google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 google.com, pub-7873333098207459, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Escatologia Reformada

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Dois Povos Diferentes?



Começaremos pelo coração do dogma dispensacionalista, que afirma que Deus tem dois povos diferentes, sendo que um deles será arrebatado antes de Deus continuar seu plano em relação ao outro. As Escrituras revelam que Deus tem dois povos distintos? Ou revela que há um só povo escolhido, que forma uma comunidade pactual?

Em vez de afirmar que Deus tem dois povos diferentes, a Escritura revela, do princípio ao fim, que somente há um povo escolhido, comprado “de toda raça, língua, povo e nação” (Ap 5.9). Como Paulo afirma: “os gentios são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e co-participantes da promessa em Cristo Jesus” (Ef 3.6).

Além disso, a mesma terminologia utilizada para descrever o povo de Israel no Antigo Testamento é utilizada para descrever a Igreja no Novo Testamento. Pedro chama esse único povo escolhido de “geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus” (1Pe 2.9). Esse é o povo escolhido de Deus, a geração eleita, não em virtude de uma descendência física de Abraão, mas em virtude de uma relação genuína com “a pedra viva – rejeitada pelos homens, mas escolhida por Deus e preciosa para ele” (1Pe 2.4). A verdadeira Igreja é o verdadeiro Israel, e o verdadeiro Israel é a verdadeira Igreja.

E mais: assim como o Antigo e o Novo Testamento revelam um só povo escolhido, também revelam que esse povo escolhido forma uma só comunidade da aliança. Ainda que essa única comunidade da aliança encontra-se fisicamente ligada à semente de Abraão, cujo número seria como o das “estrelas” no céu (Gn 15.5) ou como o “pó da terra” (Gn 13.16), ela fundamenta-se espiritualmente numa descendência singular, única – ou seja, num descendente individual. Paulo explica em sua epístola aos Gálatas: “as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. A Escritura não diz: ‘E aos seus descendentes’, como se falando de muitos, mas: ‘Ao seu descendente’, dando a entender que se trata de um só, isto é, Cristo” (Gl 3.16). Paulo continua explicando: “E se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3.29).

Afirmar que Israel deve “cumprir seu destino nacional como uma entidade separada depois do arrebatamento e da Tribulação durante o milênio” é uma afronta ao único descendente no qual todas as promessas feitas a Abraão foram cumpridas. Como disse Keith Mathison: “As promessas feitas aos israelitas, literalmente falando, foram cumpridas por um israelita literal, Jesus, o Messias. Ele é o descendente (‘a semente’) de Abraão”. O remanescente fiel de Israel do Antigo Testamento e do Cristianismo do Novo Testamento unem-se numa descendência genuína de Abraão, tornando-se seus herdeiros segundo a promessa. Esse remanescente não foi escolhido pela religião ou pela raça, mas pela sua relação com o Redentor ressurreto. Revestidos de Cristo, homens, mulheres, “de toda tribo, língua e nação”, formam uma única comunidade da aliança.

Finalmente, esse único povo escolhido por Deus, que forma a comunidade da aliança, é belamente representado em Romanos como uma oliveira cultivada (Rm 11.11-24). A árvore simboliza o Israel nacional, os ramos simbolizam os que creem, e suas raízes simbolizam Jesus, “a Raiz e o Descendente de Davi” (Ap 22.16). Os ramos naturais que foram cortados representam os judeus que rejeitaram Jesus. Os ramos de oliveira brava que foram enxertados representam os gentios que receberam Jesus. Por isso, Paulo diz: “Pois nem todos os descendentes de Israel são Israel. Nem por serem descendentes de Abraão passaram todos a ser filhos de Abraão. Ao contrário: ‘Por meio de Isaque a sua descendência será considerada’. Noutras palavras, não são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são considerados descendência de Abraão” (Rm 9.6-8).

Jesus é o único Descendente genuíno de Abraão. E todos os que estão revestidos de Cristo formam uma comunidade da aliança escolhida e unida em Cristo. Portanto, “não há judeu nem grego [nem árabe nem chinês, nem norteamericano nem africano, nem australiano nem brasileiro, etc], nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vocês são um em Cristo Jesus. E se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3.28,29). Estas palavras de Paulo são o epitáfio no túmulo do dispensacionalismo!

Portanto, a Bíblia simplesmente contradiz o ensino dispensacionalista de que Deus possui dois povos distintos. E se Deus sempre teve um único povo, o dogma dispensacionalista é esmagado pelo peso das Escrituras.


Hank Hanegraaff. Desmascarando o Dogma Dispensacionalista. Traduzido e Adaptado por F.V.S. Revista Última Chamada. pg: 16-18









sábado, 24 de novembro de 2018

A Origem do ensino de um Arrebatamento Pré-Tribulacional



Sempre que o cristão encontra uma doutrina que não foi ensinada por alguém de qualquer ramo da igreja de Cristo durante os dezoito séculos passados, ele deveria ter muita suspeita de tal ensino. Esse fato em e por si mesmo não prova que o novo ensino é falso. Mas, deveria definitivamente levantar suspeitas, pois se algo é ensinado na Escritura, não é absurdo esperar que ao menos uns poucos teólogos e exegetas tenham descoberto isso antes. O ensino de um arrebatamento secreto pré-tribulacional é uma doutrina que nunca existiu antes de 1830. O arrebatamento pré-tribulacional veio à existência mediante uma exegese cuidadosa da Escritura? Não! A primeira pessoa a ensinar a doutrina foi uma jovem chamada Margaret Macdonald. Margaret não era teóloga nem expositora bíblica, mas uma profetiza da seita Irvingita2 (a Igreja Católica Apostólica). O jornalista cristão Dave MacPherson escreveu um livro sobre o assunto da origem do arrebatamento secreto. Ele escreve: “Temos visto que uma jovem escocesa chamada Margaret Macdonald teve uma revelação particular em Port Glasgow, Escócia, no começo de 1830, de que um grupo seleto de cristãos seria capturado para encontrar Cristo nos ares, antes dos dias do Anticristo. Uma testemunha ocular, Robert Norton M.D., preservou o relato escrito a mão por ela da sua revelação de um arrebatamento pré-tribulacional em dois de seus livros, e disse que foi a primeira vez que alguém dividiu a segunda vinda em duas partes ou estágios distintos. Seus escritos, juntamente com muitas outras literaturas da Igreja Católica Apostólica, ficaram escondidos por muitas décadas do pensamento evangélico dominante, e apenas recentemente reapareceram. As visões de Margaret eram bem conhecidas por aqueles que visitavam sua casa, entre eles John Darby dos Irmãos. Dentro de poucos meses sua concepção profética distintiva foi refletida na edição de setembro de 1830 do The Morning Watch3 e na primeira assembléia dos Irmãos em Plymouth, Inglaterra. Os primeiros discípulos da interpretação pré-tribulacionista freqüentemente a chamavam de uma nova doutrina”.

John Nelson Darby (1800-1882), que foi o líder do movimento Irmãos e “pai do Dispensacionalismo moderno”, tomou o novo ensino de Margaret Macdonald sobre o arrebatamento, fez algumas mudanças (ela ensinava um arrebatamento parcial de crentes, enquanto ele ensinava que todos os crentes seriam arrebatados) e incorporou-o em seu entendimento dispensacionalista da Escritura e profecia. Darby gastaria o resto de sua vida falando, escrevendo e viajando para espalhar a nova teoria do arrebatamento. Os Irmãos de Plymouth admitiam abertamente e até mesmo se orgulhavam do fato que entre os seus ensinos estavam alguns totalmente novos, que nunca tinham sido ensinados pelos pais da igreja, escolásticos medievais, reformadores protestantes e muitos outros comentaristas.

O maior responsável pela ampla aceitação do pré-tribulacionismo e dispensacionalismo entre os evangélicos foi Cyrus Ingerson Scofield (18431921). C. I. Scofield publicou sua Bíblia de Referência Scofield em 1909. Essa Bíblia, que expunha as doutrinas de Darby em suas notas, se tornou muito popular em círculos fundamentalistas. Na mente de muitos – professores da Bíblia, pastores fundamentalistas e multidões de cristãos professos – as notas de Scofield eram praticamente igualadas à própria palavra de Deus. Se uma pessoa não aderia ao esquema dispensacionalista e pré-tribulacional, ele ou ela seria quase que automaticamente rotulado de modernista.

Hoje existe uma abundância de livros advogando a teoria do arrebatamento pré-tribulacional e o entendimento dispensacionalista dos fins dos tempos. Dado o fato que entre os cristãos professos o arrebatamento prétribulacional ainda é freneticamente popular, uma comparação dessa teoria com o ensino bíblico está justificado. Veremos que os argumentos típicos oferecidos em favor dessa teoria estão em conflito com a Bíblia.

Fonte: Extraído e traduzido do livreto “Is the Pretribulation Rapture Biblical?”, de Brian Schwertley.

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto











quinta-feira, 22 de novembro de 2018

As Duas Testemunhas



A verdadeira Igreja é agora representada pelo símbolo das duas testemunhas. Essas testemunhas simbolizam a Igreja militante dando testemunho por meio dos seus ministros e missionários ao longo de toda a presente dispensação. O fato de que são duas testemunhas enfatiza a tarefa missionária da Igreja (cf. Lc 10:1). O Senhor envia seus missionários dois a dois; o que falta a um o outro supre. Agora, a Igreja como organização, funcionando por meio de seus ministros e missionários, desenvolverá seu trabalho por 1.260 dias.

Esse é o período que se estende do momento da ascensão de Cristo até quase o dia do juízo final (cf. Ap 12:5,6,14). Trata-se, sem dúvida, do equivalente exato de 42 meses, pois 42 vezes 30 é 1.260 – e de “um tempo, tempos e metade de um tempo”, que são três anos e meio (Ap 12:14). É o período de aflições, a presente era do evangelho. Pode surgir a questão: Por que esse período é agora expresso em termos de meses (verso 2), depois em termos de dias (verso 3)? Aqui a nossa resposta é uma suposição: no verso 2 temos a figura de uma cidade sendo sitiada e, finalmente, tomada e pisoteada. A duração do sítio de uma cidade é geralmente expressa em termos de meses. No verso 3, entretanto, as duas testemunhas são descritas profetizando; essa é uma atividade diária. Elas testemunham a cada dia, pela dispensação inteira. Elas pregam o arrependimento, razão pela qual se vestem de saco.

Para que tenhamos uma visão nítida da figura da Igreja como uma poderosa organização missionária por toda a presente era do evangelho, ela é aqui descrita num quádruplo simbolismo.

Primeiro, assim como “as duas oliveiras e os dois candeeiros”, Josué e Zorobabel (?) (cf. Zc 4), representavam os ofícios pelos quais Deus abençoou Israel, assim durante a era do evangelho ele abençoa sua Igreja por meio de ofícios, a saber, a pregação da Palavra e o ministério de sacramentos.

Segundo, tal como os missionários saíram dois a dois (Lc 10:1), assim através da era do evangelho a Igreja, como uma organização, cumpre sua missão no mundo.

Terceiro, assim como o fogo do julgamento e da condenação saiu da boca de Jeremias para devorar os inimigos de Deus (Jr 5:14), assim também quando a Igreja de hoje, por meio dos seus ofícios, condena o ímpio, com base na Palavra de Deus, essa condenação realmente resulta em sua destruição (Mt 18:18).

Quarto, tal como Elias recebeu poder para fechar os céus de modo que não chovesse (1ºRs 17:1), e tal como Moisés recebeu autoridade para tornar as águas em sangue (Ex 7:20), também assim o poderoso ministério da Igreja desta presente época, no caso de sua mensagem ser rejeitada, tem de julgar e condenar o mundo.

Esse poder não é imaginário, mas muito real. O Senhor não apenas derrama desgraças sobre o mundo iníquo em resposta às orações dos santos perseguidos (8:3-5), mas também assegura à Igreja que, sempre que ela estiver engajada no ofício oficial da Palavra e verdadeira diante do mundo, seus julgamentos serão os seus julgamentos (Mt 16:19; 18:18,19; Jo 20:21-23).

Na verdade, num sentido moral, a Igreja ainda golpeia a terra com cada praga! O mundo iníquo deveria ser cauteloso, pois se alguém está firmemente determinado a prejudicar a Igreja, contra ele sai o fogo da boca das testemunhas de Deus.

Se alguém pretender [1] causar dano aos verdadeiros ministros e missionários, será igualmente destruído (verso 5).

Esta era do evangelho, contudo, chegará ao final (cf. Mt 24:14). A Igreja, como poderosa organização missionária, findará seu testemunho. A besta que sobe do abismo, isto é, o mundo anticristão, movido pelo inferno, pelejará contra a Igreja e a destruirá. Esta é a batalha do Armagedom. A besta não marará todos os crentes. Haverá crentes na terra quando Cristo voltar, embora sejam um pequeno número (Lc 18:8). Mas a Igreja, como poderosa organização missionária e para a disseminação do evangelho e o ministério da Palavra, será destruída. Como ilustração, pense na condição do comunismo na China no presente tempo; certamente, há crentes sinceros ali, mas e quanto à proclamação poderosa, oficial, aberta e pública e à disseminação do evangelho? E não é essa a condição que se espalha em outros países? Assim, logo antes da segunda vinda, o cadáver da Igreja, cujo testemunho oficial e público foi silenciado e sufocado pelo mundo, está tombado na praça da grande cidade. Esta é a praça da Jerusalém imoral e anticristã. Jerusalém crucificou o Senhor. Por causa de sua imoralidade e perseguição dos santos ela se tornou, espiritualmente, como Sodoma e Egito (cf. Is 1:10; 3:9; Jr 23:14; Ez 16:46). Tornou-se símbolo da Babilônia e da totalidade do mundo imoral e anticristão. Assim, quando lemos que o cadáver da Igreja está jogado na praça da grande cidade, [2] isso quer dizer, simplesmente, que a Igreja está morta no meio do mundo: ela não mais existe como instituição de influência e de poder missionário! Seus líderes foram mortos; sua voz foi silenciada. Essa condição dura três dias e meio, o que é um breve período (Mt 24:22; cf. Ap 20:7-9). O mundo nem mesmo permite que os corpos das testemunhas sejam enterrados. Esses corpos estão jogados nas praças, expostos aos insetos, aves e cães. O mundo faz um grande piquenique: ele celebra! As pessoas enviam presentes umas às outras e tripudiam sobre as testemunhas (cf. Et 9:22).
Sua palavra não os atormenta mais. Mundo estulto! Sua alegria é prematura.

Os cadáveres, de repente, começam a se mexer; o fôlego de vida de Deus entrou neles; as testemunhas se põem em pé. Em conexão com a segunda vinda de Cristo a Igreja é restaurada à vida, à honra, ao poder, à influência. Para o mundo, a hora da oportunidade se foi. No dia do juízo, quando o mundo verá a Igreja restaurada à honra e à glória, o mundo ficará paralisado de medo. A Igreja – ainda sob o simbolismo das duas testemunhas – agora ouve a voz: “Subi para aqui”. Imediatamente a Igreja ascende ao céu numa nuvem de glória. “E seus inimigos a contemplaram.” Não se trata de um arrebatamento secreto.

Agora, outra vez dirigimos nossa atenção para o mundo iníquo. Conquanto o resumo da História da Igreja tenha nos levado para o dia do juízo e alem dele, retornemos para os eventos que ocorrem pouco antes desse dia final. Como todos esses eventos se agrupam em torno da segunda vinda, é evidente que a expressão “naquela hora” não nos impede de fazê-lo. Na visão, o apóstolo vê que a terra está tremendo. Temos aqui a mesma figura de 6:12. Um terremoto imediatamente precede o juízo final. Já cai uma décima parte da cidade; em outras palavras, a obra da destruição começa. Tão terrível é o terremoto que mata sete mil pessoas. Este é, provavelmente, uma representação simbólica dos acontecimentos alarmantes nas vésperas do juízo final. O número sete mil não deve ser tomado literalmente; ele fala do número completo dos que são destinados à destruição pelo terremoto. Nem todos os iníquos serão destruídos. Aqueles que permanecem vivos ficam aterrorizados e “dão glória ao Deus do céu”. Isso, é claro, não significa que se converteram. Longe disso! Estão, simplesmente, chocados de terror. O Rei Nabucodonosor, em seus dias, muitas vezes glorificou o Deus do céu (Dn 2:47; 3:28; 4:1ss.; 4:34; 4:37). Mas isso não implica que ele era um homem convertido.

Agora tudo está pronto para o juízo final; pois, a despeito de todas as trombetas de advertência, o mundo permaneceu impenitente e, além disso, rejeitou o testemunho das duas testemunhas – a Igreja como uma organização – e as matou (verso 7). Portanto, agora o ajuste final deve ocorrer. Assim, lemos: “Passou o segundo ai, vem aí o terceiro ai”.

[1] Note a diferença nas duas formas verbais no original.
[2] O termo “grande cidade” sempre se refere à Babilônia e jamais à Nova e Santa Jerusalém.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Argumentos a favor do Amilenismo



1. Quando olhamos para a totalidade da Bíblia, somente uma passagem (Apocalipse 20:1-6) parece ensinar o reino milenar terreno e futuro de Cristo, e essa passagem em si mesma é obscura. Não é sábio basear tão importante doutrina em uma passagem de interpretação incerta e amplamente controvertida.

Mas, como os amilenistas entendem Apocalipse 20:1-6? A interpretação amilenista vê essa passagem como referindo-se à presente era da igreja. A passagem é esta:

E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos. Lançou-o no abismo, o qual fechou e selou sobre ele, para que não enganasse mais as nações até que os mil anos se completassem. Depois disto é necessário que ele seja solto por um pouco de tempo. Então vi uns tronos; e aos que se assentaram sobre eles foi dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus, e que não adoraram a besta nem a sua imagem, e não receberam o sinal na fronte nem nas mãos; e reviveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se completassem. Esta é a primeira ressurreição.Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele durante os mil anos.

De acordo com a interpretação amilenista [1], a prisão de Satanás nos versículos 1 e 2 é a prisão que ocorreu durante o ministério terreno de Jesus. Ele falou sobre amarrar o valente a fim de poder saquear a casa (Mateus 12:29 - “Ou, como pode alguém entrar na casa do valente, e roubar-lhe os bens, se primeiro não amarrar o valente? e então lhe saquear a casa”) e disse que o Espírito de Deus estava presente naquele tempo em poder para triunfar sobre as forças demoníacas: “Mas se é pelo Espírito de Deus que eu expulso demônios, então chegou a vocês o Reino de Deus” (Mateus 12:28). Semelhantemente, com respeito à destruição do poder de Satanás, Jesus disse durante o Seu ministério: "Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago” (Lucas 10:18).

O amilenista argumenta que essa prisão de Satanás em Apocalipse 20:1-3 tem um propósito específico: “para assim impedi-lo de enganar as nações” (v. 3). Isso, então, é o que aconteceu quando Jesus veio e o evangelho começou a ser proclamado não simplesmente aos judeus, mas, após o Pentecoste, a todas as nações do mundo. De fato, a atividade missionária mundial da igreja e a presença da igreja na maioria das nações do mundo ou em todas elas mostra que o poder que Satanás tinha no Antigo Testamento de “enganar as nações” e mantê-las nas trevas acabou.

Na visão amilenista, argumenta-se que, como João viu as “almas” e não os corpos físicos no versículo 4, essa cena deve estar ocorrendo no céu. Quando o texto diz que “eles ressuscitaram”, não quer dizer que ressuscitaram fisicamente. Isso possivelmente significa que eles simplesmente “viveram”, já que o verbo no aoristo ezesan pode facilmente ser interpretado como a afirmação de um evento que ocorreu por um longo período de tempo. Alguns intérpretes amilenistas, no entanto, tomam o verbo ezesan como significando que “eles vieram à vida” no sentido de vir a uma existência celestial na presença de Cristo e começar a reinar com Ele do céu.

Conforme essa visão, a expressão “primeira ressurreição” (v. 5) refere-se a ir para o céu para estar com o Senhor. Essa não é uma ressurreição corporal, mas uma ida à presença do Senhor no céu. De modo semelhante, quando o versículo 5 diz que “o restante dos mortos não voltou a viver até se completarem os mil anos”, isso é entendido como se eles não tivessem vindo à presença de Deus para juízo até o final dos mil anos. Assim, tanto no versículo 4 quanto no 5, a expressão “voltou a viver” significa ir para a presença de Deus. (Outra posição amilenista da “primeira ressurreição” é a que se refere à ressurreição de Cristo e à participação dos crentes na ressurreição de Cristo por meio da união com Ele).

2. O segundo argumento muitas vezes propostos em favor do amilenismo é o fato de que a Escritura ensina somente uma ressurreição, tanto os crentes como os descrentes serão levantados da morte, não duas ressurreições (a ressurreição de crentes antes de o milênio começar e a ressurreição de descrentes para o juízo após o fim do milênio). Esse é uma argumento importante, porque a posição pré-milenista requer duas ressurreições separada por um período de mil anos.

Evidência a favor de uma única ressurreição é encontrada em versículos como João 5:28-29, nos quais Jesus diz: “Não fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados”. Aqui Jesus fala de uma única “hora” em que tantos crentes como descrentes mortos sairão de suas tumbas (ver também Daniel 12:2; Atos 24:15).

“E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno” (Daniel 12:2)

“Tendo esperança em Deus, como estes mesmos também esperam, de que há de haver ressurreição tanto dos justos como dos injustos” (Atos 24:15)

3. A idéia de crentes glorificados e de pecadores vivendo na terra juntos é muito difícil de aceitar. Berkhof diz: “É impossível entender como uma parte da velha terra e da humanidade pecadora poderá coexistir com uma parte da nova terra e de uma humanidade já glorificada. Como poderão os santos em corpos glorificados ter comunhão com pecadores na carne? Como poderão os santos glorificados viver nesta atmosfera sobrecarregada de pecado e em cenário de morte e decadência?” [2].

4. Se Cristo vem em glória para reinar sobre a terra, então como as pessoas ainda poderiam persistir no pecado? Uma vez que Jesus esteja realmente presente em Seu corpo ressurreto e reinando como rei sobre a terra, não parece altamente improvável que pessoas ainda O rejeitem e que o mal e a rebelião ainda cresçam na terra até o ponto de finalmente Satanás reunir as nações para a batalha contra Cristo?

5. Em conclusão, os amilenistas dizem que a Escritura parece indicar que todos os eventos mais importantes que ainda estão por acontecer antes do estado eterno ocorrerão de uma só vez. Cristo vai retornar, haverá uma só ressurreição de crentes e descrentes, o juízo final acontecerá, e o novo céu e a nova terra serão estabelecidos. Então, entraremos imediatamente para o estado eterno, sem qualquer milênio futuro.

NOTAS:

[1] - Aqui estou seguindo amplamente a excelente discussão de Anthony A. Hoekema, na obra Milênio: significado e interpretações, Robert G. Clouse, org. (Editora Cultura Cristã), p. 141-170.

[2] - Teologia Sistemática, p. 658.

Fonte: Wayne Grudem, Teologia Sistemática, Editora Vida.

sábado, 27 de outubro de 2018

Paulo, Jesus e o Arrebatamento



A Igreja apostólica viveu na expectativa do retorno de Cristo em glória e majestade. Paulo definiu os cristãos como aqueles que experimentam a graça de Deus, vivem uma vida santificada e “aguardam a bendita esperança e a manifestação [epiphaneia = aparecimento] da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tito 2:13). Essa “bendita esperança” do glorioso aparecimento de Cristo para “julgar vivos e mortos” (II Tim. 4:1; I Tim. 6:14) tornou-se a esperança da Igreja cristã, até que John Nelson Darby, erudito inglês (1800-1882), começou a ensinar a nova teoria de um arrebatamento secreto, pré-tribulação, sete anos antes da vinda de Jesus Cristo. 

De acordo com esse ponto de vista, Cristo vem de modo invisível para os Seus santos. Na gloriosa parousia (advento) ou epifania (aparecimento), Cristo retornará com os santos. Tal compreensão de uma segunda vinda em duas fases é resultado de um sistema hermenêutico chamado literalismo, originado por Darby e popularizado por C. I. Scofield, na Nova Bíblia de Referência Scofield. 

A diferença fundamental entre a teoria do arrebatamento secreto e o cristianismo histórico é a doutrina de que Cristo voltará em glória exatamente sete anos depois do arrebatamento da Igreja. Encoberto na construção dessa teoria está o estabelecimento de uma data para o segundo advento; algo explicitamente proibido por Jesus Cristo (Mat. 24:36; Atos 1:6 e 7). Conceituados eruditos da Bíblia têm escrito muitas avaliações críticas desse futurismo ou dispensacionalismo, especialmente da radical dicotomia que ele cria entre Israel e a Igreja. 

Neste artigo, oferecemos uma revisão da posição bíblica sobre a bendita esperança, tal como ensinada por Jesus e Paulo. As passagens principais são Mateus 24:29-31; João 14:3; I Cor. 15:51 e 52; I Tes. 4:13-18; II Tes. 1:5-10; 2:1-8. Todos os textos necessitam ser interpretados dentro do seu contexto histórico e literário. Nosso uso das palavras “Igreja”, “Israel”, “parusia” e “iminente” deve ser determinado pela revelação progressiva do Novo Testamento, ao invés de considerações dogmáticas.

Jesus e a Parousia

Dentre os quatro evangelhos, somente Mateus 24 usa o termo parousia (presença, vinda, chegada) para o glorioso aparecimento de Jesus. Desde o início, a vinda de Cristo está conectada com o julgamento retribuitivo de Deus no fim dos tempos. “Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da Tua vinda [parousia] e da consumação do século.” (Mat. 24:3). Jesus afirmou essa coincidência quando disse que todos os povos sobre a Terra verão o sinal de Sua parusia quando vier nas nuvens do céu com os anjos, “com poder e muita glória”, como o “Filho do homem” da visão de Daniel (Dan. 7:13 e 14).

“Logo em seguida à tribulação [thlipsis] daqueles dias . . . . Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; todos os povos da Terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória” (Mat. 24:29 e 30). Cristo enfatizou a visibilidade universal de Sua parousia, ao dizer: “Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do homem” (v. 27).

É essencial reconhecer que Jesus adotou as expressões “tribulação”, “Filho do homem”, “as nuvens do céu”, “poder e muita glória”, das visões de Daniel. Os capítulos 7 e 12 do livro de Daniel descrevem a libertação final do povo do concerto, fiel a Deus, como acontecendo depois da tribulação no tempo do fim (Dan. 7:25-27; 12:1 e 2). Daniel retrata o livramento pós-tribulação dos santos através da intervenção do real “Filho do homem” ou Miguel celestial. Jesus apresentou-Se como o divino Messias da visão de Daniel e anunciou que o julgamento de Deus será dramaticamente realizado em Sua parusia com reverente poder e glória. Todos os povos da Terra não apenas testemunharão essa parusia, mas, conseqüentemente, também se lamentarão ou se encherão de remorso e desespero. 

Cristo usou expressões do livro de Daniel para descrever a libertação final de Seu povo após a tribulação do tempo do fim.

Esse lamento de Mateus 24 é ampliado por João no Apocalipse: “Eis que vem com as nuvens, e todo olho O verá, até quantos O traspassaram. E todas as tribos da Terra se lamentarão sobre Ele” (Apo. 1:7; ver também Apo. 6:12-17). Não se trata de um lamento como arrependimento, mas por causa do desespero e temor em virtude da aproximação do julgamento final.

Escritos gregos contemporâneos usavam a palavra parousia como o termo oficial para descrever a chegada triunfante de reis e governantes em visita a uma determinada cidade. Jesus endossou a perspectiva profética de Daniel ao declarar que Sua parusia poderia ocorrer “logo em seguida” à tribulação do Seu povo (Mat. 24:21, 22, 29 e 30; Dan. 12:2). Claramente Ele também ensinou uma parusia pós-tribulação.

O que os dispensacionalistas sustentam, entretanto, é que Jesus direcionou Seu discurso profético exclusivamente a Seus discípulos, representantes de Israel como nação escolhida; de modo que Mateus 24 não é aplicável à Igreja, ao arrebatamento ou à ressurreição. 

Ironicamente, de todos os quatro escritores evangélicos da Bíblia, somente Mateus usa o termo ekklèsia = igreja (Mat. 16:18; 18:17). Ele define a Igreja de Cristo como o corpo de todos os que, à semelhança do apóstolo Pedro, confessam a Jesus como o Messias de Israel (Mat. 16:16-19), o corpo no qual a presença de Cristo habita até Sua parusia ou a consumação dos séculos (Mat. 18:20; 28:20). Jesus designou os crentes como “Minha igreja”, “Seus escolhidos” (Mat. 16:18; 24:31).

É difícil entender como alguém pode negar o fato de que os apóstolos, para quem Jesus direcionou Seu discurso profético, também foram os fundadores e os primeiros membros da Igreja cristã. Eles eram representantes de todos os crentes em todas as nações (Atos 1:8). O discurso profético de Cristo em Mateus 24 é, portanto, direcionado à igreja apostólica até a consumação dos séculos. Qualquer tentativa de separar os apóstolos ou Mateus 24 da Igreja é uma compartimentalização antibíblica.

Pedro se referiu aos membros da Igreja como “povo de propriedade exclusiva” (I Ped. 2:9), ou “eleitos” (I Ped. 1:1 e 2). Semelhantemente, Paulo falou da Igreja como “eleitos de Deus” (Rom. 8:33). Jesus certamente não restringiu Seus eleitos ao remanescente judeu de crentes depois de testemunhar a maior fé de um centurião romano do que de qualquer israelita: “Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos Céus. Ao passo que os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes” (Mat. 8:11 e 12).

O argumento de que Jesus não menciona o arrebatamento ou a ressurreição em Mateus 24, porque “o arrebatamento não ocorre na segunda vinda,” suscita uma questão. Uma hipótese tão precária não está baseada na Escritura mas sobre considerações doutrinárias. Em Mateus 24, Jesus respondeu a uma pergunta particular dos discípulos a respeito dos sinais de Sua parusia (v. 3). Então, Jesus apontou o livro de Daniel como fonte primária de Sua resposta (v. 15). Ali nós lemos como o livramento dos santos na tribulação do tempo do fim ocorrerá: Miguel descerá para seu resgate e para realizar a ressurreição dos mortos (Dan. 12:1 e 2).

Portanto, devemos ler Mateus 24, tendo Daniel como fundo, para ter um quadro completo. Posteriormente, quando Jesus assegurou a Seus discípulos que Ele viria outra vez para levá-los à casa do Pai no Céu (João 14:2 e 3), não estava sugerindo um arrebatamento secreto, mas explicando o confortador propósito de Sua mais antiga promessa de ressuscitá-los da morte, “no último dia”: “De fato, a vontade de Meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nEle crer tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia” (João 6:40).

O Apocalipse de Paulo

Por volta de 50 ou 51 A.D., Paulo escreveu duas cartas pastorais à igreja de Tessalônica que ele mesmo fundara. Por causa da forte proteção oferecida aos cidadãos tessalonicenses, pelo imperador romano, eles se tornaram hostis àqueles que glorificavam a Cristo como seu Rei e Redentor (Atos 17:1-9). O tema central de Paulo para os cristãos tessalonicenses era a esperança na parusia, um termo que ele usou sete vezes nessas cartas.

Paulo descreveu a abençoada esperança da Igreja com uma preponderância de paralelos com Mateus 24. Um erudito concluiu, depois de detalhada comparação: “Em Mateus e Paulo nós encontramos as mesmas palavras gregas, usadas no mesmo sentido e em contextos similares”. Outro estudioso anotou 24 paralelos substanciais entre Mateus 24 e 25 e as duas cartas aos tessalonicenses: “Há maior quantidade de material paralelo no relato de Mateus do que em Marcos e Lucas, levando à conclusão de que as palavras de Jesus, tal como relatadas por Mateus, foram a fonte do ensinamento de Paulo”. 

Paulo reconheceu a autoridade do ensinamento de Cristo e apelou à “palavra do Senhor” para fazer sua descrição da esperança cristã (I Tes. 4:15). Ele adotou muitos dos conceitos e expressões fundamentais de Jesus, tais como a parusia do Céu, a reunião final dos santos pelos anjos, nuvens dos céus, o som da última trombeta, a vinda do Dia do Senhor como um ladrão de noite. Jesus e Paulo também enfatizaram que uma apostasia sacrílega se desenvolveria na Igreja institucional, acompanhada por sinais enganosos e falsas maravilhas, antes da reunião dos santos na gloriosa parousia de Cristo (Mat. 24:10-12, 24, 29 e 30; II Tes. 2:1, 3-10).

Não admira que estudiosos do Novo Testamento que têm comparado os dois relatos meticulosamente, concordem que “o paralelismo substancial é notavelmente extensivo, e inclui tanto paralelismo de estrutura como de idéias”. Essa evidência requer nossa consideração sobre a escatologia de Paulo como uma elucidação e aplicação do discurso profético de Jesus.

Paulo poderia ter usado uma coleção de ensinamentos de Jesus, anteriores aos escritos do evangelho de Mateus. Nós focalizamos o uso que Paulo fez do termo parousia, em comparação com seu uso por Jesus em Mateus 24. Paulo respondeu à questão de alguns crentes tessalonicenses sobre se os que morreram no Senhor tinham qualquer desvantagem em relação aos que sobrevivessem. Poderiam os santos mortos perder a glória da parusia? Eles necessitavam da segurança da esperança cristã, em contraste com os que não têm esperança (I Tes. 4:13).

Paulo fundamentou a esperança do evangelho na certeza da ressurreição de Jesus: “Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em Sua companhia, os que dormem” (I Tes. 4:14). Essa passagem afirma que todos os que morreram no Senhor seguramente serão ressuscitados, tal como Jesus morreu e ressuscitou dos mortos. A frase “trará, em Sua companhia” não sugere qualquer retorno de almas dos Céus à Terra, mas o ato de Deus trazer os mortos à vida, assim como trouxe Jesus da tumba, como “as primícias dos que dormem” (I Cor. 15:20 e 23).

O apóstolo continua sua explicação da seguinte maneira: “Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a Sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos Céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor” (I Tes. 4:15-17).

O propósito de Paulo não foi descrever os sinais que introduzem o segundo advento, mas “pela palavra [ou autoridade] do Senhor” responder a indagação específica sobre os santos mortos em relação à parusia. Nos versos 13-16, ele tranqüiliza os entristecidos crentes, garantindo-lhes que os mortos em Cristo não terão desvantagem alguma em relação aos santos vivos, porque eles “ressuscitarão primeiro”. Os dois grupos são então simultaneamente arrebatados “para o encontro do Senhor nos ares”.

Em sua primeira carta aos tessalonicenses, Paulo ensina justamente o oposto do arrebatamento secreto.

Dessa forma, o advento de Cristo sincroniza com a ressurreição e a trasladação dos santos. Em I Tes. 4:16 e 17, Paulo claramente ampliou em detalhes o que Jesus revelara em Mateus 24:30 e 31. Não há necessidade nem justificativa para compartimentalizações. Jamais deveríamos entender que Paulo esteja revelando uma parusia, uma ressurreição e reunião dos santos diferentes do que foi mencionado por Jesus em Mateus 24. A mesma trombeta que anuncia o encontro dos eleitos em Mat. 24:31 também chama à vida os santos que dormem em Cristo (I Cor. 15:52; I Tes. 4:16).

Como comandante-em-chefe das hostes angelicais, Cristo aparecerá no céu, com sons tais como os de ruidosas trombetas, em Sua gloriosa parusia. Em I Tes. 4:16 e 17, o apóstolo Paulo ensina justamente o oposto do arrebatamento secreto.

Em seu famoso “capítulo da ressurreição” escrito à igreja de Corinto, Paulo novamente introduz a trombeta apocalíptica para anunciar a ressurreição e a trasladação de todos os santos: “Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (I Cor. 15:51 e 52). O apóstolo não diz que o arrebatamento terá lugar “num momento”, mas que o corpo perecível do crente será transformado instantaneamente, “num abrir e fechar de olhos”, em um corpo imortal (ver Fil. 3:20 e 21). Essa mudança, entretanto, somente acontecerá “ao ressoar da última trombeta”, que será ouvida, conforme Jesus Cristo, em Sua gloriosa parusia (Mat. 24:31).

Outra indagação dos tessalonicenses levada a Paulo diz respeito ao tempo do Dia do Senhor: “Irmãos, relativamente aos tempos e às épocas. . . [kairos = data]” (I Tes. 5:1). O apóstolo respondeu que tal preocupação devia ser deixada de lado, considerando que a data desse dia não pode ser prevista, pois “o dia do Senhor vem como ladrão de noite” (I Tes. 5:2) súbita e inesperadamente para os descrentes (v. 3), mas aguardado pelos santos que vivem em constante prontidão (I Tes. 5:4-8; Mat. 25:13).

Paulo salientou que o Dia do Senhor, ou a parusia de Cristo (I Tes. 5:23), terá um duplo aspecto: “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo” (5:9). O apóstolo usou a palavra “ira” para indicar o julgamento retribuitivo de Deus (I Tes. 1:10; Rom. 5:9), o qual ele mesmo descreve em II Tessalonicenses 1:7-10.

Em sua segunda carta à igreja de Tessalônica, Paulo enfrentou uma situação diferente. Agora ele devia tratar com um erro relacionado ao tempo da parusia e da reunião dos santos (II Tes. 2:1). Alguns irmãos criam que “o dia do Senhor” havia chegado (v. 2). Como resultado dessa crença, tornaram-se confusos e se recusavam a trabalhar (II Tes. 3:10 e 11). Esse prematuro senso de cumprimento apocalíptico exigiu uma refutação por parte do apóstolo. Ele recorda sua instrução anterior concernente ao futuro surgimento do “homem da iniqüidade”, como um evento que deve ocorrer antes do Dia do Senhor (2:3). Em virtude de que esse anticristo ainda não tinha feito sua aparente parusia, “com todo poder, e sinais e prodígios da mentira” (2:9), Paulo explicou que o dia da parusia de Cristo também ainda não havia chegado (vs. 3, 4 e 9).

Como um segundo argumento contra a injustificada insistência na expectação de imediata e iminente vinda de Cristo, Paulo recorda aos tessalonicenses o bem conhecido poder restritivo que deteve o aparecimento público do “homem da iniqüidade” naquele tempo (II Tes. 2:4-7). Para compreender apropriadamente a predição paulina de uma apostasia maciça ou afastamento da fé cristã antes do Dia do Senhor, devemos reconhecer a aplicação que ele faz das profecias de Daniel sobre o inimigo de Deus (caps. 7, 8, 11 e 12).

De Daniel 7, os Pais da Igreja aprenderam que o detentor do surgimento do anticristo era o poder civil do Império Romano e seu imperador. Os dispensacionalistas insistem em que o detentor que seria removido antes de ser revelado “o homem da iniqüidade” é o Espírito Santo trabalhando através da Igreja, insinuando assim o seu arrebatamento “a qualquer tempo”.

Em II Tessalonicenses 2, a intenção de Paulo é precisamente refutar essa expectativa fazendo uso da seqüência dos impérios mundiais, conforme Daniel, em seu prognóstico (II Tes. 2:3 e 4 aplica Dan. 7:25; 8:25; 11:36, como a New American Standard Bible indica). Daniel é a chave indispensável para a compreensão do esboço que Paulo faz da Igreja em II Tessalonicenses 2.15 O apóstolo adverte a igreja para atentar aos sinais da apostasia, de modo que a parusia ou o Dia do Senhor não a surpreenda como um ladrão (I Tes. 5:1-6). 

Paulo salientou ainda o efeito da parusia sobre o anticristo: o Senhor virá para destruir “o iníquo . . . com o sopro da Sua boca, e o destruirá pela manifestação de Sua vinda” (2:8). O efeito sobre os santos será o oposto: “Irmãos, no que diz respeito à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião com Ele. . .” (2:1). Assim Paulo repete a união inseparável da parusia e do arrebatamento, conforme descrito em I Tessalonicenses 4. 

O evangelho apocalíptico de Paulo assemelha-se muito ao de Cristo em Mat. 24:21-31. Jesus e Paulo apresentam a segunda vinda e o arrebatamento da Igreja como um só evento que ocorrerá imediatamente à tribulação patrocinada pelo anticristo. Enquanto o Mestre advertiu particularmente contra o engano de uma parusia secreta e invisível (Mat. 24:26 e 27), Paulo fez o mesmo especificamente contra o engano de uma parousia a qualquer momento (II Tes. 2:3-8).



quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Os 144.000



Não é razoável interpretar os 144.000 de modo literal, pois os números em Apocalipse não são literais, mas simbólicos. A Igreja é representada pelos 7 candelabros (1.20), pelos 24 anciãos (4.4, pois a Igreja foi erigida sobre o fundamento dos profetas do Antigo Testamento e dos Apóstolos conforme lemos em Ef 2.20, ou seja, sobre os 12 Patriarcas de Israel e sobre os 12 Apóstolos, que somados são igual a 24; Deus não possui dois povos, mas apenas um, pois a parede de inimizade entre gentios e judeus foi derrubada em Cristo, que, de ambos os povos, fez um só - Ef 2.16); E, agora, vemos esta mesma Igreja sendo descrita em termos de uma multidão de 144.000 (7.4), composta por homens castos ou virgens (14.4), 12.000 de cada tribo de Israel (7.5). E, por fim, a Igreja é também descrita como uma multidão incontável de remidos de todos os povos, tribos, línguas e nações (7.9).

Charles Taze Russell, fundador da seita Testemunhas de Jeová, chegou a conclusão de que apenas 144.000 seriam salvos. Como sua igreja cresceu a ponto de superar em muito este número, ele reformulou sua tese, ensinando, agora, que 144.000 irão para o céu e uma grande multidão de salvos de segunda categoria habitarão um paraíso terrestre. Eis aí um mero exemplo das complicações advindas de interpretações literais dos números no Livro de Apocalipse.

Também não dá para interpretar o número 144.000 literalmente devido as dimensões da Nova Jerusalém, que seriam imensamente desproporcionais para um número tão reduzido de habitantes (Ap 21.16-17). E, se fossemos interpretar literalmente, haveríamos de concluir que apenas homens e, ainda por cima, virgens, (14:4) dentre os hebreus é que seriam selados. Ficando de fora os homens casados como o Pai Abraão e Moisés, e todas as mulheres. Algo totalmente fora de cogitação!

No livro de Apocalipse, a Igreja é que está em foco e não os judeus. O Apocalipse foi escrito para consolar e encorajar a Igreja, e que conforto e ânimo seus membros teriam numa interpretação literal dos 144.000 que contempla apenas os judeus? Por que Jesus concederia proteção especial para 144.000 judeus e não para a Sua Igreja (7.3)? Por que apenas os 144.000 seriam selados e não também aquela multidão inumerável de cristãos de todos os povos, tribos, línguas e nações?

À luz do Novo Testamento, a parede de separação entre judeus e gentios foi derrubada (Ef 2.14) e não poderia estar aqui em Apocalipse de novo reconstruída através uma visão celestial que separasse Israel da Igreja. Deus não possui dois povos, mas um só, e dele fazem parte judeus e gentios unidos e lavados pelo sangue de Jesus (Ef 2.16). O que está em vista em Apocalipse é a Igreja da qual Jesus é o Cabeça. Em Apocalipse 7, temos a igreja sendo descrita de duas formas distintas, uma como um grupo bem definido, sem tirar e nem por, e também como uma multidão inumerável.

A Igreja é denominada de o Israel de Deus, o que determina isto não é a circuncisão, mas o novo nascimento! "De nada vale ser circuncidado ou não. O que importa é ser uma nova criação. Paz e misericórdia estejam sobre todos os que andam conforme essa regra, e também sobre o Israel de Deus" (Gl 6.16). 

E Tiago, como Apóstolo de Cristo, inicia sua Epístola escrita para a Igreja, referindo-se à ela como as 12 tribos de Israel: "Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos dispersas entre as nações: Saudações". E Paulo afirma que "... mediante o evangelho, os gentios são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e co- participantes da promessa em Cristo Jesus" (Ef 3.6). Por isto, o verdadeiro Israel é a Igreja que é herdeira da promessa feita a Abraão: "Não pensemos que a palavra de Deus falhou. Pois nem todos os descendentes de Israel são Israel. Nem por serem descendentes de Abraão passaram todos a ser filhos de Abraão. Ao contrário: “Por meio de Isaque a sua descendência será considerada”. Noutras palavras, não são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são considerados descendência de Abraão." (Rm 9.6-8). Portanto, "os que são da fé, estes é que são filhos de Abraão" (Gl 4.7).

Há que se reconhecer que os 144.000 castos sejam, de fato, uma representação da Igreja do Senhor Jesus Cristo pela qual ele morreu para santificá-la e apresentá-la imaculada a Deus: "... assim como Cristo amou a igreja e entregou- se por ela para santificá- la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável (Ef 5.25-27).

Como o Livro de Apocalipse foi escrito para a Igreja e não para Israel, e também porque se trata de uma literatura apocalíptica repleta de figuras de linguagem, é natural que se conclua que os 144.000 (Ap 7 e 14) sejam uma ilustração da Igreja, pois além de todos os argumentos já apresentados, temos também que as descrições dos 144.000 acabam por reforçar ainda mais esta interpretação, pois a expressão "até que selemos as testas dos servos do nosso Deus” (7.4) indica que os 144.000 sejam uma clara referência a Igreja como um todo, pois sabemos que os salvos da Igreja é que são descritos como os selados (Ef 1.13; 4.30); e também é óbvio que os "servos do nosso Deus" no Novo Testamento só podem ser uma referência a Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo, tanto que os Apóstolos de Cristo, Paulo e Tiago, se apresentam exatamente como "servos de Deus" (Tt 1.1 e Tg 1.1); Mesmo no Livro do Apocalipse os membros da Igreja ou os salvos em Cristo que desfrutaram a eternidade na Nova Jerusalém são chamados de servos (Ap 22.3-9; Ap 19.10). Repare que é claramente dito que o Senhor enviou o seu anjo para mostrar aos seus servos as coisas que em breve hão de acontecer, e sabemos que a revelação do Apocalipse foi dada as Sete Igrejas (Ap 22.3).

Os mártires cristãos, vencedores da Besta, cantarão o cântico de Moisés e o do Cordeiro. Pois a igreja congrega em si mesma ambos os povos, judeus e gentios (Ef 2), de modo que os cânticos de vitória das duas Páscoas estão em sintonia sendo entoados pelo povo de Deus que é a Igreja em louvor ao único e verdadeiro Messias que é o Rei das Nações (Ap 15.3).

Portanto, não há motivo para concluirmos que o uso da expressão "servos do Senhor" seja um indicativo do povo de Israel, pois os da Igreja é que são assim também nomeados no Novo Testamento. A Igreja é a manifestação do remanescente de Israel. Notar que o primeiro gentio a se converter foi Cornélio. O que vale dizer que a Igreja era composta originariamente de crentes judeus, pelos remanescentes de Israel (Rm 2.28,29; 3.3,4; 9.6-8,27,29; 11.15), os gentios foram acrescentados nesta mesma Oliveira. Neste sentido, há muito mais continuidade do que descontinuidade (Ef 2.18-20; 3.6; Gl 3.6-29). Não houve mudança no plano de Deus (Ef 1.3-4), mas revelação progressiva (Gl 6.16; 3.13,14). O Verdadeiro Israel é aquele que possui o Messias. Cristo é a Videira verdadeira (Jo 15.1), a videira é símbolo notório de Israel. O verdadeiro herdeiro de Abraão é o que tem fé no Messias prometido (Gl 3.1s). E não é sem propósito que o número de apóstolos da Igreja é idêntico ao número de tribos de Israel. A Igreja é agora “o Israel de Deus” (Gl 6.16), composta por judeus (o remanescente de Israel, os judeus que aceitam o Cristo) e por gentios crentes (Ef 2).

Além disto, Apocalipse 14.1 descreve os 144.000 como estando ao lado do Cordeiro, trazendo escritos na testa o nome dele, o que confirma tratar-se de um grupo cristão de seguidores de Jesus Cristo, pois também é dito que eles "seguem o Cordeiro por onde quer que ele vá" (14.4). Os 144.000 também são descritos como aqueles que "haviam sido comprados da terra", e sabemos bem que os remidos da Igreja é que "foram comprados por alto preço" (1 Co 6.20; 7.23).

Portanto, doze é o número usado para representar o povo de Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento. São Doze Tribos no Antigo e Doze Apóstolos no Novo. Sabemos também que o número mil representa plenitude como vemos em Apocalipse 20 e no Salmo 84:10: "Melhor é um dia nos teus átrios do que mil noutro lugar"; E, até mesmo em expressões corriqueiras se percebe este uso do mil, tais como: "mil vezes mais" e "eu já ti falei mil vezes". Sendo assim, é bastante lógico concluir que o que o número 144.000 (12 X 12 X 1.000) está sendo utilizado para representar a totalidade do povo de Deus, a soma dos remidos do Antigo e do Novo Testamento, que também são representados pelos 24 anciãos e pelos sete candelabros.



terça-feira, 16 de outubro de 2018

A Segunda Vinda de Cristo, um Evento Único


Enquanto os profetas não distinguem claramente uma dupla vinda de Cristo, o próprio Senhor e os apóstolos deixam mais que claro que à primeira vinda seguir-se-á uma segunda. Jesus se referiu ao Seu retorno mais de uma vez, para o fim do Seu retorno mais de uma vez, para o fim do Seu ministério público, Mt 24.30; 25.19, 31; 26.64; Jo 14.3. Ao tempo da Sua ascensão, anjos apontaram para o Seu regresso, At 3.20, 21; Fp 3.20; 1 Ts 4.15, 16; 2 Ts 1.7, 10; Tt 2.13; Hb 9.28.

Vários termos são empregados para denotar este grande evento, dos quais os seguintes são os mais importantes: (1) apocalypsus (desvendamento, revelação), que indica a remoção daquilo que agora obstrui a nossa visão de Cristo, 1 Co 1.7; 2 Ts 1.7; 1 Pe 1.7, 13; 4.13; (2) epiphaneia (aparecimento, manifestação), termo referente à vinda de Cristo, saindo Ele de um substrato oculto com as ticas bênçãos da salvação, 2 Ts 2.8; 1 Tm 6.14; 2 Tm 4.1, 8; Tt 2.13; e (3) parousia (literalmente, presença), que assinala a vinda que precede a presença ou que resulta na presença, Mt 24.3, 27, 37; 1 Co 15.23; 1 Ts 2.19; 3.13; 4.15; 5.23; 2 Ts 2.1-9; Tg 5.7, 8; 2 Pe 1.16; 3,4, 12; 1 Jo 2.28.

A Segunda Vinda de Cristo, um Evento Único

Os dispensacionalistas dos dias atuais distinguem duas vindas futuras de Cristo, embora às vezes procurem preservar a unidade da idéia da segunda vinda falando dela como dois aspectos daquele grande evento. Mas, desde que as duas são, na realidade, apresentadas como dois eventos diferentes, separados por um período de vários anos, cada qual com seu propósito, dificilmente poderão ser consideradas como um evento único. A primeira é a paurosia, ou simplesmente “a vinda”, e resulta no arrebatamento dos santos, às vezes descrito como um arrebatamento secreto. Esta vinda é iminente, isto é, pode ocorrer a qualquer momento, visto que não há eventos preditos que devam preceder sua ocorrência. A opinião dominante é que, nesse tempo, Cristo não descerá à terra, mas permanecerá nas alturas. Os que morrem no Senhor ressuscitarão dos mortos, os santos vivos serão transfigurados, e juntos recolhidos para encontrar-se com o Senhor nos ares. Daí, esta vinda é também denominada “vinda para os Seus santos”, 1 Ts 4.15, 16. Seguir-se-á um intervalo de sete anos, durante o qual o mundo será evangelizado, Mt 24.14, Israel se converterá, Rm 11.26, ocorrerá a grande tribulação, Mt 24.21,22, e o anticristo ou homem do pecado será revelado, 2 Ts 2.8-10.

Depois destes eventos, haverá outra vinda do Senhor com os seus santos, 1 Ts 3.13, chamada “revelação” ou “dia do Senhor”, no qual Ele descerá à terra. Esta vinda não pode ser iminente, porque terá que ser precedida por diversos eventos preditos. Quando desta vinda, Cristo julgará as nações existentes, Mt 25.31-46, e introduzirá o reino milenar. Assim, temos duas vindas distintas do Senhor, separadas por um período de sete anos, das quais, uma é iminente e a outra não, uma é seguida pela glorificação dos santos, e a outra pelo julgamento das nações e pelo estabelecimento do reino. Esta elaboração da doutrina da segunda vinda é muito conveniente para os dispensacionalistas, visto que os habilita a defender a idéia de que a vinda do Senhor é iminente, mas não tem base na Escritura e traz implicações antibíblicas. Em 2 Ts 2.1. 2., 8 as expressões parousia e “dia do Senhor” são empregadas uma pela outra, e de acordo com 2 Ts 1.7-10, a revelação mencionada no versículo 7 não se ajusta sincronicamente à parousia de que fala o versículo 10. Mt 24.19-31 apresenta a vinda do Senhor por ocasião da qual os eleitos serão reunidos como sucedendo imediatamente após a grande tribulação mencionada no contexto, ao passo que, de acordo com a teoria em foco, deverá ocorrer antes da tribulação. E, finalmente, segundo esta teoria, a igreja não passará pela grande tribulação, que é apresentada em Mt 24.426 em sincronia com a grande apostasia, mas a descrição bíblica em Mt 24.22; Lc 21.36; 2 Ts 2.3; 1 Tm 4.1-3; 2 Tm 3.1-5; Ap 7.14  é completamente diferente. Com base na Escritura, deve-se afirmar que a segunda vinda do Senhor será um único evento. Felizmente, alguns premilenistas não concordam com esta doutrina de uma dupla segunda vinda de Cristo, e se referem a ela dizendo que é uma novidade sem fundamento. Diz Frost: “Não é um fato sabido em geral, e, não obstante, é incontestável que a doutrina da ressurreição e do arrebatamento anteriores à tribulação é uma interpretação moderna – sou tentado a dizer, uma invenção moderna”.1 De acordo com o citado autor, ela tem sua origem nos dias de Irving e Darby. Outro premilenista, a saber, Alexander Reese, apresenta um argumento muito forte contra toda esta idéia em sua obra sobre O Impendente Advento de Cristo (The Approaching Advent of Christ).


Teologia Sistemática/ Louis Berkhof; traduzido por Odayr Olivetti, - 4 Ed. Revisada _ São Paulo: Cultura Cristã, 2012. P: 641,42