google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Escatologia Reformada

domingo, 26 de julho de 2020

Os Erros do Dispensacionalismo




O dispensacionalismo – uma vez conhecido como Darbyismo devido a John Nelson Darby (1800-1882), o fundador tanto do dispensacionalismo como dos Irmãos [ou Irmãos de Plymouth] – é o mais sério dos erros com respeito ao milênio. Ele não é apenas certo ensino sobre o milênio e o futuro, mas é também um sistema teológico errôneo. 

O nome dispensacionalismo vem do fato que a teoria divide a história em diferentes “dispensações”, em cada uma das quais Deus tem uma relação pactual diferente com os homens, que termina com a falha deles em cumprir os requerimentos de Deus. Estamos agora, de acordo com o dispensacionalismo clássico de Darby, na “era da igreja”, ou dispensação da graça, com somente mais uma dispensação porvir, a saber, a dispensação do reino.

Alguns dos erros do dispensacionalismo que já tratamos são os seus ensinos com respeito ao arrebatamento secreto, pré-milenar e prétribulacional e as múltiplas vindas de Cristo. 

Outros ensinos do dispensacionalismo que explicaremos mais tarde são sua crença em múltiplas ressurreições e julgamentos e sua interpretação literalista da Escritura, especialmente Apocalipse 20.  

Mais alguns erros flagrantes do dispensacionalismo tem a ver com seu uso incorreto da Escritura: 

Primeiro, o dispensacionalismo é um método falho de interpretar a Escritura. O resultado deste método é que todo o Antigo Testamento e algumas partes do Novo Testamento são aplicados aos judeus e nos é dito não haver nenhuma aplicação aos cristãos do Novo Testamento, exceto talvez como um objeto de curiosidade. As notas da Bíblia de Estudo Scofield ensinam, por exemplo, que o Sermão do Monte não é cristão, mas judeu. Contra isto, a Escritura ensina que toda Escritura é proveitosa (e aplicável) aos cristãos do Novo Testamento (João 10:35; 2Timóteo 3:16,17). Porque o dispensacionalismo nega isto, ele tem sido acusado de dividir erroneamente a Palavra da verdade, embora alegue o oposto. 

Segundo, o dispensacionalismo segue um literalismo estrito, que, como um escritor aponta, é realmente o literalismo dos fariseus, que não viram e não podiam ver que Cristo era um Rei espiritual, e assim, o crucificaram. Este literalismo estrito (embora inconsistentemente aplicado) e a sua oposição ao que os dispensacionalistas chamam de “espiritualização” também são contrários à Escritura (1Coríntios 2:12-15). Em muitas passagens a própria Escritura “espiritualiza” as coisas do Antigo Testamento, de maneira notável 1Pedro 2:5-9 e todo o livro de Hebreus. Devemos dizer que, embora a Escritura deva ser interpretada cuidadosa e sobriamente, há coisas que não podem ser tomadas literalmente, tal como a pedrinha branca de Apocalipse 2:17. 

É a oposição do dispensacionalismo à espiritualização que leva à sua negação do reino celestial e espiritual de Cristo. É a visão errônea das Escrituras adotada pelo dispensacionalismo que é a raiz de todos os seus erros. 


Fonte (original): Doctrine according to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, p. 299-300.  

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto 

domingo, 19 de julho de 2020

Teoria do Duplo Cumprimento da Profecia




É óbvio que a maioria das profecias de Daniel já foram cumpridas. A maioria dos futuristas e historicistas prontamente admitem isso, mas não fazem as aplicações históricas a todos os reinos e governantes da história antiga como eu fiz.2 Em vez disso, o que eles fazem é tomar as passagens mais obscuras e aplicá-las a eventos na Idade Média ou do futuro. Isso é algumas vezes chamado de: “A Teoria do Duplo Cumprimento”. 

Será que profecias podem operar em diferentes níveis? Uma profecia pode falar num nível sobre coisas que estavam por acontecer no tempo de vida do profeta, mas em outro nível nos falar hoje sobre coisas que ainda hão de acontecer? Existe tal coisa como um “duplo cumprimento” para as profecias em Daniel, Mateus 24 e Apocalipse? 

Devemos crer que todos os detalhes de Daniel, do sermão no Monte das Oliveiras e de Apocalipse ocorrem duas vezes? Dois rolos com seis selos? Duas bestas? Dois grupos de 144.000? Dois Armagedons? Dois Milênios? Poderíamos continuar citando mais e mais. 

Se você adota uma visão de duplo cumprimento, você está fazendo isso sobre a base de influência teológica, e não mediante métodos sadios de interpretação.


Fonte: In the Days of these Kings.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
 

domingo, 12 de julho de 2020

2 Tessalonicenses 2.3-10




Em 40 d.C., o Imperador Calígula ordenou que sua estátua fosse instalada no templo de Jerusalém. Todo o mundo judeu reagiu a isto com horror. Todavia, antes de sua ordem ter sido colocada em prática, Calígula foi assassinado. Em 52-53 d.C., Paulo escreveu suas cartas aos Tessalonicenses. Ora, em 2 Tessalonicenses 2.3-10, o apóstolo afirma:

Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus. Não vos recordais de que, ainda convosco, eu costumava dizer-vos estas coisas? E, agora, sabeis o que o detém, para que ele seja revelado somente em ocasião própria. Com efeito, o mistério da iniquidade já opera e aguarda somente que seja afastado aquele que agora o detém; então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de sua vinda. Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos.

De acordo com Caird, Paulo tinham em mente o episódio de Calígula ao escrever tais palavras. O apóstolo viu na loucura de Calígula a insanidade e malignidade de um Estado ímpio. O pecado essencial e original do homem é ser um deus, conhecendo ou determinando para si mesmo o bem e o mal (Gênesis 3.5). Esse pecado primordial, que é o pecado em sua essência, se manifesta não apenas no homem, mas nas instituições humanas. Durante a maior parte da história, o Estado tem sido a principal instituição e, portanto, também a principal manifestação em forma coletiva do pecado original do homem. Por conseguinte, o Estado se apresentou diversas vezes como o salvador e deus do homem.

Warfield, comentando o texto paulino, chama atenção para a falácia das visões escatológicas populares. O grande fato acerca de toda profecia — e 2 Tessalonicenses 2.3-10 é uma profecia — é que seu propósito é ético ou moral. A profecia não busca satisfazer nossa curiosidade, mas nos fortalecer moralmente. A “vinda” do Senhor a fim de destruir o homem da iniquidade não é necessariamente, e muito menos neste caso específico, sua vinda em pessoa (a vinda no fim dos tempos), mas sua vinda em julgamento (vinda do fim de um período). De semelhante modo, nem a revelação nem a destruição do homem do pecado devem ser vistas como um evento do fim dos tempos. O homem da iniquidade se refere a alguém num futuro próximo ao de Paulo e dos tessalonicenses. Warfield considerava o homem da iniquidade como “a linha de imperadores, tomada como a encarnação do poder persecutório”. Por sua vez, o poder restringente (“aquilo que o detém”) era o estado judeu, cuja existência forneceu certa proteção aos cristãos, na medida em que Roma lhes concedeu, como uma “seita judaica”, a mesma imunidade com relação à jurisdição romana que a fé judaica possuía. Finalmente, nessa linha de interpretação, a apostasia é evidentemente a grande apostasia dos judeus, acumulando progressivamente ao longo dos anos e apressando, assim, sua destruição.

O apóstolo Paulo viu, portanto, uma íntima ligação entre o tentador e seu plano primitivo — o pecado original — e o estadismo fora de Cristo. Em Cristo, o Estado é o instrumento de Deus para o cumprimento da justiça. O Estado fora de Cristo é o instrumento de Satanás para a consecução de seu plano de substituir a vontade do Criador pela vontade da criatura. Por essa razão, é impossível para nós, cristãos, sermos indiferentes à teologia do Estado.



Rousas John Rushdoony Publicado originalmente em inglês sob o título Christianity and the State pela Chalcedon/Ross House Books, Vallecito, CA, 95251, EUA. Todos os direitos em língua portuguesa reservados por EDITORA MONERGISMO
Caixa Postal 2416
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Telefone: (61) 8116-7481 — Site: www.editoramonergismo.com.br
edição, 2016
Tradução: Fabrício Tavares de Moraes
Revisão: Felipe Sabino de Araújo Neto 
pg. 123-127

domingo, 5 de julho de 2020

Vindo Sobre as Nuvens



Vimos que o discurso de Cristo sobre o Monte das Oliveiras, registrado em Mateus 24, Marcos 14 e Lucas 21, trata com o “o fim” – não do mundo, mas de Jerusalém e do templo; ele tem referência exclusiva aos “últimos dias” da era do Antigo Pacto. Jesus falou claramente dos seus próprios contemporâneos quando disse que “esta geração” veria “todas estas coisas”. A “Grande Tribulação” ocorreu durante o terrível tempo de sofrimento, guerra, fome e assassinato em massa que culminou na destruição do Templo no ano 70 d.C. O que parece ser um problema para esta interpretação, contudo, é o que Jesus diz a seguir: 

Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória. E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus (Mateus 24:29-31). 
Jesus parecia estar dizendo que a segunda vinda ocorreria imediatamente após a tribulação. Por acaso a segunda vinda ocorreu em 70 d.C.? Nós a perdemos? Primeiro, vamos esclarecer uma coisa desde o princípio: é impossível evitar a palavra imediatamente. 2 Ela significa imediatamente. Reconhecendo que a tribulação ocorreu durante a geração que então vivia, devemos encarar também o claro ensino da Escritura que, não importa sobre o que Jesus esteja falando nestes versículos, isso ocorreu imediatamente depois. Em outras palavras, estes versículos descrevem o que aconteceu no final da tribulação – que forma o seu clímax. 

Para entender o significado das expressões de Jesus nesta passagem, precisamos entender o Antigo Testamento muito mais que a maioria das pessoas de hoje entendem. Jesus estava falando a uma audiência que era intimamente familiar com os detalhes mais obscuros da literatura do Antigo Testamento. Eles tinham ouvido o Antigo Testamento lido e exposto inúmeras vezes em suas vidas, e tinham memorizado longas passagens. O conjunto de figuras bíblicas e formas de expressão tinham formado sua cultura, ambiente e vocabulário desde a tenra infância, e isto por várias gerações. 

O fato é que, quando Jesus falou aos seus discípulos sobre a queda de Jerusalém, ele usou vocabulário profético. Havia uma “linguagem” de profecia, instantaneamente reconhecível àqueles familiarizados com o Antigo Testamento. À medida que Jesus predizia o fim completo do sistema do Antigo Pacto – que foi, num sentido, o fim de um mundo todo – ele falou dele como qualquer outro profeta teria feito, com a linguagem comovente do juízo pactual. Consideraremos cada elemento nesta profecia, vendo como seu uso nos profetas do Antigo Testamento determinou seu significado no contexto do discurso de Jesus sobre a queda de Jerusalém. Lembremos que nosso padrão último de verdade é a Bíblia, e a Bíblia somente.  

O Sol, a Lua e as Estrelas 

No final da tribulação, disse Jesus, o universo entraria em colapso: a luz do sol e da lua seriam extintas, as estrelas cairiam, os poderes do céu seriam abalados. A base para este simbolismo está em Gênesis 1:14-16, onde é dito que o sol, a luz e as estrelas (“os poderes dos céus”) são os “sinais” que “governam” o mundo. Mais tarde na Escritura, essas luzes celestiais são usadas para falar das autoridades e governos terrenos; e quando Deus ameaça vir contra eles em julgamento, a mesma terminologia do universo em colapso é usada para descrever isso. Profetizando a queda de Babilônia diante dos medos em 539 a.C., Isaías escreveu: 

Eis que vem o Dia do SENHOR, dia cruel, com ira e ardente furor, para converter a terra em assolação e dela destruir os pecadores. Porque as estrelas e constelações dos céus não darão a sua luz; o sol, logo ao nascer, se escurecerá, e a lua não fará resplandecer a sua luz. (Isaías 13:9-10).
Significantemente, Isaías mais tarde profetizou a queda de Edom em termos de des-criação: 

Todo o exército dos céus se dissolverá, e os céus se enrolarão como um pergaminho; todo o seu exército cairá, como cai a folha da vide e a folha da figueira. (Isaías 34:4). 

O profeta Amós, contemporâneo de Isaías, profetizou a ruína de Samaria (722 a.C.) duma maneira muito similar: 

Sucederá que, naquele dia, diz o SENHOR Deus, farei que o sol se ponha ao meio-dia e entenebrecerei a terra em dia claro. (Amós 8:9). 

Outro exemplo é do profeta Ezequiel, que predisse a destruição do Egito. Deus disse através de Ezequiel: 

Quando eu te extinguir, cobrirei os céus e farei enegrecer as suas estrelas; encobrirei o sol com uma nuvem, e a lua não resplandecerá a sua luz. Por tua causa, vestirei de preto todos os brilhantes luminares do céu e trarei trevas sobre o teu país, diz o SENHOR Deus. (Ezequiel 32:7-8).
Deve ser enfatizado que nenhum desses eventos ocorreu literalmente. Deus não pretendia que alguém interpretasse estas declarações literalmente. Poeticamente, contudo, todas estas coisas aconteceram: com respeito às nações ímpias, “as luzes de apagaram”. Isso é simplesmente linguagem figurada, que não nos surpreenderia se fôssemos mais familiarizados com a Bíblia e seu caráter literário. 

O que Jesus está dizendo em Mateus 24, portanto, em terminologia profética imediatamente reconhecida pelos seus discípulos, é que a luz de Israel seria extinta; a nação do pacto cessaria de existir. Quando a tribulação terminar, o antigo Israel terá desaparecido.

O Sinal do Filho do Homem 

As traduções mais modernas de Mateus 24:30 são mais ou menos assim: “E então o sinal do Filho do Homem aparecerá no firmamento...”. Esta é uma tradução incorreta, baseada não no texto grego, mas nas suposições equivocadas dos tradutores sobre o assunto desta passagem (pensando que ela está falando sobre a segunda vinda). Uma tradução palavra por palavra do texto grego seria assim: 

E então aparecerá o sinal do Filho do Homem no céu... 

Como podemos ver, duas diferenças importantes aparecem na tradução correta: primeiro, a localização indicada é o céu, e não apenas o firmamento; segundo, não é o sinal que está no céu, mas o Filho do Homem. O ponto é simplesmente que este grande julgamento sobre Israel, a destruição de Jerusalém e do Templo, seria o sinal que Jesus Cristo está entronizado no céu à destra de Deus, governando as nações e vingando-se dos seus inimigos. O cataclismo divinamente ordenado do ano 70 d.C. revelou que Cristo tinha tirado o Reino de Israel e dado à Igreja; a desolação do antigo Templo foi o sinal final de que Deus o havia abandonado e estava agora habitando num novo Templo, a Igreja. Estes são todos aspectos do primeiro advento de Cristo, partes cruciais da obra que ele veio realizar por sua morte, ressurreição e ascensão ao trono. Este é o porquê a Bíblia fala do derramamento do Espírito Santo sobre a Igreja e a destruição de Israel como sendo o mesmo evento, pois estavam intimamente unidos teologicamente. O profeta Joel predisse tanto o Dia de Pentecoste como a destruição de Jerusalém duma só vez: 

E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias. Mostrarei prodígios no céu e na terra: sangue, fogo e colunas de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo; porque, no monte Sião e em Jerusalém, estarão os que forem salvos, como o SENHOR prometeu; e, entre os sobreviventes, aqueles que o SENHOR chamar. (Joel 2:28-32).

Como veremos num capítulo posterior, a interpretação inspirada de São Pedro deste texto em Atos 2 determina o fato que Joel está falando do período desde o derramamento inicial do Espírito até a destruição de Jerusalém, desde o Pentecoste até o Holocausto. É suficiente para nós observarmos aqui que a mesma linguagem de julgamento é usada nesta passagem. A interpretação sensacionalista comum de que “colunas de fumaça” são os cogumelos das explosões nucleares é uma distorção radical do texto, e um mau entendimento completo da linguagem profética da Bíblia. Isso faria tanto sentido quanto dizer que a coluna de fogo e fumaça durante o Êxodo foi resultado de uma explosão atômica. 

As Nuvens do Céu 

Isso, apropriadamente, nos leva ao próximo elemento na profecia de Jesus sobre a destruição de Jerusalém: “e todas as tribos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória” (RC). A palavra tribos aqui tem referência primária às tribos da terra de Israel; e é provável que a “lamentação” tenha dois sentidos. Primeiro, eles lamentariam com dor o sofrimento e a perda da sua terra; segundo, num dia no futuro, eles lamentariam em arrependimento por seus pecados, quando fossem convertidos da sua apostasia (veja Romanos 11).  

Mas como eles veriam a Cristo vindo sobre as nuvens? Este é um símbolo importante do poder e da glória de Deus, usado por toda a Bíblia. Por exemplo, pense na “coluna de fogo e nuvem” por meio da qual Deus salvou os israelitas e destruiu seus inimigos na libertação do Egito (veja Êxodo 13:21-22; 14:19-31; 19:16-19). De fato, por todo o Novo Testamento Deus estava vindo “nas nuvens”, salvando o seu povo e destruindo os seus inimigos: “Pões nas águas o vigamento da tua morada, tomas as nuvens por teu carro e voas nas asas do vento” (Salmos 104:3). Quando Isaías profetizou do julgamento de Deus sobre o Egito, ele escreveu: “Sentença contra o Egito. Eis que o SENHOR, cavalgando uma nuvem ligeira, vem ao Egito; os ídolos do Egito estremecerão diante dele, e o coração dos egípcios se derreterá dentro deles” (Isaías 19:1). O profeta Naum falou similarmente da destruição de Nínive por Deus: “O SENHOR tem o seu caminho na tormenta e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés” (Naum 1:3). A vinda de Deus “sobre as nuvens do céu” é um símbolo bíblico muito comum para sua presença, julgamento e salvação.

Mais significativo, contudo, é o fato que Jesus está se referindo a um evento específico associado com a destruição de Jerusalém e o fim do Antigo Pacto. Ele falou dele novamente no seu julgamento, quando o sumo sacerdote lhe perguntou se ele era o Cristo, ao que Jesus respondeu: 

Eu sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo Poderoso e vindo com as nuvens do céu (Marcos 14:62; cf. Mateus 26:64).  

Obviamente, Jesus não estava se referindo a um evento milhares de anos no futuro. Ele estava falando de algo que seus contemporâneos – “esta geração” – veriam em seu tempo de vida. A Bíblia nos diz exatamente quando Jesus veio com as nuvens do céu: 

Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos (Atos 1:9). 

De fato, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à destra de Deus (Marcos 16:19). 

Foi esse evento, a Ascensão à destra de Deus, que Daniel previu: 

Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído. (Daniel 7:13-14). 

A destruição de Jerusalém foi o sinal que o Filho do Homem, o Segundo Adão, estava no céu, governando o mundo e dispondo-o aos seus próprios propósitos. Em sua ascensão, ele tinha vindo sobre as nuvens do céu para receber o Reino do seu Pai; a destruição de Jerusalém foi a revelação desse fato. Em Mateus 24, portanto, Jesus não estava profetizando que ele viria literalmente sobre as nuvens no ano 70 d.C. (embora isso fosse figurativamente verdade). Sua literal “vinda sobre as nuvens”, em cumprimento de Daniel 7, aconteceu em 30 d.C., no começo da “última geração”. Mas em 70 d.C. as tribos de Israel veriam a destruição da nação como o resultado de ele ter ascendido ao trono do céu, para receber seu Reino.

A Reunião dos Eleitos 

Finalmente, Jesus anunciou que o resultado da destruição de Jerusalém seria o envio dos seus “anjos” para ajuntar os eleitos. Não é isto o arrebatamento? Não. A palavra anjos significa simplesmente mensageiros (cf. Tiago 2:25), a despeito da sua origem ser celestial ou terrena; é o contexto que determina se estes mencionados são criaturas celestiais ou não. A palavra frequentemente significa pregadores do Evangelho (veja Mateus 11:10; Lucas 7:24; 9:52; Apocalipse 1-3). No contexto, há toda razão para assumir que Jesus está falando do evangelismo mundial e da conversão das nações que ocorreriam após a destruição de Israel. 

O uso que Cristo faz da palavra ajuntar é significante neste sentido. A palavra, literalmente, é um verbo que significa sinagogar; o significado é que, com a destruição do Templo e do sistema do Antigo Pacto, o Senhor envia seus mensageiros para reunir seu povo eleito em sua Nova Sinagoga. Jesus está na verdade citando Moisés, que tinha prometido: “Ainda que os teus desterrados estejam para a extremidade dos céus, desde aí te sinagorará o SENHOR, teu Deus, e te tomará de lá” (Deuteronômio 30:4, Septuaginta). Nem um dos textos tem algo a ver com o arrebatamento; ambos estão preocupados com a restauração e estabelecimento da Casa de Deus, a congregação organizada do seu povo pactual. Isto se torna ainda mais enfático quando lembramos o que Jesus disse antes deste discurso: 

Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu sinagogar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta. (Mateus 23:37-38). 

Porque Jerusalém tinha apostado e recusado ser “sinagogada” por Cristo, seu Templo seria destruído, e uma Nova Sinagoga e Templo seriam formados: a Igreja. O Novo Templo foi criado, certamente, no Dia de Pentecoste, quando o Espírito veio habitar a Igreja. Mas o fato da existência do novo Templo seria evidente somente quando o Antigo Templo e o sistema do Antigo Pacto fossem tirados. As congregações cristãs começaram imediatamente a se chamarem de “sinagogas” (que é a palavra usada em Tiago 2:2), enquanto chamavam as reuniões dos judeus de “sinagogas de Satanás” (Apocalipse 2:9; 3:9). Todavia, eles anelavam o Dia do Juízo sobre Jerusalém e o Antigo Templo, quando a Igreja seria revelada como o verdadeiro Templo e Sinagoga de Deus. Porque o sistema do Antigo Pacto era “antiquado” e estava “prestes a desaparecer” (Hebreus 8:13), o escritor aos Hebreus instou-os a que tivessem esperança, “não deixemos de sinagogar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima” (Hebreus 10:25; cf. 2 Tessalonicenses 2:1-2). 

A promessa do Antigo Testamento de que Deus “sinagogaria” seu povo experimentou uma mudança importante no Novo Testamento. Em vez da forma simples da palavra, o termo usado por Jesus tem uma preposição grega epi como prefixo. Esta é uma expressão predileta do Novo Pacto, que intensifica a palavra original. O que Jesus está dizendo, portanto, é que a destruição do Templo no ano 70 d.C. o revelaria como tendo vindo com as nuvens para receber seu Reino; e demonstraria sua Igreja diante do mundo como a super-Sinagoga, completa e verdadeira.


Fonte: Capítulo 2 do excelente livro The Great Tribulation, de David Chilton. 
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto  

sábado, 27 de junho de 2020

Três Interpretações principais sobre os 144 mil




1. A interpretação dos Testemunhas de Jeová

Os Testemunhas de Jeová, uma seita herética, entendem que a igreja que vai morar no céu limita-se apenas a este número. Todas as demais criaturas que receberão a vida eterna terão parte na igreja, mas viverão nesta terra, sob o domínio de Cristo Jesus e sua igreja nos céus. 

2. A interpretação Dispensacionalista

Esses são israelitas que estarão vivendo no tempo da angústia de Jacó (Jr 30:5-7). Embora as tribos tenham cessado, Deus as conhece (Is 11:11-16) e preservará um remanecente até restaurar o reino a Israel (At 1:6). Esse será o tempo da plenitude dos gentios (Lc 21:24), com a plenitude do número dos gentios completo (At 15:14, Rm 11:25), Entendem que esses 144.000 referem-se aos judeus que se converterão depois do arrebatamento e antes do milênio e que viverão na Palestina do período da grande
tribulação e serão poupados dos juízos que virão sobre o anticristo.

Esses judeus aguardarão Jesus Cristo, o seu rei em sua segunda vinda quando destruirá o anticristo e implantará o seu reino milenar.

3. A interpretação Pré-milenista histórica e Amilenista

a) Esse número é simbólico

Primeiro o número 3, que significa a Trindade, é multiplicado por 4, que indica a inteira criação, porque os selados virão do Norte e do Sul, do Leste e do Oeste. 3 multiplicado por 4 são 12. Portanto, esse número indica: a Trindade (3) operando no universo (4). Assim, temos a antiga dispensação (3x4) 12 patriarcas e a nova dispensação 12 apóstolos. Para ter uma idéia da igreja da antiga e da nova dispensação, temos que multiplicar esse número 12 por 12. Isso nos dá 144. A Nova Jerusalém (a igreja) tem 12 portas, com o nome das 12 tribos e os 12 fundamentos com o nome dos 12 apóstolos (Ap 21:9-14). Lemos também que a altura do muro é de 144 côvados (Ap 21:17).

Com o objetivo de acentuar o fato de que 144.000 significa não uma pequena parte da igreja, senão a igreja militante inteira, este número é multiplicado por 1.000. Mil é 10 X 10 x 10 que indica um cubo perfeito, inteireza reduplicada. De acordo com Apocalipse 21:16 Os 144.000 selados das doze tribos do Israel literal simbolizam o Israel espiritual, a igreja de Deus na terra.

b) Esse número não pode aplicar-se às tribos de Israel

As 10 tribos de Israel já haviam desaparecido no cativeiro Assírio e as 2 tribos do Sul (Benjamim e Judá) haviam perdido sua existencial nacional quando Jerusalém caiu no ano 70 d.C.

Se o símbolo significa Israel segundo a carne, por que foram omitidas as tribos de Efraim e Dã e colocadas em seu lugar Levi e José?

A ordem das tribos foi trocada e não temos nenhuma lista das tribos semelhante a esta em toda a Bíblia.

Segundo Apocalipse 14:3-4 os 144.000 foram comprados por Deus de entre os da terra e não da nação judaica somente.

Assim João queria dizer que as doze tribos de Israel não são o Israel literal, mas o Israel verdadeiro, espiritual, a igreja.

c) A igreja é o Israel de Deus

1) No NT considera a igreja o verdadeiro Israel espiritual (Gl 6:16; Rm 9:6-8).

2) Quem é de Cristo é descendente de Abraão (Gl 3:29).

3) Abraão é o pai de todos os que crêem, circuncidados ou não (Rm4:11).

4) O verdadeiro judeu não é descendente físico de Abraão, mas o descendente espiritual (Rm 2:28-29).

5) Nós que adoramos a Deus no Espírito e nos gloriamos em Cristo Jesus é que somos a verdadeira circuncisão (Fp 3:3).

6) Em Esmirna havia judeus físicos que eram sinagoga de Satanás (Ap 2:9). Eram judeus de fato, mas não o Israel espiritual.

7) A igreja é a nova Jerusalém (Ap 21:12,14). É o povo de Deus (Ap 18:4; 21:3).

8) Concluímos que a igreja é o verdadeiro Israel espiritual.

9) Esta interpretação é que melhor faz jus ao sentido do texto e mostra o relacionamento que há entre as duas multidões. Elas são constituídas das mesmas pessoas, aquelas que foram seladas e guardadas por Deus.


Hernandes Dias Lopes - Apocalipse / O futuro chegou, as coias que em breve devem acontecer. São Paulo, SP. Hagnos 2005. pg 188-190.




domingo, 21 de junho de 2020

No Horizonte, Meteórios e uma Grande Tribulação





Dias desses chego em casa e meu filho mais velho, Yago, 6 anos, me diz: “Papai, um meteoro caiu 'num lugar'... 'cê' sabia que eles podem destruir a gente?”. Como eu não assisto televisão, ou o faço raramente, pensei que fosse algo visto em algum filme ou seriado. Não era. Primeiro, se não estou engando, aconteceu em algum lugar na Russia, e agora, até mesmo algumas cidades brasileiras experimentam o fenômeno, que é bem assustador, claro. Ainda bem que já estamos em 2013, do contrário, a tal “profecia maia” estaria fazendo um estrago danado na mente de certa gente... No entanto, há quem diga que estamos, sim, vendo um prenuncio do “fim do mundo” agora mesmo, e que o mundo está prestes a entrar no sinistro tempo da Grande Tribulação.

Talvez...

Minha opinião pessoal? Acredito que ainda falta muito meteoro para conhecermos o “fim do mundo” como o conhecemos. Teologicamente, um dos meus trabalhos nos últimos anos tem sido o de negar e “derrubar” [não sem muitas limitações!] um dos conceitos mais nocivos para a Igreja moderna; refiro-me ao dispensacionalismo. Lembrando que eu já fiu um grande defensor desta tese anteriormente. E sei que tal declaração despertará a fúria de alguns leitores, talvez de muitos. Saibam, no entanto, que não sou gnóstico, então não condiciono a salvação a aderência a qualquer conjunto de doutrinas, além daquela que é o coração da Fé Cristã, como expressa nos Credos da Igreja indivisa, cujo resumo é Cristo. Se eu gostaria que todos os cristãos fossem Reformados? Sim! Mas sei que a salvação não é exclusividade da minha tradição teológica. Ainda assim, continuo afirmando quão nocivos são determinados erros teológicos, dentre eles, o dispensacionalismo.

Essas palavras iniciais se justificam, a fim de não causar nenhum mal entendido com o uso que faço aqui da expressão “grande tribulação”. Aqueles que me leem sabem que nego que vá existir uma Grande Tribulação, como descrita pelo dispensacionalismo. Sete anos de Grante Tribulação, dividos em dois períodos de 3 anos e meio, um de paz, e outro de “grande aflição”. No meio, ou em algum momento, o reinado universal de um ser a ser identificado como o Anticristo. Mas antes de tudo isso, o Arrebatamento da Igreja, levada aos céus, escapando dos “Aís”, que se abatem sobre o resto do mundo. Há alguns que acham que a Igreja estara por aqui, mas no resto parecem concordar. Eu nego tudo isso, exceto, claro, que em algum momento (amanhã ou daqui a 30 milhões de anos), Cristo certamente virá e estará corporalmente com sua Noiva, a Igreja. Há outras interpretações, quanto aos detalhes, inclusibe, mas aí está, em resumo, o que é mais popular.

Esses dois parágrafos acima foram uma negativa. Positivamente, a cerca da Grande Tribulação, sustendo dois pontos principais:

1) Que exegeticamente, o período literal de Grande Tribulação profetizado por Cristo já aconteceu, por volta do Ano 70 da Era Cristã. Essa interpretação se sustenta em declarações bíblicas, como “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam” (S. Mateus 24.34, S. Marcos 13.30).

2) Que, apesar de ser um evento passado, os atos de Deus naquele momento da História, bem como em qualquer outro momento, nos trazem princípios valiosos sobre como se dá o agir de Deus com os homens. Em outras palavras, o Juízo de Deus contra a Sinagoga de Satanás (Judaísmo), profetizado por Cristo e pelos apóstolos, já veio, no entando, Deus ainda hoje traz juízo contra o pecado dos homens. Certamente, jamais haverá outra tribulação como aquela - “como nunca houve... nem tampouco há de haver” (S. Mateus 24.21) - o que não significa que não haverá outras tribulações...

E, assim como poderá haver outros momentos de tribulação, haverá com ainda maior certeza, outras vitórias inevitáveis da Religião Cristã ao longo da História. Por isso gosto de chamar esse pensamento de “Teologia da Esperança”, ainda que seja, na verdade, muito dura para os rebeldes e apostatas.

Para entender melhor esse Juízo e essa esperança, se faz necessário compreender a causa da Grande Tribulação, contra Israel. A bem da verdade, seria mais correto falarmos em causas, no plural, pois podemos identificar mais de uma, no entanto, enfocaremos uma delas, por brevidade. Parte importante da investigação está no capítulo 17 do Apocalipse, onde encontramos a identidade da Falsa Esposa, a Grande Prostituta.

Pois bem, a “prostituição” e o “adultério” são metáforas comuns utilizadas pelas Escrituras, desde o Antigo Testamento, para descrever a infidelidade espiritual de cidades e nações infiéis, inclusive Israel, quando este se afastava da Lei do Senhor. De modo que a Grande Prostituta é uma metáfora a respeito da Falsa Igreja, aquela que carrega o nome do Deus de Israel, mas nega-o com suas obras. E no Novo Testamento, essa Falsa Igreja é a nação de Israel, a “Sinagoga de Satanás”. Este é contexto histórico, profético do Apocalipse. Mesmo assim, sabemos que tem existido falsas igrejas ao longo dos séculos, muitas tem sido as rameiras que sujam o santo nome do Senhor. Do mesmo modo, Deus tem sempre mantido uma Igreja Fiel – que não se prostra diante de Baal - a qual não apenas é perseguida pela Prostituta, mas também a denuncia e, ainda melhor, sobrevive a ela. Foi assim no Novo Testamento. Foi assim em outras Eras. E será assim com a Igreja de hoje.

O Anticristo está entre nós. Sempre esteve. Grandes tribulações podem estar a porta, uma vez que a apostasia insiste em nos espreitar além dos umbrais. Não tem haver com meteoros. Tem haver com fidelidade e apostasia. Também tem haver com avivamento. Mas, cá entre nós, qualquer grande tribulação que possa vir (e que não é mesma profetizada por Cristo), ou que aqui já esteja (muitos cristãos a vivem agora mesmo em boa parte do mundo), não é o que realmente interessa. O que interessa é que a Igreja, a Fiel, sempre sobrevive aos anticristos. Sempre! Isso é interessante, pois é comum ver pessoas desejando que a Igreja sofra, que os cristãos sejam perseguidos, já que certamente é uma glória maravilhosa sofrer por Cristo. Tudo bem. No entanto, o fim último das perseguições não é o sofrimento da Igreja, mas a sua vitória! E eu não falo de um vitória no mundo “por vir”, “além do jordão”, falo de uma vitória histórica, com a Igreja tornando visivel o Reino de Cristo, aqui e agora.

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"O Anticristo está entre nós. Sempre esteve. Grandes tribulações podem estar a porta, uma vez que a apostasia insiste em nos espreitar além dos umbrais".

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Eu fico apreensivo com toda essa história sobre meteoros, afinal, eu não sou o Super-Man, certo? Imagine estar andando na praça da Sé e de repente... Nossa! Nem pensar nisso que quero! Agora, os meteoros nada me dizem sobre o tempo estar se findando no relógio de Deus; com todo respeito a quem pensa diferente, a minha búsola, felizmente, é outra!

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"O que interessa é que a Igreja, a Fiel, sempre sobrevive aos anticristos. Sempre! Isso é interessante, pois é comum ver pessoas desejando que a Igreja sofra, que os cristãos sejam perseguidos, já que certamente é uma glória maravilhosa sofrer por Cristo. Tudo bem. No entanto, o fim último das perseguições não é o sofrimento da Igreja, mas a sua vitória! E eu não falo de um vitória no mundo “por vir”, “além do jordão”, falo de uma vitória histórica, com a Igreja tornando visivel o Reino de Cristo, aqui e agora.

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Marcelo Lemos é bacharel em teologia, diácono da igreja Anglicana reformada do Brasil, formado em Gestão Financeira, estudando Administração, casado e pai de dois filhos.

 

Fonte: www.olharreformado.blogspot.com.br
Acessado dia 3 de Outubro de 2013

domingo, 14 de junho de 2020

Nero não é a Besta do Apocalipse?




"Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis".
Apocalipse 13.18

 

Se tem um personagem muito esperado e grandemente temido, esse é a besta do Apocalipse. Este personagem tem sido alvo de diversas especulações. Muitos incansavelmente procuram evidências sobre a identidade da besta analisando pessoas famosas (principalmente no cenário político internacional).

Atualmente, a teoria mais aceita é de que a besta será um líder político que virá da Europa, e sua marca, poderá ser um chip eletrônico implantado nas pessoas.

O fato bíblico e verdadeiro é que a besta é um personagem que já foi derrotado no primeiro século. Os crentes atualmente procuram por alguém que não se levantará mais. Apocalipse capítulo 13 e versículo 8 identifica a besta com o número equivalente ao nome do imperador Nero: 666. No hebraico o nome é “nrwn qsr”:

.........................................n (50)

.........................................r (200)

.........................................w (6)

.........................................n (50)

.........................................q (100)

.........................................s (60)

.........................................r (200),

...............................................que dá exatamente 666.

Mas, como não poderia faltar, atualmente existem pessoas que tentam forçar a barra para negar que o imperador romano Nero foi a besta do Apocalipse. Um deles que gostaria de destacar é o famoso e polêmico articulista Lucas Banzoli que na minha opinião sempre conta as coisas pela metade.

Observe o que ele escreveu e em seguida a minha resposta:

"NERO NÃO SOMA 666 EM GREGO

O primeiro de tudo que devemos informar ao leitor é que Cezar Nero não soma 666 em grego, soma 1005, como os próprios preteristas admitem. Kenneth L. Gentry Jr, um ferrenho defensor da tese de que Nero é o anticristo (666) tendo por base a transliteração ao hebraico, também confirma que, em grego, o nome soma 1005 e não 666:

“A grafia grega do nome Nero tinha o valor de 1005” (O Número da Besta, Kenneth L. Gentry Jr, Cap.3)"[1]

Resposta

É óbvio que Cesar Nero não soma 666 em grego, pois o Apocalipse João escreveu em grego, mas estava pensando em hebraico quando indicou o cálculo do número da besta.

O artigo de Kenneth L. Gentry Jr que foi citado por Banzoli, deve ser lido na íntegra para ser bem entendido o que ele quis dizer. Inclusive, tenho esse artigo em meu site (veja referência nas notas no final deste artigo).[2]

O que Kenneth L. Gentry Jr - na verdade disse - sobre o nome de Nero somar o valor 1005 é que isto era uma sátira grega que circulou logo após o incêndio de Roma. Observe exatamente o contexto que Banzoli deixou para trás, veja:

"No meio da sua história latina, Suetônio registra um exemplo de uma sátira grega que circulou logo após o incêndio de Roma, que ocorreu em 64 d.C.: “Neopsephon Neron idian metera apektine”. A tradução da sátira é: “Um novo cálculo. Nero sua mãe assassinou”. J. C. Rolfe observa na edição Loeb Classical Library das obras de Suetônio que “o valor numérico das letras gregas no nome de Nero (1005) é o mesmo do restante da sentença; assim, temos uma equação: Nero = o assassino da sua própria mãe”. É muito interessante observar que já havia criptogramas anti-Nero circulando quando João escreveu o Apocalipse".[3]

Agora, observe a outra parte do mesmo artigo de Gentry que Banzoli citou pela metade:

"Certamente a condição necessária para um candidato [a besta] é que seu nome satisfaça o valor do criptograma. Se algum nome não contém o valor de 666, então deve ser necessariamente excluído de consideração.

Interessantemente, vários eruditos do último século – Fritzsche, Holtzmann, Benary, Hitzig and Reuss – tropeçam, independentemente, no nome Nero César quase simultaneamente. Vimos que a grafia grega do nome de Nero tinha o valor de 1005. A grafia hebraica do seu nome era Nrwn Qsr (pronunciado: Neron Kaiser). Tem sido documentado por descobertas arqueológicas que uma grafia hebraica do nome de Nero, do primeiro século, nos fornece precisamente o valor 666. O léxico de Jastrow do Talmude contém essa mesma grafia.

...[...]

Um grande número de eruditos bíblicos reconhece esse nome como a solução para o problema. Não é considerável que esse extremamente relevante imperador tenha um nome que se encaixe precisamente na soma requerida? Isso é completamente um acidente histórico?"[4]

Apesar das evidências, Lucas Banzoli ainda usa alguns argumentos interessantes para negar que Nero foi a besta. Ele diz:

"Portanto, a lenda de que Nero é o “666” não provém do grego, mas da transliteração do grego para o hebraico, onde, segundo os defensores da tese, somaria “666” (veremos mais sobre isso mais adiante). Mas, apenas aqui, já vemos o primeiro problema para os preteristas: por que João iria codificar Nero transliterado ao hebraico, se ele escrevia o Apocalipse em grego e para pessoas de fala grega?

Todos os manuscritos bíblicos do Apocalipse que temos estão na língua grega, e não no hebraico. E o livro de João foi destinado, em primeiro lugar, não para judeus nem para habitantes na Judeia, mas para cristãos na Ásia Menor:

Que dizia: Eu sou o Alfa e o Omega, o primeiro e o derradeiro; e o que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodiceia” (Apocalipse 1:11)

Perguntinhas básicas aos preteristas:

Os moradores de Éfeso falavam hebraico? Eram judeus?

Os moradores de Esmirna falavam hebraico? Eram judeus?

Os moradores de Pérgamo falavam hebraico? Eram judeus?

Os moradores de Tiatira falavam hebraico? Eram judeus?

Os moradores de Sardes falavam hebraico? Eram judeus?

Os moradores de Filadelfia falavam hebraico? Eram judeus?

Os moradores de Laodiceia falavam hebraico? Eram judeus?

A resposta a essas perguntas é: não, não, não, não, não, não e não! Os moradores da Ásia Menor não eram judeus em sua maioria, e a fala predominante nessas regiões era a língua grega, não hebraica. É óbvio que existiam judeus morando nessas regiões, assim como existiam em qualquer outra parte do mundo, mas o que predominava nessa região não era o judaísmo nem a língua hebraica, mas o grego. A grande maioria dos destinatários do livro sequer conhecia o hebraico, e, portanto, não iriam conseguir transliterar o nome “Nero” do grego para o hebraico para depois somarem".[5]

Resposta

Precisamos considerar algumas coisas. Primeiro, a língua grega era de uso internacional no primeiro século (como o inglês hoje em dia). Portanto, era de se esperar que judeus também conhecessem alguma noção de grego e que o Apocalipse fosse escrito nessa língua. Segundo, os eruditos entendem que no Apocalipse há um pano de fundo hebraico. Sobre isto, escrevi no meu livro "Comentário Preterista Sobre o Apocalipse", Vol. 1, que "uma vez que [o Apocalipse] foi escrito para aqueles leitores do primeiro século, é de se supor que eles tenham entendido o livro do Apocalipse, pois às sete igrejas da Ásia eram compostas de crentes judeus. Aqui está um dos grandes segredos para se entender o Apocalipse, pois segundo Hank Hanegraaff “o real decodificador para o apocalipse [...] é o Antigo Testamento. Na verdade, mais de dois terços (2/3) dos quatrocentos e quatro (404) versículos de Apocalipse aludem a passagens do Antigo Testamento".[6]

Desta forma, seria de se esperar que naquelas igrejas da Ásia os cristãos pudessem saber quem era a besta e calcular o número de seu nome.

Se já não bastassem os pontos ignorados, Banzoli dá mais um tiro no pé. Observe sua declaração:

"Algum preterista poderia chegar até aqui na leitura, e, incrédulo como sempre, ainda apostar que tudo isso aconteceu para Nero dar o 666 escrito no Apocalipse. O que eles não contavam, porém, é que as próprias contas deles esbarram na gematria hebraica. A conta deles, levando em consideração o nrwn QSR, ficaria assim:

.........................................Nun = 50
.........................................Resh = 200
.........................................Waw = 6
.........................................Nun = 50

.........................................Qoph = 100
.........................................Samech = 60
.........................................Resh = 200

Qualquer um pode fazer as contas e ver que realmente o resultado é 666. O que os preteristas não contavam, porém, é que existem diversas regras na gematria hebraica que eles desconhecem completamente e que invertem totalmente a situação. De acordo com as regras de numerologia judaica, conhecida como gematria, quando a letra Nun aparece no final de uma palavra, é conhecido como “Final”, e assume o valor de 700. Desta forma, o nrwn QSR somaria 1316, e não 666:

.........................................Nun = 50
.........................................Resh = 200
.........................................Waw = 6
.........................................Nun = 700 ?
.........................................aparece no final de uma palavra e assume valor de 700

.........................................Qoph = 100
.........................................Samech = 60
.........................................Resh = 200

Outros sites católicos trazem “NVRN RSQ”. Esse “n” que aparece na primeira e na quarta letra é o correspondente ao Nun do hebraico. Quando ele aparece no final de uma palavra, toma o valor de 700, e é exatamente o mesmo que ocorre em Neron Cezar".[7]

Resposta

O que "os preteristas não contavam"? Ou o que Lucas Banzoli não contava? Ele simplesmente - mais uma vez - subestimou a erudição preterista! Como sou um árduo pesquisador do tema, não poderia simplesmente acreditar que dezenas de grandes eruditos pudessem não ter visto essa questão da gematria hebraica citada por Lucas Banzoli.

Por isto, entrei em contato direto com Kenneth L. Gentry Jr que por sinal é uma das autoridades mais respeitadas sobre o preterismo, para perguntar a respeito dessa gematria exposta por Lucas Banzoli. Observe a resposta que tive e que eu já suspeitava:

"Havia diversas variedades de gematria, e a que eu endosso é uma das principais. Quem quer que esteja em desacordo com essa avaliação está em desacordo com a valorização dos hebraístas de classe mundial, tais como:
 
Marcus Jastrow (Dicionário da Targumim, o Talmud Babli, e Yerusahalmi, e o Midrashic Literatura, p. 865)
 
Francis Brown, SR Driver e Charles A. Briggs, A Hebraica e Inglês Lexicon do Antigo Testamento (p. 609)
 
Eles também estão disputando a pesquisa publicada de RH Charles (Apocalipse, 367), Bruce M. Metzger, A Textual Commentary no Novo Testamento grego, 752, e dezenas de outros estudiosos. Na verdade, John AT Robinson declara que a solução Nero é "de longe a solução mais amplamente aceita" (Robinson, 1976: 235) J. Wilson.. (1993: 598) afirma que "há pouca discordância entre os estudiosos hoje que este número é uma gematria no nome NERON KAISAR".
 
Você também pode verificar: Consulte: Metzger, 77; Bauckham 1993a: cap 11; Beasley-Murray 220; Carrington, ch 11; Charles 1:367; Harrington 144; Kiddle 261; Koester 133; Osborne 527; Witherington 176-79; Doce 217-18; Beckwith 642; Aune e 770-71".[8]

Note que Gentry foi bem claro ao dizer que "havia diversas variedades de gematria", e a que ele endossa "é uma das principais", e não esquecendo da pouca "discordância entre os estudiosos hoje".

Conclusão:

Em que mudará se Nero foi ou não a besta do Apocalipse? Qual a diferença que isto fará em nossas vidas? Qual a importância de se saber sobre isto? A importância está somente no fato de que o que uma pessoa crê em matéria de fé, automaticamente refletirá em seu estilo de vida. Os que estão esperando a besta (ou o anticristo) atualmente, prevêem um futuro pessimista para a humanidade.

Com isto, eles se esqueceram do foco Principal que é Cristo para dar lugar a procura pelo temível anticristo. O Senhor Jesus Cristo é a nossa CHAVE de interpretação da Bíblia. É somente através dele que podemos interpretar todas as outras passagens das Escrituras Sagradas. Os crentes - em geral - perderam essa verdade. Procuram por interpretações filosóficas, individuais etc, ao invés de, olhar através de Jesus. E como fazer isto?

É muito simples! Jesus é a Palavra de Deus, o Verbo que se encarnou entre nós. TUDO quanto fez ou falou, ou viveu, é exatamente a interpretação de tudo nas Escrituras, na vida, na ciência e em tudo no geral. Especificamente como podemos interpretar o Apocalipse através dessa Chave que é Jesus? Ele, o Senhor Jesus, discursou em Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21 o chamado sermão profético sobre o tempo do fim, que é considerado um mini Apocalipse. O Apocalipse está nesse sermão.

O Senhor foi bem claro quando aquelas coisas terríveis deveriam acontecer. Ele disse: “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça”. (Mateus 24.34)

A palavrinha "esta" na gramática é chamada de pronome demonstrativo próximo. Se fosse intenção de dizer a respeito de uma geração distante, simplesmente Jesus teria dito "não passará AQUELA geração". É simples assim!

Portanto, apesar de termos bem mais de noventa por cento do Apocalipse desvendado graças ao conhecimento histórico, arqueológico e teológico, mesmo que não tivéssemos acesso a nada disto, e não soubéssemos quem é a besta, ficaria o fato consumado de que Jesus declarou que tudo aconteceria - como de fato aconteceu - naquela geração do primeiro século.

E os ensinos do Senhor deixam claro que seu Reino começou no primeiro século como um grão de mostarda que, no final, se transformará em uma grande árvore. Portanto, a pior parte da história humana já passou e, Cristo, assim como triunfou sobre todos os seus inimigos no passado, nenhum outro deixará de vencer atualmente até sua vinda. Nenhuma besta com domínio global se levantará jamais outra vez!"

E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder.

Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés.
O último inimigo a ser destruído é a morte".
(1Coríntios15.24-26 - o grifo é meu)

 

 


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Notas:

1. Artigo: Cezar Nero é a besta do Apocalipse?
...Autor: Lucas Banzoli
...Site: www.heresiascatolicas.blogspot.com.br
...Data: 21 de abril de 2013

2. Artigo: O Número da Besta
...Autor: Kenneth L. Gentry Jr
...Site: www.revistacrista.org/Artigos/O%20N%FAmero%20da%20Besta.pdf

3. Idem nº 2.

4. Idem nº 2.

5. Idem nº 1.

6. E-book: Comentário Preterista sobre o Apocalipse, Vol. 1.
...Autor: César Francisco Raymundo
...Site: www.revistacrista.org/literatura.htm

7. Idem nº 1.

8. E-mail recebido de Kenneth L. Gentry Jr com o título: "666 in Rev 13".
...Data: Sent: Wed, Jul 9, 2014 11:14 am
...Site para consulta: www.postmillennialismtoday.com