbolicamente,  a  comunhão  que  os  cristãos  têm atualmente  em  Cristo,  no  reino  que  já  existe  (Colossenses  1:13).  É  errado  usar  este trecho para  ensinar  sobre  um  reino e  um  templo aqui  na  terra  no  futuro.




sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Literalismo e Apocalipse 20



Como vimos, o amilenismo não toma os mil anos de Apocalipse 20 literalmente, mas entende-os como uma referência simbólica à toda a era do Novo Testamento. O simbolismo é encontrado no fato que 1000 é 10x10x10, onde 10 é entendido como uma representação de completude. É este entendimento não-literal dos mil anos que desejamos defender.

Já apontamos que “mil” nem sempre deve ser tomado literalmente na Escritura. Deus não possui apenas os animais de milhares de montanhas, mas de todas elas (Sl. 50:10). Outras passagens nos Salmos onde “mil” não é literal, mas tem o significado de “todos” ou “o todo” são Salmos 84:10, Salmos 91:7 e Salmos 105:8. Aqueles que dizem que o número deve ser tomado sempre literalmente – incluindo Apocalipse 20 – estão errados.

Devemos ressaltar também que há outras coisas em Apocalipse 20 que não podem ser tomadas literalmente. Nos versículos 1 e 2, Satanás não é literalmente um dragão; nem pode um espírito, Satanás, ser preso com uma corrente literal (veja também Lucas 24:39). Além disso, a maioria das pessoas entenderia a referência a um “abismo” em Apocalipse 20:3 como sendo uma referência ao inferno, a morada de Satanás, não a um buraco no chão. Mais adiante no capítulo, o Anticristo não é uma “besta” (v. 10) no sentido literal, nem o livro da vida (v. 12) é um livro literal de papel e páginas impressas.

Inúmeras coisas no restante do livro de Apocalipse não podem ser tomadas literalmente. Nenhum cristão que conhecemos, por exemplo, espera que sua recompensa será de fato uma pedra branca com seu nome gravado nela (2:17) ou que ele se tornará uma “coluna” no céu (3:12), ou que Jesus realmente tem uma espada no lugar de uma língua (1:16).

É impressionante que aqueles que insistem mais ruidosamente num entendimento literal dos mil anos e dizem que qualquer outra coisa é infidelidade à Escritura, são os mesmos que estão indispostos a tomarem literalmente a referência às almas em Apocalipse 20:4. Eles insistem que essas não são almas literais, desincorporadas, mas pessoas completas.

Gostaríamos de lembrar aos nossos leitores que a própria Escritura não demanda um literalismo estrito e rigoroso; de fato, ela implica que essa espiritualização é necessária para a interpretação da Escritura. Somos informados em 1Coríntios 2:14:

“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.

Há muitos exemplos de tal espiritualização na Escritura, sendo Gálatas 4:21-31 um exemplo notável.

A maneira apropriada de interpretar a Escritura não é um literalismo rígido e impossível, mas permitir que a Escritura interprete a si mesma. Ela faz isso mostrando que “mil” pode algumas vezes ser entendido simbolicamente (Sl. 84:10); que a prisão de Satanás deve ocorrer durante a encarnação de Cristo (Mt. 12:29); e que os mil anos terminam com o fim do mundo (Ap. 20:7-15). A única conclusão possível, portanto, sobre a base da própria Escritura, é que os mil anos referem-se ao todo da era do Novo Testamento.

Mas tudo tem importância? Certamente! Se ainda houvesse uma era de mil anos após a era presente, a esperança celestial dos crentes e o julgamento final se tornariam tão remotos que o chamado para vigiar, orar e estar preparado para o retorno de Cristo seria quase irrelevante. A urgência do nosso chamado para esperar e estar atento para o fim de todas as coisas reside em nossa certeza de que essas coisas acontecerão em breve.

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Sobre o autor: Rev. Ronald Hanko é ministro ordenado da Protestant Reformed Church.

Fonte: Monergismo