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domingo, 21 de junho de 2020

No Horizonte, Meteórios e uma Grande Tribulação





Dias desses chego em casa e meu filho mais velho, Yago, 6 anos, me diz: “Papai, um meteoro caiu 'num lugar'... 'cê' sabia que eles podem destruir a gente?”. Como eu não assisto televisão, ou o faço raramente, pensei que fosse algo visto em algum filme ou seriado. Não era. Primeiro, se não estou engando, aconteceu em algum lugar na Russia, e agora, até mesmo algumas cidades brasileiras experimentam o fenômeno, que é bem assustador, claro. Ainda bem que já estamos em 2013, do contrário, a tal “profecia maia” estaria fazendo um estrago danado na mente de certa gente... No entanto, há quem diga que estamos, sim, vendo um prenuncio do “fim do mundo” agora mesmo, e que o mundo está prestes a entrar no sinistro tempo da Grande Tribulação.

Talvez...

Minha opinião pessoal? Acredito que ainda falta muito meteoro para conhecermos o “fim do mundo” como o conhecemos. Teologicamente, um dos meus trabalhos nos últimos anos tem sido o de negar e “derrubar” [não sem muitas limitações!] um dos conceitos mais nocivos para a Igreja moderna; refiro-me ao dispensacionalismo. Lembrando que eu já fiu um grande defensor desta tese anteriormente. E sei que tal declaração despertará a fúria de alguns leitores, talvez de muitos. Saibam, no entanto, que não sou gnóstico, então não condiciono a salvação a aderência a qualquer conjunto de doutrinas, além daquela que é o coração da Fé Cristã, como expressa nos Credos da Igreja indivisa, cujo resumo é Cristo. Se eu gostaria que todos os cristãos fossem Reformados? Sim! Mas sei que a salvação não é exclusividade da minha tradição teológica. Ainda assim, continuo afirmando quão nocivos são determinados erros teológicos, dentre eles, o dispensacionalismo.

Essas palavras iniciais se justificam, a fim de não causar nenhum mal entendido com o uso que faço aqui da expressão “grande tribulação”. Aqueles que me leem sabem que nego que vá existir uma Grande Tribulação, como descrita pelo dispensacionalismo. Sete anos de Grante Tribulação, dividos em dois períodos de 3 anos e meio, um de paz, e outro de “grande aflição”. No meio, ou em algum momento, o reinado universal de um ser a ser identificado como o Anticristo. Mas antes de tudo isso, o Arrebatamento da Igreja, levada aos céus, escapando dos “Aís”, que se abatem sobre o resto do mundo. Há alguns que acham que a Igreja estara por aqui, mas no resto parecem concordar. Eu nego tudo isso, exceto, claro, que em algum momento (amanhã ou daqui a 30 milhões de anos), Cristo certamente virá e estará corporalmente com sua Noiva, a Igreja. Há outras interpretações, quanto aos detalhes, inclusibe, mas aí está, em resumo, o que é mais popular.

Esses dois parágrafos acima foram uma negativa. Positivamente, a cerca da Grande Tribulação, sustendo dois pontos principais:

1) Que exegeticamente, o período literal de Grande Tribulação profetizado por Cristo já aconteceu, por volta do Ano 70 da Era Cristã. Essa interpretação se sustenta em declarações bíblicas, como “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam” (S. Mateus 24.34, S. Marcos 13.30).

2) Que, apesar de ser um evento passado, os atos de Deus naquele momento da História, bem como em qualquer outro momento, nos trazem princípios valiosos sobre como se dá o agir de Deus com os homens. Em outras palavras, o Juízo de Deus contra a Sinagoga de Satanás (Judaísmo), profetizado por Cristo e pelos apóstolos, já veio, no entando, Deus ainda hoje traz juízo contra o pecado dos homens. Certamente, jamais haverá outra tribulação como aquela - “como nunca houve... nem tampouco há de haver” (S. Mateus 24.21) - o que não significa que não haverá outras tribulações...

E, assim como poderá haver outros momentos de tribulação, haverá com ainda maior certeza, outras vitórias inevitáveis da Religião Cristã ao longo da História. Por isso gosto de chamar esse pensamento de “Teologia da Esperança”, ainda que seja, na verdade, muito dura para os rebeldes e apostatas.

Para entender melhor esse Juízo e essa esperança, se faz necessário compreender a causa da Grande Tribulação, contra Israel. A bem da verdade, seria mais correto falarmos em causas, no plural, pois podemos identificar mais de uma, no entanto, enfocaremos uma delas, por brevidade. Parte importante da investigação está no capítulo 17 do Apocalipse, onde encontramos a identidade da Falsa Esposa, a Grande Prostituta.

Pois bem, a “prostituição” e o “adultério” são metáforas comuns utilizadas pelas Escrituras, desde o Antigo Testamento, para descrever a infidelidade espiritual de cidades e nações infiéis, inclusive Israel, quando este se afastava da Lei do Senhor. De modo que a Grande Prostituta é uma metáfora a respeito da Falsa Igreja, aquela que carrega o nome do Deus de Israel, mas nega-o com suas obras. E no Novo Testamento, essa Falsa Igreja é a nação de Israel, a “Sinagoga de Satanás”. Este é contexto histórico, profético do Apocalipse. Mesmo assim, sabemos que tem existido falsas igrejas ao longo dos séculos, muitas tem sido as rameiras que sujam o santo nome do Senhor. Do mesmo modo, Deus tem sempre mantido uma Igreja Fiel – que não se prostra diante de Baal - a qual não apenas é perseguida pela Prostituta, mas também a denuncia e, ainda melhor, sobrevive a ela. Foi assim no Novo Testamento. Foi assim em outras Eras. E será assim com a Igreja de hoje.

O Anticristo está entre nós. Sempre esteve. Grandes tribulações podem estar a porta, uma vez que a apostasia insiste em nos espreitar além dos umbrais. Não tem haver com meteoros. Tem haver com fidelidade e apostasia. Também tem haver com avivamento. Mas, cá entre nós, qualquer grande tribulação que possa vir (e que não é mesma profetizada por Cristo), ou que aqui já esteja (muitos cristãos a vivem agora mesmo em boa parte do mundo), não é o que realmente interessa. O que interessa é que a Igreja, a Fiel, sempre sobrevive aos anticristos. Sempre! Isso é interessante, pois é comum ver pessoas desejando que a Igreja sofra, que os cristãos sejam perseguidos, já que certamente é uma glória maravilhosa sofrer por Cristo. Tudo bem. No entanto, o fim último das perseguições não é o sofrimento da Igreja, mas a sua vitória! E eu não falo de um vitória no mundo “por vir”, “além do jordão”, falo de uma vitória histórica, com a Igreja tornando visivel o Reino de Cristo, aqui e agora.

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"O Anticristo está entre nós. Sempre esteve. Grandes tribulações podem estar a porta, uma vez que a apostasia insiste em nos espreitar além dos umbrais".

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Eu fico apreensivo com toda essa história sobre meteoros, afinal, eu não sou o Super-Man, certo? Imagine estar andando na praça da Sé e de repente... Nossa! Nem pensar nisso que quero! Agora, os meteoros nada me dizem sobre o tempo estar se findando no relógio de Deus; com todo respeito a quem pensa diferente, a minha búsola, felizmente, é outra!

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"O que interessa é que a Igreja, a Fiel, sempre sobrevive aos anticristos. Sempre! Isso é interessante, pois é comum ver pessoas desejando que a Igreja sofra, que os cristãos sejam perseguidos, já que certamente é uma glória maravilhosa sofrer por Cristo. Tudo bem. No entanto, o fim último das perseguições não é o sofrimento da Igreja, mas a sua vitória! E eu não falo de um vitória no mundo “por vir”, “além do jordão”, falo de uma vitória histórica, com a Igreja tornando visivel o Reino de Cristo, aqui e agora.

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Marcelo Lemos é bacharel em teologia, diácono da igreja Anglicana reformada do Brasil, formado em Gestão Financeira, estudando Administração, casado e pai de dois filhos.

 

Fonte: www.olharreformado.blogspot.com.br
Acessado dia 3 de Outubro de 2013

sábado, 6 de junho de 2020

O que você nunca soube sobre o homem da iniquidade




Um dos textos mais disputados pelos futuristas é o de 2ª Tessalonicenses 2:1-12, que fala sobre a vinda do Senhor e a manifestação do homem da iniquidade. Para muitos, senão para a maioria, parece ser um texto de difícil interpretação. Mas, quando nos voltamos para dois mil anos no tempo, e nos colocamos entre os primeiros leitores da Palavra, o texto em questão torna-se surpreendentemente esclarecedor. Neste artigo, vou analisar versículo por versículo (até o verso 12) desse texto de Paulo aos tessalonicenses.

A "vinda do Senhor", "a nossa reunião com Ele" e "o Dia do Senhor"   

  “Irmãos, no que diz respeito à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião com ele, nós vos exortamos a que não vos demovais da vossa mente, com facilidade, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como se procedesse de nós, supondo tenha chegado o Dia do Senhor”.
                                                                           - 2ª Tessalonicenses 2:1-3

   De qual “vinda do Senhor” Paula fala? Que “reunião” é essa? E que “dia do Senhor” é esse? Vamos começar pela vinda do Senhor. Muito provavelmente, depois da 1ª carta aos tessalonicenses, a qual Paulo fala da ressurreição, arrebatamento e do dia do Senhor, alguém havia escrito uma carta para os crentes de Tessalônica com a assinatura de Paulo, deixando-os assustados ao ponto de pensarem que o Dia do Senhor havia chegado. A frase “havia chegado” é a tradução da palavra grega ἐνέστηκεν, que uma tradução literal seria “tivesse vindo”.

   É justamente aqui que temos uma grande questão: os tessalonicenses estavam pensando sobre a ressurreição e o arrebatamento de 1ª Tessalonicenses 4, ou sobre o Dia do Senhor de 1ª Tessalonicenses 5? É muito importante termos essas duas perguntas em mente, pois, ao contrário do que muitos pensam, o assunto de 1ª Tessalonicenses 4 é diferente do assunto de 1ª Tessalonicenses 5. É justamente o capítulo 2 de 2ª Tessalonicenses que ajuda esclarecer qualquer confusão da carta de 1ª Tessalonicenses.

   Eu não acredito que os tessalonicenses estivessem perturbados com a possibilidade de ter chegado a Segunda Vinda descrita em 1ª Tessalonicenses 4. As palavras de Paulo são tão claras nesses versículos que era só os crentes de Tessalônica olharem ao redor para verem que não havia mortos ressuscitados e nem crentes sendo arrebatados. Além disso, o texto é muito claro quando diz que a preocupação dos tessalonicenses era a respeito se o “Dia do Senhor” havia chegado. Não tenho dúvidas de que o “Dia do Senhor” descrito em 1ª Tessalonicenses capítulo 5 é uma profecia da destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. Era esse evento que preocupava os crentes de Tessalônica. Alguém perguntará: “O que o juízo divino da destruição de Jerusalém afetaria aos crentes de Tessalônica?”               

   Quem estuda o Preterismo sabe que o julgamento do ano 70 d.C. ficou concentrado em Jerusalém e teve consequências em todo o Império Romano. Leia, a seguir, um outro artigo meu diz sobre isso:

   “Precisamos entender que, para os judeus, a destruição de Jerusalém não era considerada apenas como um evento localizado, mas tinha implicações cósmicas e eternas. A cidade de Jerusalém e seu Templo para o judaísmo era o centro do mundo, enquanto que os demais países eram considerados como os “confins da terra”. O judeus acreditavam que se Jerusalém se encontrava em paz, era sinal de que tudo estava bem com a criação e seu relacionamento com seu Deus (Salmos 41:11). A queda da cidade de Jerusalém e a destruição de seu Templo significava que a relação com Deus havia sido cortada (Confira o livro de Lamentações).

   O Senhor Jesus Cristo desmente a ideia de que a Grande Tribulação localizada em Jerusalém não teria influência na vida de outros países ao redor, ou mesmo longe de Israel.  Quando profetizou o fim do Templo, Ele disse que antes de sua queda a mensagem do evangelho do Reino seria pregada “por todo o mundo” (oikoumene) "para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim" (Mateus 24:14). Se o evento da Grande Tribulação não tivesse influencia em todo o Império Romano, por que seria pregado em Atenas, Roma, Corinto, Espanha etc.? É interessante que o uso da palavra grega oikoumene para “mundo” em Mateus 24:14, é a mesma usada por Paulo em Atos 17:31. Isto indica que claramente a mensagem da queda de Jerusalém seria conhecida por todos ao redor e teria implicações em suas vidas.

   O Sermão profético descrito em Mateus 24 é também falado na passagem paralela de Lucas 21. O evangelho de Lucas é bem mais claro e direto sobre a questão da localidade da Grande Tribulação. No versículo 25, o Senhor Jesus descreve que na queda de Jerusalém, haveria “sobre a terra, angústia entre as nações em perplexidade por causa do bramido do mar e das ondas; haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos céus serão abalados” (Lucas 21:25-26).

   Temos nessas declarações de Jesus que o mesmo mundo que ouviria as advertências do julgamento sobre Jerusalém, seria também o mesmo mundo que seria julgado em Atos 17:31. Sendo assim, o mundo romano estaria em grande angústia no momento da queda de Jerusalém. O texto de Apocalipse 3:10 confirma a mesma ideia quando Jesus promete a igreja de Filadélfia (igreja longe de Jerusalém), que “eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra”. A palavra "mundo", mais uma vez, é oikoumene. É interessante que ao mesmo tempo em que a provação viria sobre o "mundo inteiro", em paralelo, viria “para experimentar os que habitam sobre a terra”, sendo esta frase uma referência a “terra de Israel”.[1]

  Fica claro, então, que a preocupação dos tessalonicenses era com o "Dia do Senhor" que traria julgamento em todo o mundo romano, principalmente em Jerusalém. No mesmo contexto em que fala do Dia do Senhor em 1ª Tessalonicenses capítulo 5, Paulo exorta:

   “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”.
                                                                  - 1ª Tessalonicenses 5:23

   Uma vez que além do espírito e da alma estava também incluído o “corpo” dos tessalonicenses na santificação, para a vinda do Senhor, isto significa que essa vinda estava próxima deles. Com certeza os tessalonicenses não poderiam conservar irrepreensível para a vinda de Cristo um corpo que estava se decompondo na sepultura. Claramente essa vinda estava perto deles, e eles estariam vivos para vê-la, e era a vinda em julgamento contra Jerusalém e em todo o mundo romano.

E a nossa "reunião" com Ele?

   Se o Dia do Senhor é o juízo sobre Jerusalém e sobre o mundo romano, o que seria “à nossa reunião com ele” (1ª Tessalonicenses 2:1)? Muita gente pensa que essa “reunião” trata-se do arrebatamento da Igreja. Aqui está mais um engano!  

   A “reunião” aqui em questão não se trata de um “arrebatamento” para os céus, pois a palavra grega para reunião é episinagoge e tem o significado de “sinagoga de cima”, “o mais alto encontro”, “a mais alta reunião”. Era essa reunião que o apóstolo Paulo esperava em seus dias.

   As igrejas cristãs no primeiro século eram chamadas de “sinagogas”. O que temos principalmente na queda de Jerusalém no ano 70 d.C. é a reunião dos eleitos de Deus no Corpo de Cristo. A Igreja ao invés de ficar perdidamente separada sem a referência de Jerusalém e seu Templo é reunida em uma única sinagoga. Este era o plano de Deus para Israel que não foi cumprido devido a rebeldia dessa nação, conforme Mateus 23:37:

   “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar [episinagoge] os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!”

   A “reunião” futura dos filhos de Deus em uma só nação espiritual, o Israel de Deus, profetizada no Antigo Testamento e que aconteceria depois da morte, ressurreição e Ascenção de Cristo é profetizada em várias passagens (Deuteronômio 30:3; João 10:16; 11:51-52; Tiago 2:1-2; Hebreus 10:25).

   Uma vez que a Igreja passa a ser a verdadeira Sinagoga de Deus, as sinagogas judaicas espalhadas pelo mundo foram consideradas “sinagogas de Satanás” (Apocalipse 2:9; 3:9). A queda de Jerusalém no ano 70 d.C. marca a vinda de Cristo em juízo, momento este em que os anjos “reúnem” os “escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus” (Mateus 24:31). Era esta a “reunião” que Paulo esperava em seu tempo, a inauguração da Sinagoga de Deus, não mais confinada no pequenino país de Israel, e nem mais com um templo físico, mas agora o Templo é o Corpo de Cristo espalhado pelo mundo.

O homem da iniquidade

   “Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, 4o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus".
                                                                       - 1ª Tessalonicenses 2:3-4

   O apóstolo Paulo passa agora a consolar os tessalonicenses mostrando que o Dia do Senhor não havia chegado ainda, pois precisava ser precedido de dois eventos: a apostasia e a revelação do homem da iniquidade. Além de 1ª Tessalonicenses 2, a palavra “apostasia” aqui em questão aparece mais uma vez em Atos 21:21. Essa palavra pode, historicamente falando, se aplicar a uma revolta política ou religiosa. O Dr. Kenneth Gentry Jr. comenta:

   “Um bom caso pode ser feito em suporte da visão que o termo fala da apostasia/rebelião judaica contra Roma. Josefo sem dúvida fala da Guerra Judaica como uma apostasia contra os Romanos (Josefo, Life 4). Provavelmente Paulo une os dois conceitos de apostasia religiosa e política aqui, embora enfatizando a erupção da Guerra Judaica, que era o resultado da sua apostasia contra Deus”.[2]

   Portanto, não se trata de uma apostasia futura da Igreja, antes da Segunda Vinda de Cristo. Trata-se de uma apostasia que ocorreria antes da destruição de Jerusalém no ano 70 d.C.

   Em relação ao homem da iniquidade, quando no verso 4 de 2ª Tessalonicenses capítulo 2 diz que ele “se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus”, temos uma possível referência ao imperador romano Nero. Se é assim, quando que ele se assentou como Deus no templo de Jerusalém? perguntará alguns. De acordo com o Dr. Kenneth Gentry Jr., a construção gramatical grega dessa frase indica “um propósito tencionado, não necessariamente um propósito consumado”. Houve outros imperadores, como Calígula, que tiveram a intenção de assentar-se no “templo de Deus” em Jerusalém, com o desejo de “mostrar que é Deus”. De todos os maus intentos e propósitos dos imperadores romanos, somente o futuro imperador Tito foi quem concluiu a devastação de Jerusalém iniciada por Nero e profanou o templo oferecendo sacrifícios com grandes aclamações de alegria. Todos os fatos históricos apontam que está correto o entendimento preterista da passagem de 2ª Tessalonicenses 2:4.

   “Não vos recordais de que, ainda convosco, eu costumava dizer-vos estas coisas?
   E, AGORAsabeis o que o detém, para que ele seja revelado somente em ocasião própria".
                                                    - 2ª Tessalonicenses 2:5-6 - o grifo é meu.

   Um dos grandes debates dos interpretes modernos é sobre “quem” detém o homem da iniquidade de se manifestar. Uns dizem que é o Espírito Santo que será retirado da Terra, outros dizem que é a Igreja (enquanto a mesma estiver na Terra impede a manifestação do Anticristo). Acredito que enquanto ficam especulando, os intérpretes modernos PERDEM O PONTO PRINCIPAL sobre os “indicadores de tempo” - os quais mostram sobre QUANDO o homem da iniquidade iria se manifestar. A palavra “agora” aparece duas vezes (vs. 6-7) e a frase “já o mistério da injustiça opera”, uma vez (vs. 7), indicando assim a proximidade do cumprimento da profecia para aqueles dias. Enquanto os intérpretes modernos ficam discutindo sobre a identidade de “quem” detém o homem da iniquidade, os tessalonicenses há dois mil anos sabiam muito bem, pois Paulo disse: “E agora vós SABEIS o que o detém”. O homem da iniquidade foi um contemporâneo dos tessalonicenses, e não será um suposto Anticristo em nosso futuro.  

A derrota do homem da iniquidade

   “Com efeito, o mistério da iniquidade já opera e aguarda somente que seja afastado aquele que agora o detém; então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de sua vinda”.
                                                                                   - 2ª Tessalonicenses 2:7-8

   Alguns irão afirmar que se Nero é o homem da iniquidade de 2ª Tessalonicenses capítulo 2, então, a história deve ter registrado quando Jesus o mata com “o assopro da sua boca” (2ª Tessalonicenses 2:8). Devido ao literalismo rígido, os intérpretes modernos pensam que Jesus viria como um Superman literalmente assoprando sobre Nero. A ideia de Deus matar os perversos com o sopro de Sua boca é uma linguagem do Antigo Testamento que designa a ação de Deus sobre os homens maus, não precisando ser algo necessariamente literal (cf. Isaías 11:4; Jó 4:9). Portanto, o suicídio de Nero é o “sopro” da “boca” de Deus trazendo juízo sobre ele.

Nero fez algum milagre?

   "Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos.
    É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça".
                                                                             - 2ª Tessalonicenses 2:9-11

   Outra argumentação para refutar que Nero foi o homem da iniquidade é o pedido de uma prova histórica de que ele fez “sinais e prodígios”. Em primeiro lugar, o texto não diz que o imperador romano Nero fez “sinais e prodígios”, apenas diz que “o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira”.

   A chegada de um imperador ao poder é carregada de sinais. Tal arrogância imperial produziu supostos milagres como confirmação. Vespasiano é chamado de “o operador de milagres, pois por ele ‘muitos milagres aconteceram’” (Tacitus, Histories 4:81; Suetonius, Vespasian 7).

   O Senhor Jesus Cristo em seu sermão profético garantiu que ainda naquela geração dos primeiros discípulos haveria sinais e prodígios da parte de falsos profetas:

   “...porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos”.
                                                                                       (Mateus 24:24, 34)

Conclusão

   O objetivo deste artigo não é fazer um longo e extenso estudo sobre a ideia de Nero ser o homem da iniquidade. O principal ponto que destaco aqui - que inclusive - é ignorado pela maioria dos evangélicos, são os indicadores de tempo encontrados em 2ª Tessalonicenses capítulo 2, com o uso duas vezes da palavra “agora” e uma vez da palavra “já”, indicando que a busca por um suposto Anticristo em nosso futuro é vã. O homem da iniquidade de Paulo é um personagem que foi derrotado no primeiro século da era cristã e eu acredito que o mesmo foi Nero – embora a frase “homem da iniquidade” possa ser também um termo genérico, representando uma coletividade de falsos profetas que houve naquela época.     



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Notas:

1. O Preterismo e o Problema do Juízo Localizado... Por César Francisco Raymundo. www.revistacrista.org    Acessado dia 20 de Setembro de 2019.

2. O Homem da Iniquidade - Uma Interpretação Preterista Pós-Milenista de 2 Tessalonicenses 2 - Dr. Kenneth L. Gentry, Jr. Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto. www.monergismo.com 





segunda-feira, 11 de maio de 2020

Ainda esperando por uma Tribulação de Sete anos




Em meu debate com Thomas Ice em 26 de maio de 2006, sobre se a Grande Tribulação é passada ou futura, eu pedi que Ice oferecesse como evidência um único versículo de Apocalipse que dissesse que haverá um período de sete anos de tribulação. Embora haja uma série de setes em Apocalipse (o número aparece mais de cinqüenta vezes) e muitas sete coisas, em tudo, desde as sete igrejas (1:4), espíritos (3:1), castiçais (2:1) e estrelas (1:16) até as sete montanhas (17:9), cabeças (12:3), reis (17:10) e pragas (21:9),2 não há nenhuma menção de sete anos. De fato, “sete anos” aparece somente uma vez em todo o Novo Testamento (Lucas 2:36),3 e esse versículo não tem nada a ver com o período de Tribulação. 
 
Como no caso do arrebatamento pré-tribulacional, da reconstrução do templo, de Israel se tornando uma nação novamente, Jesus reinando sobre a terra por mil anos, o anticristo fazendo um pacto com os judeus e quebrando-o, aqui está outra doutrina chave dispensacionalista que não possui nenhum versículo para apoiá-la no livro profético mais importante da Bíblia. É legítimo perguntar por que Apocalipse não menciona sete anos, visto que o tempo é crítico para o cenário dispensacionalista de Ice. Há dois períodos de quarenta e dois meses (11:2; 13:5), dois períodos de 1.260 dias (11:3; 12:6), e um “um tempo, tempos e metade de um tempo” (12:14), cada um desses períodos somando 3 anos e meio. Se eles forem somados, o resultado é dezessete anos e meio. Se os anos correm ao mesmo tempo, então cada um desses períodos de tempo está descrevendo o mesmo período de três anos e meio. Ice não explica como ele consegue tirar sete anos dessas cinco referências.  Qual dos três anos e meio acontece com a metade da Tribulação, e qual dos três anos e meio acontece com a segunda metade? 
 
No livro Prophecy Study Bible de Tim LaHaye, do qual Ice é editor, a divisão é explicada dessa forma: “João, em Apocalipse, divide [a Tribulação] em dois períodos de três anos e meio cada, ou 1.260 dias, num total de sete anos”. Onde é dito isso em Apocalipse? Não é possível encontrar na Bíblia nenhuma divisão específica de períodos de tempo semelhante. 
 
LaHaye tenta encontrar seus sete anos necessários em Apocalipse 11:2-3, onde lemos de um período de quarenta e dois meses (11:2) e um espaço de tempo de 1.260 dias (11:3). Ele combina esses dois períodos de tempo para conseguir seus sete anos necessários. Ele diz que os “quarenta e dois meses”, durante os quais a Cidade Santa será “calcada aos pés” (11:2), “não podem acontecer na primeira metade da Tribulação”. Segue-se então que os “quarenta e dois meses” de 11:2 constituem a segunda metade do período de sete anos. Confuso? Isso se torna ainda mais confuso à medida que tentamos descrever o que LaHaye insiste ser “a visão mais lógica da segunda vinda da Escritura quando tomado seu significado claro e literal sempre que possível”. Como é possível que o período de “duzentos e sessenta dias” (11:3), que é igual a “quarenta e dois meses” e vem logo após 11:2, acontecer no tempo, de acordo com LaHaye, antes dos eventos de 11:2? Se os “duzentos e sessenta dias” (11:3) referem-se à primeira metade do período de sete anos da Tribulação, então porque as “duas testemunhas” de Apocalipse 11 não aparecem antes? Deveríamos esperar encontrar três anos e meio em Apocalipse 4, onde LaHaye diz que o arrebatamento ocorre e a primeira metade do período de sete anos da Tribulação começa. Mas não encontramos! De fato, todos os períodos de três anos e meio aparecem na metade do Apocalipse. LaHaye tem que fazer muito malabarismo para conseguir que suas cinco divisões somem um período de sete anos. Se o parágrafo acima deixou você perdido, não se preocupe, você não está sozinho! 
 
Eu ainda estou esperando uma resposta de Ice à minha pergunta no debate: Onde, no Apocalipse, existe um versículo que diga que haverá um período de sete anos de tribulação? 


Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
 
Fonte: http://www.americanvision.org/articlearchive/06-05-06.asp 

domingo, 3 de maio de 2020

Uma grande Tribulação?




Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés. O SENHOR enviará o cetro da tua fortaleza desde Sião, dizendo: Domina no meio dos teus inimigos. (Salmo 110.1-2).

Depois, virá o fim, quando tiver entregado o Reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo império e toda potestade e força. Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés. Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte. (1 Coríntios 15.24-26).

A Bíblia ensina que Jesus reinará sobre a terra. Uma vez iniciado, não haverá nenhuma interrupção na história de Seu reino terreno sobre esta terra até que, por fim, a morte seja vencida. Porém sabemos que a morte terminará somente naquele dia final, quando cristo acabar com a rebelião final de Satanás, quando o diabo for lançado no lago de fogo (Apocalipse 20.7-10).

A pergunta chave quanto ao reino é: Quando começará Seu reino sobre a terra? Jesus falou claramente sobre isto. Disse a Seus discípulos depois de Sua ressurreição:

E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos. Amém! (Mateus 28.18-20)

Assim que, todo poder no céu e na terra já foi entregado a Cristo. Ah! Também sabemos que Ele está reinando com Deus no céu.

E qual a sobre-excelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e pondo-o à sua direita nos céus, acima de todo principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro. E sujeitou todas as coisas a seus pés e, sobre todas as coisas, o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos. (Efésios 1.19-23)

Cristo é o cabeça da igreja atualmente? Paulo disse que sim. Porém o que mais ocorre atualmente, segundo Paulo? A passagem é clara: Jesus Cristo já rege a terra desde o céu. Atualmente Ele está acima de todo principado, potestade, poder e senhorio. A que se refere isto? Aos espíritos demoníacos. Paulo escreveu nesta mesma epístola: “porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” (Efésios 6.12).

Deus tem o controle. Jesus tem o controle. Todas as coisas em princípios estão sob os pés de Jesus. Todavia, é certo que na história os seres maléficos têm poder. Nós, como o povo de Cristo, lutamos espiritualmente contra eles. A guerra ente o bem e o real, continua diariamente na vida de cada cristão e na sociedade. Porém, em princípio, a vida é mais forte que a morte, porque a ressurreição de Jesus tem comprovado isto. A ressurreição é mais poderosa que a cruz. A luz é mais poderosa que as trevas (I João 1.9). O bem é mais poderoso que o real, porque Cristo já reina acima. O legado do “segundo Adão”, Jesus Cristo, é na história mais poderoso que o legado do primeiro Adão. A graça é mais poderosa que pecado.

Você não crê nisto? 

Por que uma “Grande Tribulação”?

Por que, então, crêem os cristãos que uma grande tribulação lhes espera no futuro – uma tão grande que nada na história poderá ser igualado a ela? A maioria dos cristãos crêem que não passarão pela tribulação, ainda que alguns pré-milenistas pós-tribulacionistas acreditam que sim. Porém, se Deus reina desde os céus, por que deve os cristãos esperar algo pior que os holocaustos “normais” do século vinte – as perseguições e os genocídios dos armênios, judeus, kulaks russos, ucranianos, dos cambodianos? É verdade que estes eventos tem sido terríveis, e é bem possível tenham mais, porém por que deve os cristãos esperar que ocorra outro evento fundamentalmente pior?

A resposta: Não deve esperar. Por quê? Porque a grande tribulação já ocorreu. Isto é o que David Chilton sustenta aqui na Grande Tribulação. Jesus advertiu a Seu povo de uma Grande Tribulação que ocorrerá no futuro muito próximo. No capítulo sobre a Grande Tribulação em Mateus, estão escritas as palavras de Cristo: “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas essas coisas aconteçam.” (Mateus 24.34). Sabemos pela passagem paralela de Lucas que a Grande Tribulação seria a destruição de Jerusalém por um exército, que veio a ser o exército romano:

Mas, quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei, então, que é chegada a sua desolação. Então, os que estiverem na Judéia, que fujam para os montes; os que estiverem no meio da cidade, que saiam; e, os que estiverem nos campos, que não entrem nela. Porque dias de vingança são estes, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas. (Lucas. 21.20-22)

O comentário magnífico de David Chilton sobre o livro de Apocalipse se chama apropriadamente Days of Vengeance (Os Dias da Retribuição). Este pequeno livro é um breve exame dessas seções de Apocalipse que tratam da queda de Jerusalém no ano 70 d.C.

É possível que soe raro aos leitores que a tribulação já tenha ocorrido. Esta perspectiva foi muito comum ao longo da história eclesiástica, mas durante quase os últimos cem anos, muitos grupos bíblicos tem adotado outra perspectiva: A Grande Tribulação recairá sobre Israel (ou sobre todos, inclusive os cristãos) no futuro, e provavelmente no futuro próximo. A maior parte dos dispensacionalistas crê que a igreja será “raptada” (Arrebatada – Nota do tradutor) para fora do mundo antes de acontecer a Grande Tribulação; dispensacionalistas pós-tribulacionistas e os pré-milenistas históricos que não são dispensacionalistas crêem que a igreja passará pela grande tribulação.

No entanto, a Bíblia ensina que isto aconteceu no ano 70 d.C., e os cristãos não a experimentaram (fugiram a pé). Este livro apresenta aos leitores a teologia do juízo: particularmente, as sanções do juízo de Deus contra Israel. As sanções eram maldições. Deus deu bênçãos à Igreja e maldições ao Israel rebelde, que havia crucificado ao Senhor e pedido publicamente o julgamento de Deus sobre si mesmo: “E, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.” (Mateus 27.25). As maldições de Deus sobre Israel no ano 70 d.C. correspondiam a seu crime, a crucificação de Cristo. Este crime foi o maior (pior) na história; seu castigo foi o maior (pior) na história. O chamar a qualquer outra coisa de a “grande tribulação” é reduzir a grandeza do crime daquela.

Nossa Missão Integral

Dou-me conta de que isto desiludirá a muitos cristãos. Se a grande tribulação já aconteceu, então não haverá arrebatamento antes desta tribulação. O arrebatamento dos santos – a ressurreição dos santos mortos e a transformação dos que, todavia, vivem na terra (1 Coríntios 15.52) – fica suspendida até o último ato da história, quando Satanás se rebele e Cristo regresse para julgar ao mundo ( Apocalipse 20.7-10). Isto significa que até então, os cristãos permanecerão na terra como os agentes delegados do juízo de Deus na história, pregando o evangelho, aplicando a Lei de Deus a todas as esferas da vida, e subjugando a terra progressivamente para a glória de Deus (Gênesis 1.26-28). Isto significa que aqui na terra os membros da igreja não poderão escapar de nossos deveres cada vez mais pesados de exercer o domínio.

É triste, porém há milhões de cristãos hoje em dia que tem adotado uma teoria do futuro que ensina que a maior parte das pessoas morrerá e irá ao inferno – logo será jogada no lago de fogo por toda a eternidade (Apocalipse 20.14) – e a igreja não pode fazer nada para superar sua resistência ao evangelho. É que o Espírito Santo nunca mudará os corações da maioria da humanidade. Perecerão indubitavelmente. Com mais de 5 bilhões de pessoas vivendo atualmente, e com milhões de milhões a mais que nascerão nos próximos 40 anos, esta é uma doutrina pessimista do futuro. No entanto, os cristãos da atualidade preferem crer neste horrível plano a ter que aceitar o crescimento da Igreja e o triunfo do evangelho, devido ao fato que isto imporia a todos os que se chamam cristãos enormes responsabilidades. Antes bem, preferem que milhões de milhões de pessoas pereçam eternamente antes que admitir que eles, como cristãos, sejam mandados por Deus a aceitar as responsabilidades neste mundo – nas esferas que muitos cristãos chamam “seculares” – a causa de um avivamento mundial.

Os adeptos do “movimento teonomista” que também se chama de “reconstrução cristã”, proclamamos um avivamento mundial futuro e a submissão constante, voluntária das pessoas à Lei de Deus. Cremos que os cristãos receberão cada vez mais responsabilidades em todas as esferas da vida porque o mundo já não tem respostas factíveis. Deus nos dará estas obrigações, porém não por meio da revolução ou tirania. Mas bem, as dará àqueles a quem na história se submete voluntariamente a Deus, e os outros (até a rebelião final de Apocalipse 20) permitirão que os cristãos exerçam as funções sociais, políticas, militares e econômicas.

Cremos no aviamento. Cremos no evangelismo e nas missões estrangeiras. Assim também todos os cristãos. Mas nós os reconstrucionistas temos esta perspectiva única: cremos que estes esforços evangelísticos terão êxito na história. Quando rogamos que os outros cristãos intensificassem seus esforços para expandir o evangelho, oferecemos esta motivação singular: seus esforços finalmente terão êxito na história. O evangelho de Jesus Cristo não será um fracasso na história. O poder da ressurreição é maior que o poder do diabo, os seguidores humanos do diabo não poderão colocar obstáculos à mensagem mais poderosa na história do homem: que Jesus Cristo tem levado os pecados do homem, e que a maldade é vencida. À medida que o tempo passa, este evangelho triunfará na história.

O Novo Começo da Humanidade

Uma das anomalias da história intelectual moderna, é que o comentário talvez mais conciso e inteligente sobre a perspectiva cristã da história é substituída por um judeu secular que ensina direito na Universidade de Harvard. Na introdução de seu livro Law and Revolution[1] Horold J. Berman faz uma observação crucial sobre a centralidade da ressurreição no pensamento histórico cristão. Começa com uma asseveração importante acerca da atitude hebraica para o tempo histórico:

A diferença dos outros povos indo-europeus, inclusive os gregos que acreditavam que o tempo se repetia ciclicamente, o povo hebreu pensava do tempo como contínuo, irrecuperável, e histórico, conduzindo para uma redenção final. Acreditavam também, no entanto, que o tempo tem períodos dentro de si. Não é cíclico, mas pode ser que seja interrompido ou acelerado, avança. O Antigo Testamento não é somente um relato de mudança, mas de desenvolvimento, de crescimento, de movimento para o período messiânico – movimento muito irregular, é certo, com muitos retrocessos, porém para um movimento.

Berman depois explica como o cristianismo adotou esta perspectiva de tempo linear, agregando um novo elemento chave:

O cristianismo, contudo, agregou um elemento importante ao conceito judeu do tempo: a saber, a transformação do velho para o novo. A Bíblia hebraica se converteu no Antigo Testamento seu significado transformado por seu cumprimento no Novo Testamento. Na narrativa da Ressurreição, morte foi transformada a um novo princípio. Os tempos não somente foram acelerados, mas também regenerados. Isto inaugurou uma nova estrutura da história, na qual havia uma transformação fundamental de uma época em outra. Esta transformação, se acreditava, poderia ocorrer uma única vez: se consideravam a vida, morte e ressurreição de Cristo a única interrupção principal no curso do tempo linear desde a criação do mundo até que termine completamente (págs.26-27).

A Grande Tribulação mostra que esta transformação da velha ordem para a nova, para a de Cristo, se manifestou decisivamente no encerramento público do primeiro: a queda de Jerusalém e a destruição do templo e seu sistema sacrificial. Isto foi o abalo dos alicerces na história.

Os cristãos praticamente desconhecem os eventos do ano 70 d.C. As perspectivas escatológicas que esperam a grande tribulação no futuro tem causado a falta de atenção da história da queda de Jerusalém na literatura cristã popular. David Chilton tem realizado um grande serviço educacional para a Igreja de Jesus Cristo ao recordamos que tão transcendental foi a queda de Jerusalém. Desde a queda de Jerusalém até a conversão futura dos judeus (Romanos 11), que inaugurará um período de bênçãos terrenas sem precedentes (VS.12-15), nenhum outro evento se iguala como a manifestação da nova ordem de Cristo.

O que precisamos compreender é que Satanás é um grande imitador. Deus o derrotou no Calvário, porém, todavia ele intenta derrotar aos cristãos em suas vidas. Deus impôs uma grande tribulação à velha ordem dos hebreus apóstatas, mas Satanás imita a Deus impondo holocaustos à humanidade por meio dos seus seguidores. Cristo inaugurou uma nova ordem mundial, e da mesma forma, os seguidores de Satanás atualmente prometem levar a cabo uma nova ordem mundial. Assim procuram os marxistas e os mulçumanos, também procuravam os nazistas, e atualmente o movimento da Nova Era tenta conseguir. Todas são falsificações. Não aceite substitutos! Lembre-se das palavras de Cristo: “Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é conseguintemente chegado a vós o Reino de Deus.” (Mateus 12.28).

Ele lançou fora os demônios pelo Espírito de Deus, assim que o Reino de Deus havia vindo até eles. O reino já é nossa herança como membros da nova nação de Cristo, a Igreja, como disse aos judeus de seu tempo: “Portanto, eu vos digo que o Reino de Deus vos será tirado e será dado a uma nação que dê os seus frutos.”(Mateus 21.43). A nova ordem mundial de Cristo tem chegado, e a queda de Jerusalém é a prova. Como Berman disse da ressurreição: “Isto inaugurou uma nova estrutura da história, na qual houve uma transformação fundamental de uma era para outra. Esta transformação, se acreditava, poderia acontecer uma única vez: considerava-se que a vida, morte e ressurreição de Cristo fosse a única interrupção principal no curso do tempo linear desde a criação do mundo até sua consumação final”. O pior já passou!

Fonte: www.jrcalvino9.wordpress.com/tag/preterismo/
 
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Notas:
1. Law and Revolution: The Formation of the Western Legal Tradition, (Cambridge,
....Massachusetts and London, England: Harvard University Press, 1983).
....(Lei e Revolução: A formação da tradição legal occidental)

domingo, 26 de abril de 2020

Quando vai começar a Grande Tribulação?




A Grande Tribulação. Um período de sofrimento e horror. Muitos pregadores hoje dizem que os fiéis serão arrebatados e as outras pessoas terão que passar por terrível sofrimento durante um período de sete anos conhecido como "A Grande Tribulação".

Você já encontrou tudo isso na Bíblia? As palavras "arrebatados" e "grande tribulação"  se encontram lá, mas não da maneira que muitas pessoas pregam hoje. Vamos considerar o ensinamento bíblico sobre a grande tribulação.

A palavra "tribulação" aparece 43 vezes na Bíblia (ARA2) e tem o sentido de sofrimento, opressão e perseguição. É usada em muitos contextos diferentes para descrever diversos tipos de agonia. A frase "grande tribulação" se encontra apenas quatro vezes nas Escrituras (ARA2). Ao invés de elaborar uma doutrina bem definida de um período que segue o "arrebatamento" e traz angustia sobre os que ficam na terra, a Bíblia usa a expressão "grande tribulação" para descrever coisas diferentes. Considere as passagens:


Mateus 24:21 fala sobre o sofrimento que aconteceu na destruição de Jerusalém em 70 d.C. A profecia foi cumprida naquela geração (Mateus 24:34).

Atos 7:11 usa essas palavras quando cita a grande fome da época de Jacó. Os detalhes históricos se encontram em Gênesis, capítulos 41 a 46.

A grande tribulação de Apocalipse 2:2 é o castigo que Deus prometeu aos cristãos em Tiatira que toleravam a imoralidade de Jezabel.

Apocalipse 7:14 faz parte de uma visão consoladora que foi revelada a João para confortar os cristãos perseguidos. A mensagem dessa visão, e do livro no qual ela se encontra, foi escrita para assegurar os perseguidos no primeiro século que receberiam a recompensa depois do sofrimento.

Sofrimento e perseguição podem acontecer em qualquer lugar e a qualquer hora, mas nenhuma destas passagens fala de um período futuro de grande tribulação. A doutrina popular que haverá sete anos de Grande Tribulação vem da imaginação de homens hábeis em tirar versículos do seu contexto para defender suas idéias. A Bíblia não ensina tal doutrina.

Ao invés de nos preocupar com predições do arrebatamento e da Grande Tribulação, devemos nos preparar para a volta de Jesus, que virá como ladrão (2 Pedro 3:10).


domingo, 19 de abril de 2020

A Grande Tribulação: Local ou Global?




Um dos argumentos usados pelos dispensacionalistas contra um cumprimento no primeiro século do Sermão da Oliveira (Mt. 24) é a alegação deles que somente uma tribulação mundial poderia dar significado aos eventos proféticos. Por exemplo, Larry Spargimino argumenta que “os preteristas sentem-se biblicamente justificados em concluir que nada mais que um desastre no primeiro século sobre Jerusalém é necessário para satisfazer os requerimentos dessas predições”. Spargimino está assumindo a validade de sua posição futurista e então  usando-a como seu paradigma interpretativo. 
 
 Spargimino já considerou que a primeira vinda de Jesus aconteceu no primeiro século, no mesmo pequenino país de Israel? Jesus nem sequer nasceu na capital da nação, mas na pequena cidade de Belém (Mt. 2:6). Seguindo a lógica interpretativa de Spargimino, Jesus deveria ter nascido em Roma, o centro do mundo conhecido do primeiro século. O nascimento, ministério, morte, ressurreição e ascensão de Jesus foram eventos locais. Seu nascimento foi testemunhado por alguns pastores sem nome que por acaso estavam no campo naquela noite (Lucas 2:8). Somente Simeão encontrou Jesus e seus pais no templo e o reconheceu como o Salvador prometido de Deus (2:25-32). Após isso, Jesus apareceu por um momento passageiro no templo quando tinha doze anos de idade (2:41-52). Não o vemos novamente até que tenha aproximadamente 30 anos (3:1-22). Em termos de uma audiência mundial, somente umas poucas pessoas viram a crucificação de Jesus. Seus próprios discípulos o desertaram (Mt. 26:56). Nenhum ser humano testemunhou sua ressurreição. Os apóstolos, não uma audiência televisiva mundial, viram Jesus “subir” em sua ascensão (Atos 1:9). Mesmo assim, todos esses eventos locais tiveram importância cósmica: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). Um evento restrito a um local do primeiro século, teve implicações mundiais. A natureza local de um evento não obscurece sua importância. Sabemos mais sobre a destruição de Jerusalém do que sobre Jesus nas obras de Josefo. Spargimino quer que creiamos que somente uma conflagração mundial, uma tribulação global, satisfaz as demandas do Sermão da Oliveira (Mt. 24; Marcos 13; Lucas 21) e Apocalipse. Tolice! Na realidade, 

faz mais sentido crer, juntamente com o que sabemos sobre aqueles judeus do primeiro século que conspiraram para matar Jesus (Atos 2:23), que somente um evento do primeiro século, antes de 70 d.C, está em vista. Por que punir o mundo pelo que somente uma geração de judeus fez? Em meu debate com Thomas Ice na Conferência da American Vision, em Maio de 2006, ele tentou o mesmo tipo de lógica em sua declaração de fechamento. Ele tentou estabelecer o caso que visto que a Grande Tribulação é comparada com o dilúvio, e o dilúvio foi global, então a Tribulação deve ser global também. Primeiro, o texto de Mateus 24 nos diz que o evento não seria global. Seria confinado à Judeia (Mt. 24:16). As pessoas poderiam escapar da conflagração fugindo para as montanhas a pé. Isso dificilmente seria uma descrição de um evento mundial. Segundo, existem várias pessoas que não creem num dilúvio global que sustentam uma Grande Tribulação futura global. Aparentemente eles não vêem a lógica da posição de Tommy. Terceiro, a Bíblia compara uma conflagração ardente local com o tempo dos “dias do Filho do homem” (Lucas 17:26), que creio ser uma referência ao julgamento vindouro de Jesus na destruição do Templo e a cidade de Jerusalém em 70 d.C. A seguir, dirigiu-se aos discípulos: Virá o tempo em que desejareis ver um dos dias do Filho do Homem e não o vereis. E vos dirão: Eilo aqui! Ou: Lá está! [Mt. 24:26] Não vades nem os sigais; porque assim como o relâmpago, fuzilando, brilha de uma à outra extremidade do céu, assim será, no seu dia, o Filho do Homem [Mt. 24:27]. Mas importa que primeiro ele padeça muitas coisas e seja rejeitado por esta geração [Mt. 23:36; 24:34]. Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do Homem: comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos [Mt. 24:37-39]. O mesmo aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam;  mas, no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre e destruiu a todos. Assim será no dia em que o Filho do Homem se manifestar.  Naquele dia, quem estiver no eirado e tiver os seus bens em casa não desça para tirá-los; e de igual modo quem estiver no campo não volte para trás [Mt. 24:16-20]. Lembrai-vos da mulher de Ló (Lucas 17:22-32). 
 
Os paralelos com Mateus 24 são notáveis. Observe as duas histórias do Antigo Testamento usadas: o dilúvio de Noé que “veio... e destruiu a todos” (17:27) e o dia que Ló saiu de Sodoma e “choveu do céu fogo e enxofre e destruiu a todos” (17:29). A destruição de Sodoma foi local e, todavia, é usada para descrever a Grande Tribulação. Observe a linguagem abrangente: “e destruiu a todos”, isto é, todos aqueles de Sodoma, não todas as pessoas do mundo. 

Tradução:  Felipe Sabino de Araújo Neto

terça-feira, 1 de outubro de 2019

A Polêmica do Milênio



Há três principais linhas de interpretação acerca do Milênio. O Pré-milenismo acredita que o Milênio deve ser entendido de forma literal, e que vai acontecer logo após a Segunda Vinda de Cristo. O Amilenismo advoga que o Milênio já começou, e que é apenas um símbolo do reino espiritual de Cristo. Segundo os teólogos amilenistas, não se deve aguardar um tempo áureo em que as promessas alusivas ao Milênio se cumpram literalmente. Já o Pós-milenismo crê que o Milênio começou com a ascensão e entronização de Cristo, e que vai alcançar o seu ápice antes da Volta de Cristo, culminando com a conversão de todas as nações ao Evangelho.

Vamos buscar uma conclusão analisando o texto em questão.

O Capítulo 20 de Apocalipse começa relatando uma visão de João:

"Então vi descer do céu um anjo que tinha a chave do abismo e uma grande cadeia na mão. Ele prendeu o dragão, antiga serpente, que é o diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos. Lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e selou sobre ele, para que não enganasse mais as nações, até que os mil anos se completassem. Depois disto é necessário que seja solto, por um pouco de tempo.” APOCALIPSE 20:1-3.

De acordo com esta passagem, o Milênio começa com a prisão de Satanás. Conclui-se que, se ele já foi preso, logo, o Milênio começou. Porém, se ele ainda está solto, o Milênio ainda está por vir. Antes de tirarmos conclusões precipitadas, vamos compreender o significado desta “prisão”.

Em primeiro lugar, temos que identificar o tal anjo que desce do céu, tendo nas mãos a chave do abismo [hades]. Trata-se de uma teofania; isto é, o próprio Deus revelando-Se na forma angelical, como muitas vezes fez no Antigo Testamento, apresentando-Se como “o Anjo do Senhor”. A prova disso é que logo no primeiro capítulo de Apocalipse, Cristo Se apresenta a João como “o primeiro e o último”, e que tem “as chaves da morte e do inferno” (1:17-18). Uma teofania semelhante aparece no capítulo 10, onde um Anjo “vestido de uma nuvem”, cujo rosto era como o sol, e que rugia como leão é ninguém menos que o próprio Filho de Deus.

Um simples anjo não poderia prender Satanás. Mesmo o arcanjo Miguel, uma das mais importantes figuras angelicais das Escrituras, “quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar contra ele juízo de maldição, mas disse: o Senhor te repreenda” (Jd.9). Só Jesus, o Senhor, poderia, não apenas repreender a Satanás, mas também amarrá-lo.

Ao identificarmos Aquele que tem a chave do abismo, e que é o responsável por acorrentar o diabo, já demos o primeiro passo rumo à compreensão do Milênio. Resta saber agora se Jesus já cumpriu esta missão, ou ainda irá cumpri-la. Pois se já a cumpriu, o Milênio deve está em andamento.

Satanás já está amarrado!

O aprisionamento de Satanás está intimamente ligado à chegada do Reino de Deus. Aprisionar é restringir a ação. Até o início do ministério de Jesus, a jurisdição de Satanás abrangia todas as nações da Terra. Somente Israel era considerada “Herança do Senhor”(Êx.34:9; Dt.32:9; Jr.10:16). Todas as demais nações estavam sob a tirania do diabo. Porém, Deus fez uma promessa a Seu Filho Jesus: “Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e os fins da terra por tua possessão” (Sl.2:8). Para que as nações fossem arrancadas de debaixo da tirania de Satanás, Cristo teria que amarrá-lo e despojá-lo. Foi pelos lábios de Isaías que Deus disse: “Tirar-se-ia a presa ao valente, ou os presos escapariam do tirano? Mas assim diz o Senhor: Por certo que os presos se tirarão do valente, e a presa do tirano escapará; EU CONTENDEREI COM OS QUE CONTENDEM CONTIGO, e os teus filhos eu remirei (...) Então toda a humanidade saberá que eu sou o Senhor”(Is.49:24-25,26b). Somente Deus poderia contender com o tirano, e arrancar de suas presas aquilo de que ele se assenhoreara. Para tanto, Deus Se fez homem em Cristo Jesus: “Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo” (1 Jo.3:8b).

Ao encarnar-Se, Jesus entrou no terreno inimigo, e desafiou-o em sua própria jurisdição. Ao defender-Se da acusação dos fariseus de que expulsava demônios pelo poder de Belzebu, Jesus afirmou:

"Mas se eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente vos é chegado o reino de Deus. Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo o que tem. Mas sobrevindo outro MAIS VALENTE do que ele, vence-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava, e reparte os seus despojos.” LUCAS 11:20-22.

Satanás era esse valente que guardava armado a sua casa. Somente alguém mais valente do que ele poderia vencê-lo e apropriar-se de seus bens. Aliás, é bom que se diga que, os bens de que o diabo se assenhoreara sempre pertenceram a Deus. Foi ele quem se apropriou indevidamente de algo que não lhe pertencia. Jesus veio resgatar a propriedade de Deus (Ef.1:14). Afinal, “do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e todos os que nele habitam” (Sl.24:1).

A questão é: “Como pode alguém entrar na casa do valente e roubar os seus bens, se primeiro não amarrá-lo, saqueando então a sua casa?” (Mt.12:29).

Para despojá-lo dos seus bens, Jesus teria que primeiro amarrar o inimigo. Em Colossenses 2:15, somos informados de que Jesus já despojou “os principados e potestades” e “publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz”. Se para despojá-los, Jesus teria que antes amarrá-los, logo, concluímos que Satanás e seus asseclas já foram acorrentados por Cristo através de Sua morte na cruz. O escritor de Hebreus diz que pela Sua morte, Jesus aniquilou “o que tinha o império da morte, isto é, o diabo”. E isso com o objetivo de livrar “a todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à escravidão” (Hb.2:14-15).

Então o diabo está amarrado? Exatamente. Não só ele, como também todos os seus demônios. Pedro diz que Deus não poupou os anjos que pecaram, “antes, precipitou-os no inferno, os entregou a abismos de trevas, reservando-os para o juízo” (2 Pe.2:4). E isso é confirmado em outra passagem que diz que os anjos “que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, ele [Deus] tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande dia” (Jd.6).

Ora, se eles já foram amarrados, então, por qual razão ainda vemos manifestações demoníacas em nossos dias? Se eles estão acorrentados e selados no abismo, de onde vêm as desgraças que abatem sobre o mundo? Precisamos entender que estar “amarrado” não é o mesmo que estar inativo. Satanás ainda age no mundo. Ele está amarrado no sentido de não poder coibir o avanço do Evangelho, nem impedir que as almas lhe sejam saqueadas. Até a cruz, ele agia com liberdade muito maior do que hoje. Agora, ele “opera nos filhos da desobediência” (Ef.2:2b). Sua jurisdição ficou circunscrita aos incrédulos. É como um cão que está preso por uma coleira. Mesmo preso, ele tem à sua volta um espaço para mobilizar-se. Qualquer que se aproximar dele poderá sofrer um ataque.

Antes de nos converter, todos estávamos ao alcance de Satanás. Éramos súditos de seu nefasto império. Porém, Cristo “nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Col.1:13).

Estávamos, por assim dizer, na mesma cela que ele. Habitávamos num abismo de trevas. Mas por estar amarrado, o diabo não pôde impedir que fôssemos arrancados de lá. Agora, estamos fora do seu alcance, por termos sidos transportados para o reino de Cristo Jesus. Estamos assentados com Ele, acima de todo principado e potestade (Ef.1:21, 2:6).

Bastaria este fato para que nos atrevêssemos a declarar que o Milênio já começou. Mas vamos prosseguir em nosso estudo.

A Primeira Ressurreição

João relata: “Vi também tronos, e aos que se assentaram sobre eles foi-lhes dado o poder de julgar. E vi as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal na testa nem nas mãos. Reviveram e reinaram com Cristo durante mil anos” (Ap. 20:4).

Os tronos vistos por João são os vinte e quatro tronos que cercam o Trono de Deus, e que significam a igreja do Antigo e do Novo Testamento. Estes tronos [simbólicos, é claro] são, na verdade, ocupados por todos os crentes de todas as eras. Não só os que morreram, mas também os que ainda vivem neste mundo. Isto é confirmado por Paulo em Romanos 5:17, onde diz que “os que recebem a abundância da graça, e o dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo”. Logo no início do Apocalipse, João diz que Cristo nos constituiu “reis e sacerdotes para o seu Deus e Pai” (Ap.1:6).

João também declara que aqueles que estavam sobre o trono receberam poder para julgar. O que encontra paralelo com a afirmação de Paulo de que “os santos hão de julgar o mundo” e até mesmo os anjos (1 Co.6:2,3). O Salmo 149 diz que a glória de todos os santos é executar o juízo escrito (v.9).

Depois de ver os tronos, e os santos neles assentados para julgar as estruturas injustas do mundo, João vê as almas dos mártires. Os crentes primitivos certamente foram consolados com estas palavras. Seus parentes, amigos e irmãos, que por terem se recusado a prestarem culto ao imperador, haviam sido mortos, na verdade, estavam vivos ao lado de Cristo, reinando com Ele. Tanto os que estavam vivos, quanto os que haviam sido martirizados, desfrutavam do Reino de Deus. A morte não era capaz de impedir esta comunhão entre eles e o seu Salvador (Rm.8:35-39).

Os “mil anos” não devem ser entendidos literalmente. Assim como a maioria dos números do livro do Apocalipse, o número “mil” também é simbólico. Biblicamente, “mil” representa um número relativo. Com relação ao homem pode parecer grande, mas com relação a Deus é apenas um momento. Como afirmou Pedro: “Para com o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia” (2 Pe.3:8b). Reviver é o mesmo que está na presença imediata de Deus. Uma vez que nem a morte pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo, podemos dizer que os que morrem em Cristo reviveram. Aliás, esta verdade já é desfrutada por nós antes mesmo de partirmos deste mundo. Paulo diz que “estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos VIVIFICOU juntamente com Cristo ( pela graça sois salvos) e nos RESSUSCITOU juntamente com ele, e nos fez assentar nas regiões celestiais, em Cristo Jesus” (Ef.2:5-6).

E quantos àqueles que morrem sem Cristo? “Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se completassem” (v.5). Eles só serão conduzidos à presença imediata de Cristo no Juízo Final, após o Milênio. Entretanto, após serem julgados, serão separados de Cristo para sempre, o que é chamado de “segunda morte” (Ap.20:14).
A ressurreição espiritual da qual participamos quando nos convertemos a Cristo é chamada de “Primeira Ressurreição”. “Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na PRIMEIRA RESSURREIÇÃO. Sobre estes não tem poder a segunda morte, mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele durante os mil anos” (Ap.20:6).

A primeira morte é a biológica. Ela é fruto do pecado original. Os biólogos são concordes em dizer que o ser humano começa a morrer no momento em que nasce. Todos teremos que enfrentá-la um dia. Entretanto, ela não é a palavra final. Há uma segunda morte, que é a morte eterna. Biblicamente, morte quer dizer “separação”’. Ao morrer fisicamente, a alma é separada do corpo, e por isso, este expira. A segunda morte significa o maior de todos os males: a separação do espírito humano de Deus para sempre. Na verdade, todos já nascemos espiritualmente mortos, separados de Deus. Porém, ao ouvirmos a Palavra de Deus, fomos arrebatados do império da morte, e introduzidos no Reino da Vida Eterna. Jesus disse:

"Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas PASSOU DA MORTE PARA A VIDA. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, E JÁ CHEGOU, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão.” JOÃO 5:24-25.

Repare que não são todos que ouvem a voz do Filho de Deus. Logo, trata-se da primeira ressurreição, que é espiritual, e está limitada àqueles que ouvem a voz do Supremo Pastor. A hora da primeira ressurreição já chegou.

Em seguida, Jesus fala da ressurreição geral, que se dará no último dia, quando Ele vier para julgar os vivos e os mortos:

"Não vos maravilheis disto, pois vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão: Os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida, e os que praticaram o mal, para a ressurreição da condenação.” JOÃO 5:28-29.

Agora Jesus está falando de uma ressurreição física, que engloba todos os homens, tanto os justos quantos os injustos. Estes ressuscitarão ao mesmo tempo (“vem a hora”!). Não haverá intervalo entre a ressurreição dos justos e dos injustos. Em uma só hora, todos ouvirão a voz de Cristo, e sairão de seus sepulcros para serem julgados pelo Filho de Deus.