google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Escatologia Reformada

sábado, 23 de novembro de 2019

1Ts 4.15 e Hiper-Preterismo



“Dizemo-vos,  pois,  isto,  pela  palavra  do  Senhor:  que  nós,  os que  ficarmos  vivos  para  a  vinda  do  Senhor,  não precederemos  os  que dormem.” 

Uma  das  atrações  do  hiper-preterismo  é  baseada  num  mal-entendido  da declaração  de  Paulo  em  1  Tessalonicenses  4:15,  onde  ele  escreve:  “Dizemo-vos, pois,  isto,  pela  palavra  do  Senhor:  que  nós,  os  que  ficarmos  vivos  para  a  vinda  do Senhor,  não  precederemos  os  que  dormem”.  Devotos  de  Himineu  argumentam que  Paulo  cria  que  ele  e  alguns  crentes  escapariam  da  morte  para  testemunhar  a Segunda  Vinda.  Insiste-se  então  que  a  Parousia  deve  ter  ocorrido  durante  o  tempo de  vida  de  Paulo.  Há  inumeráveis  problemas  com  essa  interpretação.  Primeiro,  não somente  Paulo  teria  que  estar  vivo,  mas  também  todos  na  igreja  em  Tessalônica,  a quem  ele  estava  escrevendo  (ele  disse  “nós”,  os  que  ficarmos  vivos).  Se  afirmarmos dogmaticamente  que  Paulo  experimentou  a  Parousia,  então  devemos  afirmar dogmaticamente  o  mesmo  para  todos  os  seus  leitores.  Se  sequer  um  dos  seus leitores  morreu  antes  da  Parousia,  então  não  podemos  eliminar  a  possibilidade  que  o próprio  Paulo  (bem  como  todos  os  tessalonicenses)  poderia  ter  morrido  antes  do advento  do  Senhor.  Claramente,  Paulo  não  está  dizendo  aos  tessalonicenses  que cada  um  deles  escaparia  da  morte  para  experimentar  a  vinda  do  ano  70  d.C.  1 Tessalonicenses  pode  de  fato  ter  sido  a  primeira  carta  que  Paulo  escreveu  –  talvez vinte  anos  antes  da  destruição  de  Jerusalém.  A  razão  dele  falar  de  si  mesmo  e  eles (os  tessalonicenses)  como  “vivos”  é  porque  ele  deve  distinguir  entre  vivos  e  mortos. Seu  objetivo  é  transmitir  conforto  aos  vivos,  não  porque  sabia  que  os  então  vivos estariam  vivos  quando  Cristo  retornasse,  mas  porque  os  vivos  precisam  saber  que  os seus  mortos  serão  os  “primeiros”  beneficiários  da  Segunda  Vinda  (1Ts.  4:16).  Seu propósito  é  transmitir  conforto  aos  vivos  sobre  os  seus  mortos  (esse  é  o  motivo dele  se  enumerar  com  os  vivos),  não  profetizar  que  sua  geração  escaparia  da  morte. 

Outro  problema  com  a  interpretação  hiper-preterista  de  1  Tessalonicenses 4:15  é  que  essa  própria  epístola  foi  lida  por  outros  cristãos  também.  Ela  foi  lida  por “todos  os  santos  irmãos”  (1Ts.  5:26-27).  Tenha  em  mente  que  a  influência  e, portanto,  a  comunhão  dos  cristãos  tessalonicenses  era  grande:  essa  igreja  era  um exemplo  “para  todos  os  fiéis  na  Macedônia  e  Acaia”  (1Ts.  1:7).  Dessa  igreja  a palavra  do  Senhor  (que  incluía  “a  palavra  do  Senhor”  anunciada  a  Paulo  sobre  a Parousia  e  a  ressurreição  –  1Ts.  4:15)  “soou”  em  “todos  os  lugares”  (1:18).  De acordo  com  a  lógica  hiper-preterista,  cada  cristão  pré-70  d.C.  que  leu  1 Tessaloniceses  4:15  espancaria  o  anjo  da  morte,  a  fim  de  conseguir  estar  vivo  na vinda  de  Cristo  no  ano  70  d.C. 

Os  discípulos  de  Himineu  argumentam  que  tudo  de  Mateus  24  é  sobre  70 d.C.  A  vinda  de  Cristo  para  julgar  Israel  é  a  Segunda  Vinda,  alegam  eles.  Todavia, Jesus  diz  em  Mateus  24:36:  “Mas  daquele  dia  e  hora  ninguém  sabe,  nem  os  anjos  do céu,  mas  unicamente  meu  Pai.”  Se,  como  o  hiper-preterista  afirma,  o  “daquele  dia” do  versículo  36  refere-se  à  vinda  de  70  d.C.  (que  nem  Cristo  em  Sua  natureza humana  conhecia),  como  Paulo  e  todos os  tessalonicenses  sabiam  que  escapariam  da morte  para  experimentá-la? 

Os  himineus  têm  também  uma  dificuldade  insuperável  de  combinar  1 Tessalonicenses  4:17  com  1  Coríntios  15:52,  onde  lemos:  “Num  momento,  num abrir  e  fechar  de  olhos,  ante  a  última  trombeta;  porque  a  trombeta  soará,  e  os mortos  ressuscitarão  incorruptíveis,  e  nós  seremos  transformados.”  Observe: enquanto  em  1  Tessalonicenses  4:15  Paulo  fala  de  si  mesmo  como  possivelmente vivo  quando  Cristo  retornar,  em  1  Coríntios  15:52  ele  fala  de  si  mesmo  como corporalmente  “ressurreto”  no  retorno  de  Cristo.  O  objetivo  de  Paulo  não  é declarar  que  ele  estaria  morto  quando  Cristo  retornasse,  nem  que  estaria  vivo quando  do  seu  retorno.  Ele  está  meramente  se  identificando  com  o  povo  de  Deus. Sem  dúvida  Paulo  tinha  certo  conhecimento  que  estaria  vivo  ou  seria  um participante  na  ressurreição  após  sua  morte,  mas  esse  certo  conhecimento  não  é  o mesmo  que  dizer  que  ele  sabia  com  certeza  qual  dessas  alternativas  seria  o  seu destino. 

Além  disso,  em  nenhum  lugar  a  Bíblia  declara  que  a  ressurreição  corporal  de todos  os  crentes  acontecerá  “cedo”,  “está  próxima”  ou  “será  em  breve”.  Contudo, há  uma  declaração  descrevendo  os  hereges  que  afirmam  que  a  ressurreição  é  “já passada”  –  os  himineus! 


Tradução:  Felipe  Sabino  de  Araújo  Neto


sábado, 16 de novembro de 2019

As Setenta Semanas de Daniel



Qual o significado das “70 Semanas de Daniel (Dn 9.24-27)?


Primeiramente gostaria de ressaltar que em nenhum lugar no livro de Daniel ou em qualquer outra passagem da Bíblia encontramos qualquer menção de que exista um lapso, um intervalo ou um parêntesis entre a sexagésima-nona e septuagésima semanas da profecia de Daniel. Pelo contrário, Daniel profetiza: “Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo, esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre. Como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o outro. O Grande Deus faz saber ao rei o que há de ser futuramente...” (Dn 2.44,45).

Demonstrarei que a profecia das 70 Semanas de Daniel é hoje muito mais profecia realizada do que escatologia futura.

O profeta Daniel estava com seu povo no exílio babilônico. Ele estava estudando as profecias de Jeremias que previam que o exílio duraria 70 anos (Dn 9.2). Visto que o prazo dos 70 anos de exílio estava se cumprindo, Daniel, consciente de que o exílio havia sido uma punição de Deus por causa dos pecados de Israel, começa a interceder pedindo perdão a Deus em nome do seu povo, na esperança de que o castigo de Israel estivesse para acabar com o final dos 70 anos de cativeiro. A oração de Daniel é ouvida (Dn 9.20-23). Mas, para sua surpresa, ele recebe uma visão de que 70 Semanas estavam determinadas para a realização de seis benefícios favoráveis a Israel que se realizariam na pessoa do tão esperado Ungido ou Messias.

Em Daniel 9.24, temos os seis propósitos da visão das 70 Semanas: 


  1. Para fazer cessar a transgressão; 
  2. Para dar fim aos pecados; 
  3. Para expiar a iniquidade; 
  4. Para trazer a justiça eterna; 
  5. Para selar a visão e a profecia; e 
  6. Para ungir o Santo dos Santos.


Todas as correntes teológicas concordam que 70 semanas equivalem a 490 anos, entendendo que cada dia da semana correspondem a um ano (Gn 29:27; Lv 25:8; Nm 14:34; Ez 4:4-6). As 70 Semanas estão dividas em três períodos (v.25): 1. Sete Semanas (7x7=49 anos) de reedificação; Seguidas por: 2. Sessenta e duas semanas (62x7=434 anos); seguida do terceiro e último período: 3. Uma semana (1x7=7 anos) - O v. 26 diz que “após” as sessenta e duas semanas, ou seja, já dentro da última semana, será assassinado o ungido. E, em decorrência da morte do ungido, ocorreria a destruição de Jerusalém e do templo por um povo de um príncipe que haveria de vir (Dn 9.26); período em que surge o assolador (v.27); Por fim, a visão de Daniel termina com o assolador recebendo o merecido juízo de Deus.

457 A.C. foi o ano em que o rei Artaxerxes decretou que os judeus podiam retornar a Jerusalém para reconstruir a cidade e o Templo (Ed 7:12-26). Se contarmos 483 anos a partir dessa data, chegaremos ao ano 26 d.C. Sabemos que Jesus nasceu no ano 4 a.C., então, ele tinha 30 anos em 26 D.C., ocasião em que foi batizado e iniciou seu ministério terreno. Três anos e meio depois, Jesus foi crucificado. Em termos proféticos, tamanha precisão, embora não necessária, é realmente impressionante! É também dito que o Messias “fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício” (Dn 9.26–27). Ao fim desses três anos e meio, Jesus deu a Sua vida em uma Cruz. Sabemos que Jesus estabeleceu a Nova Aliança por meio do seu sangue derramado na cruz. Ele disse: “Este é o cálice da nova aliança no Meu sangue” (1Co 11:24-25). Com sua morte, Jesus tornou-se o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, pondo assim fim ao sacrifício e as ofertas de manjares, que eram sombras da realidade que nele encontram plena realização (Hb 8 e 9).

Três anos e meio após a morte de Cristo, ou seja, 490 anos após o decreto de Artaxerxes, tivemos a morte do primeiro mártir cristão, Estevão (At 7:59-60). Lucas fez questão de registrar que o próprio sumo sacerdote esteve presente, liderando o grupo de religiosos judeus que rejeitou o Evangelho de Cristo pregado por Estevão e o condenou a morte (At 7:1). A morte de Estevão é um verdadeiro marco, pois, a partir daí, temos a conversão de Saulo que será levantado como Apóstolo aos Gentios (At 9:1-6; 26:15-18). Na sequência, Deus desperta Pedro para a evangelização dos gentios! (At 10). As setenta semanas de favor de Deus para com Israel encerraram-se com a morte de Estevão. A partir daí a pregação do Evangelho se volta para os gentios:  “Então, Paulo e Barnabé, falando ousadamente, disseram: Cumpria que a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos julgais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os gentios. Porque o Senhor assim no-lo determinou: Eu te constituí para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até aos confins da terra. (At 13.46–47).

A profecia de Daniel não diz que o Assolador viria exatamente no final das Setenta Semanas, como parte dela, podendo ser entendido como consequência dos eventos dela, principalmente, a morte do Ungido. Portanto, em decorrência de Israel ter rejeitado seu Messias, Jerusalém seria cercada por seus inimigos e destruída, o que aconteceu algumas décadas depois, ainda naquela geração, exatamente como profetizou Jesus no final do capítulo 23 de Mateus.
Portanto, não existe nada no texto de Daniel que indique algo como um intervalo ou paralisação do relógio profético. Vemos que tais profecias são hoje mais história, do que profecias apocalípticas a respeito de dias ainda futuros, pois Jesus veio como Rei de Israel e estabeleceu a nova aliança que fôra profetizada por Jeremias. Jesus foi e é a única esperança de Israel. Na sua primeira vinda, Cristo cumpriu todos os seis propósitos da visão das 70 Semanas de Daniel. A Segunda Vinda de Cristo não será o início da septuagésima semana de Daniel, mas, sim, a consumação final da era presente. O Reino de Deus não foi postergado, mas já foi inaugurado por Jesus Cristo em Sua primeira Vinda, noa dias do Império Romano, exatamente como predito pelo profeta Daniel: "Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e esse reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos e será estabelecido para sempre" (Dn 2.44).

As palavras de Jesus registradas no Evangelho de Lucas revelam que a destruição de Jerusalém não traria o fim da era presente, pois Cristo afirmou que os judeus sobreviventes seriam levados cativos para todas as nações e disse ainda: "até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles." (Lc 21.24). Maravilho é notar que tudo aconteceu e tem acontecido conforme profetizado por Jesus. A cidade e o templo foram destruídos naquela geração e os judeus sobreviventes foram levados cativos e a cidade passou a ser pisada por gentios. É possível que os tempos dos gentios (sua evangelização) tenham se cumprido, pois os judeus regressaram a Jerusalém. Em 1948, Israel foi reconhecido como nação. Sinal dos tempos! Cristo em breve virá!

Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação. Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes; os que se encontrarem dentro da cidade, retirem-se; e os que estiverem nos campos, não entrem nela. Porque estes dias são de vingança, para se cumprir tudo o que está escrito. 23 Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Porque haverá grande aflição na terra e ira contra este povo. Cairão a fio de espada e serão levados cativos para todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles." (Lc 21.20–24).

Portanto, a destruição de Jerusalém não representa o fim desta era presente, porque Jesus disse que depois disto, Jerusalem seria pisada pelos gentios até que os tempos deles se completassem e ele também ensinou que era necessário que o Evangelho fosse pregado a todas as nações antes de Sua Segunda Vinda (Mc 13.10). Estamos na era da Igreja. De Jerusalém a Igreja se espalhou para todas as nações! (Cl 1.23 e 1Ts 1.8). As portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, que tem sido capaz de cumprir cabalmente sua missão de fazer discípulos de todas as nações (Mt 28.18-20) para que "os tempos dos gentios se completem" (Lc 21.24). Paulo a isto se referia quando disse "que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo" (Rm 11.25–26). O Apocalipse revela uma visão gloriosa do Israel de Deus pleno como "grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos (Ap 7.9). Aí, então, Cristo voltará e se cumprirá esta outra magnifica visão de Daniel: "Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído." (Dn 7.13–14).


Fonte: http://escatologiacrista.blogspot.com/2008/02/70-semanas-de-daniel.html?m=1 

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

O Templo de Ezequiel será construído na terra?



Muitas  pessoas  acreditam  que  estes  capítulos  apresentam  a  planta  para  um  templo  que ainda  será  construído.  Ensinam  que  este  templo  existirá  durante  um  reino  de  1.000  anos no qual, conforme  a  doutrina  do  pré-milenarismo, Jesus  reinará  aqui  na  terra.    

Mas  uma  análise  cuidadosa  do  texto  nos  mostra  que  Ezequiel  não  falou  de  um  templo literal  que  ainda  está  por  vir.  Há  vários  motivos  para  rejeitar  a  interpretação  literal destes  capítulos: 

  • Estes  capítulos  falam  de  sacerdotes  levitas  que  servem  no  santuário  (44:15-16; 48:11).  Se  aceitarmos  uma  interpretação  literal  deste  sacerdócio  para  um  futuro templo,  cairíamos  em  contradição  de  vários  ensinamentos  do  Novo  Testamento. Os  cristãos  –  judeus  e  gentios  –  fazem  parte  do  sacerdócio  santo  (1  Pedro  2:5). Jesus,  que  não  é  levita,  é  o  sumo  sacerdote  para  sempre  (Hebreus  7:11-14,21). “Ora,  se  ele  estivesse  na  terra,  nem  mesmo  sacerdote  seria...”  (Hebreus  8:4). Aplicar  a  profecia  de  Ezequiel  a  um  templo  literal  futuro  nega  o  sacerdócio  dos crentes  e, pior, nega  o sacerdócio de  Jesus! 

  • Estes  capítulos  falam  das  celebrações  anuais,  mensais  e  semanais  da  Antiga Aliança  (45:18  -  46:8).  Paulo  claramente  ensinou  que  estes  dias  especiais pertenciam  à  sombra  das  coisas  anteriores,  e  não  à  luz  do  evangelho (Colossenses  2:16-17).  Uma  interpretação  literal  das  visões  de  Ezequiel  inclui uma  volta  à  sombra!  Quem  fizesse  isso  abandonaria  a  luz  da  graça  de  Cristo (Gálatas  5:4). 

  • Estes  capítulos  falam  claramente  de  sacrifícios  de  animais  “pelo  pecado  e  pela culpa”  (40:38-43;  45:18-25;  46:1-15).  A  aplicação  literal  a  um  templo  futuro enfrenta  o  problema  sério  de  defender  sacrifícios  de  animais  pelo  pecado milhares  de  anos  depois  da  morte  de  Jesus.  Se  aceitar  esta  noção  de  sacrifícios literais,  estaria  negando  a  eficácia  e  a  suficiência  do  único  sacrifício  de  Jesus Cristo  (Hebreus  9:11-15,24-28;  10:1-18).  Se  afirmar  que  os  sacrifícios  em Ezequiel  são  simbólicos, o  sistema  de  interpretação  literal  começa  a  desmoronar. Se  os  sacrifícios  são  simbólicos,  as  medidas  podem  ser  simbólicas  e  o  próprio templo pode  ser  simbólico.    De  fato,  o  que  Ezequiel  falou  sobre  os  sacerdotes,  as  festas,  os  sacrifícios  e  sobre  o próprio  templo  serve  para  representar,  simbolicamente,  a  comunhão  que  os  cristãos  têm atualmente  em  Cristo,  no  reino  que  já  existe  (Colossenses  1:13).  É  errado  usar  este trecho para  ensinar  sobre  um  reino e  um  templo aqui  na  terra  no  futuro.




sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Literalismo e Apocalipse 20



Como vimos, o amilenismo não toma os mil anos de Apocalipse 20 literalmente, mas entende-os como uma referência simbólica à toda a era do Novo Testamento. O simbolismo é encontrado no fato que 1000 é 10x10x10, onde 10 é entendido como uma representação de completude. É este entendimento não-literal dos mil anos que desejamos defender.

Já apontamos que “mil” nem sempre deve ser tomado literalmente na Escritura. Deus não possui apenas os animais de milhares de montanhas, mas de todas elas (Sl. 50:10). Outras passagens nos Salmos onde “mil” não é literal, mas tem o significado de “todos” ou “o todo” são Salmos 84:10, Salmos 91:7 e Salmos 105:8. Aqueles que dizem que o número deve ser tomado sempre literalmente – incluindo Apocalipse 20 – estão errados.

Devemos ressaltar também que há outras coisas em Apocalipse 20 que não podem ser tomadas literalmente. Nos versículos 1 e 2, Satanás não é literalmente um dragão; nem pode um espírito, Satanás, ser preso com uma corrente literal (veja também Lucas 24:39). Além disso, a maioria das pessoas entenderia a referência a um “abismo” em Apocalipse 20:3 como sendo uma referência ao inferno, a morada de Satanás, não a um buraco no chão. Mais adiante no capítulo, o Anticristo não é uma “besta” (v. 10) no sentido literal, nem o livro da vida (v. 12) é um livro literal de papel e páginas impressas.

Inúmeras coisas no restante do livro de Apocalipse não podem ser tomadas literalmente. Nenhum cristão que conhecemos, por exemplo, espera que sua recompensa será de fato uma pedra branca com seu nome gravado nela (2:17) ou que ele se tornará uma “coluna” no céu (3:12), ou que Jesus realmente tem uma espada no lugar de uma língua (1:16).

É impressionante que aqueles que insistem mais ruidosamente num entendimento literal dos mil anos e dizem que qualquer outra coisa é infidelidade à Escritura, são os mesmos que estão indispostos a tomarem literalmente a referência às almas em Apocalipse 20:4. Eles insistem que essas não são almas literais, desincorporadas, mas pessoas completas.

Gostaríamos de lembrar aos nossos leitores que a própria Escritura não demanda um literalismo estrito e rigoroso; de fato, ela implica que essa espiritualização é necessária para a interpretação da Escritura. Somos informados em 1Coríntios 2:14:

“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.

Há muitos exemplos de tal espiritualização na Escritura, sendo Gálatas 4:21-31 um exemplo notável.

A maneira apropriada de interpretar a Escritura não é um literalismo rígido e impossível, mas permitir que a Escritura interprete a si mesma. Ela faz isso mostrando que “mil” pode algumas vezes ser entendido simbolicamente (Sl. 84:10); que a prisão de Satanás deve ocorrer durante a encarnação de Cristo (Mt. 12:29); e que os mil anos terminam com o fim do mundo (Ap. 20:7-15). A única conclusão possível, portanto, sobre a base da própria Escritura, é que os mil anos referem-se ao todo da era do Novo Testamento.

Mas tudo tem importância? Certamente! Se ainda houvesse uma era de mil anos após a era presente, a esperança celestial dos crentes e o julgamento final se tornariam tão remotos que o chamado para vigiar, orar e estar preparado para o retorno de Cristo seria quase irrelevante. A urgência do nosso chamado para esperar e estar atento para o fim de todas as coisas reside em nossa certeza de que essas coisas acontecerão em breve.

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Sobre o autor: Rev. Ronald Hanko é ministro ordenado da Protestant Reformed Church.

Fonte: Monergismo

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

A Igreja, de fato, habitará no céu?



É comum, nos dias de hoje, em grande parte das igrejas, ao tratarem sobre a escatologia, afirmarem que quando Cristo vier, a igreja irá morar no céu. Há até mesmo muitas canções que declaram isto, e pelo fato de muitos não examinarem as Escrituras quanto a tudo o que ouvem, lêem ou cantam, acabam formando sua “teologia” baseada apenas em alguns clichês ou canções, e também por conta de uma forte influência do dispensacionalismo. O cantor Lázaro, em sua música “Morar No Céu”, declara enfaticamente: “Ainda bem que eu vou morar no céu”.

Anthony Hoekema, comenta: “A partir de certos hinos, temos a impressão de que os crentes glorificados passarão a eternidade em algum céu etéreo, em algum lugar no espaço, bem longe da terra”. [1]

Mas, afinal de contas, onde a igreja habitará?

O termo “morar no céu” certamente é citado por muitos por causa da passagem em João 14, que diz: Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. (v.2). Seria essa “morada de Deus” o céu, neste contexto? O versículo 23, deste mesmo capítulo, responde: “Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.”. O substantivo grego no singular μονή, e no plural μοναὶ, aparecem apenas duas vezes no NT, que correspondem à “morada” e “moradas”, respectivamente, e só são encontradas neste capítulo. Jesus disse aqui aos discípulos que subiria ao céu, mas não os deixariam órfãos, pois os enviariam o Consolador (v.16), e que faria morada nos crentes (v.23), e esta promessa já se cumpriu com a vinda do Espírito Santo. (Para um entendimento mais amplo sobre isto, sugiro a leitura de um artigo no site da Mackenzie, fonte no rodapé [2])

Mas o que vemos nas Escrituras são textos bíblicos que apontam para novo céu e nova terra, que é o caso de 2 Pe 3:13, que diz: “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça.”. Jesus disse em Mateus 5: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra” (v.5). E ainda em Apocalipse 21, referindo à eternidade: E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.” (v.1). No AT, temos esta promessa em Isaías 65: “Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão.” (v.17), e em Isaías 66: “Porque, como os novos céus, e a nova terra, que hei de fazer, estarão diante da minha face, diz o Senhor, assim também há de estar a vossa posteridade e o vosso nome.” (v.22). 

Hoekema, comenta: “Existe uma passagem no livro de Apocalipse que fala acerca de nosso reinado sobre a terra: ‘Digno és [Cristo] de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra’ (Ap 5:9-10). Embora alguns manuscritos tragam o verbo ‘reinarão’ no tempo presente, os melhores textos trazem o tempo no futuro. O reinado sobre a terra dessa grande multidão redimida é representado aqui como a culminação da obra redentora de Cristo por seu povo.” [3]

A terra que hoje vivemos será restaurada, e não aniquilada. Como escreveu William Hendriksen: “Os céus e a terra que agora existem foram reservados para o fogo, de forma que logo os céus estarão queimando [..] serão dissolvidos e os elementos derreterão com calor fervente” [4]. E ele conclui: “O fogo não anulará o universo. Depois do fogo ainda existirão os mesmos ‘céus e terra’, mas gloriosamente renovados, como explicado em 2 Pe 3.13; Apocalipse 21:1-5.” [4]

Pedro, o apóstolo, escreve: “Mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios. Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão [...] em que os céus, em fogo se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão?”  (2 Pe 3:7,10,11,12). 

Depois dessa restauração, a nova Jerusalém (símbolo da Igreja de Cristo) descerá do céu à nova terra, “adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido” (Ap 21:2) e reinará eternamente com Cristo.

Podemos afirmar, portanto, que não só teremos o céu na eternidade, mas habitaremos no Novo Céu e na Nova Terra, e Cristo será eternamente o Rei: “Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus.” (Apocalipse 21:3)

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Notas:
1 – A Bíblia e o Futuro, Anthony A. Hoekema, pág. 292.
2  Jesus e as moradas na casa do Pai: interpretando monai em João 14
3 – A Bíblia e o Futuro, Anthony A. Hoekema, pág. 300.
4 – A Vida Futura Segundo a Bíblia, William Hendriksen, pág. 257.

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Fonte: Bereianos

terça-feira, 1 de outubro de 2019

A Polêmica do Milênio



Há três principais linhas de interpretação acerca do Milênio. O Pré-milenismo acredita que o Milênio deve ser entendido de forma literal, e que vai acontecer logo após a Segunda Vinda de Cristo. O Amilenismo advoga que o Milênio já começou, e que é apenas um símbolo do reino espiritual de Cristo. Segundo os teólogos amilenistas, não se deve aguardar um tempo áureo em que as promessas alusivas ao Milênio se cumpram literalmente. Já o Pós-milenismo crê que o Milênio começou com a ascensão e entronização de Cristo, e que vai alcançar o seu ápice antes da Volta de Cristo, culminando com a conversão de todas as nações ao Evangelho.

Vamos buscar uma conclusão analisando o texto em questão.

O Capítulo 20 de Apocalipse começa relatando uma visão de João:

"Então vi descer do céu um anjo que tinha a chave do abismo e uma grande cadeia na mão. Ele prendeu o dragão, antiga serpente, que é o diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos. Lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e selou sobre ele, para que não enganasse mais as nações, até que os mil anos se completassem. Depois disto é necessário que seja solto, por um pouco de tempo.” APOCALIPSE 20:1-3.

De acordo com esta passagem, o Milênio começa com a prisão de Satanás. Conclui-se que, se ele já foi preso, logo, o Milênio começou. Porém, se ele ainda está solto, o Milênio ainda está por vir. Antes de tirarmos conclusões precipitadas, vamos compreender o significado desta “prisão”.

Em primeiro lugar, temos que identificar o tal anjo que desce do céu, tendo nas mãos a chave do abismo [hades]. Trata-se de uma teofania; isto é, o próprio Deus revelando-Se na forma angelical, como muitas vezes fez no Antigo Testamento, apresentando-Se como “o Anjo do Senhor”. A prova disso é que logo no primeiro capítulo de Apocalipse, Cristo Se apresenta a João como “o primeiro e o último”, e que tem “as chaves da morte e do inferno” (1:17-18). Uma teofania semelhante aparece no capítulo 10, onde um Anjo “vestido de uma nuvem”, cujo rosto era como o sol, e que rugia como leão é ninguém menos que o próprio Filho de Deus.

Um simples anjo não poderia prender Satanás. Mesmo o arcanjo Miguel, uma das mais importantes figuras angelicais das Escrituras, “quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar contra ele juízo de maldição, mas disse: o Senhor te repreenda” (Jd.9). Só Jesus, o Senhor, poderia, não apenas repreender a Satanás, mas também amarrá-lo.

Ao identificarmos Aquele que tem a chave do abismo, e que é o responsável por acorrentar o diabo, já demos o primeiro passo rumo à compreensão do Milênio. Resta saber agora se Jesus já cumpriu esta missão, ou ainda irá cumpri-la. Pois se já a cumpriu, o Milênio deve está em andamento.

Satanás já está amarrado!

O aprisionamento de Satanás está intimamente ligado à chegada do Reino de Deus. Aprisionar é restringir a ação. Até o início do ministério de Jesus, a jurisdição de Satanás abrangia todas as nações da Terra. Somente Israel era considerada “Herança do Senhor”(Êx.34:9; Dt.32:9; Jr.10:16). Todas as demais nações estavam sob a tirania do diabo. Porém, Deus fez uma promessa a Seu Filho Jesus: “Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e os fins da terra por tua possessão” (Sl.2:8). Para que as nações fossem arrancadas de debaixo da tirania de Satanás, Cristo teria que amarrá-lo e despojá-lo. Foi pelos lábios de Isaías que Deus disse: “Tirar-se-ia a presa ao valente, ou os presos escapariam do tirano? Mas assim diz o Senhor: Por certo que os presos se tirarão do valente, e a presa do tirano escapará; EU CONTENDEREI COM OS QUE CONTENDEM CONTIGO, e os teus filhos eu remirei (...) Então toda a humanidade saberá que eu sou o Senhor”(Is.49:24-25,26b). Somente Deus poderia contender com o tirano, e arrancar de suas presas aquilo de que ele se assenhoreara. Para tanto, Deus Se fez homem em Cristo Jesus: “Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo” (1 Jo.3:8b).

Ao encarnar-Se, Jesus entrou no terreno inimigo, e desafiou-o em sua própria jurisdição. Ao defender-Se da acusação dos fariseus de que expulsava demônios pelo poder de Belzebu, Jesus afirmou:

"Mas se eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente vos é chegado o reino de Deus. Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo o que tem. Mas sobrevindo outro MAIS VALENTE do que ele, vence-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava, e reparte os seus despojos.” LUCAS 11:20-22.

Satanás era esse valente que guardava armado a sua casa. Somente alguém mais valente do que ele poderia vencê-lo e apropriar-se de seus bens. Aliás, é bom que se diga que, os bens de que o diabo se assenhoreara sempre pertenceram a Deus. Foi ele quem se apropriou indevidamente de algo que não lhe pertencia. Jesus veio resgatar a propriedade de Deus (Ef.1:14). Afinal, “do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e todos os que nele habitam” (Sl.24:1).

A questão é: “Como pode alguém entrar na casa do valente e roubar os seus bens, se primeiro não amarrá-lo, saqueando então a sua casa?” (Mt.12:29).

Para despojá-lo dos seus bens, Jesus teria que primeiro amarrar o inimigo. Em Colossenses 2:15, somos informados de que Jesus já despojou “os principados e potestades” e “publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz”. Se para despojá-los, Jesus teria que antes amarrá-los, logo, concluímos que Satanás e seus asseclas já foram acorrentados por Cristo através de Sua morte na cruz. O escritor de Hebreus diz que pela Sua morte, Jesus aniquilou “o que tinha o império da morte, isto é, o diabo”. E isso com o objetivo de livrar “a todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à escravidão” (Hb.2:14-15).

Então o diabo está amarrado? Exatamente. Não só ele, como também todos os seus demônios. Pedro diz que Deus não poupou os anjos que pecaram, “antes, precipitou-os no inferno, os entregou a abismos de trevas, reservando-os para o juízo” (2 Pe.2:4). E isso é confirmado em outra passagem que diz que os anjos “que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, ele [Deus] tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande dia” (Jd.6).

Ora, se eles já foram amarrados, então, por qual razão ainda vemos manifestações demoníacas em nossos dias? Se eles estão acorrentados e selados no abismo, de onde vêm as desgraças que abatem sobre o mundo? Precisamos entender que estar “amarrado” não é o mesmo que estar inativo. Satanás ainda age no mundo. Ele está amarrado no sentido de não poder coibir o avanço do Evangelho, nem impedir que as almas lhe sejam saqueadas. Até a cruz, ele agia com liberdade muito maior do que hoje. Agora, ele “opera nos filhos da desobediência” (Ef.2:2b). Sua jurisdição ficou circunscrita aos incrédulos. É como um cão que está preso por uma coleira. Mesmo preso, ele tem à sua volta um espaço para mobilizar-se. Qualquer que se aproximar dele poderá sofrer um ataque.

Antes de nos converter, todos estávamos ao alcance de Satanás. Éramos súditos de seu nefasto império. Porém, Cristo “nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Col.1:13).

Estávamos, por assim dizer, na mesma cela que ele. Habitávamos num abismo de trevas. Mas por estar amarrado, o diabo não pôde impedir que fôssemos arrancados de lá. Agora, estamos fora do seu alcance, por termos sidos transportados para o reino de Cristo Jesus. Estamos assentados com Ele, acima de todo principado e potestade (Ef.1:21, 2:6).

Bastaria este fato para que nos atrevêssemos a declarar que o Milênio já começou. Mas vamos prosseguir em nosso estudo.

A Primeira Ressurreição

João relata: “Vi também tronos, e aos que se assentaram sobre eles foi-lhes dado o poder de julgar. E vi as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal na testa nem nas mãos. Reviveram e reinaram com Cristo durante mil anos” (Ap. 20:4).

Os tronos vistos por João são os vinte e quatro tronos que cercam o Trono de Deus, e que significam a igreja do Antigo e do Novo Testamento. Estes tronos [simbólicos, é claro] são, na verdade, ocupados por todos os crentes de todas as eras. Não só os que morreram, mas também os que ainda vivem neste mundo. Isto é confirmado por Paulo em Romanos 5:17, onde diz que “os que recebem a abundância da graça, e o dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo”. Logo no início do Apocalipse, João diz que Cristo nos constituiu “reis e sacerdotes para o seu Deus e Pai” (Ap.1:6).

João também declara que aqueles que estavam sobre o trono receberam poder para julgar. O que encontra paralelo com a afirmação de Paulo de que “os santos hão de julgar o mundo” e até mesmo os anjos (1 Co.6:2,3). O Salmo 149 diz que a glória de todos os santos é executar o juízo escrito (v.9).

Depois de ver os tronos, e os santos neles assentados para julgar as estruturas injustas do mundo, João vê as almas dos mártires. Os crentes primitivos certamente foram consolados com estas palavras. Seus parentes, amigos e irmãos, que por terem se recusado a prestarem culto ao imperador, haviam sido mortos, na verdade, estavam vivos ao lado de Cristo, reinando com Ele. Tanto os que estavam vivos, quanto os que haviam sido martirizados, desfrutavam do Reino de Deus. A morte não era capaz de impedir esta comunhão entre eles e o seu Salvador (Rm.8:35-39).

Os “mil anos” não devem ser entendidos literalmente. Assim como a maioria dos números do livro do Apocalipse, o número “mil” também é simbólico. Biblicamente, “mil” representa um número relativo. Com relação ao homem pode parecer grande, mas com relação a Deus é apenas um momento. Como afirmou Pedro: “Para com o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia” (2 Pe.3:8b). Reviver é o mesmo que está na presença imediata de Deus. Uma vez que nem a morte pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo, podemos dizer que os que morrem em Cristo reviveram. Aliás, esta verdade já é desfrutada por nós antes mesmo de partirmos deste mundo. Paulo diz que “estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos VIVIFICOU juntamente com Cristo ( pela graça sois salvos) e nos RESSUSCITOU juntamente com ele, e nos fez assentar nas regiões celestiais, em Cristo Jesus” (Ef.2:5-6).

E quantos àqueles que morrem sem Cristo? “Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se completassem” (v.5). Eles só serão conduzidos à presença imediata de Cristo no Juízo Final, após o Milênio. Entretanto, após serem julgados, serão separados de Cristo para sempre, o que é chamado de “segunda morte” (Ap.20:14).
A ressurreição espiritual da qual participamos quando nos convertemos a Cristo é chamada de “Primeira Ressurreição”. “Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na PRIMEIRA RESSURREIÇÃO. Sobre estes não tem poder a segunda morte, mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele durante os mil anos” (Ap.20:6).

A primeira morte é a biológica. Ela é fruto do pecado original. Os biólogos são concordes em dizer que o ser humano começa a morrer no momento em que nasce. Todos teremos que enfrentá-la um dia. Entretanto, ela não é a palavra final. Há uma segunda morte, que é a morte eterna. Biblicamente, morte quer dizer “separação”’. Ao morrer fisicamente, a alma é separada do corpo, e por isso, este expira. A segunda morte significa o maior de todos os males: a separação do espírito humano de Deus para sempre. Na verdade, todos já nascemos espiritualmente mortos, separados de Deus. Porém, ao ouvirmos a Palavra de Deus, fomos arrebatados do império da morte, e introduzidos no Reino da Vida Eterna. Jesus disse:

"Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas PASSOU DA MORTE PARA A VIDA. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, E JÁ CHEGOU, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão.” JOÃO 5:24-25.

Repare que não são todos que ouvem a voz do Filho de Deus. Logo, trata-se da primeira ressurreição, que é espiritual, e está limitada àqueles que ouvem a voz do Supremo Pastor. A hora da primeira ressurreição já chegou.

Em seguida, Jesus fala da ressurreição geral, que se dará no último dia, quando Ele vier para julgar os vivos e os mortos:

"Não vos maravilheis disto, pois vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão: Os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida, e os que praticaram o mal, para a ressurreição da condenação.” JOÃO 5:28-29.

Agora Jesus está falando de uma ressurreição física, que engloba todos os homens, tanto os justos quantos os injustos. Estes ressuscitarão ao mesmo tempo (“vem a hora”!). Não haverá intervalo entre a ressurreição dos justos e dos injustos. Em uma só hora, todos ouvirão a voz de Cristo, e sairão de seus sepulcros para serem julgados pelo Filho de Deus.



domingo, 15 de setembro de 2019

O Reino de Deus



Quando os discípulos de Jesus lhe pediram que os ensinasse a orar, ele lhes deu uma oração modelo, a Oração do Pai Nosso (Mt 6.9- 13). Como parte dessa oração, Jesus os instruiu a pedir: “Venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (v. 10). Nestas palavras, Jesus estabeleceu uma prioridade para o povo de Deus orar pela vinda do reino.

A questão é se o reino pelo qual oramos já está sendo manifesto ou ainda está para ser revelado. Isto é uma questão de debate na comunidade cristã e é importante por causa da importância central, na Escritura, do conceito do reino. Em seu livro O Reino de Deus, John Bright, erudito em Antigo Testamento, disse que o reino é o tema que une o Antigo Testamento ao Novo Testamento. No Antigo Testamento, Deus começou a prometer um reino futuro em que sua soberania seria universal e eterna. Todavia, esta promessa não era uma negação do reino soberano de Deus sobre o universo agora. Deus tem reinado desde o momento em que criou todas as coisas. Ao contrário, a promessa tem a ver com a submissão voluntária de todas as criaturas. No presente, o reino deste mundo, sobre o qual Deus tem reinado desde o momento de criação, está fundamentalmente em rebelião contra o seu Rei.

A promessa no Antigo Testamento era a de um reino universal e eterno. É universal não no sentido de que todos serão redimidos, mas de que todos obedecerão. Alguns obedecerão voluntariamente; eles dobrarão os joelhos em devoção sincera. Outros serão forçados à submissão. Virá um dia em que pessoas de todas as nações se submeterão ao Rei ungido de Deus, o Messias.

JÁ E AINDA NÃO

Muitos evangélicos professos de nossos dias creem que o reino de Deus está estritamente no futuro, embora não haja nenhum fundamento bíblico para isso. Esta opinião rouba da igreja ensinos importantes sobre o reino que são apresentados com clareza no Novo Testamento. De fato, o Novo Testamento começa com o anúncio de João Batista sobre o reino: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 3.2). Os profetas do Antigo Testamento falaram do reino por vir em algum momento no futuro, mas, no tempo de João Batista, o reino estava prestes a entrar em cena. Estava “próximo”. Quando examinamos cuidadosamente a mensagem de João Batista, vemos que seu anúncio do reino continha advertências urgentes: “Já está posto o machado à raiz das árvores” (Mt 3.10) e: “A sua pá, ele a tem na mão” (Lc 3.17). O tempo estava acabando, e as pessoas não estavam prontas. Cristo entrou em cena pouco tempo depois com a mesma mensagem: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.15). Entretanto, havia diferenças entre o comportamento de João Batista e o de Jesus. João era um asceta; levava uma vida de autorrenúncia radical. Comia gafanhotos e mel silvestre e se vestia como os profetas do Antigo Testamento. Por outro lado, Jesus foi acusado de ser “um glutão e bebedor de vinho” (Mt 11.19). Ele foi a uma festa de casamento em Caná e comeu num banquete com coletores de impostos; e isso levou alguns dos discípulos de João a perguntar-lhe: “Por que jejuamos nós, e os fariseus... e teus discípulos não jejuam?” (Mt 9.14). Jesus respondeu: “Podem, acaso, estar tristes os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo, e nesses dias hão de jejuar” (v. 15).

Noutra ocasião, os fariseus perguntaram a Jesus quando viria o reino de Deus, e ele lhes respondeu: “Eis que o reino de Deus está entre vós” (Lc 17.21 – ARC). O reino de Deus estava no meio deles porque o Rei estava ali. Noutra ocasião, Jesus disse: “Se, porém, eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente, é chegado o reino de Deus sobre vós” (Lc 11.20).

Portanto, João veio primeiramente com sua advertência da proximidade radical do reino. Depois, Jesus veio anunciando a presença do reino. Isto foi seguido pelo ápice de sua obra redentora na ascensão, quando ele deixou a terra para ir à sua coroação, na qual Deus o declarou Rei. Quando Jesus estava no Monte das Oliveiras, pronto para partir, seus discípulos lhe perguntaram: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” (At 1.6). Eles haviam esperado que Jesus agisse, expulsasse os romanos e estabelecesse o reino, mas Jesus respondeu: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (vv. 7-8).

Na resposta à pergunta deles sobre o reino, Jesus deu a missão fundamental da igreja. Os homens estariam cegos para a mensagem do reinado de Jesus; por isso, os discípulos receberam a tarefa de torná-lo visível. A tarefa fundamental da igreja é dar testemunho do reino de Deus. Nosso Rei reina agora. Portanto, colocar o reino de Deus totalmente no futuro é ignorar um dos ensinos mais importantes do Novo Testamento. Nosso Rei veio e inaugurou o reino de Deus. O aspecto futuro do reino é sua consumação final.

PARÁBOLAS DO REINO 

Jesus ensinou frequentemente por meio de parábolas, e o tema primário das parábolas era o reino de Deus. Muitas das parábolas começaram com “o reino de Deus é semelhante...” As parábolas deixam claro que o reino tem um caráter progressivo. O reino começou pequeno, mas com o passar do tempo começou a se expandir e continuará a crescer até que envolva todas as coisas. Jesus disse que o reino é semelhante a uma semente de mostarda, a menor das sementes (Mt 13.31-32; Mc 4.30-32; Lc 13.18-19). Ele também ligou o reino ao fermento, que se espalha pela massa para que esta cresça (Mt 13.33; Lc 13.20-21). O Antigo Testamento profetizava que o reino seria uma pedra cortada sem o uso de mãos, que se tornaria uma grande montanha (Dn 2.35). Jesus também deixou claro que nós, como seus discípulos, devemos buscar o reino. Ele disse: “Buscai... em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33). A prioridade da vida cristã, de acordo com Jesus, é buscar o reino. A palavra grega traduzida por “em primeiro lugar” é prōtos. A palavra significa mais do que o primeiro numa série; significa primeiro em ordem de importância. De acordo com Jesus, buscar o reino é a tarefa mais importante da vida cristã.

CRISTO REINA 

Cristo reina agora como o Cordeiro que é digno de receber o reino de Deus. Esse reino começou e está crescendo, mas não será consumado até que Cristo venha no fim da história humana, para subjugar todos os reinos. Naquele tempo, o reino, que agora é invisível, se tornará visível. Mas, embora o reino seja invisível agora, não é irreal. Na consumação, haverá uma renovação completa da ordem criada como a conhecemos, e Cristo estabelecerá seu reino em toda a sua glória para sempre.


R.C. Sproul. Somos todos teólogos: uma introdução à teologia sistemática / [tradução: Francisco Wellington Ferreira]. – São José dos Campos, SP: Fiel, 2017. pg: 334-337