google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Escatologia Reformada

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

A Igreja, de fato, habitará no céu?



É comum, nos dias de hoje, em grande parte das igrejas, ao tratarem sobre a escatologia, afirmarem que quando Cristo vier, a igreja irá morar no céu. Há até mesmo muitas canções que declaram isto, e pelo fato de muitos não examinarem as Escrituras quanto a tudo o que ouvem, lêem ou cantam, acabam formando sua “teologia” baseada apenas em alguns clichês ou canções, e também por conta de uma forte influência do dispensacionalismo. O cantor Lázaro, em sua música “Morar No Céu”, declara enfaticamente: “Ainda bem que eu vou morar no céu”.

Anthony Hoekema, comenta: “A partir de certos hinos, temos a impressão de que os crentes glorificados passarão a eternidade em algum céu etéreo, em algum lugar no espaço, bem longe da terra”. [1]

Mas, afinal de contas, onde a igreja habitará?

O termo “morar no céu” certamente é citado por muitos por causa da passagem em João 14, que diz: Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. (v.2). Seria essa “morada de Deus” o céu, neste contexto? O versículo 23, deste mesmo capítulo, responde: “Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.”. O substantivo grego no singular μονή, e no plural μοναὶ, aparecem apenas duas vezes no NT, que correspondem à “morada” e “moradas”, respectivamente, e só são encontradas neste capítulo. Jesus disse aqui aos discípulos que subiria ao céu, mas não os deixariam órfãos, pois os enviariam o Consolador (v.16), e que faria morada nos crentes (v.23), e esta promessa já se cumpriu com a vinda do Espírito Santo. (Para um entendimento mais amplo sobre isto, sugiro a leitura de um artigo no site da Mackenzie, fonte no rodapé [2])

Mas o que vemos nas Escrituras são textos bíblicos que apontam para novo céu e nova terra, que é o caso de 2 Pe 3:13, que diz: “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça.”. Jesus disse em Mateus 5: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra” (v.5). E ainda em Apocalipse 21, referindo à eternidade: E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.” (v.1). No AT, temos esta promessa em Isaías 65: “Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão.” (v.17), e em Isaías 66: “Porque, como os novos céus, e a nova terra, que hei de fazer, estarão diante da minha face, diz o Senhor, assim também há de estar a vossa posteridade e o vosso nome.” (v.22). 

Hoekema, comenta: “Existe uma passagem no livro de Apocalipse que fala acerca de nosso reinado sobre a terra: ‘Digno és [Cristo] de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra’ (Ap 5:9-10). Embora alguns manuscritos tragam o verbo ‘reinarão’ no tempo presente, os melhores textos trazem o tempo no futuro. O reinado sobre a terra dessa grande multidão redimida é representado aqui como a culminação da obra redentora de Cristo por seu povo.” [3]

A terra que hoje vivemos será restaurada, e não aniquilada. Como escreveu William Hendriksen: “Os céus e a terra que agora existem foram reservados para o fogo, de forma que logo os céus estarão queimando [..] serão dissolvidos e os elementos derreterão com calor fervente” [4]. E ele conclui: “O fogo não anulará o universo. Depois do fogo ainda existirão os mesmos ‘céus e terra’, mas gloriosamente renovados, como explicado em 2 Pe 3.13; Apocalipse 21:1-5.” [4]

Pedro, o apóstolo, escreve: “Mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios. Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão [...] em que os céus, em fogo se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão?”  (2 Pe 3:7,10,11,12). 

Depois dessa restauração, a nova Jerusalém (símbolo da Igreja de Cristo) descerá do céu à nova terra, “adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido” (Ap 21:2) e reinará eternamente com Cristo.

Podemos afirmar, portanto, que não só teremos o céu na eternidade, mas habitaremos no Novo Céu e na Nova Terra, e Cristo será eternamente o Rei: “Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus.” (Apocalipse 21:3)

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Notas:
1 – A Bíblia e o Futuro, Anthony A. Hoekema, pág. 292.
2  Jesus e as moradas na casa do Pai: interpretando monai em João 14
3 – A Bíblia e o Futuro, Anthony A. Hoekema, pág. 300.
4 – A Vida Futura Segundo a Bíblia, William Hendriksen, pág. 257.

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Fonte: Bereianos

terça-feira, 1 de outubro de 2019

A Polêmica do Milênio



Há três principais linhas de interpretação acerca do Milênio. O Pré-milenismo acredita que o Milênio deve ser entendido de forma literal, e que vai acontecer logo após a Segunda Vinda de Cristo. O Amilenismo advoga que o Milênio já começou, e que é apenas um símbolo do reino espiritual de Cristo. Segundo os teólogos amilenistas, não se deve aguardar um tempo áureo em que as promessas alusivas ao Milênio se cumpram literalmente. Já o Pós-milenismo crê que o Milênio começou com a ascensão e entronização de Cristo, e que vai alcançar o seu ápice antes da Volta de Cristo, culminando com a conversão de todas as nações ao Evangelho.

Vamos buscar uma conclusão analisando o texto em questão.

O Capítulo 20 de Apocalipse começa relatando uma visão de João:

"Então vi descer do céu um anjo que tinha a chave do abismo e uma grande cadeia na mão. Ele prendeu o dragão, antiga serpente, que é o diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos. Lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e selou sobre ele, para que não enganasse mais as nações, até que os mil anos se completassem. Depois disto é necessário que seja solto, por um pouco de tempo.” APOCALIPSE 20:1-3.

De acordo com esta passagem, o Milênio começa com a prisão de Satanás. Conclui-se que, se ele já foi preso, logo, o Milênio começou. Porém, se ele ainda está solto, o Milênio ainda está por vir. Antes de tirarmos conclusões precipitadas, vamos compreender o significado desta “prisão”.

Em primeiro lugar, temos que identificar o tal anjo que desce do céu, tendo nas mãos a chave do abismo [hades]. Trata-se de uma teofania; isto é, o próprio Deus revelando-Se na forma angelical, como muitas vezes fez no Antigo Testamento, apresentando-Se como “o Anjo do Senhor”. A prova disso é que logo no primeiro capítulo de Apocalipse, Cristo Se apresenta a João como “o primeiro e o último”, e que tem “as chaves da morte e do inferno” (1:17-18). Uma teofania semelhante aparece no capítulo 10, onde um Anjo “vestido de uma nuvem”, cujo rosto era como o sol, e que rugia como leão é ninguém menos que o próprio Filho de Deus.

Um simples anjo não poderia prender Satanás. Mesmo o arcanjo Miguel, uma das mais importantes figuras angelicais das Escrituras, “quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar contra ele juízo de maldição, mas disse: o Senhor te repreenda” (Jd.9). Só Jesus, o Senhor, poderia, não apenas repreender a Satanás, mas também amarrá-lo.

Ao identificarmos Aquele que tem a chave do abismo, e que é o responsável por acorrentar o diabo, já demos o primeiro passo rumo à compreensão do Milênio. Resta saber agora se Jesus já cumpriu esta missão, ou ainda irá cumpri-la. Pois se já a cumpriu, o Milênio deve está em andamento.

Satanás já está amarrado!

O aprisionamento de Satanás está intimamente ligado à chegada do Reino de Deus. Aprisionar é restringir a ação. Até o início do ministério de Jesus, a jurisdição de Satanás abrangia todas as nações da Terra. Somente Israel era considerada “Herança do Senhor”(Êx.34:9; Dt.32:9; Jr.10:16). Todas as demais nações estavam sob a tirania do diabo. Porém, Deus fez uma promessa a Seu Filho Jesus: “Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e os fins da terra por tua possessão” (Sl.2:8). Para que as nações fossem arrancadas de debaixo da tirania de Satanás, Cristo teria que amarrá-lo e despojá-lo. Foi pelos lábios de Isaías que Deus disse: “Tirar-se-ia a presa ao valente, ou os presos escapariam do tirano? Mas assim diz o Senhor: Por certo que os presos se tirarão do valente, e a presa do tirano escapará; EU CONTENDEREI COM OS QUE CONTENDEM CONTIGO, e os teus filhos eu remirei (...) Então toda a humanidade saberá que eu sou o Senhor”(Is.49:24-25,26b). Somente Deus poderia contender com o tirano, e arrancar de suas presas aquilo de que ele se assenhoreara. Para tanto, Deus Se fez homem em Cristo Jesus: “Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo” (1 Jo.3:8b).

Ao encarnar-Se, Jesus entrou no terreno inimigo, e desafiou-o em sua própria jurisdição. Ao defender-Se da acusação dos fariseus de que expulsava demônios pelo poder de Belzebu, Jesus afirmou:

"Mas se eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente vos é chegado o reino de Deus. Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo o que tem. Mas sobrevindo outro MAIS VALENTE do que ele, vence-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava, e reparte os seus despojos.” LUCAS 11:20-22.

Satanás era esse valente que guardava armado a sua casa. Somente alguém mais valente do que ele poderia vencê-lo e apropriar-se de seus bens. Aliás, é bom que se diga que, os bens de que o diabo se assenhoreara sempre pertenceram a Deus. Foi ele quem se apropriou indevidamente de algo que não lhe pertencia. Jesus veio resgatar a propriedade de Deus (Ef.1:14). Afinal, “do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e todos os que nele habitam” (Sl.24:1).

A questão é: “Como pode alguém entrar na casa do valente e roubar os seus bens, se primeiro não amarrá-lo, saqueando então a sua casa?” (Mt.12:29).

Para despojá-lo dos seus bens, Jesus teria que primeiro amarrar o inimigo. Em Colossenses 2:15, somos informados de que Jesus já despojou “os principados e potestades” e “publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz”. Se para despojá-los, Jesus teria que antes amarrá-los, logo, concluímos que Satanás e seus asseclas já foram acorrentados por Cristo através de Sua morte na cruz. O escritor de Hebreus diz que pela Sua morte, Jesus aniquilou “o que tinha o império da morte, isto é, o diabo”. E isso com o objetivo de livrar “a todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à escravidão” (Hb.2:14-15).

Então o diabo está amarrado? Exatamente. Não só ele, como também todos os seus demônios. Pedro diz que Deus não poupou os anjos que pecaram, “antes, precipitou-os no inferno, os entregou a abismos de trevas, reservando-os para o juízo” (2 Pe.2:4). E isso é confirmado em outra passagem que diz que os anjos “que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, ele [Deus] tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande dia” (Jd.6).

Ora, se eles já foram amarrados, então, por qual razão ainda vemos manifestações demoníacas em nossos dias? Se eles estão acorrentados e selados no abismo, de onde vêm as desgraças que abatem sobre o mundo? Precisamos entender que estar “amarrado” não é o mesmo que estar inativo. Satanás ainda age no mundo. Ele está amarrado no sentido de não poder coibir o avanço do Evangelho, nem impedir que as almas lhe sejam saqueadas. Até a cruz, ele agia com liberdade muito maior do que hoje. Agora, ele “opera nos filhos da desobediência” (Ef.2:2b). Sua jurisdição ficou circunscrita aos incrédulos. É como um cão que está preso por uma coleira. Mesmo preso, ele tem à sua volta um espaço para mobilizar-se. Qualquer que se aproximar dele poderá sofrer um ataque.

Antes de nos converter, todos estávamos ao alcance de Satanás. Éramos súditos de seu nefasto império. Porém, Cristo “nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Col.1:13).

Estávamos, por assim dizer, na mesma cela que ele. Habitávamos num abismo de trevas. Mas por estar amarrado, o diabo não pôde impedir que fôssemos arrancados de lá. Agora, estamos fora do seu alcance, por termos sidos transportados para o reino de Cristo Jesus. Estamos assentados com Ele, acima de todo principado e potestade (Ef.1:21, 2:6).

Bastaria este fato para que nos atrevêssemos a declarar que o Milênio já começou. Mas vamos prosseguir em nosso estudo.

A Primeira Ressurreição

João relata: “Vi também tronos, e aos que se assentaram sobre eles foi-lhes dado o poder de julgar. E vi as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal na testa nem nas mãos. Reviveram e reinaram com Cristo durante mil anos” (Ap. 20:4).

Os tronos vistos por João são os vinte e quatro tronos que cercam o Trono de Deus, e que significam a igreja do Antigo e do Novo Testamento. Estes tronos [simbólicos, é claro] são, na verdade, ocupados por todos os crentes de todas as eras. Não só os que morreram, mas também os que ainda vivem neste mundo. Isto é confirmado por Paulo em Romanos 5:17, onde diz que “os que recebem a abundância da graça, e o dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo”. Logo no início do Apocalipse, João diz que Cristo nos constituiu “reis e sacerdotes para o seu Deus e Pai” (Ap.1:6).

João também declara que aqueles que estavam sobre o trono receberam poder para julgar. O que encontra paralelo com a afirmação de Paulo de que “os santos hão de julgar o mundo” e até mesmo os anjos (1 Co.6:2,3). O Salmo 149 diz que a glória de todos os santos é executar o juízo escrito (v.9).

Depois de ver os tronos, e os santos neles assentados para julgar as estruturas injustas do mundo, João vê as almas dos mártires. Os crentes primitivos certamente foram consolados com estas palavras. Seus parentes, amigos e irmãos, que por terem se recusado a prestarem culto ao imperador, haviam sido mortos, na verdade, estavam vivos ao lado de Cristo, reinando com Ele. Tanto os que estavam vivos, quanto os que haviam sido martirizados, desfrutavam do Reino de Deus. A morte não era capaz de impedir esta comunhão entre eles e o seu Salvador (Rm.8:35-39).

Os “mil anos” não devem ser entendidos literalmente. Assim como a maioria dos números do livro do Apocalipse, o número “mil” também é simbólico. Biblicamente, “mil” representa um número relativo. Com relação ao homem pode parecer grande, mas com relação a Deus é apenas um momento. Como afirmou Pedro: “Para com o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia” (2 Pe.3:8b). Reviver é o mesmo que está na presença imediata de Deus. Uma vez que nem a morte pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo, podemos dizer que os que morrem em Cristo reviveram. Aliás, esta verdade já é desfrutada por nós antes mesmo de partirmos deste mundo. Paulo diz que “estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos VIVIFICOU juntamente com Cristo ( pela graça sois salvos) e nos RESSUSCITOU juntamente com ele, e nos fez assentar nas regiões celestiais, em Cristo Jesus” (Ef.2:5-6).

E quantos àqueles que morrem sem Cristo? “Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se completassem” (v.5). Eles só serão conduzidos à presença imediata de Cristo no Juízo Final, após o Milênio. Entretanto, após serem julgados, serão separados de Cristo para sempre, o que é chamado de “segunda morte” (Ap.20:14).
A ressurreição espiritual da qual participamos quando nos convertemos a Cristo é chamada de “Primeira Ressurreição”. “Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na PRIMEIRA RESSURREIÇÃO. Sobre estes não tem poder a segunda morte, mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele durante os mil anos” (Ap.20:6).

A primeira morte é a biológica. Ela é fruto do pecado original. Os biólogos são concordes em dizer que o ser humano começa a morrer no momento em que nasce. Todos teremos que enfrentá-la um dia. Entretanto, ela não é a palavra final. Há uma segunda morte, que é a morte eterna. Biblicamente, morte quer dizer “separação”’. Ao morrer fisicamente, a alma é separada do corpo, e por isso, este expira. A segunda morte significa o maior de todos os males: a separação do espírito humano de Deus para sempre. Na verdade, todos já nascemos espiritualmente mortos, separados de Deus. Porém, ao ouvirmos a Palavra de Deus, fomos arrebatados do império da morte, e introduzidos no Reino da Vida Eterna. Jesus disse:

"Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas PASSOU DA MORTE PARA A VIDA. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, E JÁ CHEGOU, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão.” JOÃO 5:24-25.

Repare que não são todos que ouvem a voz do Filho de Deus. Logo, trata-se da primeira ressurreição, que é espiritual, e está limitada àqueles que ouvem a voz do Supremo Pastor. A hora da primeira ressurreição já chegou.

Em seguida, Jesus fala da ressurreição geral, que se dará no último dia, quando Ele vier para julgar os vivos e os mortos:

"Não vos maravilheis disto, pois vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão: Os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida, e os que praticaram o mal, para a ressurreição da condenação.” JOÃO 5:28-29.

Agora Jesus está falando de uma ressurreição física, que engloba todos os homens, tanto os justos quantos os injustos. Estes ressuscitarão ao mesmo tempo (“vem a hora”!). Não haverá intervalo entre a ressurreição dos justos e dos injustos. Em uma só hora, todos ouvirão a voz de Cristo, e sairão de seus sepulcros para serem julgados pelo Filho de Deus.



domingo, 15 de setembro de 2019

O Reino de Deus



Quando os discípulos de Jesus lhe pediram que os ensinasse a orar, ele lhes deu uma oração modelo, a Oração do Pai Nosso (Mt 6.9- 13). Como parte dessa oração, Jesus os instruiu a pedir: “Venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (v. 10). Nestas palavras, Jesus estabeleceu uma prioridade para o povo de Deus orar pela vinda do reino.

A questão é se o reino pelo qual oramos já está sendo manifesto ou ainda está para ser revelado. Isto é uma questão de debate na comunidade cristã e é importante por causa da importância central, na Escritura, do conceito do reino. Em seu livro O Reino de Deus, John Bright, erudito em Antigo Testamento, disse que o reino é o tema que une o Antigo Testamento ao Novo Testamento. No Antigo Testamento, Deus começou a prometer um reino futuro em que sua soberania seria universal e eterna. Todavia, esta promessa não era uma negação do reino soberano de Deus sobre o universo agora. Deus tem reinado desde o momento em que criou todas as coisas. Ao contrário, a promessa tem a ver com a submissão voluntária de todas as criaturas. No presente, o reino deste mundo, sobre o qual Deus tem reinado desde o momento de criação, está fundamentalmente em rebelião contra o seu Rei.

A promessa no Antigo Testamento era a de um reino universal e eterno. É universal não no sentido de que todos serão redimidos, mas de que todos obedecerão. Alguns obedecerão voluntariamente; eles dobrarão os joelhos em devoção sincera. Outros serão forçados à submissão. Virá um dia em que pessoas de todas as nações se submeterão ao Rei ungido de Deus, o Messias.

JÁ E AINDA NÃO

Muitos evangélicos professos de nossos dias creem que o reino de Deus está estritamente no futuro, embora não haja nenhum fundamento bíblico para isso. Esta opinião rouba da igreja ensinos importantes sobre o reino que são apresentados com clareza no Novo Testamento. De fato, o Novo Testamento começa com o anúncio de João Batista sobre o reino: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 3.2). Os profetas do Antigo Testamento falaram do reino por vir em algum momento no futuro, mas, no tempo de João Batista, o reino estava prestes a entrar em cena. Estava “próximo”. Quando examinamos cuidadosamente a mensagem de João Batista, vemos que seu anúncio do reino continha advertências urgentes: “Já está posto o machado à raiz das árvores” (Mt 3.10) e: “A sua pá, ele a tem na mão” (Lc 3.17). O tempo estava acabando, e as pessoas não estavam prontas. Cristo entrou em cena pouco tempo depois com a mesma mensagem: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.15). Entretanto, havia diferenças entre o comportamento de João Batista e o de Jesus. João era um asceta; levava uma vida de autorrenúncia radical. Comia gafanhotos e mel silvestre e se vestia como os profetas do Antigo Testamento. Por outro lado, Jesus foi acusado de ser “um glutão e bebedor de vinho” (Mt 11.19). Ele foi a uma festa de casamento em Caná e comeu num banquete com coletores de impostos; e isso levou alguns dos discípulos de João a perguntar-lhe: “Por que jejuamos nós, e os fariseus... e teus discípulos não jejuam?” (Mt 9.14). Jesus respondeu: “Podem, acaso, estar tristes os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo, e nesses dias hão de jejuar” (v. 15).

Noutra ocasião, os fariseus perguntaram a Jesus quando viria o reino de Deus, e ele lhes respondeu: “Eis que o reino de Deus está entre vós” (Lc 17.21 – ARC). O reino de Deus estava no meio deles porque o Rei estava ali. Noutra ocasião, Jesus disse: “Se, porém, eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente, é chegado o reino de Deus sobre vós” (Lc 11.20).

Portanto, João veio primeiramente com sua advertência da proximidade radical do reino. Depois, Jesus veio anunciando a presença do reino. Isto foi seguido pelo ápice de sua obra redentora na ascensão, quando ele deixou a terra para ir à sua coroação, na qual Deus o declarou Rei. Quando Jesus estava no Monte das Oliveiras, pronto para partir, seus discípulos lhe perguntaram: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” (At 1.6). Eles haviam esperado que Jesus agisse, expulsasse os romanos e estabelecesse o reino, mas Jesus respondeu: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (vv. 7-8).

Na resposta à pergunta deles sobre o reino, Jesus deu a missão fundamental da igreja. Os homens estariam cegos para a mensagem do reinado de Jesus; por isso, os discípulos receberam a tarefa de torná-lo visível. A tarefa fundamental da igreja é dar testemunho do reino de Deus. Nosso Rei reina agora. Portanto, colocar o reino de Deus totalmente no futuro é ignorar um dos ensinos mais importantes do Novo Testamento. Nosso Rei veio e inaugurou o reino de Deus. O aspecto futuro do reino é sua consumação final.

PARÁBOLAS DO REINO 

Jesus ensinou frequentemente por meio de parábolas, e o tema primário das parábolas era o reino de Deus. Muitas das parábolas começaram com “o reino de Deus é semelhante...” As parábolas deixam claro que o reino tem um caráter progressivo. O reino começou pequeno, mas com o passar do tempo começou a se expandir e continuará a crescer até que envolva todas as coisas. Jesus disse que o reino é semelhante a uma semente de mostarda, a menor das sementes (Mt 13.31-32; Mc 4.30-32; Lc 13.18-19). Ele também ligou o reino ao fermento, que se espalha pela massa para que esta cresça (Mt 13.33; Lc 13.20-21). O Antigo Testamento profetizava que o reino seria uma pedra cortada sem o uso de mãos, que se tornaria uma grande montanha (Dn 2.35). Jesus também deixou claro que nós, como seus discípulos, devemos buscar o reino. Ele disse: “Buscai... em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33). A prioridade da vida cristã, de acordo com Jesus, é buscar o reino. A palavra grega traduzida por “em primeiro lugar” é prōtos. A palavra significa mais do que o primeiro numa série; significa primeiro em ordem de importância. De acordo com Jesus, buscar o reino é a tarefa mais importante da vida cristã.

CRISTO REINA 

Cristo reina agora como o Cordeiro que é digno de receber o reino de Deus. Esse reino começou e está crescendo, mas não será consumado até que Cristo venha no fim da história humana, para subjugar todos os reinos. Naquele tempo, o reino, que agora é invisível, se tornará visível. Mas, embora o reino seja invisível agora, não é irreal. Na consumação, haverá uma renovação completa da ordem criada como a conhecemos, e Cristo estabelecerá seu reino em toda a sua glória para sempre.


R.C. Sproul. Somos todos teólogos: uma introdução à teologia sistemática / [tradução: Francisco Wellington Ferreira]. – São José dos Campos, SP: Fiel, 2017. pg: 334-337


terça-feira, 27 de agosto de 2019

Posições Sobre o Milênio



Vejamos brevemente as principais características da várias posições sobre o milênio.

PRÉ-MILENISMO 

O pré-milenismo ensina que, antes do retorno de Cristo, haverá um reino literal terreno de mil anos. Aqui, o prefixo pre indica a convicção de que Cristo retornará antes de o milênio ser estabelecido. Há duas formas populares de pré-milenismo hoje: pré-milenismo dispensacionalista e prémilenismo histórico. 

A teologia dispensacionalista é um sistema completo de doutrina. É mais notada por seu esquema específico de entender profecias da Bíblia. Os prémilenistas dispensacionalistas acreditam que as profecias do reino dadas a Israel no Antigo Testamento serão cumpridas literalmente no estado judaico contemporâneo. Eles esperam por uma reconstrução literal do templo e uma reinstituição do sistema de sacrifícios.

Fundamental à posição escatológica dos dispensacionalistas é a crença de que Deus tem dois planos de redenção separados, um para Israel e outro para a igreja. O dispensacionalismo pré-milenista tradicional ensina que Cristo ofereceu aos judeus o reino de Davi, mas os judeus o rejeitaram. Por isso, a vinda do reino de Davi, um reino judaico, foi postergada até algum tempo futuro. Eles também acreditam que a igreja, como a conhecemos, existe na “época da igreja”, um dos sete grandes períodos ou dispensações da história bíblica. A época da igreja é um parêntese entre o advento de Cristo e a vinda futura do reino. Os pré-milenistas dispensacionalistas acreditam que a igreja perderá sua influência no mundo e se tornará apóstata, à medida que se aproxima do final da época da igreja e só será restaurada depois do retorno de Cristo. Por fim, Cristo retornará para arrebatar seus santos antes da grande tribulação.

Este retorno de Cristo para arrebatar seus santos é visto como a primeira de suas duas vindas. Na sua primeira vinda, ele transportará seu povo para as nuvens, pelo que os livrará do sofrimento e da perseguição da tribulação. Depois, Cristo virá novamente para estabelecer seu reino. Ele administrará um reino judaico político, e esse reino durará por exatamente mil anos. Durante esse tempo, Satanás será preso, o templo será reconstruído, e o sistema de sacrifícios do Antigo Testamento será reinstituído. Perto do final do milênio, Satanás será solto, e Cristo e seus seguidores serão atacados em Jerusalém. Nesta altura, Cristo exercerá julgamento do céu, e seus inimigos serão destruídos; acontecerá o julgamento dos ímpios, e a ordem eterna final será iniciada.

Esta versão de pré-milenismo dispensacionalista, na qual a igreja é arrebatada antes da tribulação, é muito popular entre os evangélicos. Há outras versões que colocam o arrebatamento em outros tempos relacionados à tribulação, enquanto mantêm o restante do sistema como essencialmente o mesmo. No entanto, embora o arrebatamento antes da tribulação seja popular porque oferece aos cristãos esperança de evitarem a grande tribulação no fim da era, não acho na Escritura a menor evidência que o apoie.

O pré-milenismo histórico é um pouco diferente. Ensina que a igreja é a fase inicial do reino de Cristo, conforme profetizado pelos profetas do Antigo Testamento. A igreja tem vitórias ocasionais na história, mas, no final, falhará em sua missão. Perderá sua influência e se tornará corrupta, enquanto a impiedade mundial cresce à medida que se aproxima do final da era da igreja. A igreja passará por um tempo mundial de aflição conhecido como “a grande tribulação”, e isso marcará o fim da história como a conhecemos. No final da tribulação, Cristo retornará para arrebatar sua igreja, ressuscitar os santos e realizar o julgamento dos justos, tudo num piscar de olhos. Depois, Cristo descerá à terra com seus santos glorificados, travará a batalha de Armagedom, prenderá Satanás e estabelecerá um reino político de alcance mundial, em que Cristo reinará de Jerusalém por mil anos. No fim do milênio, Satanás será solto, e uma rebelião massiva contra o reino de Cristo acontecerá. Por fim, Deus intervirá com julgamento severo para livrar Jesus e os santos, e isso será seguido pela ressurreição e julgamento dos ímpios.

O AMILENISMO 

A posição amilenista, que sustenta alguns pontos em comum com ambas as posições pré-milenistas, acredita que a era da igreja é a era do reino profetizado no Antigo Testamento. A igreja do Novo Testamento se tornou o Israel de Deus. Os amilenistas creem que o aprisionamento de Satanás aconteceu durante o ministério terreno de Jesus; Satanás foi restringido, enquanto o evangelho era pregado ao mundo; e esta restrição continua até hoje. Visto que Cristo reina presentemente no coração dos crentes, a igreja tem certa influência na cultura em que vive, mas não transformará a cultura. À medida que nos aproximamos do fim, o mal crescerá rapidamente, resultando na grande tribulação e num anticristo pessoal. Cristo retornará para findar a história, ressuscitará e julgará todos os homens e estabelecerá a ordem eterna. Na eternidade, os redimidos podem estar no céu ou numa terra completamente renovada.

O PÓS-MILENISMO 

O pós-milenismo tem características distintivas. Primeira, sustenta que o reino messiânico de Cristo foi fundado na terra durante seu ministério terreno – a igreja é Israel. Segunda, o reino é essencialmente redentor e espiritual, em vez de político e físico. Terceira, o reino exercerá uma influência transformadora na história, uma crença que alguns têm qualificado como a característica mais distintiva da escatologia pós-milenista. É otimista quanto ao fato de que, com o passar do tempo, a igreja exercerá uma influência positiva e redentora na cultura e no mundo. Apesar de tempo de fraqueza e corrupção, a igreja triunfará finalmente sobre a impiedade deste mundo, e o reino se expandirá gradualmente na terra. Isto será realizado com o poder real de Cristo, mas sem a sua presença física na terra. Por fim, os pós-milenistas acreditam que a Grande Comissão será realizada com sucesso. O que distingue os pós-milenistas dos amilenistas e dos pré-milenistas é a crença de que a Escritura ensina o sucesso da Grande Comissão na era da igreja. 

Há diferenças entre os pós-milenistas, assim como há diferenças entre os defensores das outras posições. Há também um debate sobre um ponto de vista conhecido como preterismo, que ocorre nas formas de preterismo pleno e preterismo parcial.

PRETERISMO 

O preterismo parcial afirma que muitas das profecias do futuro se cumpriram no século I – principalmente os eventos relacionados à destruição de Jerusalém em 70 AD. A maioria dos preteristas parciais dizem que os primeiros vinte capítulos de Apocalipse já aconteceram, enquanto os dois últimos capítulos ainda têm de ser cumpridos. Preteristas parciais tendem a ser pós-milenistas em sua maneira de pensar, sustentando que o milênio (não mil anos literais) começou com o primeiro advento de Cristo. 

Por outro lado, o preterismo pleno ensina que todas as profecias referentes à vinda de Cristo – incluindo o milênio e o julgamento final – se cumpriram no século I. O preterismo pleno é considerado herege, visto que nega uma verdade essencial da Escritura: o retorno do Rei.

Independentemente da posição escatológica que sustentemos, devemos sustentá-la com humildade, porque não sabemos o futuro. Podemos todos olhar para trás, mas não sabemos a agenda de Deus para o que está por vir. Devemos ser humildes e reconhecer que nosso ponto de vista escatológico pode não ser exato. Ao mesmo tempo, muito do ensino doutrinário do Novo Testamento está relacionado a coisas futuras. Por isso, o modo como entendemos as promessas de Deus sobre o futuro tem um impacto dramático em nossa confiança pessoal e nosso envolvimento na missão que Cristo deu à igreja.


R. C. Sproul. Somos todos teólogos: uma introdução à teologia sistemática / [tradução: Francisco Wellington Ferreira]. – São José dos Campos, SP: Fiel, 2017. pg: 339-343

sábado, 17 de agosto de 2019

Teorias sobre a Volta de Cristo



Entretanto, apesar destas profecias claras, o assunto da volta pessoal, gloriosa e visível de Cristo é um assunto de controvérsia, que se deve mais especialmente à influência da alta crítica. Em meu livro The Last Days according to Jesus (Os Últimos Dias segundo Jesus), ofereço um resumo das teorias críticas que surgiram juntamente com o ataque ímpar contra a confiabilidade dos documentos do Novo Testamento e o ensino de Jesus. 17 Por exemplo, Albert Schweitzer, em sua busca do Jesus histórico, afirmou que Jesus esperava que a consumação do reino ocorresse em seu tempo de vida, razão por que enviou os 70 discípulos em sua missão (Lc 10) e ficou desapontado quando a consumação não aconteceu. De acordo com Schweitzer, na mente de Jesus, o momento crucial para a vinda do reino seria provavelmente a sua entrada em Jerusalém, e quando o reino não chegou, Jesus se permitiu ser levado à cruz. Seu clamor subsequente: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46), indica a desilusão de Jesus.

Outros eruditos têm argumentado que os escritores do Novo Testamento e o próprio Jesus esperavam e ensinavam a volta pessoal de Jesus dentro do tempo de vida da primeira geração de cristãos. Porque isso não aconteceu, eles dizem, podemos descartar seguramente os documentos do Novo Testamento como confiáveis e entender Jesus apenas como um modelo de amor. Em resposta a esta teoria crítica, C. H. Dodd falou de “escatologia realizada”, significando que todas as profecias do Novo Testamento sobre o futuro e sobre a volta de Cristo se cumpriram de fato no século I. No que diz respeito a certas declarações feitas por Jesus, como “alguns há, dos que aqui se encontram, que de maneira nenhuma passarão pela morte até que vejam vir o Filho do Homem no seu reino” (Mt 16.28), Dodd afirmou que Jesus estava se referindo não à sua volta futura, e sim a manifestações visíveis de sua glória que aconteceram na transfiguração, na ressurreição e na ascensão.

O texto mais contestado está no discurso do monte da Oliveiras, especialmente a versão escrita no evangelho de Mateus, em que Jesus descreveu eventos futuros, incluindo a destruição do templo e de Jerusalém, bem como a sua volta. Os discípulos de Jesus lhe pediram: “Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século” (Mt 24.3). Em resposta direta à indagação dos discípulos, Jesus disse: “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça” (v. 34). Parece que Jesus estava dizendo claramente que estas coisas aconteceriam no período de tempo de uma única geração humana, que, em termos judaicos, era aproximadamente 40 anos. Se a crucificação de Cristo aconteceu por volta de 30 AD, poder-se-ia esperar o cumprimento da profecia por volta de 70 AD, que é a data da destruição do templo e a queda de Jerusalém para os romanos.

Os críticos argumentam que, embora o templo tenha sido destruído e a cidade, capturada, Jesus não voltou, o que o torna um falso profeta. Entretanto, nada prova mais claramente a identidade e a integridade de Jesus Cristo do que estas profecias específicas. Os eventos que ele predisse eram totalmente inconcebíveis para os judeus, os quais imaginavam que o templo e a cidade santa eram indestrutíveis. Mas Jesus predisse especificamente estes eventos antes de acontecerem. É irônico que o próprio texto que parece funcionar como prova irrefutável da confiabilidade de Cristo e dos documentos bíblicos tenha se tornado o texto que os críticos usaram para rejeitar a confiabilidade do Novo Testamento e da integridade de Jesus.

No que diz respeito a este texto, os evangélicos dizem que geração no discurso do monte das Oliveiras não se refere a um período de vida ou a um tempo específico, mas a um tipo de pessoa. Em outras palavras, geração neste contexto significa que o mesmo tipo de pessoa que vivia em Jerusalém no tempo de Jesus viverá lá no tempo de todos estes eventos futuros. Essa é uma interpretação possível do texto, mas uma interpretação improvável, porque a palavra geração é usada consistentemente nos evangelhos com referência especial a um grupo específico de pessoas.

Outros argumentam que “tudo isto” incluía apenas os primeiros dois elementos, a destruição do templo e de Jerusalém. O preterismo pleno ensina que Jesus retornou realmente em 70 AD, e todas as profecias futuras sobre a vinda de Cristo aconteceram invisivelmente quando ele executou seu julgamento em Jerusalém. Preteristas plenos argumentam que a linguagem bíblica de profecia faz uso frequente da figura de catástrofe. No Antigo Testamento, por exemplo, os profetas descreveram o derramamento da justiça de Deus sobre cidades ímpias usando a figura da lua se tornando em sangue (Jl 2.31). E o mesmo tipo de linguagem é usado a respeito da volta de Jesus (Mt 24.2). Preteristas plenos creem que Jesus veio em julgamento sobre a nação judaica em 70 AD e que isso foi o fim do judaísmo. Isso foi o último julgamento. Foi o fim não da história e sim da era judaica, mas foi o começo da era dos gentios.

O problema do preterismo pleno é que há no Novo Testamento outros textos que indicam que temos toda razão para esperarmos um retorno visível, pessoal e futuro de Jesus. Contudo, acho que o preterismo parcial tem de ser encarado com seriedade – que um evento significativo aconteceu realmente em 70 AD. Estou convencido de que no discurso do monte das Oliveiras, Jesus estava realmente falando de seu julgamento vindouro sobre Israel, mas não acho que ele se referia à consumação final de seu reino.

Em última análise, não se sabe com certeza quando Jesus voltará. No entanto, nós, como o povo de Deus, temos uma bendita esperança e toda a razão para crermos na integridade das palavras de Jesus. Suas promessas são infalíveis, e aguardamos seu retorno pessoal, visível e glorioso.


Somos todos teólogos: uma introdução à teologia sistemática / R. C. Sproul ; [tradução: Francisco Wellington Ferreira]. – São José dos Campos, SP: Fiel, 2017. p 347-349


quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Israel é o relógio de Deus no Mundo?



Essa expressão “relógio de Deus no mundo” é usada por muitos cristãos que vivem antenados no que acontece com o Estado Israelense. Para essas pessoas, o reaparecimento de Israel como nação e os constantes conflitos que ocorrem por aquelas bandas ganham ares escatológicos e são vistos como o cumprimento das profecias bíblicas acerca do fim dos tempos e o retorno de Cristo.

Devido as recentes notícias de conflitos entre palestinos e israelenses, choveu no Facebook campanhas de oração por Israel. Devemos apenas lembrar que do lado da Palestina estão morrendo pessoas, terroristas e não-terroristas, sendo assim, nossas orações devem se estender aos não-israelenses que também estão sendo vitimados. O direito à autodefesa é inegável, não entrarei nesse mérito. Quero apenas alertar a Igreja do Senhor, que o verdadeiro Israel de Deus deixou de ser uma nação há muito tempo. Mais precisamente há dois milênios, quando a Igreja de Cristo foi estabelecida na terra.

Não estou querendo com isso dizer que os fatos históricos são alheios a ação soberana de Deus. Obviamente acredito que a Trindade é quem faz a história, e não há nada desde a criação até o retorno de Cristo que não seja direcionado pela Divindade. Todavia questiono a clareza de algumas interpretações escatológicas. Sinceramente não acredito que certas profecias atribuídas ao futuro de Israel sejam para o Estado formado em 1948 pela ONU e com total apoio estadunidense. 

Vejam como existem algumas coisas bem forçadas; li num site os supostos cumprimentos das profecias bíblicas:


PROFECIA: “Também trarei do cativeiro o meu povo Israel; e eles reedificarão as cidades assoladas, e nelas habitarão; plantarão vinhas, e beberão o seu vinho; e farão pomares, e lhes comerão o fruto. Assim os plantarei na sua terra, e não serão mais arrancados da sua terra que lhes dei, diz o senhor teu Deus.” (Amós 9.13-14).

CUMPRIMENTO: Israel é o 3º maior produtor de flores, está entre as nações com o maior IDH do planeta e supera até os EUA no Índice de Esperança de Vida (alguém sabe que índice é esse?).

PROFECIA: “E vos tomarei dentre as nações, e vos congregarei de todas as terras, e vos trarei para a vossa terra.” (Ezequiel 36.24).
CUMPRIMENTO: Após 19 séculos, com a criação do moderno Estado de Israel, milhares de judeus dispersos pelo mundo, saíram de 120 nações para formar o seu país e assim cumprir o que está escrito na Bíblia. 

Ambos os profetas falam de coisas que na época eram futurísticas, todavia para nós são acontecimentos presentes nos anais da História. Amós profetizou antes do Cativeiro Babilônico, quando Nabucodonosor destruiu Jerusalém, profanou e saqueou o Templo e levou cativo milhares de milhares de judeus. Ezequiel foi profeta contemporâneo ao exílio. O cativeiro mencionado é o da Babilônia, e o regresso do cativeiro foi cumprido pela geração de Esdras e Neemias. Deus usou os Persas - principalmente Ciro - para punir os babilônicos e remir os israelitas. 

Ler estes autores com as lentes da escatologia moderna é cair num erro primário de quem desconhece a história daqueles que outrora foram chamados para serem luzeiros entre as nações, o povo que foi o receptor da Revelação Específica que culminou no ministério de Jesus Cristo. Por isso muito cuidado ao afirmarmos determinadas coisas, pois, estaremos dizendo aquilo que o Senhor nunca disse, acrescentando algo a Palavra. Deslize gravíssimo!

As questões belicosas entre Israel e a Faixa de Gaza envolvem interesses políticos e econômicos que estão aquém das promessas bíblicas. Mas daí você pergunta: Deus prometeu que aquela terra seria dos israelitas ou não prometeu? Sim, prometeu. Contudo não devemos esquecer que a promessa está inserida num contexto aliancista (Ex 19:5). Israel descumpriu a sua parte e por isso não tem que reclamar coisa alguma. Cristo, em certa ocasião, afirmou:

“Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos”. Mateus 21:43

E esta nação não é daqui. É a nação de forasteiros composta por cidadãos do Céu. As bênçãos que eram de Israel agora estão em posse da Igreja. E porquê? Porque os israelenses negaram o Messias. Essa negação fez com que pessoas de outros povos se juntassem a mesa com Abraão, Isaque e Jacó (Mt 8:11-12). Somos seus descendentes não por consanguinidade, mas sim mediante a Fé. Não basta descender de Abraão, tem que produzir frutos de arrependimento (Lc 3:8), e estes frutos foram produzidos por todos aqueles que receberam a Cristo como seu Senhor e Salvador, mediante a atuação do Espírito Santo, que é o que convence o homem de seus pecados (Jo 16:8).

Aconselho que diante de tudo o que esteja acontecendo no Oriente Médio, possamos ler os fatos com o olhar de misericórdia do Senhor. No momento em que escrevia esse texto, havia 120 mortes do lado da Palestina e 0 mortes do lado de Israel. E o mais triste nisso é que muitas crianças inocentes estão sendo assassinadas. O relógio de Deus no mundo é a Igreja, e esta ao cumprir o Ide coopera para a volta de Jesus (Mt 24:14). Há “filhos de Abraão” também entre os árabes. É necessário pregar para que o Espírito desperte os eleitos. Atentemos mais para a nossa missão e continuemos a orar por Israel, pela Palestina e pelo mundo inteiro. E que Deus tenha piedade do seu povo (a Igreja). 


Soli Deo Gloria.


terça-feira, 30 de julho de 2019

As Duas Testemunhas


                                                                     
Se as duas testemunhas foram mortas pela besta (Ap 11.7), não há dúvidas que já estavam ativas no primeiro século. Compreender a relação entre os mártires e a destruição de Jerusalém e do templo é a chave para compreender a visão das duas testemunhas. Israel é descrita no Apocalipse na figura de uma mulher adultera-prostituta que havia traído seu Deus-marido com a besta-Roma. Sendo assim, a nação se tornou passiva de pena capital por adultério (cf. Lv 20.10, Dt 22.22-24). No caso da execução da adultera Israel, as testemunhas eram a Igreja perseguida e mártir[1]. Eles eram testemunhas da iniquidade de Israel e por isso foram instrumentos para sua execução (Ap 6.9, 8.3-5).

O número dois aponta para o fato de que eram necessárias pelo menos duas testemunhas para que qualquer pena capital fosse aplicada: “Pela boca de duas ou de três testemunhas, será morto o que houver de morrer; pela boca duma só testemunha não morrerá”. (Dt 17.6) O significado primário do número dois é simplesmente dizer que a Igreja do primeiro século seria como testemunhas no tribunal celestial para a execução da Israel que era como uma mulher adultera. Todavia, devemos considerar também que o número dois aponta para o padrão estabelecido por Jesus para que o Evangelho fosse pregado a Israel:

“Depois disso designou o Senhor outros setenta, e os enviou adiante de si, de dois em dois, a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir. E dizia-lhes: Na verdade, a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara. Ide; eis que vos envio como cordeiros ao meio de lobos. Não leveis bolsa, nem alforje, nem alparcas; e a ninguém saudeis pelo caminho. Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: Paz seja com esta casa. E se ali houver um filho da paz, repousará sobre ele a vossa paz; e se não, voltará para vós.

Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que eles tiverem; pois digno é o trabalhador do seu salário. Não andeis de casa em casa. Também, em qualquer cidade em que entrardes, e vos receberem, comei do que puserem diante de vós. Curai os enfermos que nela houver, e dizer-lhes: É chegado a vós o reino de Deus.

Mas em qualquer cidade em que entrardes, e vos não receberem, saindo pelas ruas, dizei: Até o pó da vossa cidade, que se nos pegou aos pés, sacudimos contra vós. Contudo, sabei isto: que o Reino de Deus é chegado. Digo-vos que naquele dia haverá menos rigor para Sodoma, do que para aquela cidade”. 
                                                                                (Lucas 10.1-12)

Aqui Jesus fala dos discípulos sendo enviados de dois em dois e recebendo poder até mesmo para fazer descer do céu o juízo de Deus sobre aqueles que não recebessem a pregação, o mesmo que vemos com as duas testemunhas (Ap 11.6). É importante notar também que Jesus relaciona tais cidades rebeldes com Sodoma da mesma maneira que acontece na visão das duas testemunhas (Ap 11.8). Nos Atos dos Apóstolos vemos este mesmo padrão sendo seguido pelos apóstolos. Pedro e João curaram o homem coxo de nascença na porta do templo (At 3.1-8), testemunharam para os israelitas (At 3.12-26) e depois para os principais sacerdotes e anciãos (At 4.1-23). Depois os dois foram chamados de Jerusalém para orarem pela descida do Espírito Santo sobre os samaritanos (At 8.14-17). Posteriormente, lemos sobre como Paulo e Barnabé foram companheiros ministeriais, sendo reconhecidos como as colunas do apostolado dos gentios (Gl 2.9).

O Apocalipse diz também que as duas testemunhas “são as duas oliveiras e os dois candeeiros que estão diante do Senhor da terra”. (Ap 11.4) É importante perceber que ele diz são (no tempo presente) porque as “duas testemunhas” já estavam em plena atividade quando o Apocalipse foi escrito. A comparação lembra as palavras de Zacarias:

“Falei mais, e lhe perguntei: Que são estas duas oliveiras à direita e à esquerda do castiçal? Segunda vez falei-lhe, perguntando: Que são aqueles dois ramos de oliveira, que estão junto aos dois tubos de ouro, e que vertem de si azeite dourado? Ele me respondeu, dizendo: Não sabes o que é isso? E eu disse: Não, meu senhor. Então ele disse: Estes são os dois ungidos, que assistem junto ao Senhor de toda a terra”.
                                                                                (Zacarias 4.11-14)

Os dois ungidos do livro de Zacarias eram Josué – o sacerdote – e Zorobabel – o rei (Zc 3-4; cf. Ed 3,5-6; Ag 1-2). Mas o Apocalipse começa mencionando que estes dois ofícios se cumpriram em Jesus Cristo (Ap 1.5) e por extensão na Igreja como um todo (Ap 1.6). Por isso as testemunhas são identificadas desta forma. A Igreja possui o sacerdócio real.

Sobre o poder da Igreja, o texto diz:

“E, se alguém lhes quiser fazer mal, das suas bocas sairá fogo e devorará os seus inimigos; pois se alguém lhes quiser fazer mal, importa que assim seja morto. Elas têm poder para fechar o céu, para que não chova durante os dias da sua profecia; e têm poder sobre as águas para convertê-las em sangue, e para ferir a terra com toda sorte de pragas, quantas vezes quiserem”. 
                                                                                (Apocalipse 11.5-6)

O fogo saindo da boca equivale ao que foi dito ao profeta Jeremias:

“Dai voltas às ruas de Jerusalém, e vede agora, e informai- vos, e buscai pelas suas praças a ver se podeis achar um homem, se há alguém que pratique a justiça, que busque a verdade; e eu lhe perdoarei a ela… Portanto assim diz o Senhor, o Deus dos exércitos: 

Porquanto proferis tal palavra, eis que converterei em fogo as minhas palavras na tua boca, e este povo em lenha, de modo que o fogo o consumirá. Eis que trago sobre vós uma nação de longe, ó casa de Israel, diz o Senhor; é uma nação durável, uma nação antiga, uma nação cuja língua ignoras, e não entenderás o que ela falar”. 
                                                                                (Jeremias 5.1,14-15)

“Não é a minha palavra como fogo, diz o Senhor, e como um martelo que esmiúça a pedra?” 
                                                                                (Jeremias 23.29)

Não devemos entender com isso que Deus literalmente transformou as palavras de Jeremias em fogo ou que o povo de Israel foi literalmente transformado em lenha. Deus estava simplesmente dizendo que os oráculos de Jeremias trariam juízo sobre o povo. No contexto de Jeremias, isso se cumpriu por meio do Império Babilônico. Com base nisso, devemos entender que o fogo saindo da boca das duas testemunhas no Apocalipse se refere aos seus oráculos que trariam juízo sobre Israel da mesma forma que havia acontecido no tempo de Jeremias. A Igreja tem um ministério profético de proclamar a Palavra de Deus como teve Jeremias. Da mesma maneira, “o poder para fechar o céu, para que não chova durante os dias da sua profecia” e o “poder sobre as águas para convertê-las em sangue, e para ferir a terra com toda sorte de pragas, quantas vezes quiserem” (Ap 11.6) tem como objetivo comparar o ministério profético da Igreja com Elias e Moisés. Isto se cumpriu à medida que o juízo de Deus caiu contra seus perseguidores em resposta as orações dos santos. O que Jeremias, Elias e Moisés fizeram em sua própria época, a Igreja fez no primeiro século e precisa fazer mais uma vez agora:

“Então estendeu o Senhor a mão, e tocou-me na boca; e disse- me o Senhor: Eis que ponho as minhas palavras na tua boca. Olha, ponho-te neste dia sobre as nações, e sobre os reinos, para arrancares e derribares, para destruíres e arruinares; e também para edificares e plantares”. 
                                                                                (Jeremias 1.9-10)

O texto fala também de como a Igreja seria perseguida e morta pela besta:

“E, quando acabarem o seu testemunho, a besta que sobe do abismo lhes fará guerra e as vencerá e matará. E jazerão os seus corpos na praça da grande cidade, que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi crucificado”.
                                                                                (Apocalipse 11.7-8)

O que é dito aqui é equivalente ao que é dito no capítulo 13:

“Também lhe foi permitido fazer guerra aos santos, e vencê-los; e deu-se-lhe autoridade sobre toda tribo, e povo, e língua e nação”. 
                                                                                (Apocalipse 13.7)

A vitória é real, mas é temporária e não é final. Os mártires foram perseguidos, maltratados e mortos. Mas por meio da morte, eram transportados ao céu – o templo de Deus – para estarem com o Cordeiro:

“… segundo a minha ardente expectativa e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a ousadia, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro… tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor”.
                                                                                (Filipenses 1.20-23)

“Disse-me ele: Estes são os que vêm de grande tribulação, e levaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que está assentado sobre o trono estenderá o seu tabernáculo sobre eles. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem cairá sobre eles o sol, nem calor algum; porque o Cordeiro que está no meio, diante do trono, os apascentará e os conduzirá às fontes das águas da vida; e Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima”. 
                                                                                (Apocalipse 7.14-17)

“E vi como que um mar de vidro misturado com fogo; e os que tinham vencido a besta e a sua imagem e o número do seu nome estavam em pé junto ao mar de vidro, e tinham harpas de Deus. E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, ó Senhor Deus Todo-Poderoso; justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos séculos. Quem não te temerá, Senhor, e não glorificará o teu nome? Pois só tu és santo; por isso todas as nações virão e se prostrarão diante de ti, porque os teus juízos são manifestos”.
                                                                                (Apocalipse 15:2-4)

A visão das duas testemunhas descreve o martírio e a vitória celestial da Igreja:

“E, quando acabarem o seu testemunho, a besta que sobe do abismo lhes fará guerra e as vencerá e matará. E jazerão os seus corpos na praça da grande cidade, que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi crucificado.
Homens de vários povos, e tribos e línguas, e nações verão os seus corpos por três dias e meio, e não permitirão que sejam sepultados. E os que habitam sobre a terra se regozijarão sobre eles, e se alegrarão; e mandarão presentes uns aos outros, porquanto estes dois profetas atormentaram os que habitam sobre a terra. E depois daqueles três dias e meio o espírito de vida, vindo de Deus, entrou neles, e puseram-se sobre seus pés, e caiu grande temor sobre os que os viram. E ouviram uma grande voz do céu, que lhes dizia: Subi para cá. E subiram ao céu em uma nuvem; e os seus inimigos os viram.
   E naquela hora houve um grande terremoto, e caiu a décima parte da cidade, e no terremoto foram mortos sete mil homens; e os demais ficaram atemorizados, e deram glória ao Deus do céu”.
                                                                                 (Apocalipse 11.7-13)

 Flávio Josefo narrou este terrível terremoto em Guerra dos Judeus 4.4.5. As duas testemunhas são mortas pela besta-Roma e seus corpos jazem na grande cidade (cf. Ap 17.8), a prostituta-Jerusalém. Isto simplesmente reflete o fato de que a perseguição da Igreja no primeiro século aconteceu por uma aliança entre o Império Romano e os líderes judaicos[2] da mesma maneira que havia acontecido com Jesus. O texto fala também de uma visão das duas testemunhas na nuvem. É possível que isso tenha se cumprido no que foi relatado por Flávio Josefo:

 “Alguns dias depois da festa, no dia vigésimo primeiro do mês de Iyar, um fenômeno prodigioso e incrível aconteceu: suponho que o relato pareceria uma fábula, caso não tivesse sido relatado por pessoas que a viram e caso tais eventos que se lhe seguiram não fosse de uma natureza tão considerável a ponto de merecer tais sinais. Antes do nascer do sol viram-se carruagens e soldados entre as nuvens…”[3]

 Tacitus relatou o mesmo acontecimento:

 “No céu apareceu uma visão de exércitos em conflito… Um relâmpago repentino vindo das nuvens iluminou o templo… A maioria estava convencida de que as antigas escrituras de seus sacerdotes indicavam que o tempo presente seria a época exata em que o oriente iria triunfar e da Judeia viria homens destinados a governar o mundo”.[4]

 O Apocalipse fala dos santos como “os exércitos que estão no céu” (Ap 19.4). Portanto, é provável que a visão que teve o povo de Jerusalém de carruagens e soldados no céu tenha sido uma visão da Igreja mártir gloriosa testemunhando no tribunal celeste contra a prostituta-Israel para que fosse executada.

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Notas
[1] É interessante notar que a palavra traduzida como testemunha é μαρτυρία –
marturia – no grego, de onde vem a palavra mártir no português.

[2] Um fato recorrente nos Atos dos Apóstolos.

[3] Flávio Josefo. Guerra dos Judeus.

[4] Tacitus, Histories, 5:13