A AUTORIDADE DA BESTA
Agora, saímos dos indicadores temporais e geográficos para os políticos. A figura que João faz da autoridade da besta se encaixa bem na identidade romana. João não apenas vê a besta com muitos diademas e a visualiza com armas poderosas, mas nota em especial que Satanás lhe concede “grande autoridade”:
Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres
e sete cabeças e, sobre os chifres, dez diademas e, sobre as
cabeças, nomes de blasfêmia. A besta que vi era semelhante a
leopardo, com pés como de urso e boca como de leão. E deu-lhe o
dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade. (Ap 13.1,2.
João destaca seu grande poder político pela imagem
dos “dez chifres” com “dez diademas”. Na
antiguidade, chifres animais simbolizavam
autoridade política e força militar:
Deus tirou do Egito a
Israel, cujas forças [chifres] são como as do boi selvagem;
consumirá as nações, seus inimigos, e quebrará seus ossos, e, com
as suas setas, os atravessará (Nm 24.8).
Ele tem a imponência do
primogênito do seu touro, e as suas pontas são como as de um boi
selvagem; com elas rechaçará todos os povos até às extremidades
da terra. Tais, pois, as miríades de Efraim, e tais, os milhares de
Manassés (Dt 33.17). Visto que, com o lado e com o ombro, dais
empurrões e, com os chifres, impelis as fracas até as espalhardes
fora (Ez 34.21). Depois disto, eu continuava olhando nas visões da
noite, e eis aqui o quarto animal, terrível, espantoso e sobremodo forte, o qual tinha grandes dentes de ferro; ele devorava, e fazia em
pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os
animais que apareceram antes dele e tinha dez chifres.(Dn 7.7). As pessoas na visão que olham a besta estão
perplexas pelo seu poder: “Quem é semelhante à
besta? Quem pode pelejar contra ela?” (Ap 13.4b).
De fato, Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos
e os vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo,
língua e nação (Ap 13.7). Todos nós estamos cientes do
domínio e do poder de Roma no século I. Josefo
fala dos romanos como “os senhores da terra
habitável” (War 4.3.10),
“os governantes do mundo
inteiro” (Ant. 15.11.1). Ele chama Roma de “a
maior de todas as cidades” (War 4.11.5). Fílon, um
filósofo judeu do século I, fala do imperador de
Roma “assumindo a soberania sobre tudo”
(Embassy 8). Ele até escreveu a respeito da
“soberania [de Roma] sobre as porções mais
numerosas, valiosas e importantes do mundo
habitável, o que, na verdade, alguém poderia com
correção chamar de todo o mundo” (Embassy 10).
A evidência a favor de Roma está aumentando.
A CRONOLOGIA DA BESTA
O anjo intérprete de João apresenta ainda mais
evidências nessa direção. Após afirmar que as sete
cabeças representam sete montanhas, acrescenta que
elas também representam sete reis:
Aqui está o sentido, que tem sabedoria: as sete cabeças são
sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também
sete reis, dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda
não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco (Ap
17.9,10).
Isso se torna muito útil em identificar o imperador
particular que governava Roma quando João
escreveu.
Agora, o anjo associa a série de sete reis a esse
império famoso. Revela-se, então, que os cinco reis
caídos representam os primeiros cinco imperadores
de Roma: Júlio, Augusto, Tibério, Calígula e
Cláudio (para a sua enumeração, consulte Lives of
the Twelve Caesars, do biógrafo Suetônio do séc.
II). Eles já estavam mortos quando João escreveu;
portanto, já “caíram”. O sexto rei está reinando no
momento, pois “um existe”. Esse é Nero César. O
anjo então explica para João sobre o sétimo rei: ele
“ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco”. O sétimo imperador de Roma foi Galba,
que reinou de junho de 68 a janeiro de 69 — apenas
seis meses, o imperador de reinado mais curto até
essa época (o reinado de Nero durou mais de treze
anos).
Assim, não só a besta retrata o Império Romano
em sentido corporativo, mas, de forma específica,
Nero, o sexto imperador. E Nero não foi apenas o
primeiro imperador a perseguir a igreja cristã, mas
também a autoridade que comissionou o general
romano Vespasiano a atacar e destruir Jerusalém
(Josefo, War, 3.1.2). Ele se encaixa no drama e no
tema de Apocalipse com perfeição. Todavia, existem
mais evidências!
Kenneth L. Gentry Jr. Apocalipse para leigos — você pode entender a
profecia bíblica —. pg:90-94